Virei de um lado para o outro, tentando ver se ele estava por perto, mas o meu olhar foi atraído para o palco mais uma vez. Para alguém no palco. Alguém que estava me olhando fixamente...
E então percebi que aquela era a primeira vez que ele me via sem a máscara... e que, pelo jeito, não tinha gostado, pois rapidamente tornou a olhar para a tela.
Quando as fotos terminaram de passar, o salão de festas explodiu em aplausos, e o apresentador pegou o microfone para anunciar os outros integrantes da banda.
De repente, o telão, que já estava desligado, começou a piscar.
Vi que as pessoas pensaram o mesmo, e um pequeno tumulto começou a se formar, até que o telão piscou mais uma vez e um desenho apareceu.
Todo mundo começou a rir, comentando que devia ser só uma surpresa para os alunos, mas de cara entendi que a intenção era surpreender apenas uma pessoa... Porque eu conhecia perfeitamente aqueles traços. Sabia muito bem quem era a desenhista responsável. Ainda mais porque, logo na primeira cena, vi a imagem de uma menina calçando tênis cheios de naipes de baralho e notas musicais. Exatamente como eu estava usando naquele momento.
Então era essa a animação na qual a minha tia estava trabalhando durante a semana!
E era essa a missão muito urgente que ela e a minha mãe precisavam fazer... Convencer alguém a exibir aquele vídeo.
Pouco a pouco, a tela foi mostrando a minha vida desde a separação dos meus pais. Como se fossem quadrinhos em preto e branco, a animação contava a história de uma princesinha que, em vez de sapato alto, usava All Stat, pois seus pés doíam muito se calçasse outro tipo de sapato.
Um dia, ela conheceu um príncipe. E a vida dela ficou colorida.
E a partir daí, o filminho também ganhou cores e explicou tudo que eu gostaria de ter contado para o Percy e não havia conseguido... Que ele, além de devolver a cor para a vida dela, também havia trazido ritmo para o seu coração, que costumava bater descompassado. E que aquela princesa tinha uma madrasta malvada que armou para que ela não encontrasse com o príncipe.
O vídeo terminava com a princesinha segurando um pé de All Star na cara dela, olhando triste pela janela, e o príncipe segurando o outro pé, olhando para a tela do computador, parecendo muito solitário...
E então o telão foi escurecendo gradualmente até que ficou totalmente preto.
Todo mundo ficou esperando por mais, meio sem entender. Quando o apresentador viu que realmente era só aquilo, chamou depressa a banda. O Percy, apesar de meio atordoado, nem mesmo olhou na minha direção.
Um pouco depois, a minha tia e a minha mãe apareceram do meu lado.
- Não sei o que vocês fizeram para que as pessoas da comissão de formatura concordassem em exibir essa história de final infeliz... Mas acho que valeu a pena, porque eu entendi o significado - falei para elas, meio triste.- É que, se eu não parar de ficar olhando pela janela em vez de viver, nunca vou ser feliz. Não é isso?
As duas se entreolharam com as testas franzidas. A minha tia disse que eu tinha entendido tudo errado, e a minha mãe explicou que a única coisa que tiveram que falar para a comissão é que queriam contar o começo de uma história que teria o seu final feliz naquela noite, para que ninguém ficasse boiando na hora.
Comecei a falar que não ia ter nenhum final feliz, mas naquele momento a banda começou a tocar. As duas falaram que iam ver o show de longe, pois não tinham mais idade para aquela gritaria toda.
Mais uma vez, o meu coração bateu forte, mas agora eram batidas tristes. Resolvi que queria ir embora. Ver aquilo era tortura. Então me despedi da Thalia, disse que no dia seguinte explicaria tudo, e me virei para procurar minha mãe. Ia ser difícil, porque a festa estava lotada. Porém, eu não tinha dado nem dois passos quando ouvi Perseu dizer:
- Eu sempre faço essa parte do show mais para o final, mas acho que hoje vou ter que adiantar. Porque a garota com quem eu gostaria de dançar tem uma tendência a desaparecer de repente... Então prefiro chamá-la agora, enquanto ela está bem na minha frente.
Congelei no lugar em que estava, sem ter coragem de me virar. Será que ele estava falando de...
- Até hoje eu não sabia o nome dela. Por isso a chamava por vários apelidos... DJ Cinderela. Rainha de Copas. E o meu preferido, que acho que não consiguirei me desacustumar, pois é exatamente isso que ela é : uma princesa. Uma princesa que adora música pop. E eu também não conhecia o rosto dela. Pelo menos achei que não... Mas há pouco minutos constatei que era exatamente como eu a via nos meus sonhos. Então eu gostaria, Annabeth, minha princes pop, que você subisse ao palco, e me desse a honra desta dança.
Continuei parada, mas a Thalia começou a me empurrar para que eu subisse logo. Quando as minhas colegas perceberam que era de mim que ele estava falando, começaram a dar gritinhos e a me empurrar também.
Embora eu estivesse roxa de vergonha, sabia que não ia haver uma terceira chance. Então subi. Ele abriu o maior sorriso, colocou as mãos na minha cintura, mas, antes de que a banda começasse a tocar, ouvi uma voz na multidão. Aquela mesma voz de mostra, que parecia ter sido inventado para estragar os meus melhores sonhos.
- Parem! Ela não vai dançar!
Eu me afastei para olhar, mas o Percy continuou me segurando.
- A Annabeth está de castigo. - ela gritou ainda mais alto.- Foi proibida pelo pai de sair de casa e o desobedeceu!
Ninguém se mexeu, e então ela foi andando em direção ao palco. Quando começou a subir as escadas, dois seguranças a impediram.
- Saiam da frente, seus inúteis! Ela é minha filha e tem que fazer o que eu mandar!
Eles pareceram meio em dúvida e começaram a se afastar, mas no segundo seguinte ouvi outra pessoa, chegando cada vez mais perto, mas dessa vez era alguém cuja voz que tinha o poder de me tranquilizar mesmo nos piores pesadelos.
- Sua filha? Ou a sua enteada, que você devia tratar muito bem, mas que, pelo contrário , prendeu em um quartinho mofado e imundo? Já não bastava roubar meu marido, agora está querendo a minha filha também? Mas saiba que a Annabeth é muito mais esperta que o meu ex. Ela não se deixa enganar assim tão fácil.
Parecia que a minha madrasta tinha visto um fantasma. Primeiro ficou branca, depois vermelha, depois verde... A impressão é que ela estava querendo cavar um buraco no chão para fugir dali. As pessoas estavam extasiadas, como se estivessem assistindo a uma peça teatral. Porém, de repente, ela recuperou o rebolado, empinou o nariz e falou:
- Então você a considera esperta, né? Pois saiba que o pai dela só a colocou de castigo porque ela ficou de recuperação em duas matérias!
Novo burburinho de vozes foi ouvido, mas uma se destacou no meio da multidão.
- A Annabeth é uma das melhores alunas do terceiro ano. Ela estuda na nossa escola desde pequena. Confesso que fiquei meio preocupada, após a separação dos pais, por ela ter entrado em uma fase meio introspectiva, usando roupas escuras e se isolando... mas em nenhum momento isso afetou seus estudos. Posso afirmar que a Annabeth passou com notas bem acima da média é que certamente se dará bem no vestibular!
Olhei para a minha diretora, com vontade de abraçá-la. E pensar que eu sempre havia achado que ela não gostasse de mim. No entanto, ela estava apenas preocupada.
Depois disso, a minha madrasta foi saindo de fininho, mas ainda consegui ver meu pai tendo a maior discussão com ela, provavelmente querendo que ela se explicasse sobre tudo i que tinha armado para cima de mim.
- Alguém quer dizer mais alguma coisa?- o Perseu perguntou para a plateia, com um ar divertido, e a atenção de todos se voltou para o palco.- Porque por mim, tudo bem, posso esperar a noite inteira. Mas acho que a Annabeth deve estar meio desconfortável aqui de pé, usando salto. Pelo que entendi na historinha que passaram, ela não gosta muito de sapato alto. E eu realmente gostaria de dançar enquanfo ela ainda consegue de locomover!
As pessoas riram, e então levantei um pouquinho a barra do vestido e falei só para ele:
- Na verdade, eu dei um jeitinho... Pena que estou sem o outro pé do sapato. Eu o perdi em um baile, e o príncipe que o encontrou nunca mais o devolveu para mim.
Ele então deu um sorriso ainda mais lindo, pediu licença , foi atrás do palco e em poucos segundos voltou com o meu outro All Star.
- Mas você sabia que eu ia estar aqui na festa? - perguntei, confusa.- Até duas horas atrás, nem eu mesma sabia que viria!
- A minha produção recebeu uma telefonema anônimo, falando que a garota que eu procurava estaria aqui...
Passei os olhos pela multidão e vi que a minha tia fez um sinal de positivo para mim. Sorri para ela, sem parar de prestar atenção no que Percy estava dizendo.
- A princípio achei que fosse um trote... mas como eu ainda estava com o sapato, pensei que não faria mal trazê-lo... Posso ajudar a calçá-lo?
Ele se ajoelhou e colocou o tênis no meu pé esquerdo. Subi um pouco mais a barra do meu vestido para ver o par reunido, o Percy então se levantou e perguntou:
- Dança comigo?
A plateia veio abaixo. Apenas sorri e passei os meus braços pelos ombros dele, que então olhou para a banda e sussurrou:
- Aquela.
Em seguida ele me puxou mais para perto e nós começamos a dançar a "nossa" música, a que eu havia colocado poucos minutos antes e que o havia atraído para a cabine de som, aquela que, independentemente do que acontecesse, sempre iria fazer com que nos lembrássemos um do outro.
- Você sabe que eu não vou deixar você fugir nunca mais... - ele falou no meu ouvido, enquanto dançávamos.
- É bom mesmo... - respondi.- Porque parece que finalmente o meu coração está batendo no ritmo certo.
- Pop? - perguntou, rindo. Confirmei, e ele me abraçou mais forte. Depois de um tempo ele me olhou, passou a mão pelo meu cabelo e falou: - Será que a pessoa que desenhou aquela histórinha triste que passaram no telão podia reescreve o final?
- E como seria um final melhor? - perguntei.
Ele então sorriu, se aproximou bem devagar e me deu um longo beijo.
Tive que concordar com ele. Aquele final era muito melhor...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.