Quando o Sol nasceu, não havia mais ninguém dormindo na mansão Kido. A sala de jantar e a cozinha estavam abarrotadas de gente. Barulhos de copos e talheres ecoavam pelo ambiente. Tatsumi e os outros empregados se desdobravam para preparar o café da manhã para aquele bando de homens esfomeados. Havia de tudo: café, suco, bolo, panquecas, bacon, ovos mexidos, misoshiru, tamagoyaki, pães e biscoitos. Todos estavam agitados. Shiryu, Hyoga e Shun estavam ansiosos pela chegada de Kiki. Queriam ver logo suas famílias e certificar-se de que tudo estava bem. Foi uma festa quando o garoto, que agora era um jovem, chegou com uma mochila nas costas. Antes mesmo de comer alguma coisa e tomar uma xícara de café, Kiki teve de trazer uma por uma, as mulheres dos cavaleiros de bronze. Mu o ajudou a localizá-las.
Primeiro foi a vez de Shunrei, que caiu nos braços do marido, aliviada por vê-lo a salvo e em seguida abraçou o Mestre Ancião, sem acreditar que ele estava ai diante de seus olhos. Em segundo lugar, Kiki trouxe Hana, que ficou assustada ao ver toda aquela gente reunida. Abraçou Hyoga e ele sussurrou em seu ouvido que mais tarde lhe explicaria tudo. Por fim, apareceram na sala Yumi, Sakura e Aiko, que gritaram de alegria ao ver Shun e pularam em seu pescoço. Shun as levou para um cômodo mais tranquilo para explicar o que estava acontecendo. Aiko ainda era muito pequena e ele não queria que a filha ficasse com medo.
— E você, Ikki? Quer que eu traga alguém? — Kiki perguntou.
— Você teria de trazer metade de Barcelona, Kiki. Todas as espanholas são loucas por mim.
— Ora, Fênix, não seja convencido! — Máscara da Morte fez uma careta. — Você não está com essa bola toda.
— E você, não seja invejoso, Câncer. Ainda terá tempo de recuperar o tempo perdido — Ikki fez uma cara sacana. — A não ser que esteja enferrujado. Aí está lascado!
Muitos soltaram gargalhadas.
Em meio ao alvoroço, Seya era o único que estava sério. Notou a falta de Atena. Ela ainda não havia aparecido para fazer a refeição. Pégaso subiu as escadas até o quarto dela. Bateu de leve na porta.
— Saori, sou eu. Está acordada?
A moça abriu uma fresta na porta. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, como se tivesse chorado a noite toda.
— Bom dia, Seya. Eu vou descer daqui a pouco. Estou me trocando.
— Por que está com essa cara? Você está bem?
Saori olhou para o chão.
— Me deixa entrar, vamos conversar.
A moça assentiu e abriu a porta para ele. Seya entrou e trancou a porta.
Quando olhou aquele rosto delicado, o cabelo comprido e lilás, os olhos marejados, os lábios bem desenhados... Toda a raiva que estava sentindo dela se dissipou. O amor tomou conta de seu coração e o perdão apagou a mágoa.
— Seya... me perdoe. Sei que está decepcionado comigo, mas tente entender... Eu seria uma irresponsável se agisse somente com o coração, sem usar a razão. Talvez seja difícil acreditar, mas eu o amo. Tudo que eu quero é o seu bem.
— Saori... Olhe para mim. — Ele ergueu a mão e a tocou no rosto. A pele da moça parecia um veludo. — Eu também te amo.
Os olhos dela brilharam e um sorriso despontou.
— Não está com raiva de mim?
— Meu amor, não podemos perder tempo sentindo raiva. Há tantos anos vivemos juntos sem poder concretizar todos os nossos sonhos. Não quero mais nenhum obstáculo entre nós.
Saori segurou a mão de Seya e sorriu. Seu coração triste se aqueceu. Aquele era o Seya que ela tanto admirava, um homem perdoador, generoso e pacífico.
— Ah, Seya! — Ela o abraçou com força. — Você é o melhor homem do mundo.
Pégaso segurou o rosto da amada com as duas mãos, olhou diretamente nos olhos dela, deu um sorriso e colou seus lábios aos dela, dando-lhe um beijo suave. Era o primeiro beijo dela. A moça corou e manteve-se de olhos fechados, segurando os ombros do cavaleiro. Seya deslizou as mãos pelas costas da moça e segurou-a na cintura. Beijou-a mais uma vez e dessa vez o beijo foi mais profundo, lento, apaixonado.
— Quer casar comigo? — ele sussurrou.
Ela arregalou os olhos e o encarou, aturdida. Não estava acreditando no que tinha ouvido.
— Você... tem certeza?
— É claro. Há mais de dez anos sonho em ter você como minha esposa. Você é a mulher da minha vida.
— Seya... — Ela deixou algumas lágrimas caírem. Havia chorado a noite inteira pensando que o havia magoado e perdido seu amor pra sempre. Achava que Seya nunca mais confiaria nela.
— Vamos, Saori, não pense demais. Seja minha esposa! O que está por vir não interessa. Enfrentaremos juntos como sempre. Estarei sempre ao seu lado como cavaleiro. Mas agora, o que eu quero e o que eu preciso, é ter você nos meus braços, amá-la, ser todo seu. Diga sim.
— Sim, sim, sim... A resposta sempre será sim. — Ela sorriu como uma criança que havia ganhado o presente mais esperado. — Quando?
— Hoje!— disse Seya. Ela levou a mão ao rosto, surpresa. — Você consegue um vestido?
— Consigo.
— Ótimo. Vou pedir ao Tatsumi para me ajudar a organizar a cerimônia. — Ele a beijou na testa e abriu a porta do quarto. — Agora seque essas lágrimas e desça para comer. Não quero mais te ver triste. Vamos esquecer tudo o que aconteceu por causa daquela mulher. Ela perturbou o coração de todos, não vamos deixar que nos perturbe também. O nosso amor é muito maior do que meras divergências. Sei que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para me curar.
— Sim, Seya, eu faria. Mas não posso negar que estou feliz por Gaya ter restaurado sua saúde. Sofro as suas dores e me alegro com suas alegrias. Vê-lo sofrer é algo muito difícil.
— Eu também estou feliz, Saori. Do mal às vezes é possível produzir bem. Eu aprendi muito nesses dez anos. Agora que estou novo em folha, aproveitarei a oportunidade de ser um cavaleiro ainda melhor ao seu lado.
— Eu também farei o meu melhor, Seya. Precisamos salvar a Terra dos planos terríveis de Gaya. Talvez ela não seja de todo maligna. A natureza é tão bela e nos faz tão bem. Se Gaya é a responsável pelas flores e pelo canto dos passarinhos, é possível que o coração dela tenha um pouquinho de misericórdia. Ela parece revoltada. Precisamos conseguir mostrar a ela que o amor tudo suporta e que é o amor o responsável por todo o bem que existe.
Seya assentiu.
— Conte comigo! — disse ele sorrindo e saindo do quarto. — Não demore. Estarei na cozinha te esperando. Venha conhecer a caçula do Shun. É um doce.
Saori fechou a porta para terminar de se trocar. Por um instante se esqueceu que era a Deusa Atena e começou a rodopiar pelo quarto, até cair de braços abertos na cama, com um sorriso bobo e o coração disparado. Iria se casar com o amor de sua vida e aquilo parecia um sonho... um sonho prestes a se tornar realidade.
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