História Chase - University Part.1

Noto que amanheceu quando os raios do sol que escapam entre as frestas da cortina aquecem meu rosto e iluminam o quarto que mesmo com minhas coisas parece pertencer a um estranho. 

 As manhãs em Seul são caóticas, barulhentas e agitadas, com os sons do trânsito e das pessoas, os cheios das barracas de comida e da pressa da cidade grande. Aqui o máximo que eu escuto são o som do vento batendo nas folhas e os pássaros, junto com o cheiro de terra.

 Esse ambiente silencioso seria agradável ou acolhedor se eu não tivesse passado a noite em claro nele, porque nada é mais assustador e angustiante que o silêncio quando você está com medo e não se quer pensar nas coisas. 

 Olho mais um vez para meu celular sem coragem de liga-lo e levanto indo para o banheiro me assustando com a imagem que me encara de volta no espelho. 

 Meus olhos parecem tão cansados, as olheiras fundas e meu rosto pálido confirmam isso. Eu nem pareço com uma pessoa. Suspiro pesadamente jogando água no rosto.

 A semana passou rápido e de diferente da forma eu eu esperava. Não recebi mais nenhuma mensagem, mas mesmo assim eu não consegui dormir direito. Por mais que eu queria esquecer isso e acreditar que foi uma pegadinha eu não consigo. Eu sei que não é algo tão simples assim. 

 Quanto ao Jiwon não falamos sobre o quase beijo depois daquele dia. Não chegamos a nós evitar e o clima não ficou desconfortável como antes, mas ele parecia evitar ficar muito tempo no mesmo lugar que eu. Havia um clima cuidadoso, como se estivéssemos pisando em uma fina camada se gelo quando estávamos juntos. 

 Durante a semana eu acabei explorando um pouco da casa e dos arredores quando ficava entediado.

 É estranho a quantidade de quartos trancados e a falta de decoração da casa. Eu esperava uma biblioteca digna de uma escritora mas também não achei nada. A casa inteira de certa forma parece incompleta e sem personalidade, como aquelas pré decoradas à venda. 

 Ela chamava isso de casa?

 Pela minha janela eu consigo ver toda a parte da frente do terreno mas quando eu comecei a perambular pelos arredores eu vi que nem se compara ao fundo da casa. 

Árvores e mais árvores para todos os lados infinitamente. Quanto mais eu entrava naquilo - Quintal? Bosque? Floresta? - mais difícil ficava de voltar. Eu descobri que não tinha um caminho, uma trilha, nada. Eram só árvores para todos os lados então acabei me sentindo em 'João e Maria' fazendo trilhas improvisadas. 

 Porque ela comprou uma casa tão grande se ela não faria nada com o espaço? Se ela era uma escritora isso explica morar em um lugar isolado como esse, mas quanto ao resto? Porque aqui? 

 Tudo isso me faz ficar curioso com que tipo de pessoa minha avó era e qual a ligação dela com Jiwon. 

 O que eu sei de verdade sobre ela? 

Se ela morava aqui porque a casa parece tão impessoal e fria? É bonito mas não parece com um lar. Não é aconchegante como uma casa. 

Jiwon era o que para ela? Não tem como ele ser neto dela. Minha avó não adotaria também. Ou adotaria? Talvez ela só odiasse a mim e minha irmã. 

 Mais perguntas e nenhuma resposta, Resmungo. 

 A tela do meu celular brilha com o nome do Senhor Kim piscando. Rio fitando o aparelho. Ele realmente ligou. 

 - Você está atrasado. - Atendo com um tom divertido ouvindo do outro lado da linha o mais velho bufar. 

 - Eu não vou bancar a babá Hanbin - Diz com seu característico mal humor, mas eu sei que ele está sorrindo. 

 - Mas você ligou, do jeitinho que tinha dito. - respondo o provocando. 

 - Eu não liguei pra te monitorar. Você esqueceu. - Diz repreensivo. 

 - Esqueci o que? 

 - Hoje é seu primeiro dia na faculdade. - Diz me fazendo arregalar os olhos.

 O que?????? 

 - Eu não esqueci! - digo tentando disfarçar o meu desespero e parecer normal. 

Meu deus, eu esqueci. Como eu pude esquecer isso??? 

 Ouço Kim rir.

 - Você lembra que tem que estar lá em uma hora e meia para terminar a matrícula não lembra? - Questionou.

 Puta merda 

- Claro - digo calmo enquanto tenho um mini ataque cardíaco por dentro - Como eu poderia esquecer uma coisa dessas? 

 - Eu sei. Quem esqueceria? - diz irônico. É claro que ele sabe que eu esqueci me fazendo ficar roxo de vergonha - Vou desligar agora. Boa sorte Hanbin. Tome cuidado e aproveite, eu sei que você sentiu falta da faculdade - acrescenta. 

 Ouço as palavras do mais velho sorrindo de orelha a orelha. 

 - Obrigado por tudo. Senti sua falta. - digo sem jeito. 

 Era verdade. Kim é uma segunda família para mim e mesmo que fosse chato eu sentia saudade da fiscalização dele. 

 - Se eu fosse você pararia de sentimentalismo e iria dar logo um jeito de levar em Incheon a tempo - Resmunga mas eu sei que ele está feliz. Kim é assustador a primeira vista, mas ele tem o coração mole para pessoas em situações ruins e palavras gentis. 

 - Saranghae Ahjussi! - Digo alegre antes de desligar o celular e o jogar na cama enquanto saio correndo do quarto e paro na frente da porta dele. 

 São trinta minutos para chegar a cidade e mais uma hora de ônibus até Incheon. Não da tempo. 

Tenha um pouco de coragem Hanbin, pelo amor de Deus. 

Encaro apreensivo a porta tentando juntar a minha coragem pra fazer o que eu faria. 

1, 2, 3 VAI!

- Jiwon! - Chamo enquanto invado o quarto escuro e abro as cortinas - JIWON! O maior levanta a cabeça naquela confusão de cobertas e pisca desorientado esfregando os olhos inchados que parecem ainda menores de manhã.

Isso é tão fofo.

- Jiwon pelo amor de Deus me empresta seu carro - imploro o olhando sentar e abrir os olhos tampados por algumas mechas do cabelo completamente bagunçado. 

 - Você quer a Jess? - Diz rouco. 

 Sinto um arrepio na espinha.

- Hum, eh, sim. Eu tenho que estar em Incheon em uma hora. Eu vou cuidar bem do carro. - O maior levanta a sobrancelha em uma acusação silenciosa - Eu tenho carteira. - Acrescento esperançoso.

- Sem chance. - Resmunga deitando de novo.

- Eu faço o que você quiser! - digo desesperado - Só me empresta o maldito carro hoje. 

 Jiwon senta em menos de um segundo sorrindo de lado. - Qualquer coisa? 

- Só me empresta o carro! 

 - Só se você pedir desculpas primeiro com a Jess. Ela é um carro muito bom sabia? - Diz jogando as cobertas fazendo menção de levantar. 

Suspiro aliviado por um segundo antes de ver que o maior usava somente a box preta bem marcada. 

 Antes de conseguir desviar os olhos começo a inconscientemente encarar o seu corpo perfeito. Meu olhar foi descendo, primeiro passando por seu maxilar, que nunca foi tão atrativo assim, depois pelos ombros largos e os braços fortes mas não de forma exagerado. O peitoral definindo e o abs marcado são no mínimo sexys e as coxas grossas o deixavam mais bonito ainda. 

 Sua pele parecia brilhar com o luz do sol entrando pela janela e por mais que eu soubesse que o estava encarando eu não conseguia desfiar os olhos mesmo com o sorriso cafajeste no seu rosto e os olhos mais escuros. 

 - Gostando da vista? - Pergunta sorrindo - Se quisesse me ver pelado era só pedir. Não precisava invadir meu quarto e dar uma desculpa - Acrescenta sorrindo ainda ao ver meu rosto ficar vermelho. 

 - O-onde estão as chaves? - pergunto gaguejando. 

 - Quando eu disse que eu te deixaria pegar a Jess? - diz no meio de um bocejo. 

 - O QUE? - digo o olhando - Mas.. você tinha concordado. 

 - Eu nunca vou deixar ninguém dirigir a Jess. Ela é um filho pra mim - Ele dá de ombros - Eu te levo, vou te esperar na garagem e você tem dez minutos para se arrumar. 

 Concordo sem sair do lugar. 

 - A menos que você queira que eu te agarre nesse momento, você deve sair do meu quarto e me deixar colocar uma roupa. Eu não me responsabiliza pelos meus atos se continuar me olhando assim. 

 Abaixo meus olhos envergonhado e saio rápido ouvindo a risada do maior. 

 Fecho minha porta e vou até meu armário na velocidade da luz jogando minhas roupas em cima da cama. Não posso me dar o luxo de demorar para escolher, mas isso não quer dizer que eu vou no meu primeiro como um mendigo. 

 Acabo optando por uma blusa escura e um pouco folgada e jeans pretos que marcam um pouco as minhas coxas. Calço correndo meus coturnos e pego minha mochila guardada no canto do armário jogando tudo que eu possa precisar. Escovo meus dentes na velocidade da luz e desço as escadas com pressa correndo para a garagem dando de cara um Jiwon vestido com uma blusa justa branca e calças justas escuras, com cabelo molhado e escorado em uma moto preta. 

 O maior dá um dos seus eye smile quando me vê.

- Hanbin, essa é a Kate, Kate esse é o Hanbin. Ignoro a apresentação o olhando acusadoramente 

- Cadê o carro? 

- Você quer chegar a tempo não quer? Eu tenho uma atalho e só vai dar certo se você subir nessa moto, agora - diz subindo na moto. 

Assenti nervoso sentando na garupa. Jiwon coloca seu capacete e da um sorriso quase infantil enquanto coloca me coloca o meu o ajustando na minha cabeça. 

 - Vamos para onde? - Pergunta curioso

- Incheon National University. 

- Você vai estudar lá? - Pergunta surpreso. 

- Sim, porque? 

 O maior sorri dando de ombros 

- Por nada. 

 Reviro os olhos apertando os meus dedos no banco o suficiente para os deixar brancos. Não é que eu deteste motos, mas isso não é seguro nem em um milhão de anos. 

 - Respira Hanbin. - diz notando minha tensão - Eu sou um bom motorista. Não vou matar a gente. - acrescenta pegando minhas mãos e entrelaçando na minha cintura - Eu vou ter quer que ir um pouco rápido para chegar a tempo então não me solte - e da partida. 

 Quando ele disse rápido ele quis realmente dizer rápido. Os carros passavam como um borrão ao nosso redor e por reflexo me agarro ainda mais a ele e em algum momento acabo apoiando minha cabeça nas suas costas. 

 Na velocidade que estávamos não deveríamos demorar tanto, mas parecia demorar uma eternidade talvez porque eu sinto sua camisa sob meus dedos e o calor das suas costas. Não era uma viagem longa, mas por causa da proximidade parecia durar horas. O pior que tudo é que eu não queria me afastar.