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História Chanyeol Pra Quê Te Quero - Além da garrafinha, meu coração também caiu


Escrita por: baabiction

Notas do Autor


EU NEM DEMOREEEEEEEEEEEI
Olha, foi um mês certinho q
Acho que vão gostar desse capítulo... Eu gostei muito de escrevê-lo :D deu pra esclarece várias coisas, se vocês tiverem sensibilidade de ver nas entrelinhas...
Ou não, não precisamos mais de entrelinhas
Hmmmmmmmmm chega de falatório heuehuheh
Boa leitura!

Capítulo 11 - Além da garrafinha, meu coração também caiu


Depois do dia da cafeteria, algo tinha mudado. Não sei se foi o fato de Chanyeol ter exposto seus pensamentos para mim, ou eu ter começado a me acostumar com sua presença no dia a dia. Sim, trocávamos mensagens direto, e vivíamos juntos no colégio. Eu tentava controlar minhas emoções, meu nervosismo descabido, procurando estabelecer uma normalidade dentro de mim. Afinal, Chanyeol era, acima de tudo, meu amigo.

Ah, era tão bom pensar assim. Seria doloroso, claro, mas não seria o fim do mundo se eu ficasse na friendzone. Posso estar sendo precipitado ao pensar assim, mas ser amigo dele já era uma coisa tão maravilhosa, e eu ainda tinha a “segurança” de não ser uma coisa passageira… Eu acreditava naquele lance todo de amores e amizades.

O tempo passava rápido demais pra mim, rápido demais pra alguém que fugia que nem um desesperado de uma tal de aposta. Mas que caramba eu estava pensando quando concordei com aquilo? Espera, eu não concordei! Fiz pior, fiquei calado, muito ocupado comendo uma pizza cheia de catchup. Ai, ai. A pior parte era ter que lidar com os olhares perfurantes da dupla dinâmica, que nem tinham a decência de disfarçar. Toda vez que eu ia conversar com Chanyeol, nem que seja pra pedir uma mísera borracha, Sehun já sorria sem os dentes e com os olhos bem abertos. Parecia o capeta.

Também, depois de um tempo evitando lanchar com todo mundo, eu mesmo tomei a liberdade de, após conseguir minha preciosa comida na cantina, me dirigir à mesa que antes eu tanto observava de longe. É bacana ver como as coisas mudam, não é? A primeira vez que sentei lá foi quando Chanyeol me chamou e eu arrotei na cara dele. Foi um filme de terror. Eu estava me tremendo todo naquele dia… Bom, eu não era acostumado a interagir com ninguém além de Kyungsoo, então ninguém poderia me julgar. Mas julgaram. Tô de olho em vocês, pensam que eu não sei.

Sentei bem do lado de Yifan. Zitao falava exasperado, num coreano carregado de sotaque que era difícil de entender, às vezes. Tive que me situar bem para ver do que todos falavam.

— Ele não deveria ter falado isso pra você. — Sehun disse, enquanto sugava o canudinho mergulhado na coca. — Mas vai ver que estava com raiva, né. As pessoas falam coisas que normalmente não falariam, quando estão alteradas. Depois se arrependem.

— É verdade, Sehun, mas você precisava ter visto a cara do Yifan quando Junmyeon o chamou de chorume. — Zitao proferiu em alto e bom som, chamando atenção de um grupo de amigos que passavam pela nossa mesa, e acabaram rindo. Yifan se encolheu em seu lugar, me fazendo questionar o porquê de estar calado. — Foi tão engraçado, passei meia hora rindo. Coitado do meu amigo.

— Coitado? Nem pra me ajudar você serviu! — O mais alto bateu na mesa, mas ninguém se alarmou. Devem estar acostumados.

O que tá acontecendo?

—Não sou ONG pra defender uma anta que nem você.

— Filho da p—

— Gente, o que aconteceu? — Perguntei, porque não aguentava mais ficar boiando. Todos na mesa, inclusive Chanyeol, estavam quase roxos de tanto segurar a risada. Eu queria rir também!

— O Yifan que é doido, Baek. — Jongdae começou, ignorando o amigo bufante, quase soltando fogo pelas ventas. — Esqueceu que tinha um compromisso importante com Junmyeon, e saiu com Zitao pra comer batata frita.

— Oi? Você é próximo do Junmyeon? — Olhei para Yifan.

— Não só próximos, como moram na mesma casa. — Arregalei os olhos para Chanyeol.— Não, não é o que está pensando! Eles são primos.

— Primos também podem se pegar.

— Cala a boca, Sehun! Só fala merda! — O chinês alto reclamou. — Eu cresci com Junmyeon, Baekhyun, somos praticamente irmãos. Eu esqueci completamente que tinha que comprar com ele o presente da nossa avó. Ele adora aquela velha, e o aniversário dela é hoje. — Massageou as têmporas. — Pior que nem podemos comprar hoje, porque vamos sair para a casa dela logo quando chegarmos em casa.

— Por que ele não comprou sozinho? — Soyeon perguntou, se esforçando para suprimir o sorriso, até torcia a boca para um lado. Ela estava muito engraçada.

— Porque o inteligente aqui estava com todo o dinheiro. — Zitao respondeu. — E eu me perguntando o porquê de ele ter tanto dinheiro na carteira, se estávamos comendo simples batatas. Eu ia pegar umas anotações com Yifan, por isso entrei na casa dele. O Junmyeon estava sentadinho no sofá da sala, com tudo desligado, só o abajur iluminando. Pensei até que era um serial killer. — A narrativa foi interrompida pela risada estridente de Jongin. Zitao engoliu em seco para prosseguir. — Mas ele fez uma cena, amigos, vocês precisavam ver. Falou um monte de coisa pro Yifan, que só ficou parado com cara de bunda. Falou muita coisa mesmo, mas a melhor foi ter chamado o Yifan de chorume.

— Eu nem sabia o que era isso, depois que eu fui pesquisar. — Falou para mim, horrorizado. Eu só sabia rir. — Sério. Ele disse que eu sou um traste inútil, que sou aquela gosma preta fedorenta que sai do lixo. Mas eu não me importo, sabe, Baekhyun?

— Sei sim, Yifan.

Na verdade, era inusitado pensar em Junmyeon irritado desse jeito, eu sempre achei que ele era uma daquelas pessoas que sorriam e eram educadas mesmo com raiva. Tá aí, galera, mais uma prova de que as aparências enganam. Ainda bem que Kyungsoo parecia ser pavio curto, e era mesmo, daí não tinha erro.

Ele voltou a se sentar corretamente, com uma expressão transtornada.

— Você se importa sim, idiota. — Soyeon proferiu.

— Não me importo não!

Ele se calou depois de dizer isso.

— Tudo bem, agora podemos voltar a conversar sobre nossas apresentações, antes de sermos interrompidos pelo drama do Yifan? Falta só uma semana, uhul! — Jongdae comemorou.

Para ele, com certeza, não tinha problema. Às vezes eu tinha inveja de pessoas extrovertidas…

— Todo mundo vai fazer algo relacionado a música? — Chanyeol perguntou.

— Eu não. — Zitao disse. — Vou fazer uma oficina de moda. Sabem que é só isso que eu sei fazer direito, não é? Ninguém mais do ensino médio vai fazer algo assim.

— Não sabia que gostava de moda, Zitao. — Me inclinei um pouco sobre a mesa.

— Gosto sim, Baek. — Sorriu. — Na verdade, sou especialista em customizar roupas.

— Remendar roupas velhas, você quer dizer. — Sehun provocou.

— Tipo aquela bermuda que ele comprou há mil anos e pintou de várias cores diferentes, porque não queria comprar outra nova? — Jongdae completou, com o seu característico sorriso de gatinho.

— Ela tem tanta tintura que nem se mexe mais, parece uma armadura. — O loiro encrenqueiro continuou.

Olha que eu me achava provocador com Kyungsoo, mas Sehun ganha de lavada de mim!

— Isso tudo é uma inveja da minha bermuda? Eu não compro outra, porque não vejo necessidade, ora. — Revirou os olhos. — Teve um dia que eu estava com ela, estava preta na época, e uma moça veio me perguntar se era de couro. Eu ri de nervoso, e falei que… Sim. Mal ela sabia que era apenas a tinta dura.

A mesa explodiu em gargalhadas, que duraram um bom tempo. Quando estávamos nos acalmando, uma voz grossa soou:

— Eu realmente não me importo. — Yifan concluiu, sorrindo. — Vou mandar uma mensagem pra ele dizendo que eu não me importo. — Olhou pra mim, como se pedisse aprovação. Eu mal sabia da minha própria vida, amigo.

— Isso é o total oposto do que ele quer demonstrar, mas vamos deixar assim. — Jongdae sussurrou ao meu lado.

Quando acabamos de comer, fui até a lixeira pra jogar fora a caixinha de suco. Não, não teve toddynho hoje. Saí tão apressado de casa, que esqueci de pegar um na geladeira, além de não prestar muita atenção no que estava vestindo. O resultado é esse suéter velho com um rasgado monstro no sovaco, me fazendo tomar cuidado pra não levantar os braços e pegar um ventinho. Vocês apoiam a ideia de eu pegar umas dicas de moda com o Zitao? Quem sabe minhas bermudas velhas não viram couro também?

— Baekie! — Chanyeol se aproximou com tudo, me assustando. — Você pode ir lá pra casa hoje? Sei que já está tudo pronto, mas poderíamos fazer um último ensaio…

Ele falava meio estranho, esfregando as mãos na calça.

— Está nervoso, por acaso?

Chanyeol sorriu amarelo. É, ele estava.

— Só um pouquinho, só um pouquinho. —Ele falou rápido.

Ri da cara dele. Certo que eu também não estava a pessoa mais calma do mundo em relação a nossa apresentação, mas eu ainda tinha a minha parcela de confiança. Nós havíamos treinado muito.

— Tudo bem, eu vou. — Pensei em bagunçar os cabelos dele, como sempre fazia comigo, mas lembrei do sovaco furado. Não podia dar essa mancada na frente do homem da minha vida, não antes do casamento. Depois da intimidade, tudo pode. Até arrotar, peidar, mijar na frente… Eu já tinha arrotado.

Que nojo. Desculpa por fazer vocês lerem minhas imundices.

— Podemos ir juntos, se puder.

— Está tão apressado pra ter minha companhia, Chan? — Brinquei, apontando pra ele o polegar e o indicador das duas mãos, simulando uma cantada barata.

Chanyeol, para minha surpresa, passou de um branco cadavérico pro vermelho, depois pro roxo, azul, muito vermelho, vermelhíssimo, praticamente todas as cores do arco-íris. Jongdae, que estava perto da gente, deu um tapa nas costas dele, pensando que estivesse engasgado com alguma coisa.

Rindo sem graça, que, aliás, foi uma das coisas mais fofas que já vi, disse para Jongdae que ele estava bem.

Ajeitou os óculos, rindo mais um pouco.

— … Pois então, senhor Baekhyun, pode ou não pode ir? — Me olhou meio de lado, pronto para ir embora do refeitório, ignorando muitíssimo o que eu tinha acabado de falar.

— Posso sim. — Me segurei para não fazer mais uma piadinha. Como eu nunca tinha percebido antes que é tão divertido provocá-lo?

Só quando se distanciou, percebi duas coisas: as orelhas de Chanyeol ainda se encontravam num vermelho vivo mesmo vendo de longe, e que eu não poderia ir direto pra casa dele, por conta da minha maldita blusa furada. Tem vezes que a gente tem que decidir o que é prioridade, né?

Portanto, quando saímos, avisei que eu tinha que passar em casa primeiro, pra resolver umas coisas rapidamente. Não era mentira. Hehe. Chanyeol concordou, e disse que ia ficar atento, pois não haveria ninguém na casa pra me atender, além dele. Hoje tem, galera.

Tem é muita tristeza, isso sim.

Me despedi de todos, passando meio apressado pelo portão. O tempo não estava tão frio quanto nos últimos dias, por isso ficava mais confortável de andar a pé. Fiquei andando atrás de um grupinho de garotas na calçada, eu tinha posto apenas um lado do fone, porque se um carro desgovernado viesse na minha direção pra me matar, eu ouviria. Quem mais tem esse medo? Prevenção, amigos, prevenção.

Passei pela loja de discos que pertencia aos pais de Sehun. Eu só entrava lá para passear pelas prateleiras cheias de discos de vinil, com tantos álbuns épicos que eu ficava louco facilmente. Mas, claro, eles eram caríssimos. Segundo Sehun, todos os álbuns pertencem ao pai dele, que ganhou do avô, que ganhou do bisavô, etc, etc. Eu ainda perguntei o porquê de pôr à venda aquelas preciosidades, e ele respondeu que o pai não gostava de manter aquilo só para si, e já tinha escutado todos tantas vezes que achava que estava na hora de outras pessoas apreciarem também. Bom, eu entendo o pensamento dele, mas se eu tivesse tudo aquilo — inclusive o Rubber Soul que um dia eu enxerguei no cantinho da parede, todo majestoso — nunca que eu iria vender! No máximo emprestar para pessoas especiais.

Sim, ele mesmo. Vocês acertaram.

Uns cinco minutos depois, cheguei em casa. Meu pai estava se arrumando para sair novamente, calçando afobadamente os sapatos. Só com um breve olhar, notei que a camisa dele estava abotoada nas casas erradas, e o nó da gravata estava feio que nem eu.

Suspirei ao ver uma criatura tão desleixada.

— Ei. — Chamei.

— Que foi, filho? Estou atrasado, desculpe! — Disse, pegando o casaco no cabide.

— Mas desse jeito? — Arqueei as sobrancelhas, apontando para o estado das vestimentas dele. — Se aparecer assim, ninguém vai querer fechar contrato com você.

— O que tem minhas roup—

Enfim notou as três casas de botão que foram esquecidas, fazendo a barriguinha saliente dele aparecer no final da blusa.

— Eita.

Revirei os olhos, andando em sua direção.

— Quase cinquenta anos na cara e não sabe nem se vestir direito. — Eu falei, e ele ficou caladinho, como uma criança, enquanto deixava eu arrumar os botões rapidamente. Aproveitei para dar um trato nos cabelos já grisalhos, que despontavam para todos os lados, como se ele tivesse tomado um choque.

Quando terminei de dar o nó na gravata do meu pai, me afastei, sorrindo, dizendo que ele já podia ir.

— Vai sair? — Perguntou, antes de fechar a porta.

— Sim, vou pra casa do Chanyeol.

Papai me olhou por uns instantes, antes de entrar mais uma vez e me abraçar forte.

— Papai te ama, Baekhyun.

Antes de eu falar qualquer coisa, ele saiu às pressas de casa. Fiquei parado no hall de entrada, entendendo nadinha, e me assustei quando meu pai colocou só a cabeça pra dentro de novo.

—Obrigado!

E saiu.

Vários pontos de interrogação pairavam ao redor de mim. Será que ele tinha gostado tanto assim do nó da gravata?

Balancei a cabeça, me lembrando de fazer logo o que eu tinha que fazer. Subi para o quarto, escolhendo no guarda roupa uma peça mais digna do que aquele pano furado. Peguei uma camisa preta de mangas compridas, que não tinha estampa e nem nada. Eu não precisava me arrumar para me encontrar com Chanyeol.

Precisava?

Ah, eu nunca tinha me importado com isso, então se eu simplesmente aparecesse mais produzido, ia ser estranho. É, viva a simplicidade.

Dentro do ônibus que eu notei que as pessoas realmente se vestiam melhor no frio, não era brincadeira, não. Por exemplo, eu quase sempre pegava o mesmo ônibus que uma moça de manhã, e, nesses dias frios, ela estava visivelmente mais elegante. A mesma coisa com um rapaz que eu conhecia, que estava usando um sobretudo marrom e camisa de gola alta. Ele era conhecido de ônibus, tá, gente? Desse tipo eu tenho um monte.

Olhei para baixo, enxergando as mangas compridas esconderem as minhas mãos. Eu parecia uma batata perto das outras pessoas. Risos.

Eu estava tão distraído com esses pensamentos de roupa, que quase perdi o ponto. Desci com tudo, sentindo uma rajada de ar frio bagunçar o meu cabelo. Bom, ele não estava muito arrumado mesmo. Depois eu falo do papai.

Aquela parte da cidade não tinha tantas árvores grandes, e nem prédios, por isso dava pra ver bem o horizonte. O pôr do sol deixava tudo meio alaranjado, era bonito de se ver.

Pouco tempo depois, apertei a campainha da casa de Chanyeol. Ele demorou um pouquinho para atender, eu estava já todo encostado na parede, apertando aquele botão como se fosse salvar minha vida, morrendo de preguiça de ficar em pé.

— Desculpa, Baekie, eu estava com o fone de ouvido. — Ele falou, me dando passagem, quando finalmente abriu a porta pra mim.

— Quem foi que falou que ia ficar atento mesmo? — Fingi estar irritado, passando por ele.

— Ah, eu esqueci, ué.

Não dava nem pra ficar irritado de verdade. Não quando ele me chamava de ‘’Baekie’’, com aquela voz rouquinha.

Eu tentava tirar o cabelo da cara, para poder enxergar os degraus. Por que raios eu não tinha cortado esse negócio? Já estava furando meu olho!

— Problemas? — Chanyeol perguntou com a voz risonha, quando olhou pra mim dentro do quarto.

Apenas fiquei parado, com a franja quase chegando no nariz.

— Chanyeol, posso pedir um favor?

— Depende.

Separei os fios só para olhar a cara cínica dele.

— Fala que sim.

— Mas eu nem sei o que é!

— Depois se diz meu amigo. — Encerrei o assunto, olhando ao redor. — Cadê seu notebook?

— Você é terrível. — Chanyeol resmungou, cruzando os braços. — Terrível, terrível.

— Eu sei, sou de Touro.

— Como se eu entendesse algo sobre signos. — Suspirou. — Fala, o que você quer?

Abri um sorrisão.

— Corta meu cabelo?

 

— Baekie, fica parado!

— Eu quero ver o que você tá fazendo!

— Se continuar se mexendo, vou cortar tudo torto.

Chanyeol concordou em cortar meu cabelo, mesmo receoso. ‘’E se eu deixar você careca?!’’ ele gritou. ‘’Cabelo cresce, Chan’’ eu respondi. Após esse fortíssimo argumento, ele me levou até o banheiro do quarto, onde havia tesoura e lâminas na gaveta.

Eu sentia os fios caírem, à medida que ele passava a tesoura. Tentei ficar quieto, mesmo sentindo ímpetos de espichar o pescoço para enxergar o reflexo do espelho atrás de Chanyeol.

Toda vez que cortava uma mecha, ele penteava levemente para igualá-las, e aquilo estava me dando um sono danado. Chanyeol era tão cuidadoso, e parecia tão concentrado que não conseguia achar nada além de bonitinho.

— Prontinho. — Eu ainda ia tirar sarro daquela mania de falar dele, mas emudeci ao me ver.

Meu cabelo estava cortado certinho até as sobrancelhas, deixando o meu rosto mais amostra. Fazia tanto tempo que eu não sentia essa leveza! Parecia até outro rosto. Mas o que me surpreendeu, quando Chanyeol virou para ver o resultado no espelho também, foi perceber que nossos cortes de cabelo, e até a cor, estavam idênticos.

Olhamos um ao outro no reflexo do espelho, Chanyeol até pôs o rosto ao lado do meu. Não tínhamos falado nada, porém uma risada ficou presa na minha garganta, e depois começamos a rir.

— Você quis fazer um clone seu? — Perguntei.

— Ei, agora que eu percebi! — Se defendeu, rindo. — Mas ficou legal. Parecemos irmãos.

Foi a minha vez de dar uma risadinha. Uma risadinha forçada, claro. Eu não queria ser irmão dele coisa nenhuma!

Depois de limparmos a bagunça no banheiro, voltamos ao quarto. Me joguei na cama dele.

— Então, vamos voltar ao foco, antes que eu alguém aqui me peça algo além de ser cabeleireiro. — Me remexi, pondo um travesseiro — que tinha cheirinho de Chanyeol, vale ressaltar, sobre minha cabeça. — Ou durma. Vamos, Baekie!

Me sentei, com muita preguiça. Aquele tempo frio não colaborava com as minhas funções do cérebro.

— O que mais precisa ser revisado? — Eu disse, arrastado.

— Na música, quase nada. Só precisamos ver elementos da apresentação em si. — Sentou ao meu lado.

— Tipo… ?

— Roupa.

O olhei desconfiado.

— Ah, Chan, isso precisa mesmo ser discutido?

— Precisa, Baekie. — Franziu o cenho pra mim. — Temos que estar bonitos para ganhar muitos pontos com a professora!

Ri, jogando um travesseiro nele.

— Mas você já é tão bonito. — Falei.

Foi sem querer, amigos. Juro pra vocês.

Quando notei o que escapuliu, senti minha cara esquentar. Disfarcei, já que ele não tinha falado nada, emendando:

— O que tem em mente em relação à roupa?

Chanyeol se remexeu na cama.

— P-pensei em algo mais social, não sei se vai concordar.

Sua voz saiu meio estranha, além de gaguejar.

Ignorei, para não prolongar a situação constrangedora.

— Ih, nem vem que eu não vou me vestir que nem um pinguim!

— Não é que nem um pinguim! — Interveio. — Apenas nada tão… Casual? Você deve ter alguma blusa social.

— Olha, ter eu até tenho, agora saber se ainda entra em mim…

— Deve caber sim, você não deve ter crescido tanto.

Que afronta!

— Seu ridículo.

— Não fale desse jeito com quem cortou seu cabelo! — Bagunçou minha franja, agora curta. — Se pôr aqueles seus óculos, aí sim vai parecer meu irmãozinho.

— Que irmãozinho o quê! Sai fora. Esqueceu que eu sou mais velho?

— Por uns meses, grandes coisas. — Zombou.

— Para de falar besteiras, e vamos ver logo o que falta decidir. — Cortei o barato mesmo, onde já se viu? Acabou o respeito com o próximo.

— Tudo bem. — Levantou, pegando seu celular na mesinha do computador. — Escutou a demo que te mandei?

— Escutei. — E se escutei! Só a parte do Chanyeol, foram umas 400 vezes. — Quer mudar alguma coisa?

— Já mudei. — Sorriu. — Se aceitar, vou colocar no projeto final.

Ele deu play no reprodutor de áudio. A música começou a tocar e logo de cara eu percebi a diferença. Ela estava um pouco mais lenta, apenas o piano e o violão se sobressaíam.

— No refrão… — Falou, olhando pra mim. — Eu quero cantar com você.

Chanyeol quer cantar comigo…

— Acha que vai ficar legal? — Perguntei, quando a música acabou.

— Está dizendo que nossas vozes não combinam?

— Não é isso…

— É sim. Vamos testar agora! Vai ver que ficará sensacional.

Eu já tinha perdido a minha vergonha de cantar na frente dele, pelas milhares de vezes que tivemos que gravar e regravar. No começo foi dificílimo, eu quase não conseguia controlar a minha respiração tendo Chanyeol tão atento em mim.

— Tudo bem, vamos.

Comecei a fazer o aquecimento vocal, enquanto ele ligava o microfone chique de youtuber que tinha. Nesse meio tempo, ouvi meu celular receber muitas notificações, mas resolvi ver depois, aquele não era o momento de ficar mexendo nele.

Cantamos a música duas vezes, e eu tinha me surpreendido vendo a habilidade de Chanyeol de se ajustar ao meu tom rapidamente. Também, não esperava menos do homem da minha vida.

— Ficou melhor assim. — Sorri. — Você estava certo.

— Não falei? Eu sou um gênio. — Pôs a mão na cintura, pomposo.

— Nossa, você falou igualzinho ao Sehun agora. — Estiquei minha mão para pegar o celular e desbloqueá-lo.

— Não! O Sehun que fala igualzinho a mim, sou mais velho.

— Ah, agora você liga para esse lance de idade, né? — Acusei. Ele só apertou os lábios, mostrando a covinha.

Li as mensagens que havia recebido, e acabei arqueando uma sobrancelha.

— Falando no demônio… — Mostrei a tela do celular pra ele. — Mas eu não entendi.

Chanyeol se aproximou para enxergar melhor.

Sehun: Diz pro Chanyeol que ele tem que comprar aquela minha base líquida da Anastasia Beverly Hills que ele deixou cair na vala!

Sehun: Senão vou cometer um crime de ódio. Pelo menos ele te escuta. ;D

— Eu não acredito que ele ainda insiste nisso. — Bufou. — Foi um acidente, não tive culpa.

— Você deixou cair a base dele na vala? — Comecei a rir histericamente, imaginando a cena.

— Para, Baekie! Se eu soubesse que aquele troço era tão caro, não teria pego pra brincar. Aliás, por que ele pediu isso pra você? Sehun é um pé no saco mesmo.

Balancei os ombros, sorrindo. Encostei a cabeça no travesseiro, prestando atenção nele para ver se respondia a mensagem ou não, de repente sentindo muita falta do senhor rilakkuma naquela cama, mas ele estava bem seguro na minha. Chanyeol tirou os óculos para limpar na blusa larguinha, fazendo um bico inconsciente nos lábios. Eu deveria estar encarando-o como se ele tivesse acabado de salvar o planeta. Esse sou eu, fazer o quê? Nada diferente do que eu faço normalmente.

Do nada, Chanyeol deu uma risadinha.

— Ele deve ter te falado isso porque sabe que você é o meu ponto fraco. — Pôs os óculos de volta no rosto, depois deitou a cabeça em outro travesseiro, ficando do mesmo jeito que eu.

Ficamos nos olhando por alguns segundos, cada um perdido nos próprios pensamentos. Pela visão periférica, vi alguns passarinhos pousarem na janela aberta, cantando para quem quisesse ouvir.

Respirei fundo.

— Já eu, acho você o meu ponto forte. — Esfreguei a ponta do nariz no tecido do travesseiro brevemente. — Ou acho em você o meu ponto forte, não sei bem.

Chanyeol arregalou os olhos.

— Ahh, e eu tenho muita sorte em te ter como amigo! — Amenizei, antes que ele interpretasse mal. Talvez interpretasse certo, não é?

Engatinhei até alcançar seu corpo encolhido, me lançando sobre ele. O abracei forte, rindo. Chanyeol ficou parado por uns instantes, mas devolveu o abraço, pousando suas mãos nas minhas costas.

— Você fala coisas bonitas. — Senti a vibração de sua voz contra o meu corpo. Fechei os olhos. — Eu gosto disso.

— Estou sendo sincero, ora. — Retruquei, me ajeitando sobre seu corpo grande.

— Eu sei, Baekie.

Encostei minha bochecha em seu ombro.

— Que bom, Channie.

Ouvi bem na hora que ele fez um barulho surpreso, depois bateu algumas vezes os pés na cama.

— Eu não consigo decidir se quero que você me chame assim de novo ou não. — Embrenhou os dedos no meu cabelo recém cortado. — É perigoso, sinto que você pode ganhar tudo de mim com isso.

Ri com gosto. Era engraçado pensar que tudo que eu mais queria de si, ele não poderia me dar.

— Esse é o meu plano!

— Palhaço.

Ficamos em silêncio por mais alguns momentos, que logo eu cortei.

— Ah, é. Eu sempre quis saber… O Sehun passou quanto tempo namorando com o Luhan? — Ergui a cabeça, apoiando o queixo sobre minhas mãos em cima do peito de Chanyeol.

— Hm… Uns três anos.

— Foi bastante tempo, não é?

— Sim, e eu acho que duraria mais se o Sehun não fosse o idiota que é.

— Tá falando da traição?

— Exatamente. — Fechou a cara. — Foi a pior coisa que ele poderia ter feito. Enfim, Sehun é um canalha e aconselho você a não se meter com ele.

— Como assim? Chanyeol, eu já falei que eu não quero nada com o Sehun.

— Só estou reforçando. — Impulsionou o corpo, me fazendo rolar para seu lado. — Inclusive, ainda não me contou de quem você gosta.

— Isso nem é importante. — Senti meu estômago gelar.

— Claro que é. — Teimou, voltando a fazer carinho nos meus cabelos. — Pelo menos me dá uma dica.

Poderia?

Acho que não tem problema…

— Então tá bom. — Concordei. — Ele é um homem.

— Isso eu já sei! Não vale. Me fala outra coisa.

— Hm… Ele é da nossa escola.

— Mais específico!

— Usa óculos.

— Vou prestar atenção em cada um que usar óculos a partir de agora.

Neguei com a cabeça, voltando a fechar os olhos. Chanyeol era muito lerdo, socorro.

Dessa vez ficamos mais tempo quietos, aproveitando o friozinho que entrava pela janela, onde os passarinhos já não estavam mais. Passei o meu pé gelado debaixo dos de Chanyeol, que estavam se esfregando um no outro, como de costume.

Ele riu quando sentiu a temperatura.

— Estou começando a pensar que o seu objetivo não era ver coisa do trabalho coisa nenhuma.

— Você ganhou um corte de cabelo e eu ainda estou te fazendo carinho, tá reclamando do que?

— Quem disse que eu tô reclamando?

— Eu também acho que você não estava tão interessado assim em falar de trabalho. — Cutucou minha cabeça.

Uau, que surpresa, Chanyeol.

— Não estava mesmo. Você deveria me convidar pra comer a comida da sua mãe, isso sim.

— E fazer ela se apaixonar ainda mais por você? — Falou em tom acusatório.

— Como assim? — Fiquei confuso.

— Ela vive falando de você! Todo dia me pergunta quando virá de novo. Se eu tivesse falado que viria hoje, ela até seria capaz de vir pra casa mais cedo.

Por essa eu não esperava.

— Nossa! Tudo bem que eu já sabia do meu charme irresistível, mas essa foi rápida.

— E bem humilde também. — Me olhou debochado. — Yoora não para de encher o saco sobre o ‘’menino bonito’’, deve estar apaixonada também.

— E você?

Chanyeol parou os movimentos no meu cabelo.

— Eu o quê?

Bufei alto, me levantando. Me digam, dá para ter paciência assim?

— Nada. — Sorri inocente. — Já discutimos tudo?

Ficou quieto, se sentando na cama espaçosa. Ele me olhava como se analisasse tudo em mim, com uma expressão estranhamente séria.

— Já. — Disse simplesmente.

— Então, eu já vou. Nem avisei pra mamãe que vinha aqui.

— Tudo bem, eu te levo até a porta.

Assenti, meio acuado com o clima tenso. Era pra eu ter deixado a minha boca fechada, droga. Eu nunca sei bem o que fazer nessas horas, Chanyeol me confude todo e eu acabo fazendo merda. Ai, ai.

Quando pisei na calçada, virei para ele, que ainda estava na entrada da casa.

Sorri, por não saber o que dizer.

Chanyeol deu alguns passos, com uma expressão indecifrável.

— Baekhyun…

Prendi a respiração, o sorriso se desmanchando. Chanyeol tinha se aproximado tanto, que tive que levantar a cabeça para poder continuar mirando seus olhos. Ele estava estranho.

— Sim? — Respondi, tentando não parecer tão nervoso.

Vi seu pomo de adão subir e descer, depois ele mordeu os lábios.

— Deixa pra lá. — Balançou a cabeça.

Como deixar pra lá?! Eu vou dar um chute na cara dele, merda.

— Eu vou dar um chute na sua cara. — Falei.

Chanyeol riu, balançando exageradamente os ombros.

— Nós dois sabemos que você também não me diz tudo o que eu quero saber.

Opa. 1 a 0 pro Chanyeol.

Antes que mais coisas fossem jogadas na minha fuça, resolvi me despedir logo, passando os braços ao redor de sua cintura.

— Tchau, idiota.

Eu lembro de já ter falado algo sobre a morte estar em cinco centímetros, etc, etc. Só mostra quantas vezes eu tive experiências de quase-morte, além das vezes que eu lembrei de ter deixado o ferro de passar roupa ligado, ou de não ter tirado a carne para descongelar como a mamãe pediu. Com o Chanyeol, essa era a segunda. A segunda maldita vez que nossas bocas quase se encostaram.

Foi um erro de cálculo, um timing errado. Eu fiquei na ponta dos pés, para deixar um beijo na bochecha dele, no mesmo momento em que Chanyeol se inclinava para beijar o topo da minha cabeça.

Conseguimos parar a tempo, eu e ele retesamos nosso corpos inteiramente. Talvez pelo constrangimento, eu não consegui me afastar completamente, e o mesmo parecia acontecer com Chanyeol. Eu sentia a respiração mínima dele perto do meu rosto, e meus olhos desceram, sem qualquer tipo de controle, para sua boca vermelhinha.

De repente, eu havia desaprendido a respirar, não importava o quanto o respirava, o ar se fazia insuficiente nos meus pulmões. Chanyeol começou a encarar minha boca também, logo depois de eu morder meu lábio inferior. Era tão óbvio o que estava acontecendo ali, tão óbvio, que eu senti medo. O mais simples e irracional medo.

Quando a proximidade diminuiu minimamente — não sabia dizer por quem —  eu, que estava com os sentidos aguçados, espalmei minhas mãos em seu peito e o empurrei.

Ele fez a mesma coisa.

Ficamos parados, um de frente para o outro, de cabeça baixa, e entre nós a segura distância de nossos braços esticados.

Devagar, dei passos para trás, sem coragem de encará-lo nos olhos, antes de virar de costas e caminhar rapidamente para longe dali.

 

Evitei encontrar meus pais dentro de casa, correndo direto para o meu quarto, como se fosse o meu último refúgio do universo. Sentei com os olhos bem abertos em minha cama bagunçada, sentindo o meu coração acelerado na palma da minha mão. Dessa vez não foi fruto da minha imaginação fértil demais, foi? Aquilo realmente aconteceu! Ele… Eu… Nós…

Me joguei para trás e cobri a minha cara com o travesseiro, pedindo, pelo amor de Deus, alguma luz. Eu já não sabia o que pensar, e muito menos o que fazer.

Nos dois dias seguintes, Chanyeol não compareceu à aula. Nesse tempo, mesmo agoniado e nervoso por pensar em encontrá-lo ao chegar na sala, fiquei um pouquinho aliviado em não vê-lo. Também não pude evitar a preocupação, pois ele não costumava faltar, quiçá dois dias seguidos. O pessoal, na hora do intervalo, comentou brevemente a ausência de Chanyeol, muito sentida porque estava sempre brincando e falando alto, mas ninguém sabia o motivo. Claro que eu tinha um palpite, entretanto não acreditava que seria aquele o porquê, já que… Qual é, né, gente. Não sou tão presunçoso assim.

Também tinha Soyeon. Após umas olhadelas curiosas minhas, ela me pareceu meio estranha. Ela costumava ser bem falante, assim como Chanyeol, mas estava muito quietinha. Só respondia quando alguém a mencionava na conversa, e no resto do tempo ficava perdida em pensamentos. Eu não era tão próximo dela, e ainda tinha aquele bagulho todo que aconteceu, então não me senti na liberdade de perguntar se havia algo errado. Mas vontade não faltou.

No terceiro dia, Chanyeol finalmente apareceu. Era uma quinta feira. Constatar o fato que faltavam apenas dois dias para nossa apresentação, quase fez todos os meus cabelos caírem. Eu estava, realmente, quase ficando careca, amados. Ainda mais quando, no início da aula, Chanyeol entrou na sala e me olhou brevemente, antes de sentar ao lado de Sehun. Meu corpo gelou inteiro, amigos, inteiro mesmo. Senti até um friozinho no brioco. Ou Tomas, se preferirem.

Tudo estava indo bem, mas eu não sabia se era a minha mente perturbada, talvez com um sintoma de uma mania de perseguição fajuta, que fazia eu sentir que havia algo estranho. A frustração era não saber o quê! Yifan ainda reclamava do caso da avó, Sehun ainda enchia o saco de todo mundo, Jongdae ainda ria escandaloso e, às vezes, se engasgava com a comida… Então, o que era? Eu não conseguia pensar em nada, nem quando tentei tirar algo da imagem atual de Chanyeol rindo de alguma coisa com Soyeon.

Eu não havia falado com ele desde então, nem sequer um oizinho. Nossos amigos perceberam, Kyungsoo percebeu, mas aparentemente haviam feito um acordo silencioso de não comentarem nada. Era óbvio que tinha alguma treta rolando. Eu só fingia seguir aquela normalidade estranha, tentando não pensar muito nos meus problemas. Aquele dia chegava a ser um problema? Hm, eu empurrei o Chanyeol quando percebi que estava rolando algum tipo de clima entre nós. Ah, mas ele me empurrou também. Xii.

Ei, eu também não entendia o motivo de eu ter feito aquilo! Acho que o meu cérebro, sem querer, calculou toda a confusão que daria depois, se eu chegasse a beijá-lo. Eu tenho sim muita, muita vontade de beijar Chanyeol, mas acredito que tudo tem seu momento. E aquele dia não era um deles.

Mas que ia acontecer, ia sim! Ai meu Deus.

Eu já tinha batido o merengue para a famosa torta de climão, que, para minha infelicidade, durou até as vésperas da apresentação, naquela noite estrelada de sexta-feira.

Mentira, estrelada nada, estava chovendo pra porra.

Foi nessa noite estrelada, se não estivesse chuvosa, que Jongin me disse que Chanyeol havia terminado com Soyeon.

Lembro que li, reli, desreli, só para ler de novo, aquela mensagem. Era algo mais ou menos como:

‘’Chanyeol está solteiro.’’

Assim, sem mais e nem menos, sem nenhuma preparação. Eu estava deitado na cama, prontinho — como Chanyeol mesmo fala — para dormir. O celular vibrou, me arrancando uns resmungos irritados por ter sido interrompido, quando estava quase pegando no sono. Mas não tive condições de sentir nem um pingo de sono depois. Só não me perguntem o que aquilo significava, porque eu não tinha nada em mente. Nadinha.

''Desde quando?''

Perguntei.

‘’Desde segunda.’’

Jongin respondeu.

Vocês mesmos tirem suas próprias conclusões, pois eu mesmo só falei um ‘’puta que pariu!’’ e passei a madrugada toda perdendo o resto do meu cabelo.

Só não foi pior do que ficar recebendo um monte de mensagens do Sehun, e a maioria delas eram imagens de algumas moças segurando taças de champanhe.

Cheguei cedo ao local alugado pelo colégio para organizar o festival. Era um auditório chique, com o teto alto e bem ornamentado, parecia aqueles lances de ópera. Eu nunca tinha entrado em um lugar assim, ainda mais para me apresentar… Ai meu Deus, eu vou me apresentar com o Chanyeol!

Não se assustem, era a trilionésima vez que aquele pensamento cruzava minha cabeça. Eu comi meu pão pensando ‘’Ai meu Deus, eu vou me apresentar com o Chanyeol!’’, escovei meus dentes pensando ‘’Ai meu Deus, eu vou me apresentar com o Chanyeol!’’, eu estava no carro com a mamãe, tranquilo como uma nuvem, quando de repente pensei (alto) ‘’Ai meu Deus!’’ etc, etc., assustando a mamãe, que pegou a sombrinha dela no banco de trás e me deu uma porrada na cabeça.

Ela, inclusive, me ouviu hoje de manhã. Por cima do copo com suco de laranja, ela me olhava. Falei sobre o quase beijo, a solteirice inesperada de Chanyeol e o que eu poderia fazer. Minha mãe bebeu todo o suco de uma vez, logo depois de eu terminar o falatório, e disse:

— Meu filho…

Lembro de responder, esperançoso:

— Sim, mamãe?

— Tu é burro ou só se faz?

Minhas capacidades mentais ainda não desenvolveram vidência, por isso não entendi aquela injúria. Por que as pessoas ao meu redor tinham que ser tão complicadas? É só falar se é ou não é, se é isso ou aquilo. Que coisa!
Sim, isso foi uma indireta, até para quem não está lendo isso. Aprendam comigo.

Pisando duro pelos corredores dos bastidores, que estavam abarrotados de gente do colégio, avistei Kyungsoo escorado em uma parede, junto com Sehun, ambos assistindo atentamente os passos de dança que Jongin dava.

— Oi! — Cumprimentei abraçando o Soo.

— Boa tarde. — Ele respondeu, segurando minha mão entre o indicador e o polegar, afastando-a de seu ombro. Fresco!

— Olá, Baek. — Sehun arregalou os olhos pra mim, enquanto sorria que nem um psicopata. — Que dia lindo, não é mesmo? Parece até que algo mud—

— Sehun. — Jongin chamou em tom de advertência.

— Sim, madame?

— Cala a boca, pelo amor de Deus.

Sehun, com a cara mais sem vergonha, tapou a boca com a mão, enquanto soltava uns ho ho ho.

Era a própria personificação do capeta.

Suspirei.

— Jongin, eu ainda tenho muitas coisas pra perguntar, mas… — Cruzei os braços. — A minha prioridade hoje é a apresentação.

— É verdade, já pensou se o Baekhyun fica distraído, esquece a letra da música e passa a maior vergonha no palco? Coitado, vai acabar com a carreira dele. — Sehun me cutucou.

Acho que alguém aqui vai levar um tiro.

— Não está esquecendo algo importante? — Kyungsoo levantou a sobrancelha pra mim.

— Não… ? — Respondi.

— A aposta, Byun Baekhyun. — Jongin sorriu.

Puta merda.

Ah, se hoje é a apresentação… Então o meu prazo praticamente acabou! Caramba, eu estava tão desnorteado com as coisas que aconteceram, que nem me atentei a isso.

Hmm, vejamos.

— Gente, eu nem concordei com essa aposta mesmo. — Tentei me esquivar. Estava sorrindo tão amarelo, que se estivesse no mundo virtual a minha risada seria ‘’rsrsrs’’.

Os três me lançaram olhares julgadores, um pior que o outro. Me senti até em um tribunal. Eu hein, não se pode nem mais ter opinião própria nos dias de hoje.

— Baekhyun, entenda, nós queremos ajudar. Mas nada vai dar certo se você não der o primeiro passo! — Jongin disse.

— Quem está apaixonado aqui é você, idiota, não espere que nós façamos tudo. — Kyungsoo concordou. — Eu não tenho mais paciência pra esse chove e não molha. Se ele te rejeitar, pelo menos você terá um motivo pra ficar se lamentando pro meu lado.

— Se está apaixonado por alguém, essa pessoa tem o direito de saber. E você também tem o direito de ser amado. — Sehun pôs a mão no meu ombro.

Sehun falando algo que preste?

— Foi o que o Jongin me disse ontem.

Ah, tá.

Espera, o quê?

— De qualquer forma! — Os cabelos cor de rosa de Jongin entraram no meu campo de visão, interrompendo minha linha de raciocínio. — Você tem a chance de tirar essa dúvida que tem no coração. — Olhou bem nos meus olhos. — Hoje.

— … Não prometo nada. — Anui. — Vai ser estranho, eu não falo com Chanyeol faz um tempinho.

Paramos a conversa ali, pois uma das meninas da organização pediu nossa ajuda. O equipamento de som estava montado, as luzes bem acopladas, o palco até parecia coisa de profissional. As palpitações nervosas eram inevitáveis, eu sentia até uma dor de barriga. Tomara que não me dê um desarranjo logo agora. Detesto ir ao banheiro fora de casa.

O evento foi divido em duas partes. As oficinas estariam abertas desde cedo recebendo o público, onde Zitao faria suas palestras sobre moda, e depois, para encerrar, aconteceriam as apresentações do ensino médio. Soube que elas não foram organizadas por turmas, então poderíamos ser tanto os últimos, quanto os primeiros.

Não estar falando com Chanyeol era horrível, porque nem apoio moral eu receberia desse jeito. E se ele dissesse ‘’sai do palco, embuste, eu vou cantar sozinho’’? Essa é a vida real, amigos, as pessoas são imprevisíveis. Príncipes encantados não existem, a gente só se apaixona por quem é mais ou menos bacana. No final, as coisas geralmente não dão certo. Mas seguimos em frente!

… O problema é que o Chanyeol não é só mais ou menos. Ele é mais. Muito mais.

Eita, acho que a minha tentativa de autoconsolo antecipado não deu muito certo.

Passando por um mural perto dos camarins, enxerguei o que julguei ser a ordem das apresentação. Me aproximei, afobado, ajeitando a mochila nas costas.

Passei os olhos em vários nomes, e já estava ficando preocupado por não encontrar o meu, quando, no finalzinho, constava:

‘’Byun Baekhyun e Park Chanyeol (2ºano A)

Final do evento’’

Eu comecei a rir, galera, mas foi de nervoso.

O local estava lotado. Quando vi as cadeiras disponíveis, cheguei a pensar que era exagero, mas veio tanta, tanta gente. Jesus amado.

Mais da metade das performances já tinham passado, e quanto mais eu pensava em entrar naquele palco, mais vontade de fazer cocô eu tinha. Ah, que foi? Até parece que ninguém faz cocô aqui. Eu ainda acho que aquele pão preocupado que eu comi de manhã não desceu muito bem. Opa, pão preocupado não! O pão que eu comi quando estava preocupado. Isso. Meu Deus, eu já não sei nem falar direito.

Dentro da minha mochila, havia a roupa formal que Chanyeol havia pedido. Era uma blusa social branca e uma calça preta, também social. A blusa ficava certinha no meu corpo, agora a calça… O negócio era na hora de fechar o botão, mas encolhendo a barriga fica tudo bem. Só espero que o botão não saia da casa e acerte o olho de alguém.

Eu estava sentadinho em um banco perto do camarim, vendo todo mundo ocupado correndo pra lá e pra cá. Sehun já tinha se apresentado, eu vi nos bastidores. Ele fez uma dança solo, a música escolhida foi Carnival of Rust, do Poets of the Fall. Sehun fez algumas alterações na melodia, para que ela ficasse mais rápida, mesmo que mantivesse a aura meio sombria, e a combinou com uma coreografia forte. Não sei dizer se era contemporânea ou outro tipo, mas foi muito legal. Eu nunca conseguiria dançar daquele jeito… Vida que segue.

De repente, senti alguém cutucar meu ombro. Virei a cabeça, antes apoiada na parede, e vi Soyeon em pé, sorrindo.

Esqueçam o que eu falei sobre fazer cocô. Do jeito que o Tomas ficou, não sai nada, não.

— Oi! — Ela disse animada.

— Oi… — Minha voz conseguiu sair no meio do meu acanhamento.

— Hm… Eu estava pensando… — Trocou o peso nos pés. — Você quer ajuda para se arrumar?

— Mas é só pôr a roupa e—

— Ah, qual é, Byun! É a sua apresentação! Tem que caprichar no visual. — Piscou pra mim. — Vem aqui no camarim, eu vou fazer uns babados em você.

Fiquei com medo. Que babados são esses?

— Mas…

— Vem logo!

Levantei lentamente, seguindo-a para a sala do camarim. Lá dentro tinha espelho pra tudo quanto era lado, era até assustador. Uma grande bancada enfeitava as paredes, e em cima dela havia vários tipos de utensílios, desde máquinas de costura, até secador de cabelo.

— Eu trouxe as minhas maquiagens. — Soyeon me fez sentar em uma cadeira. — Confia em mim! Já está na hora de eu colocar em prática as minhas habilidades.

Decidi ceder, depositando uma confiança meio sem precedentes na Soyeon, ela não faria nada de mal pra mim… Faria?

Ela prendeu meu cabelo com várias presilhas, alegando que iria cuidar dele depois, e me virou de costas para o espelho da bancada. Soyeon tirou várias coisas de dentro da bolsa dela, e eu não saberia dizer o nome nem de metade daquilo. Senti um líquido gelado na cara, e ela começou a esfregar a pele do meu rosto com um tipo de esponja. Depois disso, não sei explicar o que ela passou, era um monte de troço pegajoso. Mas a pior parte foi a do olho. Valha Nossa Senhora, que merda foi aquela? Soyeon passava a tinta preta que saía de um negócio estranho cuidadosamente, e dizia pra eu não piscar. Como é que eu ficaria sem piscar, amada? Nunca senti uma ardência tão grande. Quase morro. Ainda tem gente que gosta disso, socorro.

Enquanto isso, a gente não manteve nenhuma conversa. Ela só pedia algumas coisas com a voz baixinha, e eu obedecia. Eu não sentia o clima muito pesado, mas ainda era estranho.

— Ei… — Soyeon chamou, depois de uns minutos calada. Ela retirava os presilhas do meu cabelo.

— Hm?

— Eu conversei com a Eunjung.

Me remexi desconfortável.

— Todo mundo tem uma história, sabe, Baekhyun? — Começou. — Com a Eunjung não seria diferente, mas não cabe a mim falar sobre isso. Mas eu acredito que, seja lá o que sofremos no passado, não devemos descontar nossas dores nos outros. E ela sabe disso. Cansei de falar, muita e muitas vezes, que pessoas ruins existem, independente de raça, orientação sexual, religião, etc., assim como existem pessoas boas também. Eunjung é cabeça dura, mas eu não a abandono, porque no momento em que eu precisei, ela estava lá por mim. Eu procuro sempre o bem das pessoas que amo, mesmo que isso me machuque, às vezes.

Eu observava atentamente as expressões de Soyeon, ela parecia estar meio triste, mesmo que a voz saísse suave como sempre.

— Ficar forçando situações, sentimentos, pessoas… Não leva a lugar algum, entende? Eu aprendi isso. — Pausou por um momento. — Eunjung é cabeça dura, sim, porém eu juro pra você que ela não é uma má pessoa. As pessoas não são oito ou oitenta, Baekhyun. Eu tive muitas experiências no orfanato pra ter essa certeza. — Começou a pentear meu cabelo com uma escova, enquanto ligava o secador com a outra mão. — Eu só acho que… Não é bom você se aproximar dela, e nem ela de você. Espero que entenda.

Assenti, assimilando aos poucos suas palavras. Não consegui pensar em nada para responder, amaldiçoando a minha falha na comunicação, porque sentia que Soyeon merecia algumas palavras minhas. Ainda mais depois de ter se dado o trabalho de falar tudo aquilo pra mim.

A barulheira do secador parou, sendo substituída pelo barulho do spray fixador de cabelo. Eu acho que é assim que chama.

— Prontinho!

Descobri de onde o Chanyeol surgiu com isso.

— Agora é só pôr a sua roupa e— Tentei virar para me olhar no espelho, sendo impedido por Soyeon. — Ainda não, mocinho. Põe a roupa primeiro.

O povo adora mandar em mim, incrível. Fui até a mochila sem reclamar, tirando o meu grande figurino, cuidadosamente dobrado pela senhora minha mãe.

Aproveitei que Soyeon estava de costas, ocupada guardando todos aqueles trecos, e troquei de roupa. A calça, apertada pra porra, como disse anteriormente, custou a fechar, mas fechou. Ainda bem que só vou ficar sentado, se ela rasgar ninguém vai ver.

Quando estava terminando de calçar meus sapatos, Soyeon me olhou.

— E essa camisa largada? Vai à missa? — Se aproximou para começar a enfiar o tecido da camisa por dentro da calça. Eu fiquei quietinho. Ri um pouco ao lembrar da minha cena com o papai naquele dia. — Agora sim. Deixa eu ver.

Ela se afastou um pouco, me encarando de cima à baixo.

— Uau.

Um pouco nervoso, fui até o grande espelho, adornado por luzes amareladas. Quando me vi, quase de um mortal duplo carpado pra trás. Não era eu, não era eu. Hm, hm. Não era, não.

— Soyeon, você colocou uma máscara em mim?

Ela começou a rir.

— Está duvidando dos meus dotes artísticos, Byun?

Eu duvidava de muita coisa, desde o penteado irado que ela fez no meu cabelo, um topete jogado pro lado bem radical, até a maquiagem babado. Então o babado era isso. Meus olhos pareciam diferentes, mais profundos, graças à sombra cinza esfumada e o troço de tinta preta que Soyeon passou.

Essa menina tem futuro.

— Você tá lindo. — Ela mostrou um joinha com o polegar.

— Com esse tanto de reboco que você me jogou, qualquer um ficaria lindo. — Falei sem maldade. Eu estava era embasbacado.

Depois de uns segundos me olhando no espelho, olhei fixamente para Soyeon, sorrindo para sua imagem pequena. Ela era incrível.

Segurei suas mãos, bem forte.

— Obrigado.

Ela pareceu surpresa por um instante, porém sorriu logo em seguida, devolvendo o aperto com a mesma intensidade.

— Faça valer a pena, Baekhyun.

Não sabia ao certo do que ela estava falando, mas respondi um ‘’sim’’ convicto.

Saímos do camarim, ambos com diferentes sorrisos no rosto. O meu era confiante e decidido, já o de Soyeon era algo entre alívio e nostalgia.

Eu, com certeza, faria valer a pena.

Mal tive tempo de pensar em mais nada quando cheguei à sala de espera, pois os coordenadores já me mandavam para os bastidores. Ouvi de um que Chanyeol já estava lá.

Engoli em seco. Meus passos eram embolados, e não tinha muita certeza para onde estava indo, contudo em algum momento enxerguei Sehun entre as pessoas do corredor. A partir daí, eu senti tudo em câmera lenta, como nos filmes. Vi exatamente o momento em que ele arregalou os olhos pra mim, depois sorriu, começando a caminhar junto comigo, mesmo de longe. Ele abriu a boca pra falar ‘’é a tua chance’’, ou algo assim, mas como estava em câmera lenta, a voz dele saiu grossa e devagar. Sehun ainda gesticulou umas coisas estranhas, algumas até obscenas, e franzi o cenho, fazendo uma careta, ainda em câmera lenta.

Não consegui entender mais nada, até porque Sehun tinha dado de cara com um pilar.

A sala dos bastidores era um espaço atrás das cortinas do palco, onde ficavam as pessoas responsáveis pela organização, e quem apresentaria depois da atual performance. Eu cheguei lá confiante, porém… Eu sou eu, não é? Óbvio que me daria uns indícios de afrouxamento. E tudo piorou, quando vi Chanyeol sentado em um banquinho, dedilhando algumas cordas no violão. Me escondi atrás da parede, espiando como pude. Ele estava maravilhoso, as mangas da blusa preta que usava estavam dobradas até o cotovelo, e o resto da roupa era da mesma cor. Me surpreendi ao ver que Chanyeol não usava seus óculos. Seu rosto estava sério, com as sobrancelhas franzidas.

Quando escutei a apresentadora do evento, que era, na verdade, nossa professora de Artes, dizer os nomes Jongin e Kyungsoo, lembrei que eles eram os penúltimos na lista. Uma música desconhecida para mim começou a tocar, e logo a voz de Kyungsoo soou. Atravessei a sala sem pensar, afastando um pouco as cortinas do canto, vendo perfeitamente meu melhor amigo em pé no centro do palco, enquanto Jongin dançava ao seu redor. Minha boca abriu em um perfeito ‘’o’’ com a visão. Era como se Jongin incorporasse a música e tentasse desestabilizar a base, ao dançar perto de Kyungsoo. Tudo isso ficava muito melhor com o vocal do Soo. Quer dizer, eu sabia que ele cantava bem, mas… Uau.

— Eles estão fazendo um verdadeiro show. — Tomei um susto de nível global, por pouco não gritando. Fechei a brecha da cortina, com as duas mãos no peito.

— Quer me matar, merda?! — Vociferei para um Chanyeol com expressão divertida.

— Eu não. — Voltou a se sentar. — Ainda quero cantar com você.

Respirei fundo, tentando não me abalar muito, e acabar por agravar o meu nervosismo. Sentei em um dos banquinhos também, decidido aquecer a minha voz. Seria ruim se eu desafinasse, não é? Risos nervosos.

No meio do aquecimento, lembrei de Sehun, antes de se chocar com o pilar, me jogando aquele confiável ‘’vai que é tua’’. E do apoio de Jongin e Kyungsoo, mais cedo.

Será que a minha hora tinha chegado? Quer dizer, a aposta ainda valia, porque não tínhamos nos apresentado ainda.

Eu não tinha nada a perder, tinha? Além da amizade do Chanyeol.

Risossss.

— Chanyeol, eu—

— Baekhyun, eu—

Caramba! Justo quando eu havia arranjado coragem para abrir a boca!

Me calei, esperando Chanyeol continuar.

— Eu só queria dizer que… — Mordeu o lábio inferior, olhando fixamente para mim, do outro lado da sala. — Eu… Você está maravilhoso! — Falou rápido.

Ah, era isso? Mas eu já sabia! Ô, Chanyeol.

Sorri nervoso, vendo-o voltar a dedilhar o violão, tocando um pouquinho do arranjo que fizemos na música.

— … O que você ia me falar? — Chanyeol perguntou baixinho.

Apertei a madeira do banquinho, descontando todo o meu nervosismo. Vamos, Baekhyun, você consegue!

Quero todo mundo falando: Lets go, Baekhyun!

Agora!

— Eu… — Engoli em seco mais uma vez, expirando todo o ar do meu pulmão. — Eu… Er… G—

Cacete. Formar frases sempre foi difícil assim?

Chanyeol pôs o violão encostado na parede, levantando-se e caminhando em minha direção.

Hehehe. — Saiu sem querer, quando ele se abaixou de frente para mim, como fez naquela vez no refeitório.

— Estou escutando. — Falou calmamente. — O que foi?

A minha boca abria e fechava, o sangue do meu corpo parecia estar em todos os lugares, menos no meu rosto. Eu estava em pânico, amigos, em pânico.

E pior! Quanto mais eu tentava falar, mais Chanyeol parecia segurar o riso! Esse desgraçado.

Desisto! Desisto! Isso não é pra mim, não.

— Ah, sei lá, Chanyeol, esqueci.

Ele me encarou por alguns segundos, com as duas sobrancelhas arqueadas. Ainda ia falar alguma coisa, mas, nesse momento, o tio da organização entrou, dizendo para nos prepararmos para entrar no palco.

— Você é mesmo terrível. — Chanyeol falou ao meu lado, enquanto esperávamos o ‘’ok’’ do tio. — E isso não tem nada a ver com signos.

Eu sabia disso mais do que ninguém. E também não poderia sentir mais frustração.

Senti sua mão se entrelaçar na minha, tão gelada quanto. Pisamos no palco de mãos dadas, nos separando para assumirmos nossas posições. Chanyeol ficaria no lado esquerdo, sentado no banquinho com o violão, e eu do lado direito, no piano de cauda que o diretor conseguiu arranjar.

As luzes se acenderam. Evitei olhar para o público, focando nas primeiras notas que eu tinha que tocar no piano.

Here comes the sun, here comes the sun

And I say It’s alright

Minha voz saiu meio baixa, mas procurei ir no embalo das notas rápidas de Chanyeol.

Little darling, it's been a long cold lonely winter

Little darling, It feels like years since It’s been here

Here comes the sun, here comes the sun

And say It’s alright

Um sorriso involuntário cresceu em meus lábios, depois da minha voz se mesclar com a de Chanyeol. Arrisquei olhar para ele, constatando que o meu sorriso não era o único naquele palco.

Little darling, the smiles returning to the faces

Little darling, It seems like years since It's been here

Here comes the sun, here comes the sun

And I say It's all right

Sun, sun, sun, here it comes

Sun, sun, sun, here it comes

Sun, sun, sun, here it comes

Sun, sun, sun, here it comes

Sun, sun, sun, here it comes

Ainda me surpreendia com as habilidades de Chanyeol no violão, ele fazia a música ficar completa, mesmo sem os instrumentos presentes no arranjo original. Eu tentava com todo o meu esforço acompanhá-lo. Apesar disso, eu estava me divertindo como nunca.

Little darling, I feel that ice is slowly melting

Little darling, It seems like years since It's been clear

Here comes the sun, here comes the sun

And I say It's all right

Here comes the sun, here comes the sun

It's all right, It's all right

 

A música acabou com uma grande salva de palmas, e alguns gritos histéricos também. Não precisei nem procurar para ver quem fazia aquele estardalhaço, pois Sehun segurava um grande cartaz com o meu nome e o do Chanyeol, junto com a minha mãe. Fui ao centro do palco, pegando na mão de Chanyeol, e logo depois reverenciamos o público. Recebemos mais gritos.

Meu Deus, isso foi incrível.

As batidas do meu coração ainda estavam à mil, nem sabia como me mantinha em pé.

O tempo entre o palco e a volta para os bastidores passou num piscar de olhos, eu estava meio desnorteado por causa da adrenalina. Havia algumas garrafinhas de água para nós, então peguei uma, tomando altos goles.

Chanyeol se apoiou na parede à minha frente, cruzando os braços. Seu peito subia e descia, evidenciado pela blusa meio aberta. Ele estava tão bonito, e, de alguma forma, tão intenso, que fui obrigado a virar de costas, fingindo procurar algo.

— Sabe, Baekie…

Não, não sei de nada.

Me forcei a tomar mais daquela água, querendo normalizar o meu coração desenfreado. Acho que vou desmaiar.

— Eu… — Ouvi uma risadinha. — Eu sou tão apaixonado por você. Mais até do que você é por mim.

A garrafinha de água caiu da minha mão.

Virei para ele, atônito.

Chanyeol sorriu.

 

 


Notas Finais


QUEREM ME MATAR, ME ABRAÇAR, ME BEIJAR?
ACEITO TUDO N
Quero saber o que vocês acharam, hein? ueueheuhuehe porque eu achei... Responsa
Já sabem onde me encontrar né? @baabiction


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