História Chapeuzinho Vermelho - Imagine Min Yoongi (Suga) - Uma devassa e um chocolate

Capítulo XXVII - O doce aroma do chocolate

O que eu me tornei afinal?

Olhe para mim, estou deitada ao lado de um homem que eu sempre jurei odiar com todas as minhas forças.

Kim Desgraçado Taehyung!

Eu não posso estar batendo bem da cabeça.. Sim! Definitivamente, esse é o problema. Meu corpo vez ou outra é controlado por um lobo interior, o meu lado selvagem, o meu lado sem escrúpulos isso sim!

Mas uma coisa eu não posso negar, Kim Deus Grego Maravilhoso Taehyung!  

Eu havia me tornado uma aproveitadora? Certamente! Como consegui passar de menina sem família para uma usupadora de corpos inocentes e frágeis? Tudo bem que Yoongi e Taehyung não são crianças - não mesmo - mas são pessoas tão doces - na maior parte do tempo- o que vou fazer quando eles descobrirem que sou sem coração, ou melhor, que tenho um coração de pedra, uma aproveitadora.

- Vai me olha dormir até quando?- aquela maldita voz rouca me fez acordar de um transe.

- Até quando você parar de fingir que está dormindo!- ouvi aquela gargalhada maldita. Kim Maldito Taehyung.

Resolvi aceitar o fato de eu ser uma, depravada - tarada, imoral e todos os sinônimos possíveis de aproveitadora - e desci sem dar muitas satisfações a Taehyung, com apenas um roupão branco, andei por toda a casa em busca de comida, afinal, dormimos a tarde toda.

Ao chegar na cozinha, me deparei com um bilhete em cima da mesa, e tremi internamente ao ler o nome Chapéu na folha dobrada, apenas três pessoas me chamavam assim, e uma delas estava morta. Tínhamos duas opções, Jin, ou Byun.

"Chapéu 

Cheguei pela tarde com minha passagem comprada apenas para dizer adeus a vocês, mas a casa estava em silêncio, e ao me aproximar da porta de seu quarto senti um odor um tanto quanto.. distinto, único, peculiar, cheiro de sexo. Bom realmente sabia que você daria o bote em Kim Taehyung mais cedo ou mais tarde.

Eu terei que ficar fora mais tempo do que o esperado, tente não deixar Min se aproximar de você, apenas medidas de segurança e provisórias, não sabemos o que ele pode estar pensado com aquele demônio dentro dele. Tentarei voltar antes da semana de lua cheia acabar, para ajudar a lhe proteger.

Byun Baekhyun"

Baekhyun e sua escrita perfeita. Ele é um idiota, o que estava pensando quando deixou isso aqui? E se o Taehyung achasse? Ele descobriria que sou depravada.

- O que é isso?- aquela maldita voz me despertou pela segunda vez no dia.- Byun?

- Sim,- falei jogando a carta na pia e depois ligando a torneira.- Disse que ficara fora mais tempo que o previsto, disse também que tentara voltar antes que a lua cheia acabe. Você sabe, é a hora que os lobos "dormem".

- Por que fez isso com a carta?- disse em um tom desconfiado.

- Por nada..- tentei ser o mais convincente possível.- Acho que vou dar uma volta..

- De roupão?

- Não vou sair da floreta de qualquer forma!

- Não está com fome?- neguei o óbvio.

 Segui em direção ao quintal, a neve já havia derretido, e a grama começava a reaparecer. Tomei minha forma de lobo, e pulei pelo muro andando pela floresta. Taehyung não tentou nem ao mesmo me impedir, ele sabe que não conseguiria em sua mera forma mortal de carne frágil 

Um cheiro ao longe havia me chamado a atenção, era um odor conhecido mas ao mesmo tempo enigmático, como uma questão matemática, onde a resposta está em sua frente e mesmo assim você não consegue ver. Mas eu conseguia, não ver, mas sim sentir, e muito bem.

Chocolate.

Aquele cheiro que me deixou tão maravilhada e fascinada, até porque os únicos a minha volta era Taehyung com seu cheiro de frutas vermelhas, Jin com seu cheiro de canela, Jimin com aquele odor insuportável de ortelã, e Namjoon com um cheiro leve de amêndoas. Mas nada se comparava ao cheiro de chocolate que Mark da Alcateia do Sul tinha. Ele era apenas um beta, mas seu cheiro era tão bom como um romance proibido entre Romeu e Julieta, a única objeção era que eu o odiava, mas não era um ódio qualquer, não era um ódio igual ao que eu sentia por Taehyung, era o ódio do pior tipo, um ódio de antipatia, o pior dos ódios.

Segui o aroma do chocolate até a colina, era como se cada passo meu pela floreta estivesse sendo rastreado por algo ou alguém, por um momento parei ao achar que estava sendo vigiada. Voltei a andar lento até me sentar ao lado do garoto que nem mesmo se mexeu com minha presença.

- É tão medrosa ao ponto de não estar em sua forma humana?- disse sarcástico. Eu não respondi, como poderia?- Vou considerar isso como um sim!

Continuei ali, parada, eu certamente o odiava, mas eu queria companhia, eu, pela primeira vez queria chorar. Depois de tudo, toda dor e sofrimento que começou com o desaparecimento do meu pai, tudo, voltou a tona naquele momento, onde o sol estava se pondo, não para descansar, mas sim para brilhar em outro lugar, um trabalho sem fim.

Me deitei sobre as patas ficando com minha cabeça baixa, minha respiração se tornou descompassada, e pela primeira vez eu odiei ter saído só de roupão. Choramingos começaram a sair pela minha boca, como uma tosse fina e irritante, meus olhos umedeceram mas não sentia lágrimas pelo meu pelo. Agora eu era depravada e fracassada.

- O que está fazendo?- o garoto perguntou claramente assustado.- Se isso for algum tipo de truque pode parar!

Eu olhei para ele com o olhar mais piedoso possível, qual é! Se cachorros conseguem, sei que também posso!

A mão esquerda de Mark subiu e logo depois parou no ar sobre minha cabeça. Eu levantei meu focinho e funguei nas pontas dos dedos finos do garoto sentindo melhor o aroma. Não havia dúvidas, eu era uma devassa. Do pior tipo.

Ele encostou sua mão em meu pelo, e pela primeira vez eu senti alguém me dando carinho, e céus, uma das melhores sensações desse mundo. Era como se um tipo de êxtase tivesse sido injetado no meu cérebro através de uma agulha. Como sentir a água quente cair sobre seu corpo gelado. Como estralar os dedos. Um tipo diferente de amor, um amor inocente.

Afinal, o que eu me tornei.

Eu precisava de um abraço, mas não iria pedir um abraço ao meu inimigo não declarado, vulgo Mark cheiro de chocolate da Alcateia do Sul.

Percebi que aquilo estava indo longe demais. Levantei meu corpo ficando então mais alta que o chocolate, eu ainda não consigo acreditar como o cheiro desse garoto é incrível.

Virei para ir embora e quando eu já me encontrava em uma distância considerável, notei Mark se levantar e me chamar.

- Alfa!- olhei o rapaz sem muita crença no que ele iria falar.- Não sei por que nos odiamos, mas estou disposto a ouvir seus problemas e te dar a resposta mai sincera possível.

Como eu disse, sem crença no que ele iria falar, apenas segui meu caminho.

[...]

Como a semana passou rápido...- ironia.

Todos os dias, desses últimos sete dias foram praticamente o inferno.

Mark cheiro de chocolate Alcateia do Sul Tuan, ficou andando pelas redondezas, e o meu encontro com ele na colina era inevitável já que caso aquele maldito chegasse mais perto, Taehyung com certeza sentiria o aroma adocicado, eu não queria criar nenhum tipo de terceira guerra mundial. 

Diferente do nosso primeiro encontro, eu resolvi mostrar a cara humana para aquele meu inimigo não declarado. Podemos dizer que eu encontrei o motivo de nos odiarmos tanto. Eramos iguais. Em tudo! Absolutamente tudo, sem brincadeira. Acho que a única diferença é que eu sou rica e ele pobre, já que eu sou uma alfa e ele um beta. Comparação inútil, mas a única que eu achei, ele concordou comigo. Por sermos tão iguais entravamos em desavença rápido e na mesmo velocidade achávamos uma solução. 

- Nossa... você é uma devassa!- concluiu depois que eu contei a minha história.

- Não sou uma devassa!- me defendi rapidamente.- Só.. não resolvida amorosamente.

- Claro, a levar em conta que você possuiu um vampiro, e tem relações sexuais com seu primo.- falou brincalhão.- Taehyung não liga de você sair assim? Sendo que você corre alto risco de ser ataca por um vampiro possuído?

- Eu sei me defender, e ele mal mal consegue me impedir na forma lobo dele, quem dirá humana!- Mark riu anasalado.

- Acho melhor irmos..- observei o último raio de sol se esconder no horizonte.- Acho melhor pararmos de nos encontrar também.

- Por que?- minha voz soou mais chateada do que devia.

- Não quero ser visto com uma devassa como você!- brincou, mas não houve nenhum sorriso de sua parte.- Você me contou tudo o que queria, e eu te ajudei como podia, mas eu quero te contar algo agora.

-...- eu o olhei um tanto quanto curiosa.

- A um tempo, Jin foi nos visitar, achei que fosse algo de rotina, ele sempre vai e leva Jungkook, ele e nosso dongsaeng são bem próximos.- falou enquanto olhava o nada.- Alguma coisa mudou _____.

- Disputa de território talvez?- ele negou.

- Nossos territórios são divididos igualmente, a colina é o ponto dos dois limites.

- O que você acha?

- Não faço a miníma ideia, talvez depois de tudo que você me contou.. Jaebum pode ter achado que destruir o convento foi algo irresponsável. Mas ele não entende o lado de vocês, família sempre vem em primeiro lugar, e ele nos afastou de vocês exatamente por causa disso.- segredou.- Devemos nos afastar, esquecer que isso aconteceu.

- Eu não gostaria de esquecer..- resmunguei baixo.

- Eu também não, alfa.- sorriu gentilmente.-  Mas esse é o único jeito.

E assim nos despedimos, até parecia que eu havia acabado de declarar meu amor para Mark, e ele tivesse me dito que era tarde pois ele precisaria se mudar para o outro lado do mundo.

Voltei para casa com as últimas palavras de Mark martelando em minha mente.

"Eu sempre estarei aqui para o que precisar."

O que estava acontecendo? Durante anos da minha vida não tive amigos, e por um curto período de tempo não tive família, um período bem curto na verdade já que o universo resolveu me bombardiar com um punhado de parentes, com amigos, desgraças, demônios e caçadores.

Parando para pensar, aparentemente todos que me odiaram um dia agora são meus amigos. Hoseok, que era meu inimigo declarado pelo trágico destino. Taehyung, que não aceita o fato de eu ser mais forte que ele. Baekhyun, que era meu inimigo por natureza. Mark, um cara bem antipático, que na verdade é uma descrição perfeita para minha pessoa.

Eu estava cercada por trevas, e mesmo assim tinha meus amigos, minha família.

Quando cheguei em casa, o cheiro de nozes invadiu minhas narinas como um tsunami invadindo a praia. Baek havia retornado.

- Baekhyun?- voltei a minha forma humana no meio da sala e em um segundo Byun apareceu em minha frente como mágica. Tomei um pequeno susto, eu de fato odiava quando ele fazia isso.- YA!

- Oi pra você também, Chapéu!- disse risonho me dando um abraço.

- Você demorou..- sussurrei. Por que eu estava sussurrando? Acho que Mark jogou alguma feitiçaria em mim.

- Estou aqui, agora.- falou se afastando.- Taehyung me disse que andou saindo antes da lua.. tcs Chapéu, e se acontecesse alguma coisa? Não me perdoaria, muito menos perdoaria o Taehyung!

- Tenho certeza que Hoseok o manterá longe.

- Você ganhou um ótimo amigo no fim das contas.- o olhei sorrindo por causa do comentário. Além do mais, eu abusava das boas ações dos meus velhos e novos amigos. Confissão de uma aproveitadora.

- Ainda tenho medo dele!- segredei, vi Taehyung aparecer na entrada da sala um pouco sério. Digamos que ele está assim desde as minhas escapatórias.- Oi, Tae!

-...- ele soltou um riso abafado. Eu sabia que aquilo não era por causa da nossa tarde no primeiro dia de lua cheia. Não! Kim Taehyung é maldito o suficiente para não ligar para aquilo. Ele estava assim porque não queria que eu me machucasse. Ele estava se tornando a pessoa de quando nos conhecemos, mas agora, ele tinha uma razão para ser assim.

- O que Jin disse dessas suas fugas?- indagou Baek percebendo o clima que havia se formado.

- Eu acobertei essa daí!- disse Taehyung sorrindo divertido.- Mas por favor, pare de sumir assim!- suplicou.

- Eu..- aquelas palavras me lembraram Mark mais uma vez. Minhas fugas sempre eram para me encontrar com ele. E novamente aquela frase.

"Eu sempre estarei aqui para o que precisar"

Agora eu precisava dele, pois eu estava prestes a derramar lágrimas, mas então eu lembrei.. é por causa dele que eu estaria chorando. Não só por causa dele é claro, mas porque também, eu posso contar tudo e conseguir uma solução onde a pessoa não vai ficar olhando meus pontos fracos, se consigo ou não tomar uma decisão. Ele era sincero comigo, ele era frio, eu certamente odeio Mark cheio de chocolate Alcateia do Sul Tuan.

Nem mesmo meu novo e compreensivo amigo Mark poderia me ajudar, mas com certeza ele falaria algo para me reconfortar, ou zoar com a minha cara, como, "Você não consegue nem mesmo viver sem mim?", ou, "Qual é! Você é melhor que isso!".

Baekhyun percebeu meu estado abalado, ele me olhou intensamente, eu sabia o que ele estava fazendo, depois de algum tempo de convívio eu permiti que Byun entrasse em minha mente.

"Agora não Baek"

Ele havia entendido meu recado. Graças a Deus. Baekhyun tentou tirar o foco de mim para que Taehyung não percebesse nada, ainda bem que Kim é mais burro que uma porta.

- Então, gente!- Baek seguiu para o quintal já escuro.- Antes de vocês se transformarem em grandes e oh meu Deus assustadores feras.- rolei os olhos com seu tom debochado.- Queria mostrar as coisas pro ritual!

Byun se ajoelhou no chão. Eu e Tae fizemos o mesmo, ficamos cada um de um lado. O vampiro então começou a retirar alguns artefatos com muito cuidado da bolsa e colocou eles no chão com mais cuidado ainda.

- Um pedaço da arca da aliança.- colocou uma fresta de uma madeira banha a ouro no chão.- Uma adaga egípcia.- Byun continuou a falar os ingredientes e ir tirando eles da bolsa.- Coração de anjo.

- Isso é o coração de um anjo?- Taehyung pegou um frasco cumprido e transparente, dentro, havia uma especie de nevoa azul clara - para não dizer branca - cintilante.

- Cuidado!- ele pegou o frasco rapidamente.

- E o último ingrediente?- perguntei fazendo o olhar dos dois cair sobre mim.

- Vamos tentar sem aquele ingrediente, talvez de certo!- olhei incrédula para Taehyung.- O que

- Olha..- a voz de Baek era doce, eu odiava essa voz, era voz que ele fazia quando queria me convencer de fazer algo errado. Muito errado.- Sei que você está com medo. Mas da mesma forma que coração de anjo foi traduzido de forma literal, o alfa mais forte ter que morrer também deve ter sido literal.

- Reconfortante!- balbuciei.- Quando vamos fazer isso?

- Pode ser amanhã a tarde, quando vocês acordarem da última lua cheia.

[...]

Escutei batidas na porta e levantei da cama com um pulo. Escovei os dentes rapidamente e troquei de roupa na mesma velocidade. Desci as escadas quase tropeçando nos meus próprios pés. Segui para a cozinha mas não havia ninguém, caminhei até a sala onde as vozes ficavam cada vez mais altas. Meu quintal havia virado uma especie de preparação para um culto satânico, o que de certa forma era uma verdade.

Yoongi, que eu não via a umas duas semanas estava no meio do círculo. Todos estavam em sua volta, todos mesmo, Jin, Tae, e etc, com exceção de Byun que se encontrava em frente ao PENTAGRAMA desenhado no maravilhoso pedregulho do chão do meu maravilhoso quintal. Não é hora de surtar!