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História Céu e Inferno - Os Ingredientes da Morte


Escrita por: Blood_Sabbath

Capítulo 4 - Os Ingredientes da Morte


P.V.O Judas

                O vento que vem das montanhas corta a minha pele. Estou preso nessa vila fantasma já tem uma semana, e durante esse tempo pude descobrir – depois de insistir muito a Maggor - que estou num lugar remoto da Mongólia, numa vila que mil anos atrás pertenceu a uma tribo guerreira. Não recebi nenhuma notícia sobre Maria nesse tempo que estou aqui, e isso me preocupa. Não sei onde ela está, mas posso imaginar os horrores que está passando, presa junto com Lúcifer e seus cinco irmãos. Ela foi tão burra em fazer aquele pacto que tenho vontade de socar a cara dela por isso! Os únicos que saem daqui são Charlotte e Abaddon, eu e Maggor ficamos presos nesse fim de mundo por segurança, mas isso me eixa muito puto da vida, preso aqui e sem fazer nada além de tirar neve do chão e jogar pedras no penhasco que tem perto do nosso barraco me faz me sentir inútil e descartável. E é isso que eu sempre fui. Queria que pelo menos eles falassem dela, alguma notícia ou algo que pudesse nos ajudar com a localização dos nossos alvos.

                Já está anoitecendo aqui e o frio fica cada vez mais insuportável, por sorte Abaddon roubou um estoque de casacos para mim, Charlotte e Maggor, ele chega até a usar um, mas não é sempre. Só depois de um tempo alguém – nesse caso a Charlotte – me contou o porquê que ele não usa casaco. Ele passou preso um século no inferno, por isso não usa casaco, sua tortura foi tão grande que ele não sente quase nada hoje em dia. Depois disso eu entendi o porquê que ela fez esse pacto, ela não queria que eu sofresse o que Abaddon sofreu por tanto tempo, mas mesmo assim ainda quero afundar a cara dela por causa disso. Estou sozinho aqui fora, Maggor está bebendo lá na cabana com Abaddon, enquanto Charlotte foi atrás de comida para nós. Se ela estivesse aqui pelo menos eu teria algo para fazer, que nesse caso seria uma discursão sobre alguma idiotice ou até mesmo estaríamos bebendo e fumando igual quando estivemos naquele motel em Las Vegas.

                -Você não é muito bom em esconder seus sentimentos, sabia? – Charlotte está parada atrás de mim, e pelo cheiro que eu sinto ela trouxe algo quente e gostoso para comermos essa noite.

                -Não sei do que você está falando! – Eu dou de ombros para isso.

                -O pouco tempo que você esteve com ela te mudou bastante. – Ela diz se sentando ao meu lado, e assim posso ver o que ela trouxe dessa vez. Um grande saco cheio de hambúrgueres quentinhos. – É seu, Abaddon e Maggor já estão comendo os deles.

                -Mas e você? – Eu pergunto.

                -Eu já comi, não se preocupe comigo. – Ela diz com sua voz doce e melódica. – Está com saudades dela, não está?

                -Saudades de quem? – Eu pergunto me fazendo de desentendido.

                -Da Maria, mas acho que não é só dela que você está sentindo falta. – Charlotte me faz a encara-la em seus olhos dourados. Ela pode até ser filha de Urian e irmã de Alamo, mas ela não tem nada parecido com eles. – Os anos que você passou naquele orfanato foram muito difíceis pelo visto.

                -Você não sabe como era ver as crianças bonitinhas serem adotadas e você ficar ali, acumulando poeira por dezessete anos. – Digo e vêm até a mim as memórias dolorosas daquele lugar em que me jogaram quando eu ainda era bebê. – Eu sou uma pessoa amaldiçoada pela vida.

                -Não é. – Ela diz e eu fico confuso. – Assim como Maria, você é muito importante.

                -Sou apenas um humano, não sou nada mais do que isso. – Digo parecendo rude, eu a olho e vejo o que eu fiz e coro. – Perdão, eu não quis ser grosso.

                -Tudo bem, eu te entendo. – Ela diz me dando um sorriso, bem parecido com o de Mary Jane naquela pintura que tinha no camarim do Alamo. – Quando eu fui para os Estados Unidos, quando ele ainda era uma colônia britânica, eu já tinha quarenta e cinco anos e minha mãe cento e oito.

                -Ela parecia bem conservada na pintura que eu vi no camarim do seu irmão. – Digo impressionado com a idade dela.

                -A magia nos rejuvenesce. – Ela diz. – E quando ela foi condenada a fogueira, Alamo ficou louco, e eu fui obrigada a viver todos esses séculos presa ao Urian, sem poder sair para ver o mundo exterior sem ser acompanhada por ele ou pelo Alamo.

                -Pelo visto nossas histórias não são tão diferentes assim. – Eu digo e então ouvimos um estardalhaço vindo da cabana, olhamos para trás e vemos Maggor com uma garrafa de bebida na mão saindo desesperado do lugar. – O que aconteceu?

                -Temos notícias! – Ele diz com um sorriso sádico.

                Ele nos puxa com força para dentro da cabana e nos joga lá dentro, e assim que entra ele fecha a porta e se certifica que estamos sozinhos nesse fim de mundo. Como se alguém fosse vir aqui né? Abaddon está sentado a uma cadeira perto da lareira com um pote cheio de sangue em seu colo. Eu nem quero saber de que infeliz eles tiraram isso, no momento estou mais concentrado em Maria ou nos nossos alvos.

                -Alguma novidade? – Charlotte pergunta aflita.

                -Bastante. – Maggor diz com um sorriso no rosto.

                -Alguma de Maria? – Eu pergunto tentando esconder minha ansiedade.

                -Temos notícias boas e notícias ruins garoto, quer ouvir qual primeiro? – Abaddon se levanta e fica na minha frente.

                -A ruim. – Eu digo com medo do que ele tem para dizer.

                -A Maria está na Jaula de Lúcifer sendo torturada pela própria família. – Ele diz acendendo um cigarro com a sua estranha língua.

                -Ela está basicamente presa no antigo cafofo do demônio. – Maggor diz quase rindo, e me controlo para não lhe socar a cara.

                -Como assim? – Eu questiono.

                -A Jaula foi feita apenas para um único demônio, o próprio Lúcifer. – Abaddon diz calmamente me explicando cada detalhe. – Foi criada por Miguel assim que o próprio o expulsou do céu, com o único intuito de mantê-lo preso ali pela eternidade...

                -O que não deu muito certo, já que a amante dele o libertou dali. – Maggor diz e bebe o resto de uísque da sua garrafa num gole só. – A vadia da Lillith o libertou assim que teve oportunidade.

                -E Miguel nunca fez nada? –Eu pergunto.

                -Os anjos não puderam fazer nada para impedir, isso foi algo inesperado para eles. – Charlotte diz. – Miguel não esperava que um demônio comum conseguisse libertar o irmão dali.

                -Mas se foi criada apenas para Lúcifer, por que a Maria está ali? – Eu pergunto.

                -Porque Maria é descendente direta de Lúcifer. – Abaddon diz. – Da linhagem dele, ela foi a única a nascer com 80% do DNA dele.

                -E enquanto os outros seis? – Meio estranho isso, mas nada fora do normal por aqui.

                -Três dos filhos dele não são exatamente filhos direto do Lúcifer, e os outros são filhos de bruxas. – Charlotte explica. – Tanto que agora só existem dois filhos de bruxas já que ela matou a irmã.

                -E a boa notícia? – Eu pergunto, mas não espero mais nada de bom. A única boa notícia que eu queria era que Maria está aqui na Terra.

                -Lúcifer liberou alguns demônios da corte a saírem do inferno, mas com guarda reforçada. – Maggor diz. – Antes eram apenas seis ou sete demônios para um da corte, agora são ao todo quinze.

                -Estamos em desvantagem. – Eu digo irritado.

                -Você e Maria também estavam, e mesmo assim mataram alguns demônios. – Abaddon diz.

                -Só que eu acabei ferindo Maria algumas vezes para conseguir matar eles. – Eu digo me lembrando das muitas vezes que eu disse Cristo perto de Maria, das tantas vezes que ela chorou sangue de tanta dor que sentia. – E também, a gente tinha isso. – Eu saco meu punhal e jogo na cama. A luz da lareira o ilumina, fazendo seu brilho refletir por toda a cabana.

                -Como vocês fizeram isso? – Abaddon pergunta curioso, e quando ele pega acaba se cortando e o vejo cambalear e gemer de dor.

                -Cuidado! –Eu digo. – Maria disse pra mim que isso daqui pode matar qualquer demônio.

                -Foi com isso que vocês mataram aqueles demônios? – Maggor olha assustado para o punhal, que agora se encontra no chão.

                -Tínhamos outro, um canivete que Maria tinha desde que ela tinha não sei quantos anos. – Eu digo e vejo Abaddon me olhar.

                -Aquela coisa velha e enferrujada? – Ele me pergunta apavorado. – Aquela vadia tinha uma arma capaz de me matar nas mãos e mesmo assim tentava me matar colocando cianureto no meu café? É isso mesmo?

                -Eu não sei como ela fez isso, mas eu sei que o principal ingrediente é o sangue das duas pessoas que vão portar a arma, só um pouco. – Eu digo.

                -Ou seja, um pouco do sangue humano, no caso seu, e o sangue dela. – Abaddon diz se levantando com dificuldade. O pequeno corte na mão o deixou fraco, quem diria.

                -Isso. – Eu digo. – Mas ela disse que levava mais coisas.

                -Charlotte querida, por favor. –Maggor pega um pano e enrola o punhal e a entrega com cuidado.

                Não sei qual é a sua intenção, mas Charlotte leva o punhal até seu nariz e dá uma longa fungada nele, como um cão. Demora um pouco até ela responder alguma coisa para gente.

                -Terra de cemitério, ossos de sapo venenoso e gato preto, água benta, três moedas do bolso de um morto e um pedaço do coração de uma ave de rapina. – Ela diz, não acredito que Maria conseguiu tudo isso só em uma noite.

                -Isso explica tudo. – Maggor diz. – Se eu soubesse que precisava apenas disso já teria matado Lúcifer e sua corte há muito tempo.

                -Eu posso recriar outras armas para usarmos. – Charlotte diz. – Alguma coisa que podemos usar?

                -Eu tenho uma trinta e oito com dois cartuchos cheios. – Eu digo pegando o que sobrou da minha mochila e tiro dali a minha arma e a entrego.

                -Isso vai ser ótimo! – Ela diz. – Agora tudo o que nos resta é esperar as armas ficarem prontas para irmos atrás da Maria.

                Esperar. Já não aguento mais esperar! Sinto-me cada vez mais inútil aqui, sem ter o que fazer. Mas se eu puder meter uma bala bem no meio da testa do Lúcifer já vai ajudar.



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