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História Champagne Problems - Oscula


Escrita por: thereddiamond

Notas do Autor


Olá, como vão?
Oitavo capítulo postado e está um pouco maior do que pensei que ficaria, mas acho que vai valer a pena... Pelo menos acho que sim. Kekekekekekekek.
Ah, antes que me esqueça, não posso deixar de comemorar os 22 favoritos! Sinceramente isso é incrível, porque acreditei que não chegaria a tanto. Estou tão orgulhosa *-*. Por isso muito obrigada a todos pelo carinho, seja favoritando, comentando ou somente acompanhando. Rs.
Por isso, animadamente desejo boa leitura! Beijos ♥

Capítulo 8 - Oscula


O primeiro cômodo a mim apresentado foi um enorme salão, que parecia uma confortável sala de estar decorada em tons amarronzados. Em nossos pés uma frondosa tapeçaria nos deu boas-vindas com elegância. Uma alta mesa, onde repousava um jarro de porcelana em cima, era a fonte do agradável cheiro de flores que dominava o lugar, devido ao sutil buque de rosas brancas que nele haviam colocado.

Ali dentro permanecia quente e confortável. Um pouco mais ao fundo escutei vozes baixas, parecia que havia duas ou três pessoas conversando confortavelmente sentadas nos sofás de couro, dispostas num sentido de “L”. Eu não os conhecia e eles também não pareciam interessados em olhar na nossa direção. Não estavam curiosos com a chegada de novas pessoas. Talvez estivem ocupados demais se aquecendo na requintada lareira de mármore acessa, mantendo o conforto na casa.

Ainda com a mão dominando a minha, Jiyoon me arrastou para a escadaria que se dividia em duas, guiando tanto para a esquerda ou direita. Entramos na área leste do edifício, que mais parecia um casarão dos filmes populares da década de cinquenta. A escada feita de mogno rangia suavemente, retrucando a cada passo que dávamos alertando a qualquer pessoa da nossa ida para o primeiro andar. Um extenso corredor iluminado por luminárias douradas se expandiu em meus olhos. Fitei curiosamente as portas, me questionando onde ou quando iríamos parar. Certamente aquela luxuosa instalação era surpreendente, pois quem olhava o lado de fora não poderia imaginar o que poderia encontrar por dentro. Definitivamente nunca devemos julgar um livro pela capa. Criar julgamentos precipitados pode gerar incômodos desnecessários. E, convenhamos, desde o início estava receosa em entrar naquele lugar e acabar descobrindo se tratar de uma casa mal assombrada, pelas almas atormentadas dos internos do antigo sanatório. Deixar me levar pela imaginação nunca era uma boa ideia.

 Sem tecer nenhum tipo de comentário, lançando olhares esporádicos em minha direção para ter a certeza de que ainda a seguia, Jiyoon parou em frente a uma porta com o número cinco parafusado na madeira clara. O ferro dourado cintilou timidamente a nossa frente. Um tintilar metálico chamou a atenção dos meus olhos e vi que havia tirado do bolso da calça um pequeno molho de chaves. Ela rapidamente colocou a chave na fechadura e destrancou a porta com suavidade.

Dessa vez soltando minha mão abriu a porta e me incentivou a entrar primeiro. Tive que engolir em seco porque minha boca parecia seca como osso. Tentei não me abalar pelo nervosismo, que aos poucos consumia meus neurônios, dificultando a decisão, se entrava ou não. Meus olhos se estreitaram devido à fraca iluminação no cômodo, ainda assim me forcei a entrar, sabendo que não teria mais volta a partir daqui. E, como se lendo meus pensamentos, a luz se acende.

Embora a visão a minha frente tenha me feito perder o fôlego por alguns segundos – pois havia ficado muito ansiosa para nada –, surpresa por encontrar um tipo moderno de apartamento e não qualquer coisa esquisita. Senti a presença da médica às minhas costas, fazendo-me ter plena ciência de que, naquele exato momento, éramos somente nós duas. Não haveria olhos ao nosso redor e muito menos câmeras. Era apenas eu e ela.

A porta atrás de mim foi cerrada num baque surdo, tornando-me cada vez mais ciente da presença de Jiyoon. Seria impossível não me sentir cercada por ela, até porque seu perfume dominava todo o ambiente. Estava em seu território e eu era quase que uma presa “indefesa”. Seus passos abafados pelo carpete alertaram-me de sua aproximação, o que me fez ignorar o bater acelerado do meu coração, atenta a qualquer som que produzisse. A tensão em mim pareceu dobrar quando a senti muito perto, podendo ser capaz de escutar sua respiração tranquila. Se brincasse, seria capaz sentir o calor que emanava de seu corpo.

Contudo, para minha eterna decepção, ela passou diretamente por mim sem dirigir um mísero olhar. Me esforcei a perceber que, por alguns instantes, ela pareceu meio nervosa.

- O que achou do apartamento? – Perguntou com a voz controlada, seguindo para perto do sofá, se apoiando nele para não desequilibrar enquanto retirava os sapatos. – Não é muito grande e nem muito espaçoso, mas para passar uma boa noite de sono é uma boa opção.

Rá, aqui estava sua mente sagaz e preparada para mudar a atmosfera. Isso não poderia ter me irritado mais. No entanto, me senti superficialmente aliviada. Se a médica tivesse investido sobre mim... Sei lá, feito qualquer coisa, eu não saberia como proceder.

- Se comparado ao banco, esse lugar é uma cobertura de luxo. – Comentei de maneira implicante, na tentativa de não evidenciar minha frustração. Vê-la retirar seus sapatos me fez fazer o mesmo, embora não tivesse pedido para que o fizesse. Equilibrando-me sobre um pé, lancei meu olhar no apartamento e o avaliei com sinceridade. – Esse lugar é muito bom... Nem se quer pude imaginar algo do tipo. A fachada do prédio dá a sensação de outra coisa.

Peguei meus sapatos e finalmente pude sentir a profundidade da maciez do carpete cor de creme sob meus pés. Era como se estivesse pisando em nuvens, uma maravilha para os pés cansados. Meu comentário pareceu atrair a atenção dela, que arqueou uma sobrancelha, intrigada com o trilhar dos meus pensamentos, enquanto vinha na minha direção e pegava os sapatos da minha mão. A observei coloca-los num canto perto da porta.

- Onde você pensou que eu a levaria? – Perguntou e antes que a respondesse se virou para mim com um sorrisinho irritante crescendo nos lábios e instintivamente soube que viria uma provocação. Ela definitivamente não queria uma resposta, apenas estava arranjando motivos para tirar sarro de mim. – Não me diga que você pensou no quarto vermelho da dor!

Visivelmente Jiyoon tentava segurar o riso com muito esforço, tanto que seus lábios começaram a ter espasmos incontroláveis. Não pude esconder que eu realmente havia pensado naquela possibilidade. Ah, não era difícil pensar em coisas tão fantasiosas e absurdas quando a escutei falar daquela maneira tão misteriosa. A melhor possibilidade que imaginei foi a de que fosse uma sadomasoquista... Como eu disse, era a melhor possibilidade, ainda que não menos estúpido.

- Definitivamente você não é o Christian Grey, unnie. – Acabei rindo da minha própria lógica absurda. Eu estava certa em saber que ela conseguia moldar a atmosfera de maneira favorável. Se antes me sentia tensa e ansiosa, agora estava tranquila e confortável. – Mas o que você queria que eu pensasse quando disse que “fazia certas coisas”?

Joguei a pergunta humoradamente, dando a entender que a culpa era dela por me fazer pensar idiotices.

- Você poderia pensar em qualquer coisa menos isso... – Soltou uma risadinha e dirigiu-se até a cozinha americana, pedindo para que a seguisse.

Entrando atrás do balcão de granito, se agachou, sumindo atrás dele, obrigando-me a inclinar sobre ele para ver o que fazia. Para minha surpresa a vi abrindo um frigobar embutido e disfarçado como um dos armários, completamente abastecido de bebidas alcóolicas. Havia latas de cerveja, garrafas de vinho e espumante. Até mesmo vodca russa tomou partido ali dentro.

- Embora seja médica, também preciso seguir algumas regras estabelecidas pela diretoria. São normas bem severas e que podem comprometer nossos empregos caso sejam descumpridas. E uma delas rege o consumo de álcool, do qual é terminantemente proibido. Nem mesmo durante os momentos de folga. – Apontou para as bebidas geladas em seu frigobar, olhando-me com certa arrogância. Parecia se orgulhar do “pequeno” contrabando. – Digamos que eu e alguns de meus colegas concordamos que a vida sem um pouco de bebida é um tanto sem graça, então tivemos que montar um esquema para trazer essas belezinhas de fora.

- Por isso que você sabe aquilo tudo sobre a vigilância? – Assobiei impressionada com o novo fato que acabei de descobrir sobre minha médica.

Sorrindo convencida, ela voltou a se erguer, fechando o frigobar. Havíamos encerrado aquele assunto e por breves minutos ficamos em silencio, seja avaliando a atmosfera ou olhando para o apartamento, que permanecia a nossa espera. Todavia Jiyoon preferiu mudar aquela situação, mantendo o ritmo humorado.

- Quer beber alguma coisa? – Perguntou como uma boa anfitriã. – Tenho um pouco de tudo...

Aquela brincadeira tinha um duplo sentido do qual somente nós duas sabíamos. Está bem, talvez mais algumas pessoas sabiam, é claro, mas isso não diminuía minha felicidade. Pela primeira vez desde que nos conhecemos estávamos em sintonia sobre algo. Levantando os lábios num sorriso, aceitei que definitivamente estava precisando daquilo para me sentir ainda mais próxima a ela. Sentei-me em uma das banquetas de sua cozinha e a encarei diretamente nos olhos, não precisava temer em nada.

- O que você sugere? – Apoiei meus cotovelos sobre a bancada, deitando o queixo sobre as mãos, aguardando pacientemente a resposta.

- Sinceramente não sei. Você é minha paciente e é meio contra minhas condutas médicas te oferecer álcool... – Resmungou ao projetar minimamente o lábio inferior, parecendo contrariada com a situação.

- Não estou aqui como sua paciente, unnie... E, sim, como uma amiga. – A palavra quase que não saia da minha boca, ficando parcialmente presa na garganta e ainda assim, após tê-la expressado, senti que havia algo de errado com ela. Não se encaixava em nenhum contexto possível.

Entretanto minha hesitação não pareceu afetá-la, pois novamente abria um de seus sorrisos calorosos, que tomaram uma dimensão diferente. Digamos que estava secretamente garboso.

- Se é assim... Aceita uma cerveja? – Se sentou mais uma vez sobre os tornozelos, ficando na mesma altura do frigobar e retirou uma lata de Budweiser. Mostrou-a para mim esperando que tomasse minha decisão. – Você bebe cerveja, não é?

Ela parecia sinceramente preocupada com o fato de estar acertando o meu gosto. Cerveja não era minha bebida preferida, entretanto conseguia bebê-la desde que tivesse um gosto mais suave. Para sorte dela, a marca era a mesma da minha preferência por ser mais fraca. Sem lhe responder, apenas agradecendo com um sorriso no rosto, estiquei minha mão, pedindo que passasse a lata. Devolvendo meu sorriso com mais amplitude, entregou-me a cerveja e pegou outra para si. O lacre facilmente se abriu assim que a forcei para cima e imediatamente dei uma ligeira bebericada, somente para saboreá-la, sentindo o sabor forte e amargo da cevada carbonada chocar contra minha língua. Como estava bem acondicionado no frigobar, o gosto pareceu mais tentador que o normal e finalmente me dispus a tomar um gole mais confiante. Repentinamente sentia sede.

Rindo da minha reação quase ingênua, Jiyoon me seguiu só que de maneira diferente, dando uma longa golada. Depois de dois goles e uma troca de sorrisos, ela lembrou o motivo de estarmos dentro do seu apartamento.

- Ah, certo! Que filme você quer ver? – Agitadamente contornou a bancada e esticou uma de suas mãos quentes. Automaticamente, sem precisar pensar muito tempo, minha mão encontrou a sua e fui guiada para a pequena sala de estar. – Tenho um pouco de tudo... Desde filmes clássicos até os mais recentes. – Disse ao colocar sua cerveja em cima da mesa de centro, soltando minha mão para seguir até uma estante que ficava ao lado da televisão. – Qual o seu gênero favorito?

 Fiz o mesmo que ela e me aproximei da estante, parando ao seu lado, observando com curiosidade sua coleção de filmes. Não havia mentido quando disse que tinha “um pouco de tudo”. Ela sempre parecia preparada para qualquer coisa.

- Acredito que gosto de romance e dramas... – Expliquei sem muita certeza, batendo o indicador no queixo. Meu olhar foi diretamente atraído a um filme em questão que tinha a capa rosa bastante chamativa. Rapidamente o peguei e não consegui evitar em sorrir por pura nostalgia ao ler o título. – Bonequinha de Luxo. Minha mãe adora esse filme...

- Quer assistir ele? – A olhei com curiosidade e percebi um brilho diferente em seus olhos. Parecia ter se empolgado por algum motivo secreto. – Podemos começar por ele e depois escolhemos outro... O que acha?

- Acho que está perfeito! – Soltei uma risada meio envergonhada pela intensidade de seu olhar e entreguei o filme para que pudesse coloca-lo no reprodutor.

Enquanto o filme era reconhecido pelo aparelho, a observei correr rapidamente de volta para cozinha e depois de batucar em algumas estantes e gavetas, como se tivesse revirando tudo dentro da casa, retornou a sala com o braço lotado de pacotes de salgadinhos e guloseimas. Parecia que a bebida não era a única coisa da qual gostava de contrabandear. Ajudei-a colocar tudo sobre o centro de mesa e nos acomodamos no sofá de dois lugares, que era largo o suficiente para comportar mais uma pessoa.

Em poucos minutos Audrey Hepburn e sua elegância teatral era reproduzida na tela da televisão, com aquele ar romanesco e fantasioso, durante a introdução clássica em frente à loja da Tiffany’s, onde suspirava desejosa pelos diamantes enquanto comia um bagel com uma expressão sonhadora.

Vez por vez, durante a execução do filme, me peguei observando silenciosamente a doutora, sem que ao menos tomasse conta do que verdadeiramente fazia, acabando por esquecer que estava ali para assistir o filme e não sua pessoa. Era praticamente impossível não fazê-lo, pois ela se demonstrou uma distração fascinante. Acabei fixada em seus movimentos, por mais sutis que fossem, não permitindo que meus olhos escapassem ao acreditar que qualquer novidade, seja da maneira como seus lábios se curvavam para cima ou em como sua língua rosada provava a comida antes de realmente coloca-lo na boca, me deixava esfuziante, ansiosa, sem motivo. Eu sentia que desejava algo e meu âmago queimava por essa coisa misteriosa, da qual não fazia qualquer noção do que poderia ser.

Notando que estava a observando muito descaradamente, correndo o risco de ser pega, voltei a olhar para a tela e tentei me concentrar no filme. Nem mesmo o humor cômico daquele romance épico conseguiu me fazer esquecer a presença de Jiyoon. Era como se tivesse ao meu lado uma pira flamejante, brilhante como o sol, me fazendo sentir a vontade de escapar o olhar para admirá-la.

- Você disse que sua mãe adora esse filme... – Ela repentinamente fala, deixando-me momentaneamente confusa. Nossos olhares se chocaram quase no mesmo instante, pegando-me surpresa ao reconhecer curiosidade gravada naqueles hipnotizantes orbes escuros. – Me fale um pouco sobre ela.

Sua repentina curiosidade me pegou desprevenida. Não era o tipo de assunto que esperava ter naquela hora, sem mencionar que era algo sobre mim e uma das mais profundas. Dessa maneira, tomei a percepção de que sempre estava disposta a descobrir coisas sobre ela, enquanto mantinha a minha vida em sigilo. Não porque verdadeiramente haja a esconder, minha vida estava à disposição do público pela internet e televisão. Somente não senti a necessidade de contar nada, por ter a sensação de que ela parecia me conhecer bem, quando na verdade o máximo de coisas que poderia saber sobre mim foram às poucas informações que leu nos prontuários médicos e o que eu disse por educação.

- Hmm, todo mundo diz que eu sou muito parecida com ela quando tinha a mesma idade... – Comecei a contar com honestidade, parando um curto instante para pensar em como iria prosseguir, pois raramente as pessoas pediam para descrever minha mãe. – Mamãe é uma pessoa carinhosa, ainda que muito independente. Digamos que é dura na queda.

Peguei minha cerveja e a beberiquei para molhar a garganta, sentindo-a repentinamente seca. Falar das pessoas que mais amo aflorava meus sentimentos, provocando essa imatura vontade de chorar. Enquanto me controlava, espiei por entre meus cílios e vi que não tinha saciado sua curiosidade. Na verdade chegou a se inclinar um pouco mais em minha direção, parecendo atenta a qualquer palavra.

- Ela certamente teve que aprender a se virar depois que se separou do meu pai... Eu tinha cinco anos quando tudo aconteceu e não entendia nada. Muito menos meu irmão... Sem mencionar que ela ainda estava gravida do terceiro filho. – Vi que ficou levemente espantada com a história, mas logo sorriu docemente. – Naquela época as coisas simplesmente não pareciam melhorar em nada. Passamos por muito sufoco juntas, mas isso de alguma forma nos aproximou. – Passei a mão pelo cabelo, me sentindo encabulada por falar daquela maneira profunda. Desviei o olhar para a televisão, sentindo que mais uma vez a tristeza tentava me consumir. Pensar na mamãe fez com que a saudade batesse em meu peito. – Ela é minha força e certamente é alguém que admiro muito.

- Sente falta de conversar com ela, não é? – Jiyoon acrescentou num tom de afirmação, mesmo que fosse uma pergunta, me olhando fixamente. Balancei minha cabeça positivamente, pois realmente sentia falta de escutar a voz carinhosa e tranquila da minha mãe. – Então ligue para ela.

- Aqui não pega sinal de telefone. – A lembrei sem muita necessidade, abrindo uma expressão de azedume. Não a culpava daquele inconveniente detalhe, mas não consegui reagir de maneira diferente.

Apesar disso ela não falou nada, como se não ligando para minha atitude, meramente se levantou do sofá, indo, em seguida, para o quarto, que era separado da sala por uma longa estante de livros. Pelos espaços vazios dos nichos consegui vê-la procurar algo dentro da gaveta do criado mudo, perto da cama, e ao encontrar o que queria, voltou rapidamente para o meu lado. Ao se jogar no sofá estendeu um objeto na minha direção e fiquei meio surpresa ao encontrar um telefone sem fio. Ele era grande. Parecia um tijolo preto com uma enorme antena, lembrando muito aqueles celulares da década de noventa. Uma curiosa relíquia a mim foi apresentada.

- Eles dão esse telefone para nos comunicar com o lado de fora... – Explicou com um breve sorriso crescendo no rosto, notando o meu espanto e curiosidade, achando-o engraçado. – Vocês pacientes não devem ter comunicação nenhuma com o exterior, mas para nós é necessário. – Seu olhar novamente estava ali sustentando o meu, me transmitindo segurança. – Eu raramente o uso e somente ligo para meus pais... Mas, posso fazer uma exceção para você.

Deu de ombros como se não importasse e pacientemente esperou que apanhasse o aparelho. Minha garganta se fechou completamente, dificultando a respiração. Alertei-me para respirar fundo, assim acalmando os nervos que fritavam e aproveitei a oportunidade que estava sendo a mim ofertada. Não precisava chorar agora, deixaria isso para depois que pudesse conversar com mamãe.

Apanhei o telefone sorrindo aliviada, visivelmente agradecida por seu gesto doce. Rapidamente disquei o número da minha casa, que me era tão familiar e aguardei com ansiedade o momento em que me atenderiam. Em Seoul deveria estar entrando na madrugada, porém, para minha alegria, logo fui atendida por ela. A voz da minha mãe soou com tranquilidade, fazendo o meu coração se apertar no peito dolorosamente.

Dando espaço para mim, permitindo que tivesse privacidade e aproveitasse a conversa com minha mãe, Jiyoon se ergueu do sofá silenciosamente, não sem antes pausar o filme, seguindo para a cozinha. Eu a segui com o olhar até que tivesse a visão bloqueada pelas paredes, sempre consciente de sua presença.

Minha ligação não durou muito tempo, pois eu queria escutar mamãe falar do que realmente dizer alguma coisa. Ela parecia abatida e cansada, provavelmente estressada com o trabalho no escritório. A empresa que a empregou era bastante pequena, uma filial do setor de serviços públicos, e mesmo que tivesse insistido para que largasse o emprego e me deixasse sustenta-la, foi praticamente impossível convencê-la a largar tudo. Ela era uma mulher que não suportava ficar parada no lugar e tinha o orgulho próprio muito enraizado, sendo incapaz de se tratar como uma “dependente” da filha. Além disso, também pude notar pela maneira enervada como falava que estava extremamente preocupada comigo, por estar sozinha num lugar estranho, sem ao menos ter como me comunicar. Para tranquiliza-la, tratei de dar um breve resumo de como as coisas eram em St. Cecília e em como tudo transcorria tranquilamente. Deixei um pequeno espaço na conversa para falar da doutora Jeon, dando a entender que era a pessoa responsável por me deixar mais confortável aqui. Isso pareceu alegrá-la ao mesmo tempo em que a deixou intrigada. Ela desejou saber mais sobre minha nova “amizade”, mas rapidamente consegui desviar o assunto. Jiyoon poderia não estar perto, porém existia a possibilidade de estar escutando.

Deixando isso de lado, ao menos por enquanto, ela me contou como as coisas iam em casa. Tudo parecia meio que caótico e arrojado ao mesmo tempo, o que era no mínimo esquisito. Algumas coisas evidentemente não mudaram, enquanto outras se tornaram mais intensas após minha ausência. E essa “intensidade” se resumia ao fato de que a impressa estava em furor frenético procurando notícias sobre meu paradeiro, chegando a considerar que haviam me colocado dentro de um porão sem luz ou sem qualquer comunicação com o planeta, trancafiada como a Rapunzel numa torre de marfim. Se eles soubessem que a parte da sem comunicação, chegou muito próximo da verdade, com certeza teriam piorado ainda mais a situação. Certamente Song-ah deveria estar trabalhando como um condenado para controlar aquele caos.

- Você está realmente bem? – Mamãe insistiu mais uma vez naquela pergunta, mesmo depois que confirmei que sim, tudo ia perfeitamente bem. Acredito que não estaria mentindo se dissesse que as coisas estavam maravilhosas. Escutei-a suspirar longamente. – Evite pular refeições e não exija muito de si... Mantenha-se saudável, querida!

- Eu estou num hospital, mãe. Seria impossível não me manter saudável aqui dentro... – Resmunguei infantilmente arrancando risadas suas, pois deveria ter me imaginado fazendo a típica careta contrariada. Definitivamente estava precisando daquela conversa. Sentia-me renovada. Infelizmente não poderia passar mais tempo naquela ligação, acreditei que o melhor seria encerrá-la. Senti que estava abusando da boa vontade da doutora Jeon. – Tenho que desligar.

Alertei a contragosto, escutando-a suspirar pela trigésima vez em decepção, tornando ainda mais difícil minha missão de desligar o telefone. Meu dedo vacilava no botão, sem vontade de realmente apertá-lo.

- Está certo... Cuide-se! – Pediu com firmeza, enfatizando sua preocupação com minha saúde, fazendo-me sorrir ao imaginar a expressão que fazia ao dizer aquilo. Eu a conhecia tão bem... – Te amo.

- Também te amo! – Lancei de volta seu carinho.

Com essas poucas palavras nos despedimos da outra com muita relutância e finalmente pude respirar aliviada, como se tivessem retirado um enorme peso do peito. Tudo em mim estava tranquilo chegando ao ponto de me sentir leve e satisfeita. Certamente tomei a decisão correta em aceitar aquele convite da doutora.

Por falar nela, assim que encerrei a ligação, ela apareceu de dentro da cozinha como se tivesse me esperado aquele tempo inteiro e devorado um pacote de rosquinhas açucaradas. Lancei um sorriso de desculpas em sua direção por fazê-la esperar, assim como um gesto de agradecimento.

- Tudo certo? – Questionou incerta, olhando com preocupação as lágrimas que haviam manchado minhas bochechas, obrigando-me a limpá-las. Fiz isso com certa vergonha, era a primeira vez que chorava em sua frente e não existia nada mais vergonhoso do que permitir que as pessoas tomassem consciência suas fraquezas.

- Muito obrigada por isso. – Entreguei o telefone.

Ela estava fazendo muitas coisas por mim e não sabia como retribuí-las, daqui para frente deveria procurar algo que pudesse agradá-la. Uma maneira justa de retribuir as agradáveis sensações e coisas que aconteciam, quando estamos juntas. Precisava descobrir com certa urgência o que seria.

- Não precisa agradecer. Estava te devendo uma, lembra? – Disse como se meu agradecimento a desagradasse, embora o leve sorriso que carregava nos lábios dizia que estava feliz. Voltou a se sentar no sofá, acomodando-se sobre ele. – Vamos voltar a nossa sessão de filmes?

Me questionou com o olhar divertido e alegre, fazendo-me rir. Seu dedo pairou sobre o botão do play, me entregando a responsabilidade de decisão para poder aperta-lo ou não. Num acenar de cabeça, afirmei que poderia continuar e terminei de esvaziar minha cerveja. Embora não me sentisse bêbada, sabia que tinha uma tolerância muito baixa ao álcool, que era do mesmo tamanho de uma noz, tendo que recusar outra lata quando me ofereceu. Como não parecia muito inclinada a continuar a beber sozinha, deixou de lado as latas vazias e sem muitas delongas, continuou o filme.

Por algum motivo que me escapou no momento, acabei por notar que a distancia entre nós, embora não muito grande, chegou a me incomodar. Sendo assim, tomei a rápida decisão de me aproximar, recebendo seu olhar surpreso em troca. Devolvi com um sorriso de canto e aconcheguei meu corpo contra o seu, sentindo com mais propriedade seu calor. Por breves instantes a senti ficar tensa, os ombros e postura ficaram eretos demais, quase provocando minhas risadas.

Mas, ao se acostumar com essa minha inusitada aproximação, me ofereceu um pouco das guloseimas que comia, lentamente fazendo com que a tensão dissipasse.

Talvez fosse culpa da cerveja, que tirou um pouco das minhas inibições, acabei deitando minha cabeça em seu ombro, sentindo-me confortável demais para ser considerado razoável. Encontrava-me tão em paz que acabei bocejando, não conseguindo conter a letargia do sono.

Consequentemente acabei adormecendo em seu ombro, podendo escutar ao longe o som baixo de sua risada.

*

Eu não fazia ideia de que horas eram e muito menos que motivação me fez acordar. Quer dizer, ainda permanecia naquele estado entre a sonolência e lapsos de consciência, mantendo-me quieta e imóvel.

Primeiramente, antes de qualquer coisa, procurei me situar no lugar. Onde eu estava antes de adormecer?

A voz clara de Jiyoon apareceu em meus pensamentos, deixando óbvio que não se tratava de um sonho e que estava próxima de mim. Acabei lembrando que ainda estava em seu apartamento. Então restou a prestar atenção a tudo que me rodeava e finalmente pude chegar à conclusão do que havia me acordado. Ela falava com alguém. Saber disso acabou por deixar-me mais desperta, atenta para o que estava acontecendo. Como ninguém a respondia de volta, tomei que conversava ao telefone. Embora não quisesse invadir sua privacidade, não evitei em escutar trechos da conversa picotada e confusa. Seus sussurros me alcançaram sem nenhum tipo de barreira, facilitando meu trabalho em somente permanecer parada.

- Eu sei mãe. Não precisa se preocupar comigo... – Ela parou para escutar por breves segundos, ouvindo atentamente a resposta do assunto que passou despercebido por mim.

Percebi que o tom de sua voz estava acionado naquele modo fofo e infantil, exatamente o mesmo que fazia meu corpo se contorcer, reagindo à tamanha fofura. Parecia uma maneira carinhosa de tratar seus pais e isso era adorável. Contudo, no momento seguinte, após sua risada morrer, um suspiro carregado escapou de seus lábios. A conversa tomou um rumo sério e pude sentir sua hesitação de longe.

– Como ela está? – Tive que esperar alguns segundos para que voltasse a falar e pude perceber que qualquer traço de felicidade ou doçura tinha sido drenado da voz. – Sei que não deveria me importar, mas simplesmente não consigo... Ainda me sinto culpada pelo que aconteceu. – As palavras saíram com tanta dor, que acabou provocando pontadas dolorosas em meu coração. Mais uma vez se calou, provavelmente escutando e quando voltou a falar, não havia nenhum traço de calor na voz. – Não posso voltar agora. Você sabe disso... Papai sabe disso e Jisoo também. Estou fazendo o que posso para ajudá-lo, é o mínimo que posso fazer depois do que fiz.

O que ela havia feito?

Aguardei alguma resposta, mas em troca recebi silencio. Aquela conversa estava tomando um caminho sinuoso, misterioso demais. Tive que evocar uma força divina para que não me movesse e acabasse por me denunciar. Sentia-me culpada por estar espionando sua conversa.

Para minha sorte, não notando meus esforços ou talvez nem estivesse me observando, ela retornou a conversa. Agora havia pressa.

– Tenho que desligar, daqui a pouco meu plantão começa e tenho um monte de coisa para resolver. – Disse suavemente, trazendo um pouco do tom doce para diminuir o estresse que cobriu a conversa. – Vê se cuida da saúde, viu? Posso estar longe, mas não canso de me preocupar com sua diabetes.

Sua mãe provavelmente deve ter falado alguma coisa engraçada, pois sua risada saiu um pouco alta demais para quem se manteve nos sussurros. Pude imaginar que tentou abafar as risadas com a mão, evidente que não desejava me acordar, o que era uma pena, pois foi em vão. Se despedindo mais alegremente encerrou a ligação.

Assim que não tinha mais que se conter, soltou uma longa baforada. Escutei-a resmungar alguma coisa para si, parecendo repreender-se, e seus passos abafados virem em minha direção. Segurando-me para não espiar, mantive os olhos fechados, melindrosa, sem saber o que esperar. Queria ver o tipo de expressão que cobriu seu rosto, os pensamentos que a consumiam naquele momento, mas infelizmente tive que abusar do meu autocontrole. Consegui sentir sua presença parada em pé, muito próximo de mim para ser considerado apropriado ou seguro. Um som estranho ecoou das profundezes de sua garganta, fazendo meu coração disparar, surpreendida pelo tom resignado. Não entendia mais nada. O que estaria pensando ou fazendo permaneceria uma incógnita.

- Hyuna, acorda. – Jiyoon finalmente saiu da sua imobilidade, acabando com a angústia que me deu nos nervos, e cutucou suavemente meus ombros para me despertar. Sua exigência era um pouco brusca.

Lentamente abri meus olhos e imediatamente percebi a grave diferença em seu semblante, antes divertido e risonho, para sério e inquieto. A atmosfera dentro do apartamento também havia sido modificada, mas essa estava relacionada ao jogo de luzes, que mantinham a penumbra favorável ao sono. Ela apenas tinha deixado um abajur da sala ligado para iluminar o resto dos cômodos. Como eu tinha adormecido no sofá, vi que estava estirada sobre ele, tomando-o inteiramente para mim. Em um momento do qual não me recordo, ela colocou uma coberta sobre meu corpo, da qual pude sentir o cheiro de seu perfume mesclado ao do amaciante de lavanda. Era uma fragrância tão deliciosa, que me fez ficar agarrada ao edredom durante o sono.

Assim que nossos olhares se encontraram, pude notar traços de um sentimento obscuro, aquele mesmo que fazia questão de esconder com um sorriso doce. Fortemente quis questioná-la sobre o que poderia ter acontecido, entretanto meus lábios permaneceram cerrados. De qualquer maneira estava zonza demais para pensar algo com coerência. Sentei-me no sofá preguiçosamente, passando os nós dos dedos sobre os olhos, espreguiçando-me. Sinceramente esse pequeno fragmento de aconchego estava maravilhoso.

- Desculpa te acordar, mas preciso te levar de volta... – Jiyoon disse com desânimo, parecendo honesta ao transmitir suas desculpas, agachando-se para ficarmos da mesma altura. – Está tarde e meu turno vai começar em breve.

- Tudo bem. – Sorri inconsciente e tirei a coberta de cima de mim, preparada para sair. – Que horas são?

- Quase três da manhã. – Meus olhos se arregalaram em surpresa, quando eu tinha chegado ao apartamento iam dar dez da noite. Tinha dormido demais. Rindo da minha reação, imediatamente tratou de me tranquilizar. – Não se preocupe com o horário, nada demais aconteceu enquanto você dormia.

Ela ofereceu suas mãos para me ajudar a levantar, gesto que estava se tornando quase que automático, um costume entre a gente. Sem duvidar, as aceitei e logo estava em pé.

Minha língua coçou na vontade de contradizê-la, lembrando-a que, sim, algo bastante severo tinha ocorrido. Sua expressão forçadamente tranquila provocou meu controle. Havia algo naquela conversa que teve com sua mãe, que definitivamente a perturbava com profundidade. Tanto que chegou a enrijecer seu sorriso, maquiando os receios que cobriam a cabeça. Mais uma vez seus olhos permaneceram ininteligíveis.

Sabendo que não poderia ceder a minha vontade, fui diretamente pegar meu tênis, calçando-o com exagerada lerdeza por causa do sono e a segui para fora de seu apartamento. Um silêncio pétreo tinha dominado a estalagem. Se antes não havia ninguém dentro daquele prédio, agora estava tudo morto de movimento. Quando saímos à gélida corrente de ar atravessou minhas roupas, fazendo meu corpo inteiro estremecer. Teria ficado feliz se não houvesse a necessidade de sair do conforto daquele apartamento. Contudo, em troca do calor de uma coberta, sua mão quente e aveludada se encontrou com a minha, entrelaçando os nossos dedos, afastando, mesmo que minimamente, o frio.

Então, exatamente daquela maneira, seguimos por todo caminho de volta à cabana. Não precisei olhá-la uma única vez para saber que tinha se perdido nos pensamentos, dos quais não estava nem um pouco inclinada a compartilha-los. Mesmo resignada decidi respeitá-la. Teria que ter paciência, somente aguardando o momento em que compartilhasse seu maior segredo.

Parando em frente à cabana, como das outras vezes, se voltou para mim com um sorriso acalentador, que servia para se despedir antecipadamente. A sensação de abandono quis me dominar ao pensar, que teria de largar sua mão. Ela precisava seguir para o trabalho. Jiyoon tinha até voltado a se trajar com mais elegância e profissionalismo.

- Sinto muito se dormi durante o filme... – Pedi desculpa sem soltar sua mão, recusando-me profundamente em fazê-lo.

- Besteira. Isso somente mostra que você se sentiu confortável e gostou do momento. – Ela deu de ombros e inclinou levemente a cabeça, mantendo o sorriso no rosto, novamente brincando comigo. E, instintivamente, soube que nossa noite terminaria naquele momento. – Boa noite.

Começou a se despedir, agindo com suavidade e respeito, embora pudesse enxergar certa relutância em seu olhar.

Antes que seus dedos escorregassem dos meus, firmei o aperto entre eles durante uma fração de segundo de extrema confiança, parando-a no lugar. Seus olhos duvidaram da minha ação, questionando-me o significado daquilo.

Não precisei dar explicações, pois o que fiz no momento seguinte, explicou por si mesmo. A passos cautelosos, quase inseguros, diminui a distancia entre nós e a abracei sem anuncio prévio.

Meus braços envolveram seu pescoço, tomando-o com propriedade, praticamente não permitindo que houvesse qualquer tipo de espaço. Seu corpo enrijeceu contra o meu, surpreso, pela forma espontânea e provavelmente inesperada como avancei sobre ela, obviamente causando mais confusão em sua cabeça. Escutei-a soltar uma risada esquisita e desconfortável.

Eu não havia sido provocada pela bebida e muito menos pelo sono. Estava perfeitamente consciente do que fazia, e simplesmente agi da maneira que desejei. Se me permitisse a pensar o que poderia ter ocasionado tal desejo, poderia entender como funcionava essa repentina necessidade de sentir seu corpo colado ao meu, o motivo que meu coração batia acelerado, despertou em mim. Não era algo comum. Já abracei outras mulheres. É algo que pratico com certa frequência em meu círculo de amizades, mas, definitivamente, esse abraço tinha um “que” diferente. Existia um calor... Uma ardência que eletrizava minha pele.

Eu queria ser tocada.

Totalmente alheia a meus pensamentos, senti que Jiyoon hesitava, provavelmente pensando se deveria ou não, em retribuir meu abraço. Fechei meus olhos fortemente, pedindo mentalmente que o fizesse, pois não suportaria que permanecesse apática e muito menos que me rejeitasse. Para minha felicidade, coadunando com meus desejos, seus braços rodearam minha cintura, aferrando-me ainda mais a ela.

Sorrindo abobalhada para sua positividade, apoiei meu queixo em seu ombro, podendo sentir com mais perfeição o aroma que desprendia de seu cabelo. Seu shampoo era incrivelmente cheiroso, combinando com a imponência de seu perfume de jasmim. Estava começando a me tornar uma completa viciada em seu cheiro. Minha pele reagiu inconscientemente quando sua respiração quente se chocou contra meu cabelo, chegando a estremecer e arrepiar-se, e isso não foi provocado pelo frio, que nem sentia mais. Em sua respiração consegui sentir seu sorriso. Claramente estava achando tudo engraçado, mas de algum modo não queria me rechaçar.

Porém, lembrando que precisava trabalhar se obrigou a afastar levemente meus ombros, somente o suficiente para pudesse me olhar.

Meus olhos, como se fossem teleguiados, encontraram os seus. Com a fraca iluminação dos postes, me deparei com o mesmo brilho caloroso que encontrei desde o primeiro momento que nos conhecemos. Eles estavam levemente mais diferentes. Eram abrasantes e hipnotizantes. Inconscientemente minha respiração travou na garganta, meu corpo sendo tomando por uma expectativa. Agora de que eu não fazia ideia.

Meu olhar caiu diretamente para seus lábios e pude observar mais de perto a extensão do seu sorriso, que agitou tudo dentro de mim.

- Essa é sua versão de boa noite? – Brincou comigo, deixando-me inquieta.

- Talvez... – Murmurei meio aérea, voltando a respirar normalmente, sendo capaz de encarar seus olhos e não os lindos lábios. – Foi um pouco demais para você?

Provoquei a médica, praticamente flertando na cara dura. Sinceramente isso me envergonhava, entretanto não consegui me controlar e acabei sorrindo com bastante deboche. Em troca, Jiyoon preferiu não me responder e somente aumentou a intensidade de seu sorriso. As ações falaram mais que palavras.

Sua boca repentinamente parou sobre minha, findando com o distanciamento entre nossos rostos. Seu hálito quente chocou-se contra meu rosto, prendendo-me numa atmosfera excitante, fazendo uma corrente elétrica trilhasse um sinuoso caminho pela espinha. As batidas do meu coração se aceleraram, batendo desgovernado, sem que ao menos consentisse. A antecipação me fez baixar o olhar para seus lábios e foi então que tomei consciência do que acontecia. Ela simplesmente estava cumprindo com meu desejo, aquele do qual não fazia ideia do que era. Inquietando-me pelo resto da noite.

Eu queria seu beijo. Sendo assim, me deixei levar pelo momento, fechando os olhos, sentindo-me agoniada pelo que viria a seguir.

Com uma leve pressão sua boca tomou a minha. Ela era macia e doce, um tanto refrescante por causa de seu hálito. A partir daquele momento tudo ao meu redor se tornou um completo nada, éramos somente nós duas, e uma insaciável fome que exigiu mais. Meus braços a apertaram ainda mais contra mim, permitindo que consumisse mais daquele simplório e insuficiente beijo.

Entretanto, contraindo as minhas necessidades, antes que pudesse perder o controle da situação, continuando a brincadeira de onde havia parado, seus lábios se apartaram dos meus.

- Então essa é minha versão de boa noite. – Falou para minha figura ainda confusa e perdida, me fazendo abrir os olhos para olhá-la.

A frustração me cobriu, mas não consegui me sentir irritada. Estava levemente tonta pelo que havia acontecido, tanto que ao menos notei quando Jiyoon tirou meus braços do seu pescoço e se dirigiu na direção da clínica. Ah, não posso esquecer que antes de ir embora, lançou um sorriso tão quente e sugestivo, totalmente malicioso, sendo capaz de grudar meus pés no chão.

Com várias incógnitas sobre a cabeça, permiti que se afastasse me deixando sozinha ao relento, mais perdida que antes.


Notas Finais


¯\_(ツ)_/¯
Acho que esse emoji diz tudo HAUHAUAHUAHAUAHUAHUAHUAHAU
Comentários? Até a próxima! ^^


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