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História Champagne Problems - Novitate


Escrita por: thereddiamond

Notas do Autor


Olá, seja bem-vindo(a) a minha fic!
Antes de tudo agradeço sua disposição e curiosidade em ler minha estória, e sinceramente espero que goste do que estou apresentando. Tenho que admitir que essa é a primeira vez que escrevo algo do gênero. Normalmente prefiro escrever sobre personagens fictícios e fazer algo, utilizando personalidades reais, me deixa um pouco nervosa por algum motivo estranho! HAUAHUAHUAUAHUAHUAH
Mas, como sou praticamente apaixonada por essas duas, não consegui me conter e decido escrever a fic. Somente espero que até o final consiga fazer algo interessante e de qualidade para vocês. Rs.
Enfim, para encerrar esse falatório, tenho que avisar que não sei quando postarei o próximo capítulo. Estou m disponibilizando a postar semanalmente, mas se não, prometo tentar atualizá-la o mais rápido possível. Por isso se na próxima semana não postar, não desista de mim! Farei isso na semana seguinte! Kkkkkkkkkkk.
Bom, é aqui que digo tchau a vocês e boa leitura! Bjus, ;*

Capítulo 1 - Novitate


Hyuna – POV

Não foi me entregue opções desde o começo. Seria embarcar no avião por vontade própria ou acabar sendo arrastada até lá, não como se minha situação favorecesse qualquer relutância minha não havia escolha de todas as maneiras.

Desde o dia do acidente estou envolta de escolhas difíceis. Ter um pé fraturado nunca foi fácil e muito menos pouco doloroso. Submeter-me a uma bateria exaustiva de exames, uma complicada cirurgia, além de um incômodo terrível para dormir, tendo que me hospedar por dias num hospital para recuperar-me, foi nada comparado a agora. Meu cirurgião havia sido enfático ao dizer que deveria repousar, no mínimo por um mês, antes de poder retirar os pinos e trocar para o gesso, para assim, depois de algumas semanas, quebra-lo e poder iniciar as sessões de fisioterapia, que duraria outro mês. Nesse momento, eu estava no estágio final do tratamento. A dor havia diminuído, mas a situação permanecia delicada.

As pessoas ao meu redor estavam preocupadas e pareciam mimar-me, cuidar de mim com tanto esmero, que, ás vezes, dá a sensação que sou quebrável. Mamãe havia se tornado minha enfermeira pessoal, rodeando-me de muito carinho. Nas primeiras semanas fiquei incrivelmente feliz por ter sua companhia constante, pois, após tantos meses sem vê-la, conseguia ficar mais tempo com ela. Podendo conversar e aproveitar sua presença com calma. Mas no momento em que sua presença constante começou a modificar de vez minha vida, tudo se complicou. Acabou que, num momento de estresse, percebi o que a distância provocava em nós duas. Havíamos criado uma rotina diferente, e isso gerava pequenos conflitos, simples de resolver, mas que causava incômodo desnecessário. Ela queria modificar algumas coisas da qual estava acostumada, enquanto eu desejava um pouco mais de espaço, já me sentindo terrivelmente sufocada com tanta atenção. E, devido a isso, quando a proposta do meu empresário apareceu, mamãe imediatamente tentou me convencer à aceita-la, ciente de que nosso relacionamento poderia ficar abalado se continuássemos daquela maneira.

E que proposta seria é essa? Bom, ela se resumia a minha completa isolação do mundo.

Oh Song, meu empresário, recebeu ordens “superiores” para resolver o problema da minha recuperação e a comoção que causava no público. Não foram poucas as importunações da imprensa de modo geral. As pessoas estavam inflamadas, famintas por informações minhas após o acidente, que ocorreu justamente numa transmissão ao vivo. Vídeos e mais vídeos meus, do momento arrepiante em que meu pé dobrava de uma maneira horripilante, estavam espalhados no Youtube. Quando tinha tempo de sobra, ou seja, durante os dias em que fiquei internada, aproveitei para observar comentários sobre o assunto. Fique surpresa com a comoção que rondou em torno de mim. Tanto que chegaram a burlar a segurança da minha casa e do hospital para fazer questões sobre o assunto. Um dia lembro de ter acordado com uma câmera e microfone apontados para mim. Logicamente que, no momento, isso me assustou tanto, que gritei por ajuda sem mesmo tomar conta. Atualmente eu ria do assunto, como se fosse uma piada interna.

Portanto, graças aquela falha, o CEO da produtora teve de intervir e deu um ultimato em Song-ah. Ou ele conseguia resolver a situação da maneira mais taciturna possível ou poderia se considerar um homem desempregado. Claramente a pressão estava em cima do pobre rapaz, que ao menos tinha culpa sobre o acontecido. Ainda assim, depois de muita pesquisa, a solução foi encontrada.

Próximo aos Alpes Suíços, numa colina distante das vilas mais fechadas do país, havia um hospital estilo resort. Classe “A”, cinco estrelas, um dos lugares mais luxuosos do planeta. Um lugar perfeito para renovar seu corpo e alma, prendendo você numa atmosfera serena dentro de seus bosques. Porém, tudo era muito caro, somente minha estadia de um mês obrigou a empresa a assinar um cheque com zeros suficientes para manter a minha família por um ano e meio, com estoques infinitos de caviar, chegando a me espantar com a onerosidade do negócio.

Não gostei nenhum pouco em saber que, por um simples descuido meu, as pessoas estão tendo tanto trabalho, gastando rios de dinheiro, com minha recuperação. Mas, as situações exigiam uma conduta contrária. Deveria ir, de um jeito ou de outro. Precisava me recuperar por completo ou teria minha carreira afetada, dando mais prejuízo que agora.

Sendo assim, minhas malas foram preparadas e as passagens compradas. Iríamos a esse centro de reabilitação, nas colinas de Slagner Lake, que pelas fotos parecia ser um lugar paradisíaco, com uma vista de tirar o fôlego.

Fazia poucas horas que havíamos aterrissado nas terras gélidas desse belo país, das montanhas esbranquiçadas pela neve. No aeroporto de Zurique alugamos um carro para seguirmos em frente, onde aproveitamos a pequena folga – o tempo que a locadora foi buscar o carro e trazê-lo ao estacionamento, foi bem espaçoso - para comer algo melhor que a comida oferecida no avião. Para nossa sorte, a pequena comoção causada pela minha entrada com as muletas no saguão, foi curiosa e nada invasiva. As pessoas apenas me encaravam com o olhar de pena, desejando descobrir o que havia acontecido com meu pé. Outros foram mais bondosos e compreensivos, chegando ao ponto de ajudar a carregar nossas malas até o estacionamento. Fiquei apreensiva com a atenção, embora estivesse agradecida, desejava fortemente que isso não inflamasse a curiosidade da imprensa.

Quando finalmente entramos no carro, Song-ah alertou que não haveria mais paradas daqui para frente. A viagem duraria duas horas e somente pararíamos quando chegássemos ao centro de reabilitação, St. Cecília. Entretanto, consegui convencê-lo a parar numa barraquinha no meio da estrada, para comprar deliciosos chocolates suíços, que derretiam em nossas bocas a cada mordida.

Meus olhos estavam vidrados na janela. Era a minha primeira vez visitando essa parte da Europa. Somente nessas oportunidades únicas, que você realmente toma ciência do quanto ainda tinha para ver do mundo. O tom verde da paisagem, a primavera que florescia no horizonte com seus campos de grama alta, os brotos de lavanda se abrindo para o vento, me impressionaram. O sol brilhava de maneira distinta. Estava claro, com uma cor mais suave e calorosa que o habitual. Definitivamente era o tipo de atmosfera que renovaria e sanaria as deficiências do meu corpo.  

Observei de longe os Alpes enevoados, que aos poucos a vista do cume pontiagudo foi aparecendo, mostrando os pontilhados brancos da neve que dominava a maior parte da visão. Não havia nada que me fizesse desgostar da paisagem, porém não conseguia me sentir efetivamente animada, principalmente toda vez que lembrava que ficaria sem internet por quatro semanas. Nada de redes sociais, de mandar mensagens para os amigos. Enviar fotos da viajem para sua mãe... Ah, com certeza aquilo seria um problema. Controlar meu vício tecnológico era algo que muitos tentaram, mas nunca se saíram vitoriosos.

Estiquei meu corpo, sentindo as juntas reclamarem do repentino movimento por ter ficado imóvel mais tempo que o recomendado. Perguntei se poderia desligar o ar-condicionado e assim que recebi a permissão, desliguei-o e abri a minha janela, sentindo o ar gélido das montanhas baterem contra meu rosto.

Milhões de fragrâncias assaltaram meu olfato, guerreando por meus conhecimentos, onde me encontrei presa num jogo mental para tentar descobrir quem pertencia aquele aroma doce e suave. Instintivamente reconheci o frescor da grama, que meu remeteu a cor verde. A tímida fragrância da lavanda mesclada ao aroma de outra flor amarelada que apareceu no campo. E assim segui o caminho até St. Cecília, jogando o estúpido jogo, aproveitando a nova experiência.

O clima pareceu repentinamente mudar da água para o vinho, se tornando mais quente e agradável. Quanto mais a estrada se inclinava e começávamos a subir as colinas de Slagner, acreditei que ficaria insuportavelmente frio. Para minha felicidade o sol permaneceu como nossa companheira, subindo alguns graus a temperatura, tornando a brisa refrescante.

Num momento o carro teve de entrar numa montanha por um túnel iluminado e ventilado, bloqueando minha vista por um curto período de tempo, frustrando-me temporariamente. Quando saímos, meu queixo caiu em surpresa devido à paisagem que cresceu a nossa frente.

Estávamos entrando no território do centro de reabilitação, que praticamente dominava um vale. Construções simpáticas cresceram em nossas vistas, fazendo-me tomar nota de cada detalhe dos prédios mais abaixo da estrada. Estiquei a cabeça para fora da janela, podendo olhar o barranco, e vislumbrar mais daquela visão para saciar minha crescente curiosidade.

- Wow...! – Foi tudo que consegui expressar momentaneamente, arrancando uma risada convencida do meu empresário, que concordou silenciosamente com meus pensamentos impressionados.

Eu ainda relutava em concordar com Song-ah, jamais permitindo que seu sorriso crescesse no rosto, mas ele não havia mentido quando me disse sobre a grandiosidade da beleza natural que o lugar preservava. O verde crescia ainda mais naquele local, travando uma deliciosa competição com as pedras brancas e cinzentas dos prédios, mostrando que embora existisse intervenção humana, havia harmonia entre eles. O homem e a natureza podiam viver pacificamente, desde que preservasse sua essência e respeitasse ao outro.

O declive no asfalto se tornou maior, levando-nos para a entrada principal da instituição. Meu fôlego ficou preso na garganta, ao mesmo tempo em que minha cabeça processava a real dimensão arquitetônica do lugar. Embora houvesse um largo portão de ferro batido e um posto de fiscalização no caminho, ninguém pareceu interessado em nos barrar. Song-ah fez um sinal de mão para um dos guardas que, com um sorriso simpático, retornou o cumprimento e nos desejou “bom-dia”, com um invejável sotaque britânico. Tão perfeito e excitante, que me deu vontade de dar meia volta e escutá-lo falar novamente.

As rodas deslizaram sobre a entrada de St. Cecília, fazendo os cascalhos remoer com o peso do carro, onde somos devidamente recebidos com uma pequena comissão de enfermeiros. Seus uniformes padronizados davam um ar pitoresco, porém isso não diminuía a beleza dos dois homens que nos aguardavam. Os crachás de identificação estavam localizados em lugares visíveis e fiz questão em decorar seus nomes para, quem sabe, fazer algumas consultas periódicas.

Um louro alto, de corpo graciosamente atlético e braços visivelmente musculosos, nos recepciona com um caloroso sorriso de dentes perfeitos e brancos, que poderiam me cegar ao sol. Ele abriu a porta do carona – onde eu estava -, trazendo para mais perto uma cadeira de rodas. Automaticamente meu lábio inferior projetou para frente, mostrando minha repentina indignação sobre o assunto, que definitivamente feria meu orgulho. Eu não queria me submeter à tortura, de mais uma vez, ser arrastada pelos corredores do hospital numa cadeira de rodas. Podia muito bem me sustentar nas muletas, mas não tive de recusar – nesse caso como recusar – a oferta do enfermeiro. Ele não falava coreano. O observei lançar no ar algumas palavras em inglês e, diferentemente do segurança da entrada, seu sotaque foi tão rudimentar, que ao menos abri a boca para reclamar ou declinar sua ajuda. Não havia entendido nada do que disse de qualquer maneira.

Envolta numa atmosfera enervante, que pairou sobre minha cabeça, suspirei desgostosa antes de aceitar sua mão grande e áspera para me impor àquela tortura constrangedora. Lentamente apoiei o pé engessado no lugar certo da cadeira e encontrei Song-ah parado na porta, conversando com seu inglês improvisado, com outro enfermeiro que balançava a cabeça afirmativamente, tomando suas palavras como ordem.

Felizmente foi impossível manter meu mau humor diante da grandiosidade que cresceu em minha visão. Podia, finalmente, ter um vislumbre mais próximo da formosura do lugar. Um grunhido de aprovação escapou da garganta, parecendo mais o rosnar de um animal oprimido. Aquilo era um castelo. Quer dizer, parecia um enorme castelo medieval, mesclado ao ar moderno das mansões parisienses do século XIX. Era uma magnífica construção de pedra, que com o passar do tempo, se tornou escura e de aparência selvagem, com gavinhas que saiam do jardim em direção ao telhado vermelho escuro. Os longos e coloridos vitrais tinham uma aparência propositalmente fosca, recebendo o resplendor e calor do sol, lançando feixes coloridos na calçada de concreto batido e liso. Pequenos arbustos floridos rodeavam a entrada e a curta escadaria e rampa, do qual prontamente o enfermeiro tratou de subir comigo, sendo seguido por meu empresário que arrastava minhas malas atrás de si.

Soltei mais uma exclamação de incredulidade ao entrarmos no saguão, ao dar de cara com a luxuosidade e imponência, que somente o dinheiro poderia comprar. O chão era todo tablado com um tipo de madeira vernizada de cor avermelhada, que combinava com os móveis coloniais, de estofado estampado em arlequim azul royal, que competia graça e elegância com os equipamentos eletrônicos, todos de ultima geração, que dominavam a recepção.

O charme e graça do século XX mantinha a perfeita sincronia com a atualidade, tanto que não me senti estranha ao ser recebida pela recepcionista, que usava um coque apertado e arrumado, usando roupas comportadas e femininas, como se tivesse atravessado um portal da década de 50 e viesse nos apresentar as acomodações da instalação.

Logicamente não compreendi por completo a conversa que se iniciou com Song-ah, ela tinha um sotaque francês que acentuava seu inglês, tornando-o ainda mais garboso. Seus olhos azuis brilhavam com demasiada simpatia, mas o sorriso mecânico e comercial me fez ter a impressão de que fazia isso muitas vezes, como se tivesse sido treinada para agir daquela maneira com os clientes. De vez em quando seu olhar caia para mim, e educadamente me questionava algo, cobrando uma tradução gaguejada e inquieta de Song-ah, que obviamente estava se sobrecarregando em ter de fazer o trabalho de tradutor e ainda cuidar das minhas acomodações.

A enfermeira apontou para a longa escadaria que dividia a entrada do resto e alertou que os andares de cima ficavam os consultórios da ala psiquiátrica, pois antigamente aqui era um sanatório no início da década de trinta, que virou abrigo para refugiados no auge da segunda guerra mundial. Obviamente aquele lugar tinha um histórico e isso incitou minha imaginação. Pedindo educadamente que a seguíssemos, ela nos dirigiu para uma porta automática, que se abriu para o “quintal” de St. Cecília.

Questionei-me sobre os seus conceitos de quintal. Para mim não passava de alguns metros quadrados gramados, como o lugar atrás da casa da minha mãe, onde costumava brincar quando criança. Aqui o quintal tinha uma dimensão que meus olhos não conseguiram captar por completo. Era mais um tipo de bosque que se estendia até o pé da montanha, tendo quilômetros de extensão verde. Eram tantas árvores que nem me atrevi a adivinhar sua quantidade.

O bosque me fazia ter a sensação de que estava sendo transportada para algum conto de fadas e, a qualquer momento, encontraria a Branca de neve e seus sete anões, conversando pelo caminho de pedras amarelas, onde Dorothy e seus amigos se dirigiriam para a Cidade das Esmeraldas, cantarolando e saltitando alegremente. Com certeza aquele era o lugar mais mágico que visitei em minha vida. Nunca me deparei com uma beleza tão estonteante e livre. Por mais que tentasse me lembrar que ali não poderia ter nenhum tipo de comunicação com o mundo exterior, algo me dizia que isso não seria mais um problema... Não quando havia muito a observar e desbravar.

Seguimos pela trilha de pedra lisa e uniforme, por onde as rodas da cadeira não encontraram nenhum tipo de resistência, andando pacificamente pelo jardim bem cuidado. Minha cabeça desfocou por um período de tempo da palestra – oferecida pela recepcionista - sobre o lugar e observei a campina mais próxima. Ela ficava mais ou menos treze metros de distancia e tinha uma grama macia e alta, na qual algumas hastes de flores amareladas em formato de pluma cresciam na relva, atraindo pequenas borboletas de asas azuis que brilhavam ao sol. Tal imagem me fez acreditar que, se passasse alguns segundos deitada ali, poderia me desconectar de vez do mundo e dormir tranquilamente sob as sombras das árvores.

- Essa é a parte do alojamento. – Song-ah cobrou minha atenção dispersa, me fazendo acordar para a conversa que ainda se desenrolava a frente.

O enfermeiro deslizou a cadeira de rodas, parando em frente a uma cabana de dimensão pequena, construída com madeira escura, de um simpático telhado coberto por musgo e folhas de pinheiro. Havia uma curta escadaria frontal, que levava para uma varanda compacta, que dava para alocar um cadeirante. Evidentemente não precisei me incomodar em levantar, pois havia acessibilidade na pequena casa para permitir o acesso da cadeira. Uma chave foi passada a meu empresário, permitindo que abrisse a porta de madeira entalhada para que pudéssemos entrar na casa. Senti como se estivesse dentro de um hotel na beira de uma floresta americana, para acampar com a família e amigos. Meus olhos automaticamente varreram o cômodo único, atravessando a cama, que não era hospitalar, mas era feita de ferro batido, do qual em cima repousava um generoso colchão de solteiro, que podia abrigar duas de mim com facilidade e ainda sobrar espaço. Seus lençóis imaculadamente brancos me intimidaram, fazendo-me temer em sujá-los com um simples toque. Havia um criado mudo, produzido da mesma madeira que a casa, onde um silencioso abajur permanecia sobre com sua imobilidade elegante. Uma poltrona envelhecida pelo tempo, mas intacta pelo pouco uso, estava posicionado, estrategicamente, próximo à janela, ao lado da cama, do qual consegui me imaginar descansando numa manhã chuvosa, com uma caneca de chocolate quente na mão, podendo observar a visão limitada – ainda que bela – da campina, que me deslumbrou no caminho para cá. A mesa redonda e pequena que ficava perto da entrada chamou minha atenção. Havia duas cadeiras que a acompanhava de uma beleza simplória, se opondo a sumptuosidade da cama. Um baú ao pé da cama me fez relembrar das malas, que agora estavam colocadas ao lado da porta de entrada. Seria naquele móvel onde poderia dispor de espaço para minhas roupas, que simplesmente não eram poucas, fazendo-me questionar se conseguiria colocar tudo ali dentro. Pertences pessoais poderiam ser colocados nas estantes ao lado de uma porta, da qual pela curta fresta tive o vislumbre de um banheiro de ladrilhos azuis e louça branca. Tinha uma cômoda abaixo das prateleiras, questionei a funcionalidade dele ao meu empresário, que questionou a recepcionista, que lhe respondeu ser o armário que servia para estocar roupas de cama limpas.

Tendo sido tudo a mim apresentado, me voltei para Song-ah, que tinha se afastado de mim para conversar com a recepcionista. Senti um sentimento amargo dominar minha boca ao tomar percepção que, em nenhum momento, havia o visto tirar suas malas do carro. Pela acomodação da cabana ficava evidente que não caberia outra pessoa ali dentro, pelo menos não confortavelmente.

Isso não era um bom pressentimento.

Assim que o belo enfermeiro e a simpática recepcionista foram embora, fui até ele com a intenção de questioná-lo.

- Onde você vai dormir? – Minha pergunta pareceu pegá-lo desprevenido.

Para meu incômodo, ele abriu aquele seu sorriso sem graça, estreitando ainda mais seus olhos, tornando impossível de lê-los. Meu corpo se agitou inquieto na cadeira, prevendo sua resposta.

- Não vou poder ficar... Você sabe disso. – Tentou diminuir a culpa que pesou seus ombros, passando o máximo de arrependimento que pode transmitir sem provocar minha raiva. – É mais caro dormir aqui, que em um hotel de luxo em Genebra! – Balançou negativamente a cabeça, como se a ideia fosse inaceitável e socou as mãos nos bolsos do casaco cor de chumbo. – Além disso, appa me quer de volta até amanhã a tarde. Disse que preciso monitorar o que seu sumiço vai provocar na imprensa e impedir que descubram seu paradeiro.

Suspirei fortemente, indignada com a desculpa apresentada. Isso certamente era coisa do nosso chefe. Ele deveria estar extremamente inseguro com minha posição fragilizada, tentando evitar mais alarde e confusão entre meus fãs e admiradores, ao mesmo tempo em que se preparava para evitar que nossos patrocinadores nos abandonassem de maneira leviana. Era preciso ter alguém para administrar a loucura em Seoul, enquanto eu deveria permanecer reclusa para me recuperar.

Mesmo entendendo a extensão da problemática, me custava a ceder. Ficar sozinha foi algo que sempre quis evitar e ser abandonada aqui, num lugar desconhecido, sem saber ao menos como me comunicar apropriadamente, era outro tipo de situação que abominava.

- Como vou me comunicar com eles? – Apontei o primeiro dos muitos problemas que listei em minha cabeça, lançando meu olhar mais desolado e abandonado sobre sua figura encurvada. Minha atitude pareceu incomodá-lo, pois visivelmente vi suas mãos se remexer inquietamente no bolso. – Inglês nunca foi o meu forte... Então como vou saber que estão me tratando da maneira certa, se nem conversar com eles consigo de maneira apropriada?

Foi à vez dele de suspirar com força, mostrando-se consternado com minha insistência, mas inabalável em como deveria prosseguir.

- Não arranje mais problemas, Hyuna. Vamos manter esse plano! – Disse firmemente, ainda que evitando me encarar, como se temesse ceder aos meus pedidos. – Prometo que venho ver como você está no final do mês!

Fez tal promessa absurda, arrancando um grunhido irritado e ofendido de mim. Embora tivesse sido contrariada por ele, virei o rosto e aceitei a situação. Não tinha nada mais a ser feito, se Song-ah precisava voltar, não podia impedi-lo. Minha situação era muito delicada aqui e submetê-lo a ser meu acompanhante por esse tempo seria ainda mais estressante, tanto para mim quanto para ele.

- Que seja... – Resmunguei infantilmente.

Contudo isso pareceu confortá-lo, ao ponto de receber em troca um sorriso seu. Como se tivesse congratulando uma criança bem comportada, dando tapinhas gentis em meus ombros, tentou mudar meu humor. Respirei fundo para afastar a solidão que aos poucos se aproximava de mim e lhe sorri de maneira esquisita.

- Não se preocupe quanto à comunicação – ele falou em contrapartida, mudando o foco da conversa, para espairecer a atmosfera desagradável entre nós. Seus pequenos olhos pareceram brilhar em orgulho próprio de sua inteligência e astúcia. -, pedi que enviassem alguém que fale coreano para cuidar de você. E se não me engano, o médico encarregado de seu tratamento foi recentemente transferido de Seoul.

- Você o conhece? – Questionei meio hesitante com a notícia. Tinha me acostumado à gentileza do doutor Jin, que ficou responsável da minha pós-cirurgia. Ele sempre me visitava no quarto, mostrando-se preocupado em convalescer minhas dores. Seu sorriso amplo era afetuoso, deixando seu rosto fino ainda mais atraente...

- Hum, na verdade não... Mas sei que essa pessoa é bem talentosa. – Song-ah contorceu a boca por alguns instantes, como se lembrasse de algo, arrancando-me dos meus devaneios. – Pelo menos foi isso que o diretor daqui transmitiu na mensagem.

Suspirei antes de revirar os olhos e apoiar a testa na minha mão. Ele deveria ser mais cuidadoso se quisesse manter sua profissão como gerente. O diretor de St. Cecília poderia ter mentido somente para satisfazê-lo e enviar um açougueiro para cuidar da minha reabilitação. Ninguém deveria ser tão irritantemente despreocupado e negligente quanto meu empresário foi nesse momento.

Tentando não me irritar ainda mais com ele, voltei a encará-lo e pensei em questiona-lo sobre o lugar, estrategicamente mudando de assunto, quando batidas ritmadas na porta cortou nossa interação. Antes que um de nós se expressasse, a pessoa entrou no quarto, colocando timidamente a cabeça para dentro. Encarei-a de maneira curiosa, questionando-me quem seria ela.

- Bom dia! – A mulher nos cumprimentou falando num coreano claro e discorrido, fazendo uma onda de alívio varrer meu interior. Seus olhos amendoados sorriram para mim juntamente com seus lábios. Foi uma reação fofa e tímida. – Me chamo Taemin e sou a enfermeira responsável do setor. – Se apresentou educadamente, inclinando a cabeça suavemente para baixo, fazendo ondas do cabelo longo e pesado cair sobre os ombros.

- Finalmente alguém que fala a minha língua! – Falei por brincadeira, arrancando uma risada constrangida da enfermeira, que desviou o olhar para mim e Song-ah, parecendo questionar-se mentalmente.

- Creio que Alexia já deve ter instruído o procedimento daqui, certo? – Se dirigiu a nós dois, e ao notar minha momentânea confusão, pareceu agir receosamente.

- Explicou sim, mas Hyuna não entendeu muita coisa... – Song-ah tomou partido, fazendo piada da minha situação se referindo à conversa que teve com a recepcionista. Dando-me tapinhas nos ombros de maneira camarada tentou me confortar. Sem querer um rosnado ameaçador escapou da minha garganta, obrigando-o a parar o que fazia. Remexendo-se no lugar, voltou à atenção para a enfermeira. – Você poderia explicar a ela?

- Essa é minha função, senhor. – Prontamente Taemin tomou a obrigação para si e se voltou para mim. – Ainda temos uma hora antes de nos encontrarmos com o médico responsável... Deseja visitar as instalações, senhorita...?

 - Hyuna... Apenas me chame de Hyuna. – Pedi calmamente, retribuindo sua gentileza com um sorriso. – E sim, adoraria conhecer tudo.

Taemin acenou com a cabeça, satisfeita com o início agradável entre a gente e se aproximou para tomar o comando da minha cadeira de rodas. Voltei-me na direção de Song-ah e o flagrei observando a enfermeira de cima a baixo. Revirei os olhos para aquilo... Homens não conseguiam controlar o olhar em frente a uma bela mulher.

- Você vem também? – O questionei de maneira rude, acordando-o do transe imposto em si próprio, fazendo-o limpar a garganta audivelmente. Suas bochechas ficaram coradas ao ver que, eu havia notado sua reação perante Taemin.

- Vou sim!

Ele se prontificou, indo em direção à porta, abrindo-a e mantendo-a aberta para nós duas.

O passeio foi bem interessante, o suficiente para tomar informações importantes sobre o lugar. Tudo era dividido em cinco setores, que tinham como referencia cinco prédios principais. O primeiro deles nós já havíamos sido apresentados. A ala psiquiátrica permanecia na parte que não foi tocada na reforma, servindo de entrada, mantendo a tradição e elegância do passado naquelas pedras históricas. Havia um complexo destinada a reabilitação de pacientes com problemas físicos, que era consideravelmente grande, se estendendo em mais dois prédios pequenos. Um deles parecia um complexo aquático, mesclado a uma academia high-tech. Ele ficava na parte mais afastada, beirando a entrada profunda do bosque, onde a cobertura dos pinheiros era mais densa, chegando a ser sombria. Aquele lado era movimentado. Taemin comentou que muitos atletas famosos vinham para tratar suas contusões, pois aqui era oferecido o melhor programa de reabilitação do mundo.

Traduzindo, valia a pena o dinheirão que estávamos gastando aqui.

Ela nos levou para outro setor que chamavam de clínica. Num prédio de extensão retangular e arquitetura moderna, coberta de grandiosos vitrais espelhados, ficava a ala médica. Os consultórios, a emergência, UTI’s e salas de operação se encontravam reunidas dentro daquele lugar. E eu podia perceber que realmente parecia um hospital. O fluxo de médicos e enfermeiros era mais intensivo do que no lugar inteiro.

Ao longe, numa redoma erguida por pilastras de metal e modelada por vidros, interligada por um corredor de setor ao outro, se encontrava o refeitório. A enfermeira comentou que era um espaço bem simpático. O restaurante e cafeteria ofereciam um cardápio de qualidade, valorizando ainda mais o espaço. Era um canto que nem todos os pacientes podiam entrar, sejam por estar doente demais para sair da cama ou realmente ter permissão para fazê-lo. Mas, como o meu caso não era nenhum extremo, alertou que poderia vagar por lá nos horários da refeição, caso não quisesse ter minhas refeições no quarto, é claro. Logicamente declinei sua ideia... Não havia dúvida de que queria ir para lá. Tudo menos ficar trancada dentro do quarto. Explorar St. Cecília está me saindo uma ótima programação, sem mencionar os belos rapazes que vi saindo de lá. Sem dúvidas adoraria observar aquela paisagem, se é que me entende?

- Bom, já que estamos aqui, acho que deveríamos seguir para sua consulta. – Consultou o relógio em seu pulso para ter a certeza do horário e se posicionou atrás de mim, empurrando-me na direção da clínica.

- Você conhece o doutor? – Me virei para encará-la e encontrei sua sobrancelha erguida, parecendo intrigada com minha pergunta.

- Não seria doutora? – Começou a rir meio sem jeito, mas ao ver que estava muito séria sobre o assunto, logo engoliu o riso. – Você realmente não sabe quem vai tratar você?

Balancei a cabeça negativamente e lancei um olhar cortante na direção de Song-ah, que desviou o olhar para o horizonte, apropriadamente, naquele momento, fingindo ignorar-me. Notando tal reação, Taemin evitou se expressar e abaixou a cabeça, na tentativa de esconder a risada. Sua atitude me deixou ainda mais apreensiva que antes. Quem seria o tipo de pessoa que estava encarregada a cuidar de mim?

- Então vamos indo, assim você descobre. – Ela sorriu de uma maneira quase que maliciosa, fazendo minha apreensão revirar o estômago apertado.

- Pelo menos me diga se é mulher ou homem! – Choraminguei infantilmente, arrancando outra risada sua. Ela parecia se divertir com meu desconforto, não de uma maneira maldosa, mas como se realmente gostasse de brincar daquela maneira.

- Mulher. – Cedeu a meu ataque infantil, satisfazendo o pouco da minha curiosidade, porém quando encontrei um brilho indecifrável em seus olhos escuros, senti-me ainda mais insegura sobre o encontro.

Sem falar mais nada, ela empurrou a cadeira em direção a clínica, dirigindo-nos para a bagunça de jalecos brancos.


Notas Finais


Comentários? Até a próxima semana, pessoal! ^^


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