No fim eu tinha desenhado um boneco de gengibre sem uma perna,sem um braço,sangrando e com uma bengala doce no braço que tinha sobrado.
Coloquei minha tiara vermelha na mesa ao lado do assento,me deitei,me cobri e fechei os olhos.Sonhei que uma menina com saltos de glitter tinha me dado um tiro na cabeça,eu tinha ido pro céu e lá tinha banheiros separados.
Acordei com o a voz de uma mulher calmamente ecoando,dizendo que essa era a última cidade em que o trem pararia e que deveríamos sair a não ser que quiséssemos ter gastado nosso tempo num trem vermelho inútil.
Nossa.
Eu peguei minhas coisas,coloquei minha tiara,e saí pela mesma porta que o resto,olhando para a placa que dizia onde estávamos,Rubi Luz.Já era de manhã e estava frio,o que me fez ir a um banheiro para vestir algo mais quente,coloquei uma meia-calça,meias de lã comprida com alguns desenhos e listras,polainas compridas rosa claro com a cor gasta e aquecedores de braços curtos azul claro.Aí você me pergunta "Moon,por que você não colocou uma calça?"
Porque eu não tenho calças.Só shorts e saias.Eu meio que odeio calças e não sei bem o motivo.
Saí da estação de trem,procurando algo pra fazer,e feliz:Rubi Luz ficava sete cidades depois de Sentient.O pessoal do orfanato não se incomodaria em me procurar por tudo isso.Iriam até Estema e então chegariam a conclusão de que eu havia morrido.Me deixariam em paz,finalmente.
Continuei andando,enquanto pensava no que eu poderia fazer pra viver daqui pra frente:Talvez eu poderia pedir abrigo num centro de perdidos,ou talvez eu pudesse achar outro orfanato.Eu decidiria depois,agora eu tinha que aproveitar o primeiro dia de paz em oito anos.
Logo eu achei minha primeira atividade de hoje:Uma galeria de arte.
Eu sempre tive curiosidade sobre as galerias de arte.Em Setient não havia nenhuma,o que só ajudava na falta de cor, e a escola não iria levar a gente na outra cidade nem com ameaça de invasão.
Eu entrei,a entrada não precisava de nenhum pagamento,era simplesmente entrar e admirar as coisas que mereciam ser admiradas.
Logo estava num corredor largo,branco e cheio de quadros.O primeiro quadro que havia lá era de uma menina de cabelo liso,loiro e comprido,com a pele bronzeada(e até meio laranja),uma franja lisa que parava apenas acima da sobrancelha,batom vermelho forte e um vestido branco.Abaixo estava uma tira dizendo "A apropriada,preciosa e perfeita".Aparentemente,era uma Mary Sue.
Fiquei o dia inteiro lá,apreciando as cores,os sons,os cheiros.Haviam cinco andares,cada andar para um artista,e haviam esculturas,pinturas,poesias,roupas,letras de músicas e mais outras coisas,mas quando chegou as cinco horas eu tive que sair,pois a galeria iria fechar.
Saí da galeria,e agora chegaria a parte difícil:Procurar um lugar pra ficar a noite.Ou talvez nem tanto,se tivesse algum centro de perdidos.Resolvi perguntar a alguém se havia algum por perto.
Cheguei perto de uma loirinha com rabo de cavalo,que também usava óculos,mas maiores.Eu a cutuquei no ombro e ela se virou.
-Com licença,você poderia me dizer onde tem...-mas fui interrompida.
-Você vai pro circo também?-ela perguntou com o rosto brilhando,praticamente.Parecia estar animada.
-Hã...Circo?-perguntei.
-Sim!O circo que chegou ontem e vai apresentar hoje!Você vai?
-Hum...Eu cheguei aqui hoje,então nem sabia que tem um circo...Talvez eu devesse ir...Onde compra o ingresso?-perguntei.
-Ah,não,você paga na hora.-ela disse.-Quer que eu te leve lá?
-Claro.-eu disse.
Ela começou a me guiar,até que chegamos a uma lona de circo gigantesca,com listras em vermelho e dourado.Na entrada havia uma mulher pegando o pagamento para entrar.
Nós ficamos na fila,e quando chegou minha vez de pagar,eu perguntei quanto dinheiro precisava.
-Não,não,não recebemos pagamento em dinheiro.Recebemos em arte,pois é disso que vivemos.-disse a mulher.Ela tinha a pele rosada e olhos que eram apenas a esclera.
-Perdão?
-O pagamento é em arte.-disse ela.-Desenhos,música,histórias,qualquer coisa que faz criar vidas.
-Hum...-eu disse pegando minha mochila e abrindo-a.-Eu tenho esses desenhos...N-Não são os melhores do mundo,m-mas eu os adoro.
Eu a entreguei meus desenhos.Ela ficou vendo as folhas até achar um que a fez sorrir.Ela me entregou os outros e me mostrou a folha.
-O que é isso?-ela perguntou.Era um desenho de um boneco de palitos com um triângulo para representar uma saia,e dois riscos em espiral representando o cabelo.
-É meio que...A-a primeira pessoa que eu fiz.Quase como um recém nascido,não é?-perguntei.
-Vai servir.-ela disse,abrindo a cortina transparente que simulava uma porta,e eu entrei.-Ah...Bonita a pedra.
Me perguntei como ela tinha visto.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.