História Choices - Stone Cold

Chaz continuou ali na cozinha por um tempo, conversou com Justin como se nada tivesse ocorrido. Mas no fundo estava era mesmo curioso para ir ao quarto do amigo e ver o que andou acontecendo por lá. Justin na verdade sempre foi um cara quieto e quando seus amigos iam lá, raramente havia companhia pra Justin. Fazia mais o tipo lobo solitário, mas não tinha uma festa em que ele fosse que saísse sozinho. Justin era carismático, tinha bom papo e uma ótima aparência. Ryan era o tipo de cara que mais falava do que fazia. Era o legitimo “tem a língua maior que a boca” dos três. Já Chaz era mais de contar tudo que acontecia e compartilhar as ‘gatas’ que pegava com o resto dos amigos.

E foi isso mesmo que aconteceu, porém, não era da gata dele que estávamos falando. Era da gata de Justin. Chaz pegou aquela captura de imagem de Demi deitada nua sob a cama e sem pensar muito, em um momento que Justin se distraiu, mandou no grupo dos amigos do WhatsApp. Quando o celular vibrou no bolso de Justin é que ele finalmente se deu por conta do tamanho da encrenca que os amigos haviam o colocado. Por um instante, fuzilou Chaz com os olhos.

- Não olha para mim, não fui eu quem tirou essa foto. – Ele riu.

- Ta brincando né cara? – Justin rebateu.

- Claro que não. – Ele disse, olhando pra Ryan.

- Porque? – Justin indagou.

- Crime de oportunidade – Ryan disse, rindo leve.

Talvez naquele momento, nenhum deles tinha se dado por conta do tamanho da cagada que tinha acabado de ser feita.

- Preciso que vocês dois saiam da minha casa, agora. – A feição de Justin agora era muito séria.

- Como assim, mano? – Ryan ficou sério também. Chaz continuava rindo.

- Assim mesmo, Ryan. Vocês deram uma mancada muito grande dessa vez.

- Ta apaixonado? - Chaz riu.

- E se eu estiver? Qual o problema? Aparentemente nenhum de vocês um dia curtiu estar com alguém. – O semblante de Justin era de quem estava se controlando para não perder a paciência. – Vocês sempre tiveram tudo que precisaram de mim, sempre fui um amigo fiel.

- Vai chorar? – Chaz zombou.

- Sai daqui! – Justin aumentou o tom da voz e caminhou até a porta para abrir.

Talvez Chaz ainda não tinha percebido a gravidade da situação, porém, Ryan percebeu que Justin estava realmente chateado com o que estava acontecendo.

- Desculpa, cara. – Ryan disse antes de passar pela porta.

- Talvez um dia. – Justin disse, fechando a porta quando ambos passaram por ela. Justin tinha o rosto tomado por um calor, que faziam suas bochechas corarem. Não era uma pessoa naturalmente brava, mas sabia pelo menos, quando alguém estava fazendo algo que não deveria fazer. E sabia naquela hora que a maior cagada da sua vida, era ter deixado Demi exposta daquela maneira.

Entrou no grupo onde as fotos rolavam, dos mais diferentes comentários também acometiam o local. Algumas pessoas falaram coisas que Justin preferia não ter lido, alguns caras babacas parabenizaram ele, algumas pessoas se mostraram neutras, como se esperassem um posicionamento de Justin.

Mas uma pessoa em especial, uma única pessoa tinha chamado atenção suficiente pra Justin ver que a coisa ia feder. Um garoto do grupo inicial da foto alegou saber quem ela era, por já ter a visto na universidade. E tudo que aconteceu era aquela antiga história do telefone sem fio. A foto de Demi saiu do grupo dos amigos para o grupo do futebol, do grupo do futebol para o grupo de putaria da cidade e daí por diante. Até que a merda batesse no ventilador de uma vez por todas.

Demi se espreguiçou na cama. Justin estava sentado no sofá da sala ainda sem saber se a acordava ou não. Parte de si estava desesperado por tudo que tinha acontecido nos 15 minutos de tempo em que seus amigos saíram de sua casa e ele pensava sentado ao sofá. A garota achou uma camiseta perdida no quarto impecável de Justin e vestiu, caminhando a passos lentos até a sala.

- Oi. – Ela sorriu, encostando-se ao marco da porta da sala.

- Oi. – Justin saiu do meio de seus pensamentos e olhou para ela, que sorria. A visão dela apenas em uma peça de roupa era tudo que Justin não queria naquele momento. – Acho que... acho que suas roupas estão secas já. – Justin deu um sorriso muito de canto de lábio e pegou as roupas dela da secadora, entregando a ela. – Acho que, que você deveria ir agora. – Justin disse, com a voz fraquejando e ao mesmo tempo tão convicto.

Demi na verdade ficou sem entender a rispidez com que foi corrida da casa de Justin. Não conseguiu deixar de pensar que ele provavelmente tinha outra pessoa para encontrar. Ou até mesmo que tudo não passava de uma mentira, que ele era apenas conhecido dos moradores da casa e logo eles estariam chegando e não podiam saber que Justin estava se aproveitando do lugar.

Livrou-se da camiseta de Justin e voltou a vestir suas roupas. Tinham o cheiro das roupas de Justin, cheirinho de amaciante. Impressionou-se pelo fato de até seus tênis estarem secos. Passou a bolsa pelo ombro e aproximou-se dele.

- Nesse caso, eu vou. Obrigado pela noite. – Ela sorriu, aproximando um pouco o rosto ao rosto dele.

- Foi legal. – Ele respondeu, sem jeito. Esquivou do beijo que receberia e caminhou até a porta, desconversando. Demi saiu pela porta legitimamente abalada com tudo que estava acontecendo. Não tinha se apegado ao garoto em uma única noite. Não era nem a primeira nem a última vez que provavelmente conheceria um cara assim como ele, no início tudo muito lindo, mas depois um babaca de marca maior.

Tentou ver as horas no celular e o mesmo não tinha bateria. Acenou para um taxi que logo veio. Embarcou no carro e deu seu endereço. Chegou em casa, tirou os tênis, sentou ao sofá e ligou a tv. Parecia tudo estranho. Tinham se dado tão bem que ela não entendia, ou pelo menos relutava em entender o porquê de tanta rispidez na saída da casa dele.

Resolveu então colocar o celular a carregar e lhe mandar uma mensagem, nem que fosse apenas para esclarecer que não tinha a intenção de ter nada sério com o garoto. Por algumas vezes, Demi era até afetuosa demais, nutria um carinho pelos caras que ficava. Talvez isso fosse por apenas ser uma pessoa muito delicada ao falar. Tinha na voz uma doçura que poucas outras pessoas tinham. E, se por ventura, conhecesse um cara interessante, ou até mesmo uma garota, tratava essa pessoa sempre com educação, e se ficavam, fazia questão de fazer essa pessoa confortável com sua presença. E isso as vezes era confundido por estar apegada, por querer um relacionamento. E no momento, era tudo que ela não queria.

Tinha uma vida muito estável, ganhava seu dinheiro, fazia sua faculdade e nas horas vagas sua vida era muito boa, se divertia com as amigas sempre que tinha a chance. Não queria mudar isso. Talvez porque tinha a perspectiva de sair daquele local e de repente tentar a vida de uma maneira diferente em outro local, que nem precisava de fato ser nos estados unidos.

Justin ainda estava sentado no sofá. Não sabia como reagir. Pediu para que os grupos removessem a foto da garota de dali mas sabia que isso não ia modificar o que já tinha acontecido. Não conseguiu evitar que seus olhos enchessem de lagrimas. Lagrimas de tristeza por ela, lagrimas de ódio por ter deixado algo assim acontecer.

Pela primeira vez desde que veio à Los Angeles, sentiu-se como se quisesse ligar para sua mãe apenas em busca de conselho, como se precisasse de um colo e a única pessoa que ele poderia querer colo naquele momento, era justamente quem provavelmente não queria ver ele nem pintado de ouro. Demi.

Pensou em digitar uma mensagem, mas os dedos entraram em curto, junto com o cérebro e não formularam uma sequer palavra. Jogou o corpo para trás no sofá e olhou para o teto de seu apartamento. Tao grande, organizado, luxuoso e ao mesmo tempo tão vazio, solitário e sem vida.

Seus amigos sempre foram bons, mas dessa vez, sentia como se tudo tivesse passado muito dos limites. Na verdade, não era apenas um sentimento, era um fato. Tudo tinha passado dos limites, passado muito longe. Mas como ele diria isso para ela de uma maneira que ela o desculpasse?

Ele nem sabia, na verdade, se um dia isso seria plausível de desculpas. Entendia a gravidade da situação, mas não sabia se preferia deixar quieto para não lidar, mesmo sabendo que isso de nada ia resolver, ou se tentava fazer alguma coisa, perigando piorar tudo ainda mais.

Demi ligou o telefone, esperou o mesmo inicializar.

Foi aí que tudo deu errado.

Cagou.

Deu merda.

Fodeu, literalmente.

Demi recebeu inúmeras mensagens de amigas, de conhecidos, de pessoas que sequer conhecia. Algumas em apoio, algumas em aviso, algumas em ofensa. Das mais diversas. Até que finalmente bateu de olhos com aquela foto. Seu rosto exposto, seu corpo nu também exposto. Naquela cama que a fizera tão feliz.

Demi encheu os olhos de água, ainda sem perceber a gravidade do que havia acontecido. Com os segundos se passando, foi acometida por uma sensação de desespero e chorou sozinha ao sofá, chorou copiosamente, sem ninguém para lhe abraçar. Parte de si odiava aquele garoto com todas as forças, outra parte, apenas queria sumir do mapa.

Quando se deu por conta, mais de metade de Los Angeles tinha sua foto. Demi foi descendo o corpo pelo sofá, seu rosto inchado e as lagrimas que não secavam nunca. Suas amigas perguntaram se ela queria companhia, mas isso incluiria que ela tinha de falar sobre esse assunto e isso era uma coisa que ela não queria mencionar, não no momento.

Tentou fechar os olhos, mas tudo que lhe vinha à mente foram os bons momentos que com ele passou na noite anterior. Tudo que lembrava era de seus olhos cor de mel e seu cabelo loiro de pontas suadas a olhando fixamente. Podia lembrar da luxuria, da sensação de ser desejada por alguém como fora por ele, e tentou buscar nisso tudo, uma justificativa. Coisa que ela não conseguiu encontrar nem na mais profunda de suas buscas.

Para ela, simplesmente o que havia sido feito, não tinha volta. Mas ela não tinha como lidar com aquilo naquele momento. Então pensou primeiro em deixar a poeira baixar. Tentou desligar seu cérebro, mas não conseguiu. Tentou fazer a mente esquecer... em vão. Cada vez que tentava esquecer, mais ela lembrava.

Será que todos tinham suas fotos? E a resposta era: quase todos, incluindo Travis!

A foto chegou para ele pelo grupo dos garçons da lanchonete que ele trabalhava. Quando seus olhos bateram naquela foto, soube na hora quem era. Mas na hora, largou o celular para o lado e seguiu a dormir.

Justin digitou uma mensagem, mas ficou incerto ao apertar para enviar.

“Demi, por favor, me desculpa. Eu não sei nem por onde começar. Não fui eu quem tirou essa foto, por favor, não pense que eu faria algo dessa índole. Tem algo que eu possa fazer para consertar isso? ”

Demi leu cada uma daquelas palavras atentamente, respirou fundo e antes de perder o controle e voltar a chorar copiosamente, o respondeu.

“O que aconteceu não tem desculpa. É muito feio mentir e colocar a culpa nos outros por atos nossos. Seja responsável. Mas tem algo que você pode fazer por mim sim. ”

“O que? O que você me pedir, eu faço! ”

“Some. ”

Demi apertou os olhos, querendo que fosse só um pesadelo.

Não era.