História Cinco Minutos - Existe 0,0001 em mim

Realmente, idiota.

Estou tirando um xerox de um contrato de uma residência para uma jovem mãe, acho que ela deve ter aproximadamente a minha idade, sua filha corre para todo o lado paquerando os coloridos, no minuto anterior Taehyung deu de brinde uma caixa de lápis de cor da melhor marca para criança. Meu coração quase se aqueceu com seu ato, contudo, me vi querendo chorar.

Não entendi ao certo o motivo, só que meu nariz começou a coçar e meus dedos a tremer, até mesmo digitei o número errado de cópias na Beruka. Percebi o que era no minuto seguinte, quando minha mente assimilou, o egoísmo e essa minha vontade errada de tê-lo para mim. Como consigo continuar com isso sendo que já esfregaram a ferro quente da realidade na minha cara uma porção de vezes? Acho que a dor se acostumou, ela está se esforçando tanto para me ver triste que meu corpo parece criar anticorpos protetores.

Quero que esses anticorpos vão embora, sofrer ainda é a melhor alternativa para mim, pois na vida eu sou aquela roupa amassada que é esquecida dentro do guarda roupa por ser velha, inútil e fora de moda. Também sou um ferro enferrujado, aquele que perde as forças e incomoda pelo desgaste e fuligem que mancha por onde encosta. Sou tudo isso, pois todas essas coisas precisam de outras para sobreviverem, são tão dependentes que nem ao menos percebem isso. Assim como tudo que existe em mim.

— É só passar no caixa. — Decido contar os minutos, já está na hora, ultimamente eles andam me ajudando muito, a cada cinco minutos me vejo tentando recomeçar algo ainda pior, mas que livra minha mente de ligar vírgulas e mais vírgulas a um parágrafo melancólico que nunca tem fim. Como sempre, o primeiro é sempre mais difícil, pois os segundos acabam se misturando com meus pensamentos e se tornam tão inúteis como eu.

— Obrigada. — É bem difícil encontrar clientes que ainda nos agradecem, penso que em sua frase o minuto se encerraria, mas não é isso que acontece, ele tarda e me faz encarar seu perfil mexendo rapidamente na caixa registrado e lançando um sorriso gentil para a moça jovem-mãe.

Finalmente o minuto se encerra e me vejo procurando modos de odiar aquele sorriso, talvez se o comparar a escuridão, possa deixá-lo passar despercebido. Colocando toda aquela matéria em decomposição do muro ao lado de minha casa em formato de um brilho labial repugnante, talvez livre minha mente de ainda querer beijá-lo. Mas isso não acontece, acho que sofrer por esses lábios seja um dos meus castigos pelo o que eu fiz com Park Jimin.

Outro minuto, Taehyung organiza as notas em seus devidos valores nos compartimentos pretos, me vejo recordando dos seus toques em meu cabelo e corpo com seus dedos longos e macios, quentes e afetuosos. Meu estômago se embrulha com esse sentimento.

O desejo de transformá-lo em enormes garras de ogros ou que suas unhas cresçam tanto que a encarcam em sua própria pele, deixando-a verde e inumana. Posso não querê-lo de volta a mim se pensar desta maneira, mas ainda me vejo seguindo seus movimentos como um dedilho de um música ao ser tocado no próprio ar. Acho que estou desperdiçando meus minutos tentando colocar defeitos em uma pessoa extremamente perfeita. Usando meu tempo, como sempre, de maneira indevida.

Mas ainda tenho mais um minuto, e nesse último minuto, como o veredito de meu último suspiro que seus olhos focalizam em mim, não encontro o brilho de antes, aquele sentimento que era meu combustível para continuar caminhando sem deixar ralar os joelhos a cada queda. Taehyung acabou se afundando em sua tentativa de me salvar. Sou tão destrutivo, preciso entrar em quarentena da vida.

Fito a Beruka tentando deixar o momento menos constrangedor, minha mão espalmada sobre a chapa do xerox, meu dedo indicador acaba escorregando no botão verde do comando para a retirada da cópia, e vejo a linha verde escanear meu corpo. Como um raio-x que consegue decifrar as dores da alma.

Finalmente, cinco minutos.