História Cherry Boy - Primavera I

Um tempo em que tudo floresce e parece mais colorido, indicando que ainda podemos ser otimistas.

Depois de certos meses de frio e monocromia, chega a primavera. Particularmente, é minha favorita. É quando o Sol nos aquece um pouquinho mais em relação ao inverno, mas não a ponto de ser tão quente quanto o verão. É quando as flores revelam suas cores belas e únicas, encantando beija-flores, abelhas e humanos.

É, também, quando eu senti algo florescer dentro de mim, resultando no pouso de várias borboletas - mas elas se espantavam e começavam a voar dentro de mim por eu não entender o que se passava ou por evitar esse tal sentimento. Entretanto, ajudavam ele a crescer mais e mais. Esses belos seres alados, junto com o clima de prosperidade que a primavera me trazia, sempre me lembravam da beleza que há na natureza e no amor.

Não me arrependo do dia em que decidi sair do meu apartamento abafado, escuro e sem novidades. Eu, Kyungsoo, me sentia sufocado pelas paredes dos minúsculos cômodos que formavam meu apartamento; a rotina a ser seguida tinha o mesmo efeito, porém aquele era um dia de folga, no qual eu poderia me desprender um pouco mais.

Assim que me levantei e abri a janela, senti o cheiro agradável do parque, que ficava na frente do meu prédio, e vi como aquele sábado de manhã tinha que ser aproveitado. Cometi um erro, talvez, ao sair apressado e esquecer o boné que me protegeria do Sol, só que esse foi um erro bom! Eu finalmente pegaria um pouco de cor e vitamina D, do jeito que meu médico prescreveu.

Na ida ao parque, observei tudo o que eu perdi na pressa do dia-a-dia. Entre esse todo, o que mais me atiçou a curiosidade foi como as plantas saíram de sua proteção contra a perda de calor e se entregaram ao Sol, tornando seus tons de verde, vermelho, amarelo e muitos mais bem mais vibrantes. Um dos meus aspectos favoritos na primavera.

O parque em si estava repleto das mais variadas cores e aromas. As pessoas que frequentavam, ou praticavam exercícios ou ficavam deitados na grama, admirando tudo. Ainda fazia um pouco de frio, então resolvi dar uma caminhada em volta do parque para me esquentar. Percebi que muitas pessoas no parque estavam calmas e esperançosas; fiquei feliz em saber que não era o único.

À medida que andava, mais sensações boas eu tinha. Era estranho me sentir tão positivo em relação à vida, mas não por quê eu era pessimista, e sim pela falta que essa sensação de estar completo tinha feito.

Foi aí que eu virei o rosto um pouco mais à direita e vi alguém que me tornaria mais completo ainda.

No gramado, sentado debaixo de uma cerejeira bastante florida, estava um garoto de cabelos tingidos de um rosa parecido com o da árvore acima dele. Lia um livro, cuja capa eu não pude ver, pois estava sendo coberta por suas pernas. Ele parecia muito concentrado e eu nunca ousaria interrompê-lo.

Percebi-me paralisado no meio da pista, gravando cada detalhe de seu rosto. Antes de conseguir ser atropelado por alguma bicicleta, resolvi me sentar numa árvore próxima ao garoto da cerejeira. Lá pude voltar a fitá-lo, quase indiscretamente. Diziam que meu olhar não era pesado a ponto de sentirem e eu rezava para que fosse verdade, mas não me importaria de ser noticiado - sem ser intitulado como "louco", claro.

O garoto de cabelos rosa como flores de cerejeira tinha a pele bronzeada, criando um contraste com os fios coloridos. Isso lembrava bastante a árvore que estava acima dele, sendo suas flores rosas e o tronco amarronzado. O rosto era de proporções perfeitas, em minha mera opinião. Eu diria que toda a beleza do mundo se concentrou nele se eu não estivesse num parque tão lindo em plena primavera.

Fiquei um bom tempo contemplando-o até ele fechar o livro, respirar fundo e abrir de novo. A curiosidade bateu em minha porta, o que aconteceu naquele livro a ponto de receber a atenção e atingir os sentimentos do garoto? Devia ser um livro muito bom.

Algum tempo depois, decidi andar um pouco mais. Mantive-me perto dele, pois não queria perdê-lo de vista. Pensando bem, nem sabia por quê estava fazendo aquilo. Eu, Kyungsoo, nunca fui de ser stalker - somente queria aproveitar, já que as chances de o ver nunca mais eram imensas.

Tendo isso em mente, dei uma última mirada no garoto da cerejeira e voltei ao meu apartamento. E tudo parecia mais sem graça que o normal.

Mal sabia eu que ele me olhou quando fui embora e que percebeu minha presença.