Minha terceira semana ali pelas minhas contas.
Eu já havia sido abusada mais de cinco vezes, minha agonia poderia atravessar esse quarto e todo os dias seguintes de sofrimento me traziam uma pílula, aquilo era tão humilhante.
Tudo resumia em se deitar no chão e chorar no sofrimento, raramente traziam comida, o que me deixava fraca, e quando traziam, era apenas água e pão, ou as vezes só água.
Me levantei do chão, possessa de raiva e ódio, e soquei a porta com toda mágua e força que eu tinha.
Então ouvi o barulho da porta e vi o trinco ser aberto, andei com receio para trás e vi o garoto moreno que havia me questionado antes.
— Por favor, não me machuca! — Pedi con medo de sua aproximação.
— Não vou te machucar, fica calma. — Falou me analisando.
— Não posso confiar em você. — Falo olhando diretamente em seus olhos.
— E se eu te ajudasse? Como prometi? — Perguntou arqueando a sobrancelha.
— Como iria me ajudar? — Cruzei meus braços, tentando transparecer uma imagem de durona.
— Te tirando daqui. — Mordeu o lábio e eu concordei com a cabeça, sentindo meus olhos inchados.
— Você é um mentiroso! — Travei o maxilar e ele me olhou confuso.
— O que eu fiz? Se não te avisei que iria vir pra cá, foi para te poupar! — Arregalou os olhos enquanto falava.
— Me poupar de que? Saiba que não ajudou em nada. — Suspirei e descruzei os braços. — Não me disse seu nome!
— Foi uma chantagem falha! — Sorriu de canto. — Meu nome é Jack Gilinsky. Achei que não quisesse saber.
— Agora parece ser mais interessante. — Ele balançou a cabeça negativamente. — Ok, Lewis. Precisa de alguma coisa?
— Sair daqui. — Me sentei no colchão e o olhar de Jack me seguiu.
— Isso ainda não dá,algo que esteja dentro do que eu consiga por enquanto. — Encostou na parede e enfiou as mãos no bolso.
— Comida, água e cobertores. — Abaixei a cabeça, olhando para meus pés.
— Ok. — Saiu do quarto, trancando a porta e eu encarei a parede.
Alguns instantes depois, a porta se abriu novamente e me assustei distraída.
— Sou eu. — Disse fechando a porta novamente. Abriu o saco e tirou duas mantas ali de dentro, mais algumas sopas enlatadas. — Foi o que consegui.
— Obrigada. — Disse sem o olhar e avancei nas sopas, pegando uma e a comendo sem pudor algum.
— Não deixe ninguém saber disso, ok? — Se distanciou com o saco, parando na porta.
— Espera. — O chamei antes que saísse. Jack se virou me fitando. — Por que está me ajudando?
O moreno pareceu sem resposta por alguns segundos, e então, falou.
— Para pagar uma dívida.
[...]
• Jack Gilinsky POV •
Essa talvez poderia ser uma das melhores formas para que eu amenizasse um pouco daquilo.
Ajudar alguém, uma coisa que muitos precisam, mas nem todos praticam.
A minha ajuda é por remorso.
Remorso por não ter pedido perdão, remorso por não ter pensado nos meus atos idiotas.
Senti que Alexia, mesmo parecendo indefesa e tudo mais, poderia ajudar, e muito.
Ela seria a pessoa certa, com quem eu poderia cumprir minha parte da sentença.
— Gilinsky. — Ouvi a voz firme de Gonzalez, o cara que se achava o fodão.
— Sim? — Disse enquanto terminava de trancar a porta do quarto em que Alexia se encontrava.
— Parece que já voltou aos habitos? Não tem como negar, não é meu jovem.. — ele riu e eu o encarei sério, o que ele achava de engraçado. Bom, mas eu não poderia responder "Tentando ajudar uma garota", então permaneci calado. — Temos um assunto a tratar. Espero você em meu escritório, se apresse.
E assim, sumiu de vista, saindo da casa. Inflei minhas bochechas tentando adivinhar o que viria por aí. O que vinha do Gonzalez nem sempre é coisa boa e confiável.
Saí daquele lugar desconfortante, bufando e passei a mão pelo meu cabelo curto, a cada piscar de olhos era uma lembrança.
Balancei a cabeça negativamente, tentando apagar tudo aquilo, mas era impossível.
Fui até o que eu chamava de "minha" casa, que na verdade eu dividia com Nate, Johnson e Sammy, meus melhores amigos até de antes dessa merda toda.
Passei pela sala bagunçada e vi Nate dormindo esparramado no sofá e ri fraco, peguei a latinha de cerveja no chão e apaguei o baseado que estava em sua mão.
— Nem parece que está num apocalipse. — Murmurei para mim mesmo e andei até o banheiro, abrindo a torneira e jogando a água fria e um pouco barrosa para acalmar os ânimos.
Me encarei no espelho por alguns segundos. "Babaca", era o que me definia, e eu poderia mudar isso. Ou não.
Desviei minha atenção do espelho e enxuguei meu rosto na tolha. Saí de casa e caminhei até o escritório que Gonzalez havia me pedido para eu lhe encontrar.
Bati na porta antes de entrar e observei sua coleção de troféus - inúteis - na prateleira.
— Jack Gilinsky. — o velho, nem tão velho, me olhou severo e eu tentei o encarar da mesma forma.
— Em carne e osso. — tentei brincar, mas me arrependi logo em seguida, enguli em seco e esperei que ele dissesse algo.
— Sente-se por favor. — Pediu e eu assenti, meu sentei na cadeira e ele fez o mesmo, de frente para mim.
— Pode falar. É alguma missão para a cidade novamente? Ou vasculhar casas? Sabe que..
— Não, não. Nada disso por hoje. — Me interrompeu com um sorriso malicioso. — Sabe, Gilinsky, você tem sido como meu filho ultimamente. — ri mentalmente com aquilo. "Filho"? Isso é mesmo sério?!
— Aonde você quer chegar com isso? — Perguntei enquanto ele já me rodeava como um urubu sedento por carne. Louco.
— Você vem me ajudando bastante e eu pensei que poderia te dar uma recompensa. — Ele ajeitou sua barba mal feita, ok, estava ficando interessante, por enquanto.
— Pode chegar ao ponto logo? — Pedi ansioso.
— Tenha calma. Sei que vai gostar. — Alisou meus ombros. Isso está estranho. — A minha proposta é.. O que acha de possuir uma provedora de prazeres?
Arregalei os olhos e arqueei a sobracelha.
— O senhor quer dizer que..
— Você pode escolher uma das garotas para ser exclusivamente, sua. — Me interrompeu novamente. Era uma proposta tentadora, e que clareou minha mente.
— Eu tenho minhas condições...
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