Crianças são imprevisíveis, nunca se sabe quando eles vão ou não te obedecer, ou se deixar levar pela curiosidade. Naquele momento uma culpa assombrosa rondava a mulher de fios loros, o rosto manchado por linhas mais claras que o restante do rosto, a maquiagem fora apagada quando a lagrima traçou seu caminho. Ela se culpava por ter se desligado momentaneamente do garotinho, se amaldiçoava por tê-lo contado as lendas que diziam que vaga-lumes o levariam aos lobos que protegiam a cidade, mas acima de tudo se martirizava por ter sido displicente e por ser fraca o bastante para não poder fazer nada além de aguardar sentada enquanto a policia fazia buscas aleatórias pelo terreno da reserva.
A verdade é que ninguém possuía culpa, exceto o próprio destino, o menino estava fadado a se perder, seguindo sorridente os vários vaga-lumes que iluminavam o lugar, fadado a ser encontrado e ter certeza que a lenda era mais que real, afinal porque mais haveriam vaga-lumes visíveis as quatro horas da tarde?
A floresta era consideravelmente mais escura que o esperado, porem os pequenos insetos brilhantes cumpriam bem seu papel e o loirinho não notou o quanto havia se afastado, não notou o tempo que passou caminhando e o quanto esse tempo começou a tornar a floresta mais sombria.
O som de algo se quebrando alertou o menino, ele olhou em volta curioso, a clareira era iluminada pelo brilho prateado da lua cheia e o esverdeado dos vaga-lumes, ele buscava secretamente encontrar os seres que abitavam a lenda contada por sua mãe. A mulher sequer sabia o porquê contava as historias ao filho, sua mãe contava a ela sobre os protetores de Becon, os lobos que guardavam a cidade de todo mal, lutando batalhas ferozes contra forças malignas e mantendo a paz dentro dos limites da cidade. Eram lendas, e ela não via mal algum em alimentar o lado imaginativo do filho, lendas se quebram à medida que o tempo passa, na medida em que crescemos, tendemos a perder a fé na magia, o que ela não esperava era que as mesmas lendas seriam motivo de tanto desespero.
Esporadicamente tudo em que acreditamos se desfaz e mesmo sendo real acaba passando despercebido por nossa visão “realista”.
O lago no meio da clareira refletia o céu estrelado, a lua e um vulto saltando sobre o mesmo, a sombra pousou frente à margem, não era grande como esperava mais não menos lindo. Os pelos carregavam algumas nuances cinzas em meio ao negro, e os olhos, ouro derretido que o encaravam pacíficos. O menino sorriu dando alguns passos à frente e o lobo imitou o gesto, ambos caminhavam com cautela e o filhote se perguntava por que alguém não correria de um lobo, pelo contrario cheirava a alegria e animação e como cheirava, o cheiro do garoto inebriava o lobo e isso o impeliu a se aproximar. Quando seu tio ligou para seu pai avisando sobre uma criança desaparecida nos terrenos da reserva os lobos se dividiram adentrando a mata atrás do garoto, conheciam o lugar como ninguém e poderiam farejar as emoções. Bom ele havia encontrado, o menino parecia ter pouco menos de oito anos, o que seria mais o menos uns três anos mais novo que si e de uma forma curiosa o garoto o encantava.
Rodeou o menino sendo acompanhado pelo olhar esmeralda, ele cheirava a chocolate, seu chocolate preferido, e a brisa, a mesma que o lobo sentia invadir suas narinas quando corria, mesmo sem conhecer o garoto podia afirmar que gostava dele.
Parou novamente em frente ao menino, o garoto sorriu e esticou o braço devagar, os dedos tocando a pelagem fofa do animal, o lobo inclinou a cabeça intensificando o toque e se surpreendeu quando o menino riu e se ajoelhou abraçando seu pescoço.
_eu sabia que você era real. -O tom era animado e lobo anotou mentalmente que queria saber por que o garoto achava que ele existia.
Enquanto passava os dedos pelo animal o loirinho notou algo, uma tira azulada adornava a pata esquerda do lobo, o tom escuro dificultava que a pulseira fosse vista, porém os entalhes dourados chamavam atenção quando a luz da lua batia sobre os mesmos.
O lobo empurrou o focinho contra o pescoço do garoto o afastando, se virou e fez um movimento com a cabeça chamando o loiro. Estava tarde e sem duvidas alguém estava muito preocupado com ele, pensando nisso o lobo parou por alguns segundos uivando alto. O garoto riu encantado e se pôs a caminhar ao lado do animal, era fascinante como o lobo estava atento a tudo ao seu redor e impediu que o menino fosse ao chão duas vezes, na segunda o lobo se tocou que se continuassem assim levariam cerca de uma hora pra chegar a mansão, parou subitamente se virando e dando a volta no garoto e antes que ele pudesse se virar se enfiou debaixo das pernas do loirinho que gritou rindo em seguida e se agarrando ao lobo.
O lobo riu internamente se abaixando um pouco como se buscasse impulso, de certa forma servia de aviso sobre a corrida, as patas saíram do lugar num movimento rápido e se puseram a trabalhar, um leve puxão nos pelos do animal e um rosnado baixo geraram o "desculpe" baixinho vindo do mais novo.
Durante todo o percurso o menino em suas costas ria como se estivesse na mais divertida aventura e bom na cabeça dele realmente estava, para o lobo era algo encantador mesmo que curioso, crianças e adultos temiam o desconhecido e de alguma forma o garoto esperava encontra-lo na floresta, talvez fosse aquele o motivo do desaparecimento do garoto.
Poucos metros antes da mansão o lobo reduziu a velocidade da corrida, tempo foi poupado, claro que sozinho aquele percurso não levaria dez minutos para ser feito. O animal se abaixou novamente e de alguma forma o loirinho sabia que devia descer, recebeu uma lambida na mão e os dentes do animal o puxavam pela barra da camisa, poucos passos depois ele já conseguia ver a enorme mansão e ficou admirado em saber que alguém morava ali, de alguma forma misteriosa a lua estava perfeitamente alinhada com a casa clareando a construção e o terreno mais próximo, era um cenário belo.
Quando pararam novamente já estavam fora da floresta em si, o lobo o soltou e ele sabia que era uma despedida, recebeu mais uma lambida, dessa vez em sua bochecha e o lobo correu desaparecendo na floresta atras da casa. De alguma forma o garoto sabia que veria o lobo negro novamente, sabia que deveria manter segredo como sua avó sempre lhe dizia e que deveria esperar ali, bom ele estava certo.
Menos de três minutos depois dois homens surgiram da casa acompanhados por um garoto pouco mais velho que si.
_Vejam só o que a lua trouxe.
O homem curiosamente pálido e vestido com uma camiseta do Batman comentou se abaixando em frente ao menino.
_Oi...
O tom tímido quase não parecia do garoto que riu ao ser carregado por um animal selvagem.
_oie, meu nome é Alec, qual é o seu?
O garoto vestia uma camiseta azul amassada e um jeans rasgado nos joelhos, curiosamente descalço e no braço uma pulseira azul com entalhes dourados. “os lobos não estão sempre na forma animal, ele podem voltar à forma humana quando querem.”
E o loirinho sorriu deixando a timidez de lado, era seu lobo afinal.
_Lucian.
Ditou animado.
_Lucy, esse é meu tato, Stiles, e esse é meu papai, Derek.
Alec apontou e Lucian registrou mentalmente que Derek era muito grande.
_bom que tal ligarmos pra sua mãe?
Stiles perguntou se pondo de pé, Derek o abraçou por trás assim que notou o arrepio de frio no marido. O menino assentiu sorrindo.
_Vem, podemos jogar e comer chocolate enquanto sua mãe não vem te buscar.
Alec agarrou a mão do outro sorrindo largo e o puxando em direção a casa, Lucian bufou risonho afirmando mentalmente: ele realmente é meu lobo
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