Saori saiu do escritório e acompanhou seu visitante até a porta, Hermes, mensageiro dos deuses. Logo atrás deles estavam Mú e Seya. Hermes segurou a mão de Saori e a beijou no dorso.
— Nossa reunião não poderia ter sido mais produtiva, Atena. Tenho certeza de que agora finalmente teremos um longo tempo de paz na Terra.
— Fico feliz por essa notícia.
— Sim, Atena, todos nós estamos felizes. Por isso eu quis vir pessoalmente conversar com você. Agora que os deuses rebeldes foram derrotados, não teremos mais com o que nos preocupar. A Terra ficará em suas mãos, pois você foi a única deusa desta geração que provou ter sabedoria e um coração realmente justo. Lamento que fique sobrecarregada, mas fico contente que tenha aceitado essa grande responsabilidade. Ambos concordamos que é a melhor solução, não é mesmo?
— Sim, Hermes, eu e meus cavaleiros faremos tudo para que a Terra siga o curso da vida, sem que as forças divinas interfiram de forma negativa.
— Ótimo. Estarei a seu dispor sempre que precisar.
— Obrigada.
— Adeus, Atena.
— Adeus.
Hermes saiu da mansão e Saori fechou a porta. Virou-se e viu os olhos de Mú e Seya arregalados, fixos nela.
— Bem, a reunião foi melhor do que pensávamos.
— Sim, Atena, com certeza. Eu jurava que ele tinha vinho para trazer uma punição por termos interferido na missão de Forseti. E também pela cura do Shiryu. — Mú respirou aliviado.
— Ainda bem que tudo se resolveu — disse Seya. — Agora podemos viver nossas vidas e teremos tempo para sermos felizes. Vamos, meu amor, você precisa descansar agora.
Seya e Saori saíram abraçados. Mú acenou com a cabeça e foi para a biblioteca. Encontrou Seika sentada em uma poltrona, chorando com um livro nas mãos.
— Seika, está tudo bem?
Ao vê-lo, a garota enxugou as lágrimas depressa e fechou o livro.
— Sim, é um livro muito bonito.
— O que está lendo?
— “O Velho e o Mar”.
— Hemingway. Sim, é bonito mesmo.
Mú sentou em outra poltrona e respirou fundo.
— Se importa se eu me sentar aqui um pouco? — ele indagou.
— Não, claro que não. Você parece cansado.
— Um pouco. Mas estou feliz com o desfecho de tudo. Pelo menos agora Atena está fora de perigo.
— Seya também estava muito tenso. Fico feliz que tudo tenha se resolvido.
Mú reparou que Seya falava sobre felicidade, mas que seu semblante dizia o contrário.
— Você está bem mesmo, Seika?
— Sim, Mú. Não se preocupe.
— Ainda não teve notícias do Ikki?
Ela abaixou os olhos.
— Não. Ele não me ligou. Eu também não liguei. Se Ikki se afastou é porque precisa ficar sozinho. Vou respeitá-lo.
— Os últimos dias foram muito difíceis para todo mundo. Logo o Ikki voltará para te buscar.
— Mú... Sabe, eu posso parecer boba, mas não sou o tipo de mulher que aceita tudo.
Áries se remexeu na cadeira e raspou a garganta.
— Eu não... nunca pensei que você fosse boba. Me desculpe, não foi isso que eu quis dizer.
— Eu sei, Mú. Só estou dizendo... O que quero dizer é que se o Ikki pensa que eu ficarei aqui esperando ele resolver aparecer, está muito enganado. Dane-se se isso for orgulho, eu não me importo. Não quero ao meu lado um homem que tem dúvidas sobre o que sente.
Mú ficou vermelho, desconfortável com aquela conversa. Seika percebeu o quão indelicada estava sendo.
— Ah, Mú, me perdoe. Você não é a pessoa certa para eu desabafar. Acho que esse livro me deixou abalada. — Ela se levantou, constrangida. — Vou deixar você descansar. Já terminei de ler.
— Seika, tudo bem, não fique angustiada.
— Eu... não deveria ter falado essas coisas pra você, eu estava sufocada, por favor me desculpe.
Seika se atrapalhava com as palavras e queria sair logo daquela biblioteca para parar de pagar mico diante de um homem tão sábio e sereno quanto Mú. Ela se afastava, quando sentiu o Cavaleiro de Áries segurar seu pulso com delicadeza. Ela o olhou, surpresa.
— Seika, por favor, fique. Não há porquê ficar constrangida. Você não falou nada de mais. Respire fundo e sente-se aqui, continue sua leitura. Vamos falar sobre livros. Gosta de poesia?
Ela sorriu e sentou na beirada da poltrona.
— Um pouco, não conheço muitas.
— Sabe o que é um Haikai? — Ele se levantou e pegou o livro na estante. Sentou novamente, abriu numa página qualquer.
— Não.
— São pequenos poemas. Parecem ser simples, mas a verdade é que as coisas simples às vezes são as mais profundas. Permita-me ler alguns para você:
hototogisu
ima wa haikaishi
naki yo kana
“Vozes das aves.
Nessas horas,
um poeta não tem mais mundo”.
nozarashi o
kokoro ni kaze no
shimu mi kana
“No pensamento
Um esqueleto abandonado
Arrepios ao vento”.
Seika sorria sem perceber e Mú continuava a recitar em japonês:
“Já é primavera
Uma colina sem nome
Sob a névoa da manhã”
“Dias que se alongam
Cada vez mais distantes
Os tempos de outrora!”
E as palavras de Mú ecoavam pela mansão. Os tempos de outrora ficavam para trás. Cheios de esperança, Atena e seus cavaleiros começavam, a partir daquele dia, uma nova jornada. O futuro se descortinava à frente, reservando aos jovens desafios diferentes, amores profundos e imensa saudade. A vida os desafiaria agora não mais como cavaleiros, mas como humanos.
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