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História Cernunnos Chaud - Cernunnos Chaud


Escrita por: JohnVercetti

Notas do Autor


Espero que gostem

Capítulo 1 - Cernunnos Chaud


As pedras caiam no chão de acordo com a batida do pincel no mármore, o que antes era uma grande pedra havia se tornado, ou estava se tornando, uma bela escultura, o barulho do pincel e do martelo ecoavam pelo atelier, o atelier não era muito grande, na verdade era pequeno, porém era o suficiente para Achilles trabalhar, suas paredes estavam cobertos de pinturas que não interessavam nenhum comprador, faltava vida, era isso que diziam a Achilles, ele não pintava com sua alma e esse era seu problema, suas pinturas não causavam nenhuma emoção e comoção.

Achilles não chegava a ser pobre graças a herança de seu avô, um antigo comerciante francês que não possuía nenhum herdeiro além de Achilles, o único filho que tivera morreu servindo ao exército, deixando apenas Achilles como herdeiro de toda sua fortuna, Fortuna que Erich usou para se formar na faculdade de artes em Paris e para abrir seu atelier, graças ao bom talento de conseguir dinheiro de seu avô nunca passou fome, mesmo comprando o atelier e a faculdade ainda possuía dinheiro para se manter vivo, o dinheiro nunca entrava, apenas saia, gastava seus dias pintado quadros que nunca veriam a luz de uma galeria, fora os quadros nunca terminados, quadros que Achilles julgava ruim o suficiente para serem deixados de lado permanecendo para sempre incompletos, hora ou outra Achilles terminava um, porém o destino era o mesmo de todos os outros, ficar abandonado nas paredes.

Nas últimas semanas havia surgido uma oportunidade para ganhar dinheiro, um famoso advogado havia lhe oferecido uma grande soma de dinheiro por uma escultura em mármore de Cernuno, Achilles aceitou o trabalho sem nenhuma pergunta, tudo que precisava saber era a data de entrega e quanto receberia, não possuía muita experiência com escultura, havia tentado esculpir algumas outras vezes mas sempre cometeria erros que acabavam destruindo a obra como um todo.

Estava se dedicando de corpo e alma naquela escultura, aquilo seria sua porta para a fama, aquela obra seria o que lhe daria fama e prestígio, lhe tiraria daquela situação miserável, passava dias inteiros esculpindo, esquecendo-se completamente do mundo de fora, porém mesmo assim, não conseguia se sentir satisfeito, sua obra parecia tão sem graça quanto todas as outras, não possuía nenhum erro, ou acreditava que não possuía, mas não possuía alma, não havia o gosto da arte.

Acordar todas as manhãs e ver seu trabalho sem gosto estava levando Achilles a uma profunda depressão, mesmo com todo seu esforço não conseguia fazer uma a tão desejável, sua escultura fazia contraste com seus quadros, estava tão morta quanto, não existia alma, não existia nada que lhe desse beleza, era tão sem graça quanto qualquer pedaço de pedra de mármore, e Achilles não suportava isso, se sentia, e talvez fosse, um incompetente sem nenhum dom para as artes, não aguentava pensar nisso.

Se isolou por completo em seu atelier, passava as noites e os dias sem dormir, ficava parado observando o que deveria ser sua obra prima, porém era apenas outro sinal de seu fracasso como artista, nesse tempo enlouqueceu porém cansou-se disso e voltou a ser são,  após tudo isso colocou em sua mente que sua obra ainda tinha uma solução, estava apenas pela metade, tudo que Achilles precisava era buscar uma inspiração, uma inspiração que lhe desse a alma necessária para terminar seu trabalho, e então partiu em busca disso.

Procurou inspiração na cidade, observou as formas das ruas, das casas, visitou galerias e observou obras de arte, as sombras da noite, o verde da manhã e o amarelado da tarde, nada o ajudava, seu desespero voltou novamente, como conseguiria entregar uma obra prima? Não possuía talento para colocar vida em seu trabalho.

Um de seus amigos, sabendo de seu desespero, lhe ofereceu ajuda, a biblioteca de sua faculdade havia um livro que talvez o desse inspiração, que o faria ver as formas verdadeiras do mundo e aplica-las em sua escultura, exatamente o que Achilles procurava.

O livro era algo extremamente velho, possuía um francês arcaico e desenhos estranhos, formas e ângulos os quais Achilles não compreendia, passou a noite em seu Atelier lendo o livro, era algo incrível, sentiu-se renovado, apesar de tudo não conseguiu ler o livro por completo, era cosia demais para sua mundana mente, e teve a decisão de parar.

Porém até onde tinha lido era o suficiente, começou a esculpir novamente, perdeu-se na noção de tempo e transferiu todo seus novos conhecimentos na escultura, de fato tinha mudado de perspectiva, havia se tornado algo diferente, algo com vinda, Achilles apenas esculpia, não parava para pensar, apenas esculpia.

A escultura onde antes não havia vida, havia se tornado algo belo, a vida e alma que tanto faltara outro momento agora esbanjava, seus olhos eram vivos, Achilles quando parou para ver sua obra não pode acreditar, aquilo realmente era sua obra prima, sua Magnus Opus, por um momento sentiu tristeza e raiva por saber que teria que vender aquilo e não poderia ficar para si, algo tão belo não poderia ser trocado por dinheiro, independente da qualidade.

Parou para pensar e viu que estava cansado, havia trabalhado tão animado e por tanto tempo que nem parou para perceber o sono, e então decidiu dormir em seu atelier, teve um sonho belo com sua escultura, sonhara que a escultura era como um homem e era guardião de um jardim, uma bela e formosa criatura, uma verdadeira divindade da natureza, seus olhos verdes adentravam no espírito de qualquer pessoa e via sua natureza, tinha um andar glamoroso e selvagem, Era algo que Achilles nunca havia visto antes.

Os dias passaram e os sonhos continuaram tão belos quanto a escultura, No começo alguns artistas e amigos visitavam o atelier para ver o progresso, a beleza da obra admirava a todos, com o tempo as visitas foram sendo proibidas pois começaram a se tornar irritantes e impediam o progresso, custando um tempo precioso, isso aumentou a curiosidade e vontade de verem, em algumas noites o atelier sofria invasões para as pessoas apenas verem como estava a escultura, algo que irritava tanto quanto felicitava Achilles pelo reconhecimento de seu trabalho.

Por algumas semanas os sonhos continuavam sendo tão belos quanto o primeiro, a escultura, a qual havia ganhado o nome de ‘’ Cernunnos chaud ‘’ continuava sendo a figura majestosa e atraindo olhares indesejados, Achilles havia começado a perceber que inconscientemente esculpia junto alguns desenhos sem sentido que havia visto no livro e quanto mais evitava isso mais desenhos haviam, eram formatos bizarros porém mesmo assim não conseguiam estragar a beleza da obra, pelo contrário, adicionava beleza para aquilo, uma beleza macabra e indesejada, porém uma beleza.

Não fazia sentido esses desenhos para Achilles, talvez fosse sua mente lhe pregando uma peça? O livro havia o deixado tão fascinado que enquanto parava para esculpir acaba transmitindo seus pensamentos sobre o livro para o mármore? Talvez devesse parar por uns dias e acalmar sua mente? Tentou isso, porém por algum motivo se sentiu incapaz, era como se fosse obrigado a esculpir, não poderia parar, não era nenhuma força exterior que o obrigava, era si mesmo, não poderia parar de esculpir.

Ao decorrer das semanas os símbolos começaram a se conectar, desenhos e formas que não existia em nenhum lugar do mundo fora do livro, os sonhos pararam de serem tão majestosos e começaram a se tornarem tão macabros como o livro, o antigo guardião da natureza tornou-se uma vil criatura, estar em sua presença era angustiante, seus olhos que antes viam o melhor da pessoa agora viam o pior, parecia sempre estar encarando Achilles, as antes tão frequentes invasões pararam, as pessoas que antes eram tão entusiasmadas com a escultura evitavam falar sobre, ‘’o demoníaco mármore’’, este era o nome que as pessoas haviam lhe dado, falar sobre aquilo havia se tornado um tabu nas ruas de Paris.

Mas Aquilles não poderia parar de esculpir, não poderia, mesmo com a aura vil que a escultura havia ainda continuava sendo sua obra, e seria sua obra prima, nenhuma ofensa a sua arte iria lhe fazer parar, todo aquele sentimento ruim iria parar com o tempo e tudo voltaria como era antes, o ‘’ Cernunnos chaud’’ voltaria a ser amado e adorado, porém as coisas não melhoravam, dormir no atelier tinha virado algo impossível, a escultura fitava-o demostrando intenções malignas, tolice, pensava Aquilles, o que uma escultura poderia fazer? Porém não conseguia tirar aquilo da cabeça e voltou a dormir em seu apartamento.

Tudo apenas piorava, os símbolos já ocupavam a escultura inteira, como isso poderia acontecer? Como Aquilles esculpia tudo aquilo sem querer? Símbolos tão perfeitos que Aquilles nem possuía a certeza de que conseguia faze-los, porém fazia, a escultura parecia o perseguir até seu apartamento e o visitar durante seus sonhos, com a mesma expressão diabólica, Aquilles acordava e então percebia que não havia nada ao seu redor, isso continuou por semanas.

A vontade de terminar sua obra não era tão grande já, cancelou o contrato com o advogado e prometeu que reembolsaria o dinheiro que já havia sido pago, era melhor que continuar com aquele nefasto trabalho, cobriu e fechou seu atelier por alguns dias, porém não demorou muito até abrir novamente e continua-la.

Seu medo da obra era tão grande quanto sua antiga admiração, talvez até mais, já não possuía vontade própria, chegou a si mesmo até a conclusão de que havia virado um escravo da escultura, seu único propósito era termina-la e esperar a conclusão de todo o evento, não sabia o que via depois, isolou-se por completo do mundo exterior e passou semanas e meses em seu atelier, já sequer parecia um ser humano, sua barba e cabelo cresceram de maneira sobrenatural, seus olhos haviam perdido a vivacidade, era um escravo sem mente, escravizado por um pedaço de mármore.

Tinha medo do dia que terminaria, temia e desejava, desejava pois deixaria de ser um escravo, temia pois não sabia o que aconteceria, o que faria depois daquilo? Evitava ao máximo dormir, dormia muito menos que qualquer pessoa normal, seus sonhos haviam virado pesadelos por completo, o mundo de seus pesadelos era um mundo cruel, onde a única lei que havia era o caos absoluto, leis da física não existiam, bondade não existia, nada havia sentido, as formas que havia visto no livro estavam espalhadas por tudo e todos mas não deixavam de terem o aspecto maligno que possuíam no livro, criaturas nunca vistas pelo homem, e se Deus quiser, que nunca serão vistas, era um desafio a todo o conhecimento que o homem reunia em toda sua existência, era uma blasfêmia não só á Deus ou ao homem, mas toda á realidade.

Achilles percebia que o dia de sua conclusão estava cada vez mais perto, não era algo de meses nem de semanas, apenas dias, chorava e odiava a si mesmo, como poderia dar vida a algo tão maligno? Sua vontade era de destruir tudo aquilo por completo, com um martelo deixar em pedaços, porém não podia, algo o forçava a continuar, já havia abandonado a hipótese de que era sua vontade, a criatura havia ganhado vida, não, aquilo que ela possuía não podia ser considerado vida, seria blasfêmia considerar algo tão nefasto como vida, talvez fosse o oposto de vida, não poderia descrever o que era, era algo que ninguém poderia ver, se Deus realmente existisse ele não deixaria aquilo viver, as antigas flores do ateliê haviam apodrecido e murchado, os antigos quadros que não possuíam vida nem alma, agora possuíam um aspecto tão maligno quanto a escultura, era como se aquele pequeno ateliê tivesse virado um pequeno pedaço do inferno na terra, apenas de estar ali um homem já choraria, ninguém incomodou-se em visitar Aquilles em todo seu tempo trancado, as pessoas sentiam aquela aura e não se atreviam a entrar, nem mesmo os mais corajosos homens de toda a cidade.

Aquilles já havia perdido sua alma, se algum dia possuísse uma, sentia-se sendo sugado pela estátua, sua força vital indo embora, sentia seus antigos quadros rindo malignamente do sofrimento de seu criador, os toques finais estavam sendo dados a escultura, Aquilles que antes possuía um destino incerto, havia total certeza agora, qualquer alma que fosse fitada por aqueles olhos antes tão belos e vívidos iria escapar, estava condenado a morte, não, a morte era o melhor destino para si, aquela escultura iria lhe fornecer um destino tão terrível que a morte seria uma benção.

Começou a chorar por completo quando estava terminando, chorou como uma criança chora no colo de sua mãe quando é sofre de um estranho, chorou como um pai que perde seu filho, porém seu choro parou junto com a última esculpida, tudo que fez quando terminou foi largar seus instrumentos e ir para trás, apoiou-se na parede e sentou, apenas aguardando o momento que seu mestre despertava.

 

 

 

 



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