Seya já estava no 623º abdominal quando um vento forte abriu a janela do quarto de forma brusca e arrancou as cortinas do suporte. Ele deu um pulo e levantou a guarda, mas em seguida percebeu que era só a chuva. Se aproximou da janela para fechá-la e parou alguns instantes, olhando para fora, observando a Lua enorme e brilhante e as nuvens negras e carregadas de água. O rapaz suspirou quando a imagem de Saori veio em sua mente mais uma vez. Os pensamentos repetitivos o incomodavam. Ele precisaria esquecer tudo aquilo e simplesmente seguir em frente, grato por ter sido curado. Mesmo que a cura tivesse vindo de uma inimiga. Ficar questionando o porquê de Saori não ter o curado desde o início não iria ajudar em nada. Só aumentaria a raiva e o rancor e destruiria o relacionamento deles. Seya amava Saori. Agora que estava restaurado, poderia finalmente abraça-la, beijá-la, tê-la em seus braços, como ambos sempre sonharam. Ele estava pronto para ser o homem que ela merecia. Contudo... o coração do rapaz estava partido. Saber que a mulher que amava tinha o poder de poupá-lo da dor, dos remédios, das inúmeras cirurgias, da humilhação por ter de depender das pessoas, estava o deixando perturbado. Se fosse o contrário, ele faria tudo o que estivesse ao seu alcance. Ele e os outros cavaleiros de bronze foram até o inferno para salvá-la... Por que ela não havia o curado? Por que preferiu obedecer às regras estúpidas dos deuses do olimpo?
— Droga! — ele resmungou. Não queria ficar questionando Atena. Ainda era um cavaleiro e precisava lutar ao lado dela. Se deixasse aquele sentimento ruim dominar seu coração, sua lealdade poderia ser comprometida. — Que se dane, Seya! O importante é que você está novo em folha e pode voltar a ser um Cavaleiro de Bronze.
Uma lágrima escapuliu de seus olhos. Ele não a enxugou. Deixou que escorresse pelo rosto enquanto olhava a chuva lá fora. De repente, ouviu alguém chamar seu nome:
— Seya!
Era uma voz feminina e vinha de longe. Ele franziu o cenho e olhou para o jardim. Não havia ninguém.
— Seya! — Mais uma vez a voz gritou.
“Estou ficando louco?”, ele pensou. “É melhor eu tentar dormir. Amanhã será um dia longo”.
Ele tirou a roupa suada, tomou uma ducha e se deitou. Olhou para os remédios em sua cabeceira e, num movimento único, jogou todos na lata de lixo ao lado do criado mudo.
— Não preciso mais de vocês! — Ele olhou para garrafa de uísque. — E muito menos de você!
Pégaso lançou a garrafa pela janela com toda a força e sorriu, deitando a cabeça no travesseiro macio. Depois de quase uma década, finalmente ele teria uma noite de sono de verdade.
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