— Kanon?
Um policial se aproximou da cela e bateu na grade. O lutador, que estava deitado na cama de cimento, abriu os olhos e olhou na direção do homem:
— Sou eu.
— Alguém pagou sua fiança. — O policial abriu a cela e Kanon o acompanhou até a saída.
Jack agitou os braços assim que o viu e abriu um sorriso amarelo:
— Meu amigo, que cilada! Venha, vamos sair dessa pocilga. — Jack colocou a mão em seus ombros e o acompanhou até à rua. — Meu carro está logo ali.
Jack apontou para um Mercedes e, assim que entraram no veículo, o homem começou a falar.
— Fique calmo, já arranjei um advogado pra você. Temos um álibi e, além disso, ouvi dizer que a polícia tem a gravação do corredor do hotel.
— Armaram pra mim. Eu não matei ninguém.
— Sei disso, estávamos juntos já se esqueceu? A propósito, que luta! Você estava fenomenal a noite passada. Há anos não vejo uma luta tão bonita. A galera pirou. Escuta o que estou te dizendo, vamos ficar milionários.
— O que vamos dizer à polícia? Não podemos contar sobre a luta. Como vou apresentar meu álibi?
Jack fez uma pausa.
— Não se preocupe com isso. O advogado vai cuidar de tudo. Se preocupe com a luta de hoje à noite. Estão apostando uma grana alta em você.
— Não sei se estou a fim de lutar hoje. Minha cabeça está a mil por hora.
— Canalize a raiva, meu amigo. Hoje a noite promete.
— Preciso tomar um banho. Meu quarto no hotel já foi liberado?
— Peguei suas coisas, inclusive o maço de dinheiro que ficou no criado mudo. Deu sorte de ninguém ter roubado. Vamos para outro hotel. Reservei um quarto pra você no Bellaggio.
— O dinheiro estava lá? — Era uma informação estranha. Por que Gaya deixaria a grana para trás? Não fazia sentido já que ela dissera precisar de dinheiro e abrigo.
— Sim, sim. Toma! — Jack tirou o dinheiro do bolso e colocou na mão do lutador. — Deveria abrir uma conta em algum banco. Guardar tanto dinheiro com você pode atrair ladrões.
O hotel Ballagio era tão luxuoso quanto o anterior. Kanon se despediu de Jack e prometeu comparecer à luta. Subiu para o quarto, tomou um banho e lavou o cabelo. Deitou-se na cama, intrigado, mas acabou pegando no sono. As últimas horas tinham sido agitadas.
À noite, pegou sua mochila e foi trabalhar. O local da luta já estava lotado e ele teve de entrar pela porta de trás para não ser tietado pelos diversos fãs que tinha. Jack deixou uma garrafa de uísque e um copo em cima da mesa do vestiário e fechou a porta, deixando Kanon a sós para se preparar. O cavaleiro tomou um copo do uísque e vestiu o calção de luta. Ficou descalço, de camiseta, e começou a enrolar a faixa nos punhos. Alguém entrou no vestiário de repente, trancando a porta.
— Sua vagabunda! É muito corajosa vindo até aqui. — Ele se levantou, colérico, e segurou o rosto dela entre as mãos, apertando-o.
— Ai, ai, está me machucando.
— Eu fui preso, sabia? Ainda estaria lá se não fosse o Jack. Você foi longe demais dessa vez.
O semblante de Gaya parecia aterrorizado e seus olhos tinham uma expressão de pânico.
— Kanon, me escute.
— Não quero ouvir mais nenhuma de suas mentiras. Minha vontade é acabar com você aqui e agora. Como pôde matar aquela garota e tentar me incriminar?
— O quê? Não é nada disso, me ouça.
O cavaleiro a jogou para o lado de maneira estúpida. Gaya se chocou contra a parede e caiu no chão.
— E esse corpo agora? Escolheu peitos grandes para tentar me seduzir? Não seja patética!
Gaya continuou no chão e suplicou:
— Me ouça, não fui eu quem fez aquilo. Ele veio atrás de mim, tentou me matar. Usei meu poder para colocar a garota no meu lugar. Eu sinto muito, não queria matá-la.
— De quem está falando? Daquele deus de merda com quem você ficou de sacanagem? Você é uma piranha mentirosa. Some da minha frente! Se aparecer aqui de novo, eu mesmo me encarrego de acabar com você.
— Kanon, por favor, ele está atrás de mim. Não fui eu quem matou aquela garota.
Gaya segurou nos pés do lutador, desesperada.
— Mentirosa! Saia da minha frente! — Ele puxou os pés das mãos dela e a deixou para trás, saindo do vestiário e batendo a porta.
Caminhou a passos largos pelo corredor em direção ao ringue. Quando olhou para as mãos, percebeu que havia colocado a faixa apenas em uma delas.
— Merda!
Retornou ao vestiário a contragosto, pois sabia que não o deixariam lutar sem a faixa. Quando abriu a porta e entrou, deparou-se com um homem alto e magro, vestido de uma armadura cor de cobre e uma capa. Com uma das mãos, apertava o pescoço de Gaya e a empurrava contra a parede. Com a outra mão, segurava um punhal, preparado para golpear a garota. Gaya estava sufocada e seus olhos começavam a se fechar.
— Você não escapará dessa vez, Gaya! — disse Forseti, tomando impulso para cravar o punhal no peito da garota.
— Outra Dimensão! — gritou Kanon, desferindo seu golpe contra Forseti.
O deus nórdico da justiça olhou na direção do cavaleiro, surpreso, e num piscar de olhos, desapareceu, deixando quicar no chão o punhal. Gaya caiu desacordada e o Dragão do Mar correu e se abaixou, segurando-a nos braços.
— Gaya! Acorde. Droga!
Os cabelos vermelhos começaram a ficar loiros e o rosto de Gaya começou a desaparecer em detrimento de outro. Kanon se exasperou. Sabia que Gaya estava morrendo e, por isso, a garota de quem ela havia se apossado do corpo reaparecia.
— Não! — Ele gritou e a beijou, abraçando-a. Acendeu o seu cosmo numa tentativa de transferir alguma energia para ela. Aos poucos, os cabelos loiros voltaram a ficar vermelhos e Gaya abriu os olhos. As marcas dos dedos de Forseti ainda eram visíveis em seu pescoço.
— Kanon?
— Eu o vi. Você estava dizendo a verdade. Desculpe por não acreditar.
Ela levou a mão ao pescoço e, em seguida, ao rosto. Em sua face também havia marcas de dedos. Mas estas marcas haviam sido provocadas pelos dedos de Kanon. Ele se arrependeu.
— Machuquei você, me perdoe.
— Ele vai voltar. Estou perdida! — Gaya sussurrou.
— Ficarei ao seu lado. Vou proteger você.
— Ele vai te matar também. Você tem razão, é melhor não se meter nisso. Vou fugir e me esconder, é melhor assim.
— Vamos embora daqui. — Ele a ajudou a ficar de pé. — Consegue andar?
— Consigo.
Alguém bateu na porta e entrou, era Jack.
— Kanon, o que houve? Estão todos esperando! Quem é essa garota?
Kanon colocou sua jaqueta em Gaya e a abraçou.
— Adie a luta pra amanhã, Jack. Hoje é impossível.
— Mas...
— Hoje é impossível, Jack. Adie para amanhã. — O lutador o olhou com severidade.
O homem não teve o que fazer, a não ser concordar.
— Tudo bem, darei um jeito. Mas se não vier amanhã sou um homem morto.
— Virei amanhã e vencerei a luta pra você.
Kanon e Gaya saíram do local pela porta dos fundos e foram para o hotel dele.
No quarto, Kanon encheu a banheira de hidromassagem com água morna.
— Entre, a água está boa.
Gaya deixou o roupão cair no chão e entrou na banheira, imergindo na água com espuma. Kanon tirou a roupa e entrou também. Abraçou a garota, colocando-a entre suas pernas. Ficaram em silêncio por um tempo antes do cavaleiro dizer:
— Vou proteger você.
— Promete?
— Eu prometo.
A garota suspirou. O medo que sentia era escancarado.
— Não tenha medo. Sou um Cavaleiro de Ouro. Forseti não irá me vencer.
— Você não sabe do que ele é capaz.
— E você não sabe do que eu sou capaz.
— Por que mudou de ideia? Pensei que queria me ver aniquilada.
— Falei tudo da boca pra fora. Achei que estava mentindo pra mim quando disse que queria ficar ao meu lado e desfrutar a vida. E pensei que havia matado a garota pra se vingar de mim e me colocar atrás das grades.
— Sou vingativa, mas não a esse ponto.
— Agora acredito em você.
Ela se recostou a ele e suspirou. Kanon a abraçou mais apertado.
— Pensei que eu ia morrer — ela revelou.
— E eu fiquei louco quando o vi te atacando. Pensei que perderia você.
— Você salvou minha vida.
— Gosto de você, Gaya.
— Eu sei. — Ela se virou para ele e o beijou, sentando sobre a cintura do rapaz, encaixando-se a ele.
Se beijaram como sempre faziam, um beijo intenso, macio e selvagem.
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