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História Circo Underground - Noite estrelada


Escrita por: Tia_Marie

Notas do Autor


Continua sendo um teste. Não tenho a fic terminada, mas tenho umas ideias bem loucas.

Capítulo 2 - Noite estrelada


Fanfic / Fanfiction Circo Underground - Noite estrelada

Ela estava nervosa e um tanto constrangida por aqueles olhos tão azuis e serenos estarem observando-a com tanta intensidade. Os lábios dele formavam um singelo sorriso. Sua cabeça vez ou outra pendia para algum lado como que para observá-la de outro ângulo. Tinha certeza de que Elza havia contado tudo, tudo o que ela revelara momentos antes. Ele sabia muito e não falava nada, isso há alguns minutos; irritantes minutos. Mais exatamente, desde que ele disse “pode se sentar” e ainda parecia se divertir com a situação e incomodo que causava. A garota resolveu falar.

– E então? Vai me... – “oferecer algum trabalho?” era o que Wendy diria se não tivesse sido interrompida.

– Sabe... É a primeira vez que eu conheço uma emo cortadora de pulsos. – disse Demian com a unha do polegar entre os dentes. – Você gosta de ver sangue ou é só masoquista mesmo?

– O que?! Desculpe, não entendi... – disse Wendy um pouco ofendida com o comentário e com a pergunta.

– Não se faça de desentendida por que a Elza já deu com a língua nos dentes sobre isto aqui... – o ruivo segurou a mão direita de Wendy com alguma delicadeza e baixou a manga da blusa de algodão preto, revelando as cicatrizes. – Puxa! Não achei que fossem tantas. Pensei que eram só umas duas em cada braço. Há quanto tempo você faz... Ou melhor, fazia isso?

– Desde que meus pais começaram a brigar... – respondeu puxando o braço de volta, um tanto surpresa por ter sido descoberta – E a me bater. Mas eu não faço há uns cinco meses.

– É bastante tempo. Que bom que você não morreu... – disse olhando-a com severidade e ternura. – A Elza só contou para mim, não se preocupe. Mas nunca mais faça isso de novo, ouviu bem Wendy?

– Eu não acho que vou chegar a esse ponto outra vez. – a garota respondeu sorrindo sutilmente e pensando em como seria bom ter tido um pai como aquele homem.

– E mesmo que chegue, tenta achar que não é assim tão mal. Qualquer situação pode ser contornada e a nossa vida nunca deve terminar pelas nossas mãos. Isso é muito egoísmo com as pessoas que te querem bem.

– Eu nunca tive ninguém assim...

– Mas agora tem, e se depender de mim você nunca vai perdê-las.

Demian abraçou Wendy com o mesmo afeto com que abraçava Lucy, e até se surpreendeu com isso. Aquela menina em seus braços tinha idade para ser sua filha também. Se fosse certamente nunca teria tido algum motivo para ferir o próprio corpo. E a partir daquele dia não teria mais motivo para isso. Ele não permitiria.

E Wendy... Ela finalmente sentia que alguém dava valor a sua existência.

– Obrigada por me deixar ficar Demian! Obrigada de verdade! – disse deixando uma pequena lágrima escorrer por sua face.

– Tudo bem. Vai ficar tudo bem agora. Já está ficando, viu? Agora você tem muita gente com quem contar. Tudo bem que é só uma trupe de circo com sete artistas, mas somos todos esforçados e trabalhadores... De certo modo.

– “E são uma família, todos tiveram um passado infeliz e já choraram o que tinham pra chorar.” – continuou Wendy sorrindo. – Já me falaram isso.

– Isso mesmo. Então todos nós temos alguma história de vida que nos fez chegar a este circo. E, no meu caso, que me fez fundá-lo.

– É mesmo. A Lucy me disse que a mãe dela morreu depois do parto e que ela foi criada pelo senh... Por você e pela Elza. Então a sua mulher morreu... O que aconteceu com ela?

– Quer ouvir? É uma história um pouco longa e é a menos incrível, por assim dizer... – disse o ruivo sorrindo e rindo por dentro pela curiosidade da garota.

– Quero ouvir sim, se não se importar... – respondeu Wendy um pouco envergonhada. – Desculpe por ser tão intrometida...

– Não me importo. Já que quer ouvir, eu conto. Quando eu tinha 19 anos... – disse Demian calmamente.

– Você e a Elza são irmãos? – disparou a menina.

– Não, não somos. Tenha calma Wendy. Eu vou chegar na parte da Elza.

– Ok. Desculpe. – Wendy ficou em silêncio.

Demian soltou uma pequena gargalhada e continuou.

“Quando eu tinha 19 anos, acabei engravidando minha namorada, Judy. Ela tinha apenas 16 anos e ficou tão assustada com isso que chegou a sugerir um aborto. Mas eu não iria permitir. Fiquei muito feliz com a notícia, porém a reação dos pais de Judy foi outra. Em vez de apoiá-la de alguma forma, expulsaram-na de casa e ela veio morar comigo. Eu já trabalhava, recebia uma quantia considerável e morava de aluguel num apartamento modesto de um quarto. Não era o que eu desejava para ela, mas nós nunca passamos fome. Elza sempre foi nossa amiga inseparável. Ajudava como podia mesmo tendo apenas 12 e indo pra 13 anos de idade.”

“Judy era muito sonhadora e eu a admirava por isso tanto quanto por seus olhos negros, que para mim eram como uma eterna noite estrelada de tão brilhantes. Ela sonhava em viajar pelo mundo com sua família. Não a que a criou, mas a que acabara de construir. Ela, eu, Elza e o bebê que chegaria em breve.”

“Judy sempre me dizia sorrindo que o ideal para nossas condições seria trabalhar em um circo. Assim todos estariam trabalhando e vivendo juntos, viajando de estado em estado, de cidade em cidade, de vila em vila. Ela sonhava alto demais, mas eu a amava muito para tentar pôr seus pés no chão. Parecia que ela me enfeitiçava com suas doces palavras a ponto de me fazer acreditar que era possível realizar aquele sonho. E a Elza não ajudava em nada. Apesar de madura pra idade, ainda era uma criança cheia de sonhos e incentivava o desejo de Judy. Na ocasião em que Judy completara 17 anos e, por coincidência, sete meses de gestação (13 de Agosto), Elza apareceu no apartamento com dois embrulhos. Um, o maior, era um chapéu verde com bolinhas vermelhas que nunca poderia ser usado normalmente pelas ruas. ‘Um chapéu de palhaço’ foi o que ela disse pondo o chapéu em Judy. O outro, menor e meio amassado, era uma pequena roupinha de palhaço para o bebe, a qual não seria tão constrangedora quanto o chapéu. Judy amou os presentes. Abraçou a pequena amiga com força e eu me uni a elas. Naquela noite, eu e Elza ficamos beijando e afagando aquela grande barriga.”

Demian estava com um olhar tão saudoso e distante que Wendy chegou a pensar que ele fosse chorar. As lágrimas não vieram, mas estavam no olhar. Não na forma de gotas salgadas, mas na expressão de alguém que lembrava vividamente da época em que elas eram abundantes e pesadas.

Demian respirou fundo e continuou.

“Duas semanas depois, Judy teve um forte sangramento enquanto eu estava fora de casa. A dona do prédio, a Sra. Scott, chamou a ambulância e foi com ela até o hospital. Deixou um recado na minha porta explicando o que havia acontecido e em que hospital as duas estavam. Quase entrei em pânico e nem cheguei a entrar em casa. Fui direto para o hospital e só depois liguei pra Elza avisando o ocorrido. Perguntei pela Judy na recepção e me disseram que ela estava na sala de parto, mas que eu não podia ir até lá. Eu pensei ‘por que não posso me aproximar? ’, ‘sala de parto? ‘, ‘o bebe vai nascer agora? ’ Fiquei desesperado. Tremia e suava frio de tanta tensão. Elza chegou uns trinta minutos depois correndo e chorando. Me abraçou forte perguntando o que tinha acontecido. Eu respondi, com um nó na garganta, que o bebe já ia nascer. ‘Mas não é muito cedo? A Judy ta bem? ’ ela perguntou. Não agüentei mais. Comecei a chorar copiosamente escondendo o rosto nas mãos.”

Demian agora olhava para as próprias mãos como se enxergasse, com toda a clareza, suas palmas encharcadas de lágrimas.

“Depois do que me pareceu uma eternidade, um médico apareceu perguntando quem estava lá por Judy Harrison. A Sra. Scott, Elza e eu nos apresentamos. Ele disse que precisou fazer uma cesariana de emergência e que Judy havia perdido muito sangue. ‘Não havia muita esperança de salvar nem ela e nem a criança, mas, surpreendentemente e mesmo prematura, a sua filha nasceu saudável. Parabéns! ’ disse o médico.”

“‘Nasceu...? É uma menina...? ’ eu fiquei meio abobalhado e comecei a chorar de alegria, mas... ‘E a Judy? ’ eu perguntei. O médico ficou mais sério e respondeu ‘O útero dela não era capaz agüentar uma gestação completa, por isso houve um rompimento quando o feto precisou crescer mais. Ela nem deveria ter engravidado. A hemorragia parou, mas, devido à grande perda de sangue, ficamos receosos em fazer outra cirurgia e nem temos o tipo sanguíneo dela para uma reposição. A Srta. Harrison deveria descansar agora, mas insiste em falar com Demian e Elza agora. ’ Pude ver, por traz da atitude profissional, a compaixão de uma pessoa que agora atendia ao simples pedido de alguém que provavelmente não teria mais que alguns dias de vida. E quem sabe horas. Meu coração apertou tanto que chegou a doer.”

“Elza e eu fomos de mãos dadas até o quarto 278. ‘Não a deixem agitada, por favor. ’ o médico pediu deixando escapar um fiapo de dor na voz. Entramos no quarto e nos deparamos com quatro leitos. Dois com as cortinas fechadas, um vazio e o último com nossa Judy nos olhando cansadamente. Tão pálida quanto acho que fiquei assim li o bilhete em minha porta. Meus olhos marejaram imediatamente e senti a pequena mão de Elza apertando a minha em busca de algum conforto. Fomos até a cama e sentamos um de cada lado, nos banquinhos de metal que havia ali. Seguramos um em cada mão de Judy. Ela estava gelada. Seus olhos de noite estavam sem o brilho das estrelas. Sua fraca voz tinha apenas traço daquela que cantava docemente para o próprio ventre.”

A visão da jovem ouvinte de Demian começava a marejar.

“‘Olá, meus amores... Eu sei que não vou durar muito, mas pelo menos eu consegui ver a nossa filha, Demian. Ela tem os seus olhos, sabia? ’ nós sabíamos que o bebê ainda não tinha aberto os olhos. Judy começou a chorar dizendo ‘são da cor do céu limpo de verão. Os olhos pelos quais me apaixonei a segunda vista, por que da primeira você me irritou muito, lembra? ’ e apertou minha mão.”

“Claro que eu lembrei na hora de quando ela tinha 15 anos, estava indo apressada para o colégio e trombou com um cara de cabelos ‘cor de terra laranja’ que a chamou de ‘cabelo de capim no sol’ só por que se irritou. O resultado disso foi que o tal cara conseguiu uma bela pisada no pé. No mesmo dia ele a encontrou na saída das aulas, pediu desculpas e a chamou para tomar um suco. Ela também se desculpou pela pisada e aceitou o convite dizendo que não poderia demorar muito. ‘Meu nome é Demian Hyde’ ele disse. ‘O meu é Judy Harrison’ ela disse. ‘ Cabelo de capim no sol’ foi algo que o momento me trouxe á mente. Aqueles cabelos loiros e sedosos que iam até a cintura caíram nas minhas graças, assim como seus olhos negros e brilhantes como uma noite estrelada. Quando eu disse isso ela respondeu ‘Você também tem olhos lindos. Eles parecem o céu de verão... ’”

“‘Lembro... É claro que eu lembro. ’ respondi chorando e sorrindo e dizendo ‘Eu te amo. Eu te amo tanto Judy! Não me deixa, por favor! ’ Ela apenas sorriu e disse ‘Eu também te amo, meu céu’ e se virou para Elza.”

“‘Minha Elza... Eu guardei com todo o meu carinho aquelas duas ‘primeiras’ fotos, sabia? Eu olho para elas toda a noite agradecendo a Deus por ter colocado vocês dois na minha vida... ’ Elza não tinha parado de chorar um segundo desde que entramos no quarto, então ela mal conseguia falar direito. ‘Eu te amo amiga... Eu te amo amiga... ‘ era tudo o que ela dizia.

“Elza sempre foi uma menina animada. A gente se conheceu quando eu estava levando Judy para casa, dois meses depois de conhecê-la. Aquela menina pequenina de 12 anos chegou correndo e pediu para tirar uma foto nossa por que formávamos o casal mais lindo que ela já tinha visto. Ficamos um pouco surpresos, mas concordamos. Quando ela foi tirar a câmera da mochila, deixou cair várias fotos. Todas de crianças brincando ou de casais. Entre as de casais, encontramos uma quantidade considerável de fotos nossas; de costas ou de perfil. Todas distantes. Ela ficou muito envergonhada e pediu desculpas pelas fotos. Achei aquilo engraçado. Judy disse que elas eram muito boas mesmo tiradas de longe e pediu pra ela tirar quantas fotos quisesse, mas que compraríamos algumas. A garota se recusou teimosamente a vender suas fotos, mas disse que daria quantas quiséssemos em troca de um sorvete. Aceitamos a proposta e fomos até uma sorveteria. Assim conhecemos Elza Phillips, uma garotinha curiosa que chegou para nós como um anjo. Um anjo fotógrafo. Meu apartamento, em menos de um mês, estava repleto de fotografias de nós três. As ‘duas primeiras’ foram tiradas no mesmo dia, na sorveteria, e guardadas com cuidado pela Judy. Numa era só eu e ela de mãos dadas. Na outra Elza estava entre nós dois com um braço enlaçando cada pescoço...”

“Judy já ficava sonolenta, mas se recusava a fechar os olhos. ‘Demian, você lembra quem ficou do nosso lado quando começamos a namorar? ’ ela me perguntou. ‘A Elza... E sua avó, Lucy, não foi? ’ respondi entre soluços. Ela sorriu, beijou minha testa e disse que queria por esse mesmo nome em nossa filha recém nascida. ‘Ela vai ser forte como minha avó foi’ ela disse. Vovó Lucy havia morrido de velhice no início do 6º mês da gestação de Judy. Sempre dizia o quanto queria conhecer seu bisneto, que certamente seria lindo. ‘Tenho certeza de que, em algum lugar, ela está muito feliz de ouvir isso, meu céu. Esse será o nome da nossa filha com certeza. ’ concluí dando um beijo suave em sua mão.”

“Elza adormecera com os olhos inchados de tanto chorar, ainda segurando a mão de Judy. Eu estava no mesmo caminho, mas então senti um toque de pena acariciar minha cabeça e me espertei. Judy me olhava com sua ternura infinita. Ela me pediu um beijo. E eu a beijei. Um beijo suave assim como foi o nosso primeiro. Senti suas lagrimas quentes em meu rosto e as minhas também não cessavam. Ela disse ‘Demian, obrigada por me fazer não desistir da Lucy. Eu te amo, meu céu... ’. E eu respondi ‘eu te amo, meu céu... ’ ficamos repetindo isso um para o outro até que ela dormiu. Eu roguei aos ventos que levassem a minha prece até alguém que pudesse atendê-la; para que aqueles olhos de noite estrelada não se perdessem em trevas de morte.”

– Foi bem ingênuo da minha parte, não acha? Meu coração não queria aceitar de nenhuma maneira que quando ela dormiu, tinha fechado os olhos para sempre. – Demian não derramara uma única lágrima em seu relato. Já havia chorado o suficiente para uma vida naquela noite de 27 de Agosto.

Wendy chorava em silêncio, admirada pela força do homem a sua frente.

“Na manhã seguinte, ao acordarmos, Elza e eu não sentíamos mais a Judy. Ainda segurávamos suas mãos. Ela estava ali na nossa frente, mas não estava mais lá, entende? Eu fiquei histérico. Chorava e gritava chamando a Judy como se ela pudesse me ouvir do além e retornar ao corpo. Cheguei a assustar a Elza. Ela se afastou subitamente e depois de entender a situação entrou em estado de choque. Caiu no chão e ficou chorando deitada sem emitir algum som que pudesse competir com o barulho que eu fazia. Os enfermeiros precisaram me sedar, sabia? Eu estava enlouquecendo.”

– E os pais da Judy? Como ficaram sabendo? – perguntou limpando as lágrimas com um lenço que Demian lhe estendera.

– Depois que acordei algumas horas depois, dei o número deles para que o próprio médico avisasse. Eu não estava em condições de manter um diálogo decente com eles, uma vez que já não gostavam de mim desde o início.

– Como foi o velório? – perguntou Wendy receosa.

– Eu não fui. A Elza me avisou onde seria, mas eu não queria confusão. Já no enterro, eu fiquei olhando de longe até a cerimônia terminar e constatar que já era seguro chegar perto do jazigo branco que escolheram para ela.

“Fiquei olhando para a foto que escolheram para a lápide. Era do aniversário de 16 anos dela pra o qual, obviamente, eu não fui convidado pelos pais dela. Seu sorriso era muito simples. Lindo, mas infeliz. Pensei comigo ‘esse sorriso não combina nada com a imagem que eu tenho de você’ e tirei do bolso uma cópia da ‘segunda foto’. Ela, eu e Elza. Todos sorrindo de verdade. Meus olhos começaram a marejar enquanto eu grudava com fita a foto sobre a que estava na lápide. ‘Juntos a partir de hoje, até o fim dos tempos’ eu recitei o que ela havia escrito atrás da foto original. Eu tinha copiado essa frase atrás da cópia da foto e colado uma 3x4 da nossa filha ainda na incubadora. ‘Obrigada por me dar a Lucy. Ela nasceu saudável, mas ainda vai ficar na incubadora por precaução. Em Outubro ela já vai pra casa comigo. A nossa amada Elza Phillips disse que vai cuidar para que ela seja feminina, educada e sonhadora como você e não uma grosseira só porque vai ser criada pelo pai. Pode deixar que nós sempre vamos comemorar o aniversário dela com você’ eu disse carinhosamente.”

“Eu estava bem distraído então levei um susto quando ouvi a voz da Sra. Harrison dizendo ‘Seu monstro! Você matou a minha filha! ’ Olhando nos olhos dela eu vi revolta e rancor antes de receber um tapa bem forte. Meu rosto esquentou instantaneamente. Ela olhou para a foto que eu havia colado na lápide, foi até ela e a arrancou com desprezo. Foi então que viu a neta pela primeira vez. Soube no hospital que ela havia sobrevivido, mas não deu importância alguma. Largou a foto no chão e disse ‘Essa coisa é que deveria ter morrido’.”

– Senti minha boca ficar amarga na hora. -disse Demian pondo os dedos nos lábios.

“Recolhi a foto do chão, limpei-a na jaqueta e disse ‘É realmente uma pena que a senhora pense assim, pois o que eu mais desejo no momento é criar e manter para sempre um pedaço da Judy comigo. A Lucy é a coisa mais preciosa que eu tenho agora e qualquer um que ouse desejar algum mal a ela, quem quer que seja, vai se tornar meu inimigo mortal! ’ Minhas lágrimas não paravam de cair, mas eu disse aquilo com o tom mais ameaçador que pude adquirir. ‘Eu entendo sua revolta como mãe. Você e eu perdemos alguém insubstituível em nossas vidas, mas por isso mesmo não vou tolerar que você deseje a morte da filha da Judy. Da nossa filha. Eu nunca lhe desejei nenhum mal mesmo sendo sempre reprovado, mas fico furioso escutando isso da senhora’ concluí já um pouco mais calmo.”

– Nunca mais tivemos contato depois daquilo. Ela simplesmente se virou e foi embora. Eu colei a foto na lápide novamente e pedi desculpas para Judy pelo barulho. “Viu só Judy? Não vou deixar ninguém fazer ou desejar algum mal a nossa filha. Nem por cima do meu cadáver, porque eu volto do além e atormento até a morte a pessoa que fizer isso.” – Demian concluiu rindo.

– Você é muito forte Demian. Dá até inveja... – disse Wendy olhando para seus pulsos.

– Sim, eu me considero forte. Sou forte por que tenho a Lucy e a Elza comigo e por ter conseguido realizar o sonho da Judy. Ah, você viu o espetáculo não foi? Sabe a palhaça “Bolinha”?

– Sim. A Elza me disse que é a Lucy.

– E por acaso você conseguiu ver o chapéu dela?... – Demian perguntou sugestivamente.

– Consegui, sim. Não é daí que vem o nome dela? Não era um chapéu verde com bolhinhas ver... – Wendy pensou um pouco e então entendeu. – Verde com bolinhas vermelhas! É o chapéu que a Elza deu de presente pra Judy, não é?

– Ele mesmo. Deixamos como uma “herança” para a Lucy. Ela é a cara da mãe, sabia? Sem tirar nem por. Não, aliás, tirando só a cor dos olhos... Enfim! O que eu quis era que você entendesse é que eu nunca pensei em me matar.

– Eu também não! – Wendy exclamou nervosa. – Eu sei que me cortava, mas eu nunca tive coragem nem pra me matar de verdade!

– Ainda bem que a gente te encontrou antes que tivesse coragem pra pular do viaduto... – Demian disse mais para si mesmo.

– O que? Como assim? – perguntou Wendy confusa.

– Nada não. É coisa minha... Caramba! Olha só a hora! –  disse Demian assustado. Já passava das 22h 30. – E ainda nem falamos sobre o trabalho! Daqui a pouco a Elza...

Mal Demian diz seu nome e ela surge na entrada da tenda.

– E então, já terminaram? Já ta na hora de dormir e eu não pego leve nem com “chefe” e nem com novata! – disse severamente.

– Foi mal Elza. Eu acabei falando demais e me distraí. Eu ia falar do trabalho agora... – explicou Demian parecendo um garoto repreendido pela professora. Wendy achou aquilo muito engraçado.

– Ai, ai. Não creio. – Elza pôs a mão direita sobre a testa. – Você deveria controlar melhor o seu tempo de tagarelice, viu Demian? – concluiu dando uma grande tragada em seu cigarro preto.

– Eu sei! Eu sei! Não precisa ficar puxando minha orelha!

– Muito bem... – disse Elza em meio à fumaça que soltara. Largou o cigarro no chão e o apagou com uma pisada. Entrou com passos firmes e se sentou ao lado de Demian. – Vamos falar sério agora, Srta. Madybrown.


Notas Finais


Obrigada por ler até o final :)


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