Minhas mãos tremem e perco as forças das pernas.
Eu quero fingir que a mensagem tinha sido enviada pra mim por engano. Eu quis fingir que eu não sabia sobre o que era. Mas fingir adiantaria alguma coisa?
Fingir não muda a verdade.
Mas talvez.. talvez…
Número desconhecido
Sou eu.
Gostou da foto que eu te mandei?
As coisas ao meu redor perdem a nitidez e ficam cada vez mais turvas, meus pulmões ardem enquanto luto para respirar e minha cabeça lateja enquanto tento assimilar a mensagem à foto que eu recebi em Seul.
Ouço o som do meu corpo batendo no chão mas não sinto dor. Eu tento me levantar mais eu não tenho força para me mexer e tudo ao meu redor vai sumindo aos poucos.
Estou tremendo. Mesmo assim minhas mãos agarram com força o pequeno aparelho. Estou com medo. Mesmo assim leio a mensagem sem parar.
Não faz sentido. Não faz o mínimo de sentido.
Isso não está acontecendo, burbucio como uma mantra. Isso é só um pesadelo, uma pegadinha, mumuro como palavras acolhedoras de uma mãe.
O chão está tão frio.. O único som que eu consigo escutar é o do meu coração batendo rápido.
Sinto o aparelho, agora ameaçador, nas minhas mãos e me forço a olhar mais uma vez para a tela é reler a mensagem. Me forço a escrever aquela pergunta mesmo que a resposta possa ser assustadora.
Quem é você?
Número desconhecido:
Não seria divertido se eu dissesse agora.
Você vai saber quando for a hora certa.
Boa noite meu pequeno Hanbin. Tenha bons sonhos.
Engulo em seco enquanto desligou apressadamente o celular e o jogo em um canto qualquer.
Quem pois a foto definitivamente é a mesma pessoa da mensagem, mas como aquela foto apareceu na minha casa? Ele realmente invadiu? Mas.. como ele conseguiu meu número??
Quem ele é? Onde ele está? O que ele quer?
Um vento forte entra no quarto deixando o ambiente tão gelado quanto o chão e faz minha pele arrepiar e as cortinas dançarem de uma forma bonita enquanto tento me levantar.
Começo a sentir meu corpo doer por estar jogado igual a um boneco de pano no chão e me sinto um pouco tonto pela falta de oxigênio nos pulmões. Tudo volta a girar ao meu redor me deixando enjoado.
Eu estou com medo. Eu estou apavorado. Quem? Porque? Como?
Sinto meus olhos arderem e me esforço em impedir que as lágrimas caiam. Chorar não adianta de nada, só me faz sentir mais fraco. Me sentir uma criança abandonada.
Eu quero fugir. Eu quero gritar de frustração porque não tem como ficar pior. Minha vida não tem como piorar. Eu me mudei pra começar de novo, começar em outro lugar, mas o que está acontecendo ?
Eu quero que alguém me salve. Eu quero desesperadamente que isso acabe.
Sinto um aperto no meu braço e pisco desorientado sentindo o toque quente na minha minha pele. Queimando.
- Hanbin? - chama a voz baixo - Hanbin? HANBIN? - olho confuso ao meu redor tentando focar na voz - Você acordou? - Olho para o rosto preocupado na minha frente agora sentindo uma leve sacudida no meu braço.
- Jiwon? - Sussurro.
O mais velho olha nos meus olhos e suspira aliviado retirando a mão do meu braço e a depositando delicadamente na minha bochecha.
O toque dele queima.
- Eu fiquei desesperado - sussurra - Faz ideia de como eu estava com medo? - diz e a fragilidade na sua voz faz meu coração apertar - Você está bem?
- Jiwon? Terceira gaveta - o maior me olha confuso - Remédio.
Seu rosto se torna tenso mas não diz nada enquanto tira a mão do meu rosto.
Suspiro aliviado pela falta de perguntas quando o vejo levantar em silêncio, isso antes de sentir seus braços ao meu redor tocando minhas costas e minhas coxas me carregando até a cama no estilo princesa da Disney.
- Me solta. Eu consigo andar sozinho. - Digo com raiva
Ele não diz nada enquanto me põe com cuidado na cama e em seguida vai no lugar que indiquei antes, pegando a embalagem e me mostrando. Quando confirmo que é a certa com um aceno ele vai até mim se sentando ao meu lado.
Seu rosto está a centímetros do meu.
Sua respiração bate no meu rosto e o calor do seu corpo parece passar para mim mesmo que ele não esteja me tocando.
Eu consigo ver cada detalha do rosto dele.. o cabelo despenteado de uma maneira fofa e ao mesmo tempo sensual, as sobrancelhas charmosas que marcam seu rosto o deixando quase indecente, seus cílios longos, seus dentes encantadoramente grandes e seus lábios cheios e vermelhos.
Meus olhos se fixam na sua boca convidativa, como se inconscientemente eu soubesse como eles são macios. Levo meus dedos até seus lábios os desenhando, os sentindo indiretamente enquanto Jiwon me olha surpreso mas em seguida fecha os olhos sentindo meu toque. Quando eu percebo o que eu fiz minhas mãos caem no meu colo e minhas bochechas ardem.
Eu quero beija-lo. Meus lábios tocariam os dele se nos movessemos um centímetro.
Nossos olhos sem encontram e um arrepio passa pela minha espinha. Jiwon não parecia diferente de mim, sua respiração agora era rápida e seus lábios ligeiramente entreabertos, seus olhos agora escuros pareciam me desafiar a desviar o olhar.
E Jiwon fez o que eu não tive coragem: se aproximou.
Sinto o aperto cuidadoso mas forte de uma das suas mãos na minha cintura e a outra para na minha nuca me fazendo sentir um calafrio. As mãos dele são quentes.
Ele parece se aproximar em câmera lenta como se estivesse medo que eu fosse sumir, o que era provável. Minha cabeça gritava desesperadamente para que eu fugisse , mas eu estava embriagado por ele.. pelo seu cheiro ao meu redor, seu toque e sua respiração entrecortada. Eu estava louco pelos seus lábios entreabertos.
Fecho instintivamente meus olhos esperando que ele me beijasse logo. O que não aconteceu graças a droga do remédio que cai no chão assustando nós dois.
Arregalo os olhos vendo o que eu estava prestes a fazer enquanto Jiwon me olha confuso. Uma parte de mim quer colar o foda-se na testa e beijar ele até minha boca ficar inchada, mas eu não posso fazer isso. É loucura. Onde eu estava com a cabeça????
Jiwon ignora totalmente o som encarando meu rosto enquanto eu abro e fecho a boca sem saber o que dizer. Não aumentamos a distância entre nos e ele muito menos tira as mãos de mim.
-O-o remédio. - Gaguejo sem olhar para o seu rosto.
O maior tira as mãos de mim sem jeito e com uma expressão frustrada no rosto, mas pega o remédio do chão e me entrega.
Merda de remédio que foi cair. Isso era hora???
Abro e tiro uma das pílulas a engolindo sem água mesmo sobre o olhar atento de Jiwon.
- O que aconteceu? - Ele pergunta de novo com a voz rouca me fazendo estremecer.
Tusso surpreso quase engasgado - Eu desmaiei - menti - O remédio é para pressão - Menti de novo. Ele não vai saber mesmo é nem precisa saber.
Ele olha confuso para a embalagem nas minhas mãos.
- Você me preocupou. Eu quase fiquei louco quando te vi caido no chão - Resmunga bagunçando o cabelo.
- Desculpa.
- Você está com fome? - pergunta mudando de assunto.
Minha barriga ronca com a palavra comida e me dou conta o quanto eu estou com fome. Isso que dá não comer durante a tarde toda. Quem mandou desempacotar tudo de uma vez sem assaltar a geladeira. Eu não como nada desdo café da manhã aka tarde.
Aceno por fim confirmando.
- Quer comer aqui ou na cozinha - pergunta hesitante.
Depois do que quase aconteceu aqui eu não acho uma boa idéia ficarmos tão pertos.
- Cozinha.
Graças ao remédio eu me sinto melhor. Hiperventilação e perda de força é um dos sintomas de crise do pânico, mas passam em menos de dez minutos com a medicação.
Levanto da cama enquanto Jiwon me olha desconfiado, como se eu fosse cair a qualquer instante, e caminha ao meu lado até a cozinha. Pego a tigela da minha mãe e vou até seu quarto entrando e depositando o rashi em sua mão e desejando boa noite. A pesar dela estar muito doente ela consegue fazer coisas simples como comer sozinha, mesmo que eu sempre deva estar por perto a lembrando / obrigando a fazer essas coisas.
Saio rapidamente do quarto voltando para a mesa me sentando a frente de Jiwon que ainda não tinha começado a comer.
Nenhum de nós diz nada durante enquanto comemos fingindo que não tínhamos quase nos beijado / transado a menos de quinze minutos atrás.
Quando acabamos jogamos as coisas no lixo e subimos direto para nossos quartos no segundo andar.
Abro a porta do quarto quando sinto as mãos dele no meu pulso me fazendo a contra gosto virar meu rosto para ele. Seus olhos buscam de novo os meus e apesar do aperto não ser forte, a combinação dos dois me fazia sentir estranho e não de uma maneira ruim e mesmo que ele não esteja tão perto faz meu coração disparar.
- Sobre hoje mais cedo - começa e eu arregalo os olhos o fazendo rir - nao! Sobre mais cedo que isso, com você sabe quem.
Olho confuso para seu rosto. Minho.
Jiwon continua - Ele te olhou da forma que eu te olho. Eu não gostei disso. - Diz fazendo pequenos círculos com as pontas do dedo no meu pulso me fazendo arrepiar - Você sempre está na defensiva comigo, mas você estava sorrindo pra ele, rindo com ele e olhando ele como um homem depois de dar uma de Miss hétero comigo - diz irônico - Eu fiquei com raiva e com ciúmes mas eu não tinha o direito de fazer aquilo. Me desculpa.
Fico boquiaberto o olhando com a maior cara de retardado. Ele está com ciúme?
Jiwon para com o carinho e retira com relutância a sua mão esperando uma resposta.
Eu deveria tirar essa cara de retardado e dizer alguma coisa mas parece que meu cérebro se tornou gelatina. O lugar que antes estava sua mão formiga e ele me encara me deixando inquieto e ainda mais confuso porque seus olhos faziam perguntas e exigiam respostas.
- Hum, eh, o que? - gaguejo. Isso Hanbin. Seja um idiota.
O maior ri dando um passo para trás e eu agradeço mentalmente.
- Você está bem? - Pergunta divertido.
- Estou. - Respondo automaticamente
Ele sorri de lado, aquelo sorriso sexy que ele tem, enquanto abre a porta do seu quarto e eu faço o mesmo.
- Hanbin? - diz
Me viro e nos encaramos de novo.
- A forma que você me olhou hoje foi a coisa mais sexy que eu já vi. - fico vermelho o fazendo sorrir largamente - Se continuar me olhando dessa forma o Minho vai ser menor das minhas preocupações. - e entra no quarto fechando a porta. Na minha cara. Porque eu adoro ficar olhando para a porta dele com cara de retardado.
Entro no meu quarto fechando a porta e me jogando na cama.
Meu celular continua jogado no canto. O cheiro do Jiwon continua aqui. E por mais que eu quisesse dormir e fingir que hoje não aconteceu, eu passei a noite toda olhando para o teto com medo do que aconteceria amanhã.
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