Estrasburgo, França- 1899
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Os gritos da recém nascida já podiam ser ouvidos a milhares de quilômetros do lago no qual havia acabado de nascer. O choro da criança ecoava bem perto de uma floresta coberta de neve escura e com arvores de troncos grandes. O frio era intenso e os agasalhos estavam faltando e isso nem era o mais preocupante no momento, e sim saber que a qualquer momento ele poderia chegar.
Ninguém poderia ajudar se ele ouvisse, não haveria como pedir socorro somente lutar com a pouca força que lhe restava e por isso a mãe jovem à beira do lago tentava ao máximo abafar o choro da criança enquanto seu filho, agora o mais velho da família com apenas nove anos, ajudava e recolher os trapos espalhados pela neve branca agora manchada com sangue. O desespero e a pressão só aumentaram quando o barulho de passos apressados e vozes atrapalhadas ficavam cada vez mais perto, fazendo assim com que a família se levantasse ás pressas da neve e começasse a correr floresta adentro.
O frio era bruto e machucava, os finos flocos de neve passavam como pequenas laminas no rosto da criança carregada no colo da mãe, que com dificuldade segurava a camisola branca surrada, afundava as botas na neve fofa e ao mesmo tempo direcionava seu olhar para o filho mais velho, que vinha logo atrás. Tudo era tão escuro e a única fonte de luz era a lua que desviava dos galhos e iluminava o caminho com sua coloração avermelhada.
Ele estava a caminho, ele estava logo atrás de nós, ele podia nos ver, ele estava perto demais, não posso deixar que ele a leve. E era só isso que ela pensava, precisava tirar seus filhos de lá o mais rápido possível. Foi nessa hora que ela simplesmente parou.
De andar. De correr. E de fugir.
– Preciso que leve sua irmã para o mais longe que conseguir e quando a hora chegar preciso que se lembre desse dia e a leve para um lugar. – a mãe dizia enquanto passava sua manta para o filho e depositava a criança em seus braços.
– Que lugar mãe? Para onde a senhora vai? Está nos deixando? – o garotinho tropeçava nas palavras e as lagrimas começaram a cair e rolavam em sua bochecha avermelhada por conta do frio.
– Não diga uma coisa dessas, eu nunca deixaria vocês. - ela não queria mentir mas sabia que era o certo, ela sempre sabia. – Vou apenas atrasar os homens maus que estão nos seguindo ok? – o garoto mesmo tremulo deu um sorriso concordando com a cabeça. - Agora preste atenção, na hora certa você se lembrará da minha voz e vai saber pra onde ir, se não souber apenas olhe para sua irmã e saberá o que fazer.
– Precisa mesmo ir mamãe?
O tempo estava acabando, e quando se menos espera já é tarde de mas para um adeus. A mãe então toma sua forma de lobo assustando seu filho e o fazendo se esconder por trás de uma arvore. A loba uivou para os céus fazendo com que rapidamente ele chegasse até ela.
– Você realmente achou que se esconderia para sempre. – ele gargalhou alto caçoando da loba que se encontrava parada. – Mas como você é tola, eu realmente esperava mais de você Lenna... ou não, já que os Honorem não pertencem um histórico muito grande sobre vencer batalhas não é mesmo. – ele ria e tinha os olhos tão negros quanto a floresta aquela noite – aparentemente eles só fogem.
Por mas que Lenna quisesse ficar e lutar, ela não tinha forças o suficiente, eles eram muitos e estavam amedrontando-a. Suas patas fincaram na neve macia continuando imóvel, ela tinha esperanças de que a deixassem ir, ela queria acreditar o máximo possível na brilhante mentira de seus pensamentos, mas como sempre, ela já sabia. A loba então olhou em direção a arvore em que seus filhos estavam e viu um sorriso no menino, um sorriso que transmitiu toda paz que era necessária e então ela apenas pode olhar que no meio da floresta escura e fria uma coisa se destacava, uma pequena rosa vermelha caída no chão, ela estava ali, e estava por uma razão. A loba então direcionou seu olhar de volta para ele com um brilho diferente nos olhos, o brilho de quem sabia que era a hora certa de parar de fugir.
– Então é isso? está realmente se entregando dessa forma? – a loba abaixou a cabeça e virou-se de costas olhando para a rosa no chão e deitando-se no manto de neve que havia ali. — Isso só pode ser uma piada, você por acaso está me afrontando? – ninguém pronunciou se quer uma palavra, tudo ficou no absoluto silencio até que o fino sopro de uma flecha pôde ser ouvido e sem ao menos perceber qualquer outra coisa o garoto por traz da arvore observou uma única lagrima cair rapidamente dos olhos castanhos do lobo.
A prata da flecha refletia com a luz da lua que agora não se encontrava mais vermelha, havia sangue por toda a neve e ele já não estava mais por ali, lhe deram de “presente” uma morte digna de um Honorem, uma morte honrada. O garoto agora se encontrava debruçado sobre a grande montanha de pelo jogada na neve, ainda caída no chão a loba direcionou sua pata para a rosa que continuava intacta e assim o garoto levantou-se junto ao bebê para pega-la, logo a trazendo para a loba que então pegou a rosa de sua mão, depositou sobre a criança e fechou seus olhos pela última vez.
– Roseli, Roseli Honorem Lupim, esse será seu nome. – o menino disse esboçando um breve sorriso para a bebê em seus braços e em seguida se levantando.
Ele sabia que sua irmã era especial e não precisava ter um motivo pra protege-la, ele faria de tudo por ela sem saber por onde começar, o menino apenas enrolou a irmã em uma manta e seguiu para o norte.
...
Em um lugar não muito distante de Estrasburgo, ele já havia descoberto sobre o nascimento de uma nova escolhida. A notícia se espalhou rápido até por que o nascimento de um escolhido é tão raro quanto um cometa. Patrulhas noturnas foram mandadas a floresta, alguns deles ficaram receosos a final eram apenas crianças, mas era apenas o preço a se pagar por ser um deles. Sem nomes, sem rostos, sem conhecimento do que estavam caçando, apenas duas crianças em uma floresta coberta por neve.
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