História Chosen Fanfiction - Ritual

Eu estava tentando me convencer que esse ritual seria rápido. Ia só traçar o circulo, anunciar que Aphrodite estava voltando para as Filhas das Trevas e depois dizer que, devido ao estresse generalizado na escola, eu havia decidido não eleger nenhum membro para o Conselho Sênior até o fim do ano letivo. Seria fácil. Tentando não deixar o estresse me consumir e pronta para encarar a situação, abri a porta e me deparei com Aphrodite.

- Relaxa, ta? - ela disse, saindo da minha frente - Hello! Eles tem que esperar por você.

- Aphrodite, ninguém lhe ensinou que é falta de educação deixar as pessoas esperando? - Falei, enquanto disparava pelo corredor e descia as escadas pulando os degraus para sair do dormitório, Aphrodite logo atrás toda atrapalhada.

- Não, ninguém nunca me disse que é falta de educação deixar as pessoas esperando. Eu fui criada para deixar as pessoas esperando, minha mãe acha que o sol espera por ela para nascer e para se pôr.

Revirei os olhos. 

Corremos juntas pelo pátio até chegar ao centro de recreações.

- Z.! Ai está você - Jack veio em minha direção e Aphrodite foi na frente.

- Desculpe, vim o mais rápido que pude - expliquei.

- Não tem problema, todos estão esperando por você. - ele disse com um enorme sorriso.

- Bem, vamos acabar logo com isso.

Ele assentiu.

- Quando estiver pronta, é só avisar. - ele gritou enquanto corria em disparada para seu lugar.

Respirei fundo e entrei no centro de recreações. Meus amigos já estavam posicionados em seus lugares. As gêmeas acenaram para mim de seus lugares ao sul e oeste. Erik estava perto de Aphrodite perto da vela da terra, ele piscou para mim e sorriu. Sorri de volta, mas me perguntei porque ele estava tão perto de Aphrodite.

A loira estava pálida ao pegar a vela do chão, então, levantou o queixo e jogou os cabelos para trás, ignorando todo mundo que estava de conversinha desde que ela entrou no salão. Todos pararam de falar quando eu sorri para ela e assumiram expressões de incredulidade, Aphrodite apenas ficou parada atrás da vela, toda calma, linda e antipática. 

- Melhor começar logo antes que você tenha que enfrentar uma rebelião - desta vez não pulei ao ouvir a voz sexy e profunda de Loren vindo por trás de mim. Mas virei-me, basicamente para que as pessoas (Erik) não vissem em meu rosto o sorriso que dei para ele, totalmente impróprio para exibição pública. 

- Estou pronta, como sempre - eu disse.

Loren riu.

- Vou soltar a música. Você vai dançando até o meio enquanto eu recito o poema. 

Fiz que sim com a cabeça.

 Os sussurros que tinha voltado com a aparição de Loren, cessaram assim que a música começou. Todos os olhos  se voltaram para mim. Não reconheci a canção, mas a batida era firme, rítmica, sonora, lembrava uma pulsação. Meu corpo automaticamente entrou no ritmo e comecei a me mover ao redor do circulo, a voz de Loren complementando a música perfeitamente.

"Eu já conheci a noite.

Já caminhei sob chuva, e sob chuva voltei..."

As palavras do velho poema criavam a atmosfera certa, como um conjunto de imagens de outro mundo com as quais eu já estava começando a me acostumar. Quase senti a escuridão da noite se infiltrando em minha pele, senti outra vez que pertencia mais a ela do que ao mundo humano que me cercava. À medida que adentrava o círculo, estremeci e ouvi Damien arfar baixinho de surpresa, e então soube que a névoa e a magia haviam tomado conta do meu corpo me deixando invisível. 

"E mais além, em alturas extraordinárias,

Um luminoso relógio no céu

Proclamou que o tempo não era errado ou certo.

Eu já conheci a noite."

A voz de Loren foi desaparecendo e eu dei uma última volta, afastando a sensação de magia e voltando a ficar visível. Ainda preenchida pelo encanto da noite, peguei o acendedor ritualístico da farta mesa no meio do círculo e me dei conta de que me senti, pela primeira vez, como uma verdadeira Grande Sacerdotisa de Nyx. 

Todo o estresse que eu estava passando foi embora em uma onde de felicidade, caminhei a passos leves e parei em frente a Damien que sorriu.

- Ventos suaves e sussurros que vêm de longe, recebam esta saudação. Em nome de Nyx, eu vos invoco. - toquei o pavio da vela amarela de Damien e instantaneamente fomos cercados por um vento doce e afetuoso. 

Me apressei em direção a Shaunee e sua vela vermelha.

- Cálido e veloz fogo longínquo, com o calor que traz vida em nome de Nyx, a ti saúdo e invoco! - dei um leve toque no pavio, que sei inflamou lindamente. Shaunee e eu sorrimos uma para a outra, então continuei avançando em direção a Erin.

- Águas geladas do lado e das torrentes que vem do alto, eu vos saúdo e em nome de Nyx, eu vos invoco! - toquei a vela azul de Erin com o acendedor e adorei ver o pessoal que estava perto dela soltar exclamações de admiração e rir ao ver a água lamber os pés de Erin. 

As risadas gentis e os sussurros alegres cessaram quando continuei andando em direção a Aphrodite. Seu rosto era uma máscara desprovida de emoção. Apenas em seus olhos pude enxergar um pouco de nervosismo e medo, e por um momento me perguntei há quanto tempo ela vinha escondendo suas emoções. 

- Vai dar tudo certo - sussurrei.

- Acho que vou vomitar - ela murmurou.

- Nada! - sorri. E então levantei a voz e disse belas palavras para acalmar seu coração - Terras distantes e lugares selvagens, eu vos saúdo. Despertem de vosso sono coberto de musgo e nos tragam fartura, beleza e estabilidade. Em nome de Nyx, a ti invoco! - acendi a vela de Aphrodite e o cheiro fresco e exuberante de campo recém-arado tomou conta do recinto. Me deparei com os olhos da loira acesos e brilhantes e me voltei para avaliar a reação das pessoas, todos olhavam-na chocados e em silêncio absoluto.

- Sim - eu disse simplesmente, cortando logo todas as perguntas que sabia estavam brotando na cabeça de todos - Aphrodite foi abençoada com a afinidade com o elemento terra - dito isso, fui para o centro do círculo e peguei a vela púrpura - Espírito cheio de magia e noite, sussurro da alma da Deusa, amigo e estranho, mistério e conhecimento, em nome de Nyx, a ti invoco! - minha vela se acendeu e eu fiquei imóvel enquanto a familiar cacofonia dos cinco elementos juntos preenchiam meu corpo e minha alma. 

Foi tão impressionante que quase esqueci de respirar.

O resto do ritual correu perfeitamente bem, eu fiz um discurso sobre enfrentar os tempos difíceis com coragem e fé na Deusa, ofereci o vinho misturado e falei para todos que Aphrodite seria membro do conselho agora. Depois de apaziguar os ânimos de todos eu me despedi de cada elemento. Estava agradecendo á todos na tradição vampírica e sorrindo como uma retardada sem noção quando Erik gritou de dor e caiu de joelhos.

Ao contrário de quando Stevie Rae estava morrendo, não tive um instante de torpor e nem hesitação.

- Não!- Gritei, correndo em sua direção e caindo de joelhos ao seu lado. Não vi seu rosto, mas vi que sua roupa estava ensopada de suor, e talvez até de sangue, apesar de eu não estar sentindo o cheiro. Pus a mão em seu ombro, que tremia. Estava prestes á ordenar que trouxessem toalhas quando a voz de Aphrodite penetrou meus pensamentos.

- Zoey, ele não está morrendo - levantei a cabeça para olhar em seus olhos, sem entender nada do que ela disse. Ela agarrou meu cotovelo e me ergueu abruptamente - Me escuta! Ele não está morrendo. Está se transformando.

De repente Erik gritou e começou a se contorcer, tremendo violentamente. Mas não havia sangue.

Ela tinha razão. Ele estava completando a transformação. 

Neferet entrou no salão com Damien e correu até Erik. Olhei bem para seu rosto e fiquei tonta de alivio quando a alegria preencheu seu rosto. Ela sussurrou algo no ouvido dele e ele assentiu enquanto sua tremedeira cessava.

- Alegrem-se, novatos! Erik Night acaba de completar a transformação. Levante-se, Erik, e me acompanhe para o ritual de purificação e começo da nova vida! 

Ele levantou o corpo e a cabeça também, e eu, assim como todo o pessoal, fiquei passada. Ele já era lindo antes, mas agora estava intenso. Seus olhos estavam mais azuis, seus cabelos grossos ganharam uma aparência mais selvagem, ele até parecia mais alto. E sua Marca estava completa, emoldurando seus olhos, sobrancelhas e maçãs do rosto com desenhos estonteantes que lembravam nós entrelaçados formando uma máscara. Ele olhou para mim por um momento, seus lábios se curvando em um sorriso especial só para mim. 

- Eu me Transformei! - bradou.

Todo mundo começou a dar vivas, pulinhos e felicitações enquanto ele saia para o tal ritual. 

- Vão levá-lo para um ritual da Deusa - Aphrodite disse. Percebi que ela estava mais perto do que antes, sua mão segurando meu cotovelo gentilmente agora. Sua voz soando tão vazia quanto eu me senti de repente - Os novatos não sabem exatamente o que acontece lá, é segredo dos grandes -deu de ombros - Enfim, acho que um dia vamos descobrir.

- Ou morrer - acrescentei.

- Ou morrer - ela concordou, então olhou para mim - Você está bem?

Assenti e me desvencilhei dela e dos meus amigos que já se aproximavam. Precisava ficar sozinha. Corri sem direção pelo centro de recreações e encontrei uma sala cheia de colchões e espelhos. Recostei-me na parede e suspirei, meus ombros pesando e sem saber bem o porquê cai no maior choro. 

Chorei, solucei, solucei e chorei, abraçando as pernas e me encolhendo no chão. Pensei que Erik estava morrendo e isso me fez lembrar da noite em que Stevie Rae morreu. Tipo, pensei que tinha superado o que aconteceu com ela, afinal ela não está realmente morta. Não sei quanto tempo fiquei lá, só sei que chorei tanto e tão alto que só percebi que ele estava lá quando tocou meu ombro.

- Senti que você precisava de mim - Loren disse. Solucei e me aninhei em seus braços, ele se sentou ao meu lado e me puxou para seu colo. Quando finalmente me recompus e apenas solucei ao invés de chorar, Loren me estendeu um lenço.

- Obrigada - Murmurei.

Ele sorriu gentilmente.

- Você pensou que ele estava morrendo? 

Fiz que sim com a cabeça;

O maxilar de Loren se contraiu.

- Eu disse a Neferet várias vezes que todos os novatos, não só quintos e sextos formandos, deviam ser informados de como a Transformação se manifesta no estágio final. 

- Dói tanto quanto parece? - perguntei.

Ele relaxou.

- Dói, mas é uma dor boa; se é que faz sentido. Imagine seus músculos doloridos após malhar na academia, é quase isso.

- Pareceu um pouco pior.

Ele me apertou em seu colo.

- Não é tão ruim, é mais choque do que dor. Você vai passar por isso um dia.

- Espero que sim.

Loren me encarou intensamente antes de falar de novo.

- Tem mais alguma te aborrecendo, não tem? - sua voz profunda, quando eu não disse nada ele continuou - Deixe-me ajudar você, amor. Não tem nada que não possamos resolver juntos - ele roçou os lábios nos meus e eu pensei que seria bom contar tudo para ele, desabafar. Tirar o peso dos meus ombros. Mas... - Vou lhe mostrar que podemos dividir tudo um com o outro... como podemos ficar juntos.

Loren tirou a mão que estava em meus cabelos e puxou a camisa cujos botões pularam, expondo seu peito. Ele arranhou lentamente o lado esquerdo do peito, deixando uma linha de sangue. O cheiro me envolveu.

- Beba - ordenou.

Não me contive. Baixei o rosto em direção ao peito dele e provei, seu sangue fluindo através de mim. Era diferente do de Heath, mas era poderoso. Apertei seu corpo, querendo mais.

- Agora é minha vez, tenho que provar de você! - Loren arfou.

Antes que eu me desse conta do que ele estava fazendo, puxou meu vestido. Não tive tempo de surtar porque ele estava me vendo só de sutiã e calcinha, pois passou a unha no meu peito me fazendo arfar com a dor. E no segundo seguinte eu estava gemendo enquanto ele sugava meu sangue. Loren arrancou toda a sua roupa enquanto provava meu sangue. Tudo o que senti foi calor e desejo, suas mãos e boca estavam por toda parte, e mesmo assim eu não me cansava dele.

Então aconteceu. Senti as batidas de seu coração sob a pele e percebi que estava em sincronia com meu próprio coração. E então, no fundo da minha mente embaralhada, ouvi Heath gritar:

- Zoey! Não! 

Estremeci e Loren me abraçou.

- Shhh, está tudo bem. Nossa carimbagem substitui a outra.

Arfei.

- Acabou? Rompeu de vez?

- Sim. - ele riu sensualmente - Me deixa fazer amor com você, meu bem. E vamos acabar com isso de vez.

- Sim - sussurrei. Levei os lábios até seu peito outra vez, e enquanto eu bebia seu sangue, Loren fez amor comigo até nosso mundo explodir em sangue e paixão.

[...] 

- Suas tatuagens são lindas, assim como você - ele murmurou em meu ouvido enquanto admirava meu corpo nu.

Sorri e me aninhei em seu corpo, gemendo de satisfação. Nada poderia ser mais perfeito.  Apertei meu corpo ao dele, minha mente só registrando sangue e Loren... hmmm... Loren... Loren... Ele se virou para me beijar, intensificando nossa pegação rapidamente.

Um barulho estranho e abafado surgiu em meio à confusão das minhas emoções, e, como se estivesse em um sonho eu me afastei de Loren para olhar para a porta. Um golpe pavoroso de choque e culpa tomou conta de mim. Erik estava parado na porta, com uma expressão de completo estupor em seu rosto recém Marcado. Sem dizer nada, ele deu as costas e saiu.

Aimeudeus! Aimeudeus!

Olhei para Loren em completo choque ao me dar conta do que acontecera, a nuvem que nublava minha mente sumindo. O ritual... Erik... Loren... minha virgindade... a carimbagem com Heath... o olhar de magoa no rosto de Erik.

Inferno, eu era uma perfeita bagunça!