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História Checkmate - Capítulo 4


Escrita por: SuzumeSan

Notas do Autor


Mianhae mianhaeyo (╥_╥)
Aconteceram algumas coisas essas semanas que serviram como um bloqueio criativo para mim, fiquei empacada. A primeira parte do capítulo, inclusive, tá aí pra compensar minha considerável demora, então espero que me perdoem <3
Ah, queria tanto agradecer a todos os comentários e favoritos que a fanfic tem recebido... Vocês são demais gente, sério mesmo, vcs pisam, perdoem o palavreado mas são top, top de vdd.
To sem internet e aproveitei o curto período de acesso pra finalizar o capítulo e postar, por isso não tive nem tempo de revisar, nem de responder os comentários do capítulo anterior. Assim que puder eu respondo, okay? O que importa é que vocês sintam meu amor <3 <3
(ノ◕︿◕)ノ~『✧~*checkmate tá na reta final galere, chorem comigo*~✧』
Espero que gostemmm <3

Capítulo 5 - Capítulo 4


 Taeyong me beijou como se meus lábios fossem ar e ele não conseguisse respirar. Havia tanta intensidade nele que, no minuto seguinte, eu soube que nada no mundo me faria sentir tão vivo quanto naquele momento, com a pulsação acelerada batendo nos meus punhos, meu peito irrompendo de calor, minha respiração fundindo-se à dele de maneira inimaginável.

 Suas mãos, antes de ambos os lados da minha cabeça, desceram para a gola da minha jaqueta e deslizaram sorrateiramente por dentro do tecido. Não tive intenção de atrasar aquilo, então permiti-me soltar a cintura de Taeyong por alguns segundos para poder me livrar da peça de roupa. Sua boca, porém, não deixou a minha, graças aos céus que não, e quanto mais eu provava dele, mais entorpecido me sentia. Soltei uma risada; quão irônico era o fato de que o gosto de Taeyong era doce como morango, mas ácido ao mesmo tempo?

 Um sorriso perverso surgiu nos lábios do Lee e seus dedos deslizaram objetivamente pelo meu corpo, arrepiando-me a espinha. Uma de suas mãos agarrou a barra da minha camiseta com força, puxando-a para baixo impacientemente, enquanto a outra continuou descendo, descendo, descendo. A gola da camiseta pressionou minha nuca como um objeto cortante, mas a ardência foi logo anulada pela vontade com que ele apalpou meu membro sobre a calça. Arqueei minhas costas na direção dele e seus dentes cravaram meu lábio inferior enquanto eu soltava um gemido – mesmo inebriado como estava, nunca pensei ou senti com tanta clareza, nunca tive tanta ciência de mim quanto naquele momento.

 - Shhhh – Pediu com o rosto a milímetros do meu. Seria possível que esse garoto fosse a própria personificação do pecado? – Sem barulho, lembra, Ten? Não queremos ser descobertos.

 Não queremos ser descobertos. Assenti veementemente, puxando Taeyong de volta para a minha boca. Eu tremia, mas não porque estava nervoso; tremia porque a necessidade que eu sentia dele me sobrecarregava. Queria me livrar de todas aquelas roupas ali e agora, queria foder Taeyong, queria que minha boca abafasse seus gemidos. Impulsionado pela corrente de adrenalina que circulava viva pelas minhas veias, ergui-o poucos centímetros do chão e girei, prensando meu corpo contra o seu.

 O baque abafado de suas costas contra o espelho foi mais alto do que pensei e acendeu em mim uma pequena luzinha de emergência. Será que eu o tinha machucado? Alarmado, fiz menção de me distanciar um pouco para perguntar se estava tudo bem, mas as palavras dissolveram na metade do caminho. Taeyong sorria outra vez, apertando os braços em volta de mim, arranhando por cima da camiseta, e eu precisei espalmar as mãos contra a parede espelhada para poder me equilibrar. Seus lábios deixaram os meus apenas para puxar minha camiseta pra cima, então inclinou a cabeça para o lado e abocanhou meu pescoço de uma só vez, serpenteando a língua pela pele exposta.

 Enquanto o deixava trabalhar naquela área, abri os olhos com dificuldade, quase como se minhas pálpebras estivessem coladas, e não me reconheci quando encontrei os do reflexo na parede. Eu estava suado e desalinhado, parecido com quando saía do treino, mas ao invés de cansaço, minhas feições tinham sido tomadas de luxúria, prazer, desejo, e minhas íris... da mesma cor e profundidade que as de Taeyong.

 Soltei um suspiro prolongado – o melhor que consegui fazer com outro gemido que ameaçou escapar da minha garganta – e agarrei-o pelos cabelos, sentindo a textura úmida dos fios entre os meus dedos. Joguei a cabeça para trás. Nunca pensei que um dia chegaria a ver minhas expressões na situação que estavam, nem que aquele encontro com Taeyong no beco, poucos dias antes, resultaria naquela massa difusa de calor e sensações.

 O zelo com que eu prezava minhas convicções de repente não parecia tão importante. Não depois de experimentar a dose correta de incerteza.

 Sugando uma última vez, Taeyong me afastou uns poucos centímetros e puxou a própria camiseta sem cerimônias, ainda com aquele maldito sorriso no canto dos lábios. A pele de seu torso brilhou com o suor que o ensopava e reluzia debaixo da iluminação de teto, e ao mesmo tempo que fui consumido por uma inveja anormal – afinal, desde quando eu, Ten Chittaphon, me sentia intimidado se meu corpo era perfeito, assim como todo o resto? –, senti-me extremamente satisfeito. Estendendo a mão, toquei cautelosamente a pele rígida do seu abdômen, sorrindo largo quando Taeyong se retraiu minimamente, e deslizei meus dedos de cima para baixo, hipnotizado.

 Quando sua mão envolveu a minha e a guiou para baixo, eu não relutei, nem mesmo quando ele as colocou dentro da própria calça e descreveu movimentos lentos, massageando seu membro uma, duas, três vezes. Soltando um suspiro comprido, o Lee deixou minha mão sozinha, mas mesmo assim não parei de estimular sua ereção, surpreendendo-me com o aperto prolongado no meu baixo ventre quando ele lançou a cabeça para trás, exibindo-me a linha perfeita do seu maxilar. O reflexo do seu cabelo na parede parecia brilhar como prata pura.

 - Ah, Ten... – Ele sibilou quando intensifiquei meus movimentos, girando o quadril pra frente e para trás no intuito de aumentar a fricção.

 - Taeyong – Repreendi, colando a boca na sua para abafar o som crescente de seus resmungos enquanto o masturbava. Ainda não eram gemidos, mas me estimulavam por igual; sem conseguir me conter, sorri.  –, sem... barulho...

 - Vai se foder – Taeyong praguejou intensamente frustrado, cerrando os dentes para impedir a passagem da minha língua; mesmo que fosse difícil compreender sua voz daquele jeito, não precisei de muito. Seria porque meus cinco sentidos estavam todos aguçados? – Como posso não fazer barulho quando você faz isso comigo? Você é cruel, Chittaphon, ahhhh, muito cruel.

 Sorri outra vez, temporariamente abalado pelo impacto de nossos dentes, então apertei seu membro com um pouco mais de vontade. Cruel. Eu mostraria para ele o que era ser cruel. Taeyong estremeceu e seu gemido ecoou dentro de mim como que ampliado por o que, uns dois megafones? Minhas regiões baixas latejaram, pulsando de vontade.

 Merda.

+++

 Agir normalmente depois de tudo o que aconteceu comigo e Taeyong dentro da sala de ensaios mostrou-se ser muito difícil.

 Suspirei fundo uma única vez enquanto meu rosto se contorcia numa careta e eu tentava, em vão, concentrar-me na tabela acima de mim. Cada cena havia sido marcada com fogo contra as minhas pálpebras, queimando em linhas vermelhas recentes, vívidas e sem descanso; nós dois no chão de madeira, grudando no suor um do outro, multiplicados ao infinito pela cadeia de imagens que os espelhos refletiam. Suas pálpebras pesadas, o negrume de suas íris, seus lábios entreabertos buscando pelos meus. Céus, eu até tinha sonhado com isso.

 Soltei a bola no chão do ginásio e enterrei meus calcanhares no piso enquanto andava cambaleante para trás, enxugando o suor das minhas mãos no calção do uniforme. O guincho das solas dos meus sapatos preencheu o silêncio da quadra vazia. Minhas têmporas pulsaram dolorosamente.

 Nervoso, busquei por outra bola na pequena estante que havia arrastado comigo até o lado de fora do garrafão, sentindo a pulsação das minhas veias na jugular. Voltei para a marca de lances livres, prendendo a nova bola entre os meus dedos, e ajeitei meu corpo da mesma maneira familiar que o fazia – pés distanciados e alinhados com os ombros, joelhos flexionados, bola encaixada na mão direita. Quando arremessei, porém, senti meus ombros tensos como o inferno, e outra vez a bola falhou a trajetória.

 Com os dentes cerrados, grunhi raivosamente, acertando um chute despropositado na estrutura metálica sobre rodas, as bolas restantes chacoalhando nas prateleiras e pulando para longe. Meu dedão latejou dolorosamente, mas o ignorei, contraindo os músculos da mandíbula com tensor.

 Taeyong me enfraqueceu, ainda mais do que Jaehyun tinha feito, e preencheu-me de uma inquietação irrefutável, que só dissiparia quando voltasse a tê-lo ao meu lado. Eu estava perdido, desorientado, cegamente apaixonado por alguém que, ao mesmo tempo que me era apenas um conhecido, parecia se encaixar com tanta precisão. Como se fosse a peça que complementava o meu quebra cabeça.

 Esse tempo todo estive tão ocupado observando Jaehyun em toda sua graça que não vi e nem tive tempo de me defender do ataque de Taeyong. O maldito me tomou para si.

 E lá estava a dúvida da qual eu experimentara noite passada, enquanto encarava o teto escuro do meu quarto. Agora que tinha transado com Taeyong, o que o impedia de simplesmente me abandonar? Tomado outra vez pela raiva que me fizera desferir aquele chute, pesquei a primeira bola que vi pela frente e, sem me preparar ou pensar uma segunda vez, arremessei. Enquanto ela descrevia um arco perfeito no ar, fui tomado pelas seguintes constatações: eu precisava me concentrar mais nas provas iminentes e na final do campeonato; não seria justo prender Jaehyun, mesmo que ainda gostasse dele; o assistente Kun me mataria quando visse tantas bolas rolando pelo chão do ginásio; e Taeyong – porque ele, em si, já era constatação suficiente.

 E quando a bola atravessou a cesta ruidosamente, encarei meus pés plantados na área de lance livre, com orgulho crescente tomando meu peito. Eu consegui. Eu encestei.

+++

 Os dois times encontravam-se reunidos embaixo da tabela, no garrafão. Hansol estava com a posse da bola, parado, olhando para Yuta, que cobria a retaguarda de Jaehyun pela lateral esquerda da quadra. Estava tão distraído que a bola quase escapou de seus dedos duas vezes seguidas. Seria tão fácil andar até ele e roubá-la... Johnny, porém, me segurava firmemente no lugar, bem abaixo da rede, e escapar da marcação de um pivô não era assim tão simples, principalmente considerando o fato de que eu havia gasto boa parte da minha energia quando ainda estava sozinho na quadra, descontando minha frustração nos lances livres.

 Mark pisou forte, parando o movimento pela metade, e enxugou o suor da testa com a parte interna do pulso. Ao seu lado, Taeil fechou os olhos e inspirou profundamente, provavelmente usando o método da contagem regressiva para não dar na cara de Hansol.

 - Hansol! – Johnny gritou, frustrado, enquanto eu depositava o peso do meu corpo sobre a perna esquerda e começava a contorna-lo; pausei na metade, quando seu olhar desconfiado voltou-se para baixo – Caralho, vê se acorda!

 Já que não podia usar meu corpo como instrumento para vitória, usaria minha cabeça.

 Esquivei-me rapidamente, um pouco mais lento do que gostaria, e gritei algumas instruções confusas para Winwin, que logo mais começou a se mover. Puxei Doyoung pelo uniforme, indicando o outro lado da quadra com um aceno de cabeça, e direcionei para Mark um floreio de mão. Sincronizado ao meu ritmo, o menor avançou sobre Hansol e roubou a bola habilmente, e quando o fez, desacelerei o passo, para marcar Taeil.

 Como o esperado, Yuta deixou o lado de Jaehyun para correr atrás de Mark, e quando o Jung fez menção de agir, viu seu caminho bloqueado por Winwin. Enxerguei-o de soslaio, olhando para mim com um misto de indignação e admiração, mas não parei; Taeil tinha voltado a se movimentar.

 Mark, porém, era eficiente, e conseguira tirar vantagem sobre a marcação de Johnny e Yuta. Lançou a bola uma vez para cima, que bateu contra o aro e espirrou para o lado contrário, mas Doyoung já estava a postos para pegar o rebote. Ele ajeitou a bola na mão, analisou as posições tomadas por cada um na quadra, então diminuiu a distância entre a tabela e girou o braço, usando um gancho para fazer a cesta.

 Taeil parecia espumar quando recolocou a bola na quadra. Yuta a pingou enquanto corria, e apressei-me de volta para o garrafão oposto, cercando Jaehyun. O passe foi executado na direção de Hansol, mas o loiro se atrapalhou e deixou que a bola quicasse para trás. Grunhi de esforço, esticando-me para conseguir alcança-la, mas esse também foi o pensamento de Jaehyun; o moreno girou, posicionando a perna arqueada do meu lado esquerdo, lançando o braço na mesma direção. Quando me virei, a parte inferior do meu corpo colidiu contra o seu joelho ao mesmo tempo que a superior continuou, impulsionada como estava. Se ao menos meus braços fossem um pouco mais compridos...

 O choque nas articulações do Jung deve ter sido doloroso, porque no mesmo instante vi-o retraindo o cotovelo e contraindo os músculos da perna, abrindo mão de alcançar a bola. Olhei então para a trajetória que ela fez, pingando para fora da quadra, enquanto o meu corpo colidia num baque surdo contra o piso do ginásio; meu braço curvou-se num ângulo esquisito quando tentei desesperadamente interromper minha queda, e o ar faltou nos meus pulmões no mesmo instante em que um creck anormal ecoou nos meus tímpanos. Fez-se silêncio, interrompido apenas pelos ofegos do pessoal do time.

Respirei fundo, depositando todo o peso do meu corpo sobre aquele braço, então cerrei os dentes com força para não gritar. A dor excruciante apenas confirmava o pior dos meus pesadelos, mas ainda assim eu preferia permanecer ali, deitado, a içar meu corpo para cima e encontrar meu braço pendendo, patético, na lateral do meu corpo.

 Ao longe, ouvi Taeil resfolegar. Por que não dei ouvidos quando me disseram, tão logo entrei no time, que deveria levar os treinos menos a sério? Que não precisava insistir tanto em dar o melhor de mim quando estivesse entre amigos? Minha visão ficou embaçada e eu retrai o corpo uma vez, tomado por uma onda de tremor involuntária.

 - Ten? – Johnny chamou alarmado – Tá tudo bem, cara?

 Entreabri os lábios para responder, mas não fui capaz de formular qualquer palavra, então apenas acenei afirmativamente com a cabeça, esforçando-me para que meu rosto continuasse virado para o chão do ginásio. Não queria que ninguém visse aquela expressão no meu rosto. Levemente, uma mão envolveu meu ombro com cuidado, pressionando a ponta dos dedos para que eu me virasse, mas permaneci firme sobre o braço fraturado. Algumas lágrimas rolaram pelo meu rosto. Funguei.

 - Ei – A voz daquela vez era suave, e pairava próxima de mim. Jaehyun. – Olhe para mim, hyung.

 - Não! – gritei alarmado, arrastando-me para longe dele, as lágrimas passando a escorrer dos meus olhos em enxurradas enquanto mais pontadas de dor apertavam meu braço e espalhavam pelo meu corpo – Já disse que tô bem, porra. Me deixa em paz.

 - Isso é culpa sua! – Mark berrou; a sola emborrachada de seus tênis guinchou pelo ginásio, e no segundo seguinte, mais ruídos que embaralhavam-se na minha cabeça – O que te deu, hein? Estamos a dias, dias da final do torneio. Acha que tem o luxo de ficar viajando assim, com a cabeça noutro lugar?! Nós não estamos brincando, Hansol, não podemos, e também não podemos perder a porra de um jogador a essa altura!

 Alarmado, girei no lugar, apoiando-me no braço bom enquanto ocultava o fraturado do restante do time. Desde o momento que falhara na recepção do passe, Hansol não tinha se movido, e agora se encolhia no lugar, com um Mark furioso precipitando-se acima de si, uma mão cerrada agarrando a frente do seu uniforme enquanto a outra gesticulava freneticamente. Hansol, porém, continuava tão aéreo quanto antes, e seu olhar vagava para a esquerda, onde Yuta se encontrava paralisado.

 - Mark, se controle – Taeil advertia, sério.

 - Me controlar?! Capitão, Ten fraturou o braço e não temos outro armador na reserva. Poderíamos fazer uma repescagem e trazer o Haechan outra vez, mas você sabe melhor que eu que ele ainda não é tão bom quanto o Ten hyung e que estaríamos ferrados, completamente desfalcados.

 - Eu estou bem – Sibilei entredentes, balançando o ombro para me livrar da mão insistente de Jaehyun enquanto me colocava de pé; senti os olhos profundos do Jung, da cor de chocolate, me perfurarem, mas não os retribui. Perto do garrafão, a discussão continuou como se eu nem ao menos estivesse mais ali. – Jungjae, diga para eles que estou bem. Diga...

 - Hyung, seu braço tá praticamente ao contrário.

 - Isso não é nada, Jungjae – Sibilei irritado, tentando tirar o braço fraturado de seu campo de visão. Merda, ele pesava como chumbo e doía como o inferno. Pisquei atordoado, tentando entender por que estava usando aquele maldito apelido, mas a pressão sobre o meu peito que dificultava minha respiração também começava a barrar a clareza dos meus pensamentos. – Veja, eu ainda posso arremessar uma bola, ainda posso participar da final. Se eu mostrar isso para eles, eles vão parar de brigar...

 - Ten – Apesar de ainda suave, a voz de Jaehyun estava firme. Encarei-o de lado, com aquela expressão que não queria mostrar para ninguém, e ele estralou a língua em frustração, um som quase inaudível aos gritos crescentes mais à frente. Tive um breve vislumbre de sua covinha enquanto ele se retirava decididamente de perto de mim, arrancando Mark da cola de Hansol, que pareceu pender para baixo como um peso morto. Taeil estava parcialmente aliviado. – Mark, pare.

 - Não vou parar.

 - Você vai calar a merda dessa boca por dois minutos e me escutar sim, senhor – Fosse a firmeza na voz ou o fato dela ter saído de mim, eu não saberia dizer o que me surpreendera tanto. Os olhares atônitos sobre mim, porém, mostravam que o time tivera reação semelhante. Jaehyun pausou no meio do movimento, afrouxando o aperto em Mark para me encarar. – Franco, teimoso, mau perdedor, péssimo desistente, e ainda incrivelmente irritadiço... Tão idiota. Mas um idiota como você, Mark, pode nos fazer mais fortes. Um idiota como Hansol pode aprender com uma situação dessas e tentar seu melhor para não fazer se repetir – é isso que nos torna um time, pelo amor de Deus. Taeil provavelmente não conseguiu coragem para verbalizar algo, mas é isso que ele vem tentando dizer todos os treinos, no menor dos gestos e no maior dos esforços que deposita em nós. Não ajam como um bando de desistentes por causa de um maldito obstáculo e façam algo!

+++

 Virei desconfortavelmente sobre a borda da maca, ajeitando a tipoia improvisada de tecido que cortava meu ombro. Meus pés, pairando alguns centímetros acima do chão, balançavam para frente e para trás.

 Mais à frente, o doutor indicou a radiografia do meu braço contra a luz, circulando a ligação torta do meu cotovelo com uma caneta; voltei minha cabeça para o lado contrário, sem conseguir prolongar-me por muito tempo sobre aquela imagem. Fui tomado por um calafrio demorado.

 – Este osso do antebraço chama-se rádio – Explicou. – Quando seu irmão caiu sobre o braço estendido, a cabeça do osso se deslocou sutilmente para o lado, para cá, está vendo? O impacto da queda, porém, não foi tão forte, e como é um garoto saudável, não houve desvio. Eu recomendo o uso da tipoia por pelo menos uma semana antes do início do tratamento, mas pode ser que a recuperação se dê de forma mais acelerada.

 Minha irmã balançou a cabeça uma vez, parecendo pesarosa quando me lançou uma olhadela de canto. Inspirei fundo, segurando o ar nos meus pulmões; se abrisse a boca para fazer as tantas perguntas que queria, estava certo que começaria a chorar. Felizmente, ela me conhecia bem.

 - Então a cirurgia não será necessária?

 - Não, senhora – o doutor afirmou.

 - E quanto a exercícios físicos? Ele poderá praticar basquete? – A ansiedade na voz da minha irmã era a mesma que preenchia meu peito e quase me fazia vibrar no lugar. Levantei o olhar esperançoso para o homem do outro lado da mesa, sentindo meu coração pular pela minha boca enquanto ele ponderava a proposta, pensativo. Baixou a radiografia e a caneta, alinhando-os sobre sua mesa.

 - Costumamos tratar fraturas iguais à do Sr. Chittaphon com a movimentação mais precoce possível, e a prática de basquete até ajudaria, mas...

 - Mas?

 - Mas apenas se fosse moderada, como alguns arremessos livres diários. Veja bem, uma movimentação constante da área poderia agravar a fratura e resultar num desvio de fragmentos, onde a cirurgia passaria a ser necessária, e a probabilidade de algo assim acontecer num ambiente com tanta intensidade quanto uma partida é muito alta, arriscada até.

 Meu estômago despencou, se enterrou sete palmos abaixo da terra. Tentei engolir, mas o nó atado na minha garganta impossibilitava qualquer tentativa, e a saliva começava a empoçar na minha boca. As palavras do doutor serviram-me como um ultimato, uma facada nas costas da qual eu não me recuperaria tão cedo; só de pensar que não poderia jogar a final, que deixaria todos na mão justo naquele momento... Outra vez, minha visão ficou embaçada, mas fui rápido em levar o braço para cima daquela vez, enxugando as lágrimas antes mesmo que elas pudessem cair. Me sentia tonto.

 - Certo – minha irmã apressou-se em agradecer, levantando rapidamente de onde estava – Obrigada, doutor.

 Antes de sairmos, ele ainda indicou onde ir para substituir a tipoia que havia sido improvisada na enfermaria da escola e despejou mais algumas informações sobre o meu tratamento futuro em cima da minha irmã. Estava tão entorpecido que não prestei absolutamente nenhuma atenção e continuei me arrastando para o lado de fora. Mais ao lado, recostado contra uma das paredes do corredor, estava Jaehyun, a cabeça baixa virada para uma caixinha de suco que quase desaparecia dentro de uma de suas mãos.

 - Ten! – Exclamou ao me ver, endireitando a postura. Pisquei algumas vezes, atordoado. – Eu... fiquei preocupado, então saí mais cedo do treino e vim direto pra cá. Aqui, tome isso.

 Olhei para o chão, envergonhado. Jaehyun estendeu o suco na minha direção, os olhos esperançosos analisando-me dos pés à cabeça, mas não consegui fazer nada além de encarar sua mão esticada, observando as veias aparentes do seu antebraço. Quanto menos pensava nas atuais circunstâncias, mais me lembrava de mim e Taeyong na sala de ensaios e pior me sentia. Era como se eu o tivesse traído.

 Quando virei o rosto para o lado, porém, foi por puro egoísmo, tomado pelo medo de que Jaehyun de alguma forma conseguisse entrar na minha cabeça e roubar as imagens, minhas imagens, de Taeyong, daquele momento.

 O Jung sorriu, aquele sorriso com covinhas que derreteu parte do gelo que tomava meu estômago, e deu um passo para mais perto, próximo o bastante para que meu ombro colidisse contra o seu peito. Expirando suavemente sobre a minha têmpora, ele envolveu minha mão esquerda, colocou nela a caixinha de suco e então dobrou os dedos sobre os meus, para que eu segurasse o objeto. Os pelos da minha nuca eriçaram-se.

 - Não precisa se sentir envergonhado, sunbae. Não é culpa sua.

 Engoli em seco e concordei uma vez com a cabeça. Jaehyun continuou – Na verdade, estou aqui mais para me desculpar. Se eu não tivesse colocado a perna no seu caminho...

 - Jungjae.

 - Ten – retrucou firmemente, sem dar espaço para mais argumentações – Pode não ser justo que eu esteja falando isso, mas não deixa de ser verdade. Mesmo que não aceite, vou continuar me desculpando por ter sido o responsável.

 - O único responsável por isso foi eu, Jungjae. Ponto.

 Inesperadamente, Jaehyun levou os braços para cima e deu alguns passos sobre mim, até minhas costas encontrarem a parede do corredor. Da porta ao lado, alguns murmúrios ainda eram audíveis; provavelmente minha irmã achava que poderia negociar minha disponibilidade para o basquete com o doutor. Nervoso, olhei para os dois lados do corredor, mas este estava vazio.

 - Você enlouqueceu? – tentei empurrá-lo, mas Jaehyun permaneceu firme, curvando-se sobre mim.

 - Descobri que adoro quando você me chama de Jungjae, hyung – murmurou contra a pele do meu pescoço; apesar de continuar me provocando, não me tocava – E descobri que te quero cada dia mais. Quando você me olhou daquele jeito, na quadra... eu nunca quis cuidar tanto de alguém.

 Prendi a respiração, alarmado. Dois dias atrás talvez aquilo fosse tudo que eu mais quisesse ouvir, talvez tais palavras me fizessem esquecer de qualquer precaução a ser tomada e o beijasse ali mesmo, correndo o risco de ser pego quando minha irmã saísse do consultório e tudo o mais. Mas por mais que por um lado eu ainda quisesse fazer isso, por mais que aquela frase me afetasse como um soco no estômago, não conseguia me sentir tão eufórico quanto no começo, quando descobri gostar dele.

 Estremeci, virando meu rosto para o seu, e aquelas íris escuras e encantadoras, tão doces, analisaram meu rosto sem pressa, como se estivessem constatando algo. Com cautela, Jaehyun se afastou de mim e sorriu fraco, a breve sugestão da sua covinha aparecendo como um traço no seu rosto. Tão lindo. Quis passar os dedos pelo seu cabelo, mas um dos meus braços estava incapacitado e minha outra mão estava ocupada.

 - Sabe, sunbae, tudo que você disse na quadra sobre Mark faz sentido, mas todos do time não são assim, em sua própria forma? Quero dizer, olhe pra você; estava disposto a continuar jogando porque não queria desistir com as finais tão próximas, não queria deixar ninguém na mão. Cara, é indescritível o quão estupidamente maravilhoso você estava naquele momento. Mark pode nos fazer mais fortes, mas você... você pode nos motivar, pode nos liderar e mostrar o caminho adiante. É por isso que eu te amo.

 - Ah, Jungjae... – suspirei pesaroso, pressionando a caixinha de suco na minha nuca.

 - Seus olhos brilharam, mas hesitaram – ele afirmou, sorrindo com o canto dos olhos caídos – Agora descobri duas outras coisas, Ten; que eu te amo, e que você já pertence a outra pessoa. Eu... Eu não fui rápido o bastante.

 Inspirei fundo, desgrudando-me da parede, um passo mais perto dele. Entreabri os lábios, mas o que raios eu diria? Chamei-o pelo seu apelido, suavemente, e ele me encarou com intensidade, uma intensidade tão diferente da de Taeyong. Me desculpe, Jaehyun, me desculpe...

 Foi quando minha irmã saiu do consultório, os olhos fixos num amontoado de papéis que o doutor dera. Jaehyun então curvou-se uma última vez e andou para longe.


Notas Finais


Espero que não tenha ficado muito confuso.
To num momento difícil agora, mas é aquele ditado; FIGHTING!!!
Por hoje é só, pessoinhas lindas do meu core. Mamãe ama vcs <3 <3 <3


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