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História Civil War: Moon. - Leite.


Escrita por: Seola______

Notas do Autor


Aqui se inicia a parte I da fic. Espero que gostem e não deixem de comentar!
Beijos!

Ps: Esse capítulo é grande por ser o primeiro.

Capítulo 2 - Leite.


Fanfic / Fanfiction Civil War: Moon. - Leite.

 

[Atualmente, Estados Unidos da América, Nova Iorque, Queens] 

 

- Então você está apaixonada por Flash Thompson. 

- Não, Luna – Jullie riu sentada na arquibancada – estou atraída por ele.

- E o que te impede de falar com ele? – estiquei os braços para cima como se estivesse me alongando.

- Ele é Flash Thompson! – Jullie me olhou assustada – ele jamais me daria chance.

Arqueei uma sobrancelha – Quem disse? 

- Eu! – ela cruzou os braços voltando a fitar o garoto loiro.

- Como pode afirmar se nem tentou? 

Jullie revirou os olhos sem me fitar. Sentia-se incompreendida, pois para mim a saída era sempre a mesma: falar com o cara que ela estava afim. A maioria das vezes funcionava e caso não funcionasse Jullie seguia com sua vida como se nada tivesse acontecido. Isso era o que mais me admirava nela. Ela não era uma garota que se apegava fácil. 

Levantei-me da arquibancada dizendo que tomaria uma água e que voltaria assim que me sentisse melhor. Estávamos ambas sentadas na arquibancada, pois vacilei no meio do treino de voleibol quase desmaiando tamanha fraqueza, Jullie, como boa amiga, me acompanhou até o banheiro onde lavei meu rosto e evitei manter meus olhos prateados. Com muita sorte ela estava ocupada demais falando de Flash Thompson, para me distrair, para notar a diferença na cor de meus olhos. 

Jullie é minha melhor amiga desde quando entrei em Midtown, ela logo se apresentou quando cheguei no meio do ano letivo e, há dois meses atrás, seu amor era o nerd que sempre estava desaparecido: Peter Parker. Mas agora havia se tornado Flash Thompson visto que Peter nunca compreendera suas intenções com ele quando ela se oferecia para ser sua dupla em algum trabalho ou até mesmo para estudarem tecnologia juntos, afinal, esta era a área de Jullie. O mais incompreensível, para nós, era que mesmo sumindo sempre Peter era um aluno exemplar em nossa escola, não conseguíamos entender como.

Caminhei em direção ao lado de fora da escola, não precisava de água, mas sim de ar puro e Sol. A sensação que o Sol me causava era estranha e, ao mesmo tempo, completa. Meus poderes, quando expostos durante ao dia, especialmente se há presença do Sol em minha pele, são mais fracos, mas ainda sim muito potentes, o Sol, tanto quanto a Lua, mas em uma menor proporção, é como o meu carregador, ele ajuda a recarregar minha energia e se some por muitos dias, devido a um tempo nublado, por exemplo, fico cada vez mais fraca até uma certa porcentagem. Não morrerei se não receber o calor do Sol ou a iluminação da Lua, nem mesmo perderei meus poderes, apenas me sinto fraca e pesada com um desânimo tão absurdo que mal consigo explicar o que acontece. 

A semana havia sido nublada e agora, depois de alguns dias, o Sol mostrava sua cara de modo que eu pudesse me recarregar. O Sol é minha fortaleza e fraqueza, ao mesmo tempo, segundo minha mãe isso ocorre por causa da famosa lenda antiga a qual consiste no Sol e a Lua se completarem devido a seu árduo amor. Para mim, isso é apenas uma bobeira que vem de bônus á minha desgraça de ser mutante. Preciso do Sol para conseguir manter minha vida em funcionamento e preciso mais ainda da Lua que me rege e completa quem realmente sou: uma dependente de uma Estrela e, mais ainda, do Satélite Natural da Terra. 

Senti o Sol bater em meu rosto enquanto fechava os olhos respirando fundo, o ar mesclado entrava por meus pulmões enquanto sentia a luz do Sol esquentar levemente minha pele pálida. Era como se sentisse a minha força interior crescendo e sendo alimentada o que, automaticamente, me deixava melhor, tanto física quanto psicologicamente. Na verdade depender de ambos nunca foi meu maior problema. 

O rosto de Marcos sempre esteve em minha mente no último instante em que o vi, quando ele tentou me acalmar e, ao me apavorar, o ceguei com meu escudo brilhante. Após este ocorrido minha vida mudou de pernas para o ar e não foi nada positivo, mas meu passado é algo que pertence a mim e nem mesmo Jullie sabe o que fiz, afinal, Diana Peters não existe mais. 

Abri os olhos ao escutar alguém conversando, sabia que não estavam perto, mas minha audição aguçada sempre fazia com que eu escutasse as conversas alheias caso elas não estivessem extremamente longes. Uma voz feminina sussurrava algo enquanto outra masculina ria ao escutar o que a garota dizia, virei-me em direção à porta da escola pronta para entrar na mesma de modo que me afastasse da intimidade de quem quer que fosse, não gostava de escutar conversas alheias e muito menos as respirações e os barulhos, então me afastava o suficiente para não escutar mais nada. 

Abri a porta da escola soltando-a e então as vozes pararam e não estavam mais a meu alcance escutá-los, o que era bom. Virei-me para trás quando escutei um barulho grudento e então uma voz masculina gritou:

- Segura a porta!

Parei a porta andando rapidamente até a mesma enquanto segurava a maçaneta cor de mel e descascada devido ao desgaste. 

- Obrigado – ele agradeceu arrumando o cabelo bagunçado.

Dei um fraco sorriso para Peter Parker.

Ele riu sem graça – Atrasado como sempre. 

- Típico – ri forçada enquanto soltava a porta novamente – de onde veio? 

- Casa – ele pigarreou colocando as mãos dentro dos bolsos do moletom azul marinho com o logo da escola – Perdi a hora… De novo. 

Ri balançando a cabeça negativamente – Estava falando ali fora… Não te vi pelo jardim.

Ele deu dê ombros – Estava por ali o tempo todo.

- Certo – sorri passando direto pela porta do ginásio enquanto ia até o bebedouro – Até mais.

Ele deu um fraco sorriso entrando no ginásio, debrucei-me sobre o bebedouro apertando o botão e sentindo a água gelada molhar meus lábios, não estava com sede, mas queria molhar os lábios apenas para Jullie notar que realmente bebi água. 

O sinal bateu fazendo com que me assustasse um pouco, mas logo ri de mim mesma caminhando em direção ao ginásio para encontrar Jullie e irmos ao vestiário para trocarmos nossas roupas, mas no instante em que entrei não a vi na arquibancada onde estávamos antes e logo perguntei para Pamella Mars se ela tinha visto-a, mas a loira negou me ignorando logo em seguida. Por mim procuraria Jullie pelo tempo que fosse necessário, afinal, a próxima aula era de Tecnologia Moderna, uma excelente matéria, mas com um professor tão severo que quando alguém atrasa um minuto para entrar na sala acaba indo para a detenção onde passa quantas horas a mais ele achar necessário. Ou seja, tinha que trocar minha roupa no intervalo de dez minutos entre uma aula e outra e ir para a sala enquanto esperaria sentada em minha mesa pelo professor velho e irritado que desconta as frustrações de sua vida em seus mais de cento e trinta alunos. Mas a maior razão pela qual não ia procurar Jullie era a mais óbvia: talvez ela não quisesse ser encontrada. 

Troquei de roupa rapidamente vestindo minha calça preta e uma blusa comprida de cor marrom claro e com as barras verdes, prendi meu cabelo curto em um singelo rabo de cavalo e sai do vestiário indo até meu armário no corredor. Jullie ainda não havia aparecido e estava começando a achar que ela estava ocupada demais com algum garoto para correr para a aula, talvez Flash Thompson e eu realmente torcia para que fosse porque deste modo a presença dele fazendo palhaçadas seria nula se ambos resolvessem matar aula. 

Fechei o armário segurando meu notebook em mãos, caminhei em direção a sala entrando na mesma e sentando-me na penúltima carteira da fileira da porta, em meu local de sempre. A mesa de trás, a de Jullie, estava vazia, sem seu material ou a cadeira arrastada, ela realmente mataria aula naquela tarde e não sabia responder a mim mesma porque eu ainda ficava surpresa com tal atitude e então ri sozinha pensando que tinha a amiga mais corajosa e insana do mundo. Não que eu tenha sido uma santa e nunca matado uma mísera aula, mas matar aula do Senhor Potto era, praticamente, suicídio porque, de alguma maneira, ele sabia quais alunos estavam realmente ausentes e quais estavam matando sua aula, mas eu sabia que Jullie estava ocupada demais para se preocupar. 

O segundo sinal tocou de modo que o professor, pontualmente, entrasse na sala com sua pasta em mãos. Silenciosamente ele sentou-se à mesa no centro da sala abrindo seu notebook branco em cima da mesma, digitando algumas teclas rapidamente começou a fazer a chamada em ordem alfabética. Abri meu notebook enquanto esperava pelo meu nome, digitei a senha dando de cara com o papel de parede clássico onde, até pouco tempo, havia uma foto escaneada do meu aniversário de cinco anos onde meus pais beijavam minhas bochechas ao mesmo tempo.

- Luna "Mouraes" Cabbot.

- Presente – respondi levantando meu olhar até o professor quem mantinha seus olhos focados na tela clara de seu computador. 

Não perdia tempo o corrigindo com meu sobrenome, afinal, se sequer tentasse seria mandada para a detenção e não estava muito a fim de perder meu tempo olhando para equações insolúveis no quadro negro da Sala de Detenção que ficava no último andar do prédio e era a sala mais iluminada, abafada e calorosa de toda escola. 

- Peter Benjamin Parker. 

- Presente! 

Olhei em direção a porta aberta vendo o garoto atrasado chegar, mais uma vez, atrasado na aula. 

- Eu tô aqui, bem presente, tô meio sem noção da hora porque tive que ajudar essa senhora a atravessar o corredor e ela…

- Uma hora na detenção Sr. Parker – Sr. Potto resmungou com sua voz rouca.

- Mais uma vez? – Peter andava em direção a sua carteira, ao meu lado, de costas enquanto fitava o professor – acho que sou conhecido como o cara da detenção de tanto que o senhor me manda para lá, com todo respeito.

Algumas pessoas riram disfarçadamente, mas o professor apenas levantou o olhar de seu computador para Peter quem colocava a mochila pesada em cima da mesa branca. 

- Duas horas, Sr. Parker. 

- Ah, fala sério Sr. Potto, preciso...

- Peter, cala essa boca – Harry Osborn, seu amigo que sentava na carteira atrás do garoto o interrompeu.

- Quer se juntar ao Sr. Parker, Osborn?

- Não, senhor – Harry respondeu firme endireitando-se na carteira. 

O professor tornou a baixar a cabeça e finalizar a chamada, abri a planilha em meu computador enquanto esperava o professor terminar a chamada. Logo se endireitou em direção ao quadro negro de modo que escrevesse as anotações necessárias para prosseguirmos com a programação da aula passada. Nada muito difícil e nem mesmo muito fácil, após minha "recarga solar" estava disposta a tentar e adiantar alguns trabalhos das próximas aulas, os quais eu não conseguia fazer devido a minha falta de concentração. 

Mantive meu computador no silencioso e agradeci mentalmente por isso no instante em que a mensagem de meu pai havia chegado onde ele avisava que não dormiria em casa naquela semana e teria que viajar durante o final de semana inteiro a trabalho. Era rotineiro. Não me interessava se era a trabalho ou não, estava acostumada com a ausência de meu pai em minha vida e agora, mesmo morando com ele, não seria diferente. Respondi com um simples "Ok" e ele logo ficou offline, provavelmente se dedicando ao seu trabalho.

Com o falecimento de minha mãe, há dois meses, a guarda, automaticamente, poderia ter sido de minha avó ou de meu pai, ou eu deixava ambos brigarem por minha guarda ou escolhia um dos dois para morar. Não o escolhi. Não a escolhi. A juíza determinou correto devolver a guarda total ao meu pai e isso incluiria morar com ele nos Estados Unidos, minha terra natal, mas ao mesmo tempo, a terra que eu não visitava desde os meus cinco anos de idade. Me assustei tanto com a decisão que, novamente, perdi o controle de mim mesma, mas sozinha na rua durante a madrugada. Não ceguei ninguém naquele dia.

- Srta. Cabbot? 

Ergui o olhar para o professor e todos os alunos me fitavam, senti meu rosto queimar no instante em que observei a mão do professor, suja de giz branco, apontada para uma equação de segundo grau. 

- Pelo que notamos a Srta. Cabbot está perdida e não consegue nos responder que a equação resulta em…

- Vinte e sete – respondi olhando o quadro enquanto fazia a conta em minha cabeça, certa do que afirmava, levantei o olhar para o professor com um pequeno sorriso nos lábios – a equação resulta em vinte e sete.

O professor me fitou por alguns segundos, mas logo resmungou a resposta enquanto a transcrevia no quadro. Sorri enquanto sentia os olhares em cima de mim, me sentia vitoriosa e orgulhosa de mim mesma por tamanha rapidez ao fazer a conta. O professor sentou-se mandando fazermos um exercício baseado na equação o qual completei tão rápido que passei o restante da aula enrolando com o adiantamento de outros trabalhos. 

A hora parecia passar lentamente e eu torcia para que o dia acabasse logo de modo que eu fosse diretamente para casa pra ver televisão enquanto comeria alguns salgadinhos e chocolates do meu pai, ele estava acima do peso não era a toa, ele muito mal se alimentava e só comia porcarias, mas jamais posso julgá-lo, afinal filha de peixe peixinha é. 

O sinal bateu e logo guardei meu notebook na mochila indo em direção ao ônibus escolar pronta para ir para casa. Dentro do ônibus mandei uma mensagem para Jullie quem, obviamente, não respondeu, mas não estava preocupada com ela, pois já estava acostumada com ela sumindo por ai e pelo que notei Flash Thompson sumiu no mesmo instante e se encontrava ausente em todas as aulas após a educação física no primeiro horário. Assim como ela.

Larguei a mochila no sofá retirando minha roupa e mantendo-me apenas com a comprida blusa marrom clara de modo que me sentisse muito a vontade. Meu pai já havia ido embora para sua viagem de negócios e o dinheiro para o fim de semana estava em cima do balcão da cozinha, era dinheiro mais que o suficiente que, definitivamente, não gastaria nem a metade, mas ele sempre fora precavido e, pelo visto, não estava diferente. 

As lembranças que tenho dele durante minha infância são escassas e breves. Lembro do meu último aniversário nos Estados Unidos em nossa antiga casa em Los Angeles, das palavras de carinho ao dizer que me amava e quando me chamava de boneca, da história romântica do Sol e da Lua antes de dormir que me causava uma paz interior inexplicável, das danças malucas ao som de discos infantis onde ele me tirava para dançar sempre com um sorriso no rosto e de outros momentos pequenos, mas significativos. Ele simplesmente não parecia a mesma pessoa, nem mesmo em aparência física. 

Adormeci mudando os canais da televisão, não passava nada de muito agradável naquele momento e acordei com meu celular vibrando embaixo de minha barriga com a música de toque abafada em minha pele. Esfreguei os olhos pegando o celular e dei uma fraca risada ao ver a foto de Jullie, completamente ruiva com um sorriso largo em seus lábios rosados e os olhos fechados. 

- Ei Jules – atendi sentando no sofá. 

- Adivinha quem passou a tarde com Flash Thompson? – ela perguntou animada.

- Uma ruiva que escutou o conselho da amiga e disse ao loiro metido que queria um beijo? – ri brevemente olhando para a televisão. 

- Bom, quase isso.

Fiquei esperando em silêncio a continuação, que veio logo em seguida.

- No instante em que você saiu, ele veio falar comigo. Disse que tinha notado meus olhares para ele e perguntou se eu queria sair da escola naquela hora mesmo para comermos algo.

- Típico. 

Ela gargalhou – Previsível não foi? 

- Com selo Flash Thompson de previsibilidade. 

Mais uma gargalhada – Mas ele não me levou para lanchar.

- Ah mesmo? – forcei minha voz de surpresa – e pra onde ele te levou? 

- Pra um lugar melhor – ela respondeu soltando um suspiro – foi uma ótima tarde. 

Soltei uma breve risada segurando o controle em mãos – Estou feliz por você, Jullie.

- Com essa voz? Me engana! Tá tudo bem? 

Bocejei ainda sonolenta – Acabei dormindo no sofá desde quando cheguei da aula. 

- Potto notou minha ausência? 

- Não – respondi ficando de pé e caminhando até a cozinha – pelo menos não que eu tenha percebido.

- Ele mandou quantos pra detenção hoje? – Jullie perguntou rindo delicada. 

- Só o Parker, de novo – ri da situação. 

Jullie riu do outro lado da linha – Me deixa adivinhar: porque ele chegou atrasado? 

- Exatamente. 

- Ele não se cansa, não é mesmo? 

Abri a geladeira – Vai ver ele tem algum problema pessoal, sei lá. 

- Bom, o Parker não vai pagar meu lanche, por isso vou lá pagar. Te ligo depois.

- Certo – peguei a caixa de leite – Bom apetite. 

- Gracias Latina. 

- Sou brasileira e não falo espanhol, Jullie.

Ela riu – Eu sei. Só queria te ouvir reclamar. Beijos gata.

Ri derramando o leite no balcão – Merda… Beijos Jules.

Desliguei o celular colocando-o no balcão oposto enquanto limpava o leite derramado com a toalha úmida da pia. Joguei a toalha suja dentro da própria pia resmungando para mim mesma o quanto era idiota, teria que sair de casa naquele exato momento para comprar leite porque queria muito tomar um pouco. Não sabia onde acharia leite aquele horário, mas como adorava andar pela rua durante a noite procurar não seria problema. 

Subi as escadas indo para meu quarto pegar meu moletom preto, o vesti pegando algum dinheiro na minha mesinha do computador logo em seguida. Desci as escadas com as mãos nos bolsos da frente do casaco e desliguei as luzes e a televisão na hora de sair. Tranquei a porta me virando em direção a rua, segui pelo caminho de pedras até o passeio e dei de cara com Peter Parker caminhando de cabeça baixa na direção oposta a minha, ele levantou o rosto quando percebeu minha presença e apenas sorri o cumprimentando enquanto passava ao seu lado, ele retribuiu o sorriso desviando o olhar logo em seguida e seguindo seu caminho. 

Éramos vizinhos de portas, mas nunca tinha conversado com ele nada além do necessário, sua tia era uma mulher adorável a qual meu pai, como homem solteiro, já havia cobiçado vez ou outra, mas sem perder o respeito. Peter era um tanto desajeitado e sempre estava atrasado para todo e qualquer compromisso que tinha, uma vez sua tia se queixou com meu pai sobre como ele nunca parava em casa por ficar estudando na casa de amigos ou na biblioteca, ela pareceu tão crente de que o sobrinho passa quase vinte horas por dia estudando que me pareceu injusto dar a ela um pouco da cor da realidade. Não que seja da minha conta, mas duvidava muito que Parker ficava tanto tempo estudando, por mais esforçado e inteligente que ele fosse.

Continuei caminhando enquanto sentia o frio úmido gelar meu rosto e bagunçar meus cabelos curtos. O frio dos Estados Unidos era intensamente mais severo que o brasileiro, sem dúvidas. Encontrávamos quase no fim do ano letivo e o inverno estava para chegar o que faria com que eu tivesse que comprar roupas novas de frio já que as que possuo mal estão me fazendo suportar a baixa temperatura do outono. Não me recordava o quão doído o frio podia ser por ali já que quando voltei para o Brasil tinha cinco anos e as lembranças que possuo são escassas, mas confesso que sentia saudade do frio intenso já que o calor nunca me fizera muito bem devido às minhas condições "especiais". Respirei fundo tentando não pensar nos difíceis anos que me atordoaram ao saber da minha condição e logo consegui quando observei, de longe, um mercadinho com a placa ainda ligada, esperava ansiosamente encontrar meu leite na geladeira lá de dentro.

Fazendo um barulho que indicava minha entrada a porta logo fechou atrás de mim, dei um fraco sorriso para a garota de cabelos curtos e cara fechada quem tomava conta da loja naquela noite, e logo caminhei em direção a geladeira, fiquei alguns segundos parada em frente a geladeira pensando em qual caixinha de leite pegaria e que alguns biscoitos seriam ótimos acompanhantes naquela noite. Peguei uma caixa pequena de leite caminhando até o setor de biscoitos pegando um dos meus favoritos, senti um puxão em minha blusa me dando conta de que estava presa na estante por causa de um arame que me puxou para trás com tanta intensidade que deixei a caixa de leite cair no chão fazendo uma bagunça no chão de azulejo azul da loja.

O sino da porta bateu mais uma vez indicando que alguém entrava. A garota do caixa já estava ao meu lado de braços cruzados olhando para o chão enquanto eu tentava me soltar do arame. 

- Você vai limpar isso ai – ela resmungou apontando para o chão. 

- Me dá o pano que limpo – respondi parando de puxar minha blusa para a fitar.

- Limpa com sua língua – ela sussurrou entredentes.

- Você é louca? – perguntei puxando minha blusa de uma única vez fazendo com que a mesma rasgasse.

Ela deu de ombros – Não temos panos.

A porta novamente bateu seu sino indicando que mais alguém havia entrado.

- Ei, onde eu acho cola? 

A garota e eu olhamos na direção em que a voz perguntava confusa, Peter Parker tinha um pequeno sorriso nos lábios e estava com um moletom azul e vermelho onde tampava seu cabelo com a touca acolchoada e mantinha as mãos nos bolsos da frente. 

- Não vende cola aqui – a garota resmungou para Peter voltando a me fitar – limpa com a blusa, sei lá. 

- Você tá falando sério? – perguntei a fitando um tanto incrédula. 

- Pareço estar brincando? – ela cruzou os braços.

- Não tem pano nessa…

- Tem panos logo ali – Peter apontou para a estante atrás de mim com um fraco sorriso.

- Ela tem que pagar por eles.

- Que seja, gata – revirei os olhos pegando um pano de chão branco e jogando-o em cima da poça de leite pegando a caixa logo em seguida. 

A garota deu de ombros indo em direção ao caixa, o que me deixou aliviada já que não queria e nem pretendia brigar pelo leite que havia acabado de derramar. Obviamente teria que pagar pelo leite que não tomaria e, agora, pelo pano de chão que se encharcava a medida que absorvia o líquido do leite. 

- Precisa de ajuda? 
Levantei o olhar até Peter quem ainda estava parado no mesmo local de antes – Não, valeu.

- Como não vendem cola em um local que tem até pano de chão? – ele soltou uma fraca risada pegando um pacote de biscoito recheado.

O ignorei por não ter o que dizer e por estar furiosa o suficiente com a garota da loja quem havia sido desnecessariamente rude comigo. 

- Bem… - Peter pigarreou – te vejo por ai.

- Tchau, Parker – resmunguei pisando em cima do pano enquanto o arrastava pelo chão. 

- Você não vai a lugar nenhum, garoto.

Ergui o rosto no instante em que escutei a voz grossa ressoar pela sessão de biscoitos, senti meu coração acelerar no instante em que vi a garota rabugenta completamente apavorada e com os olhos marejados enquanto o homem alto e forte usava uma máscara de palhaço e mantinha sua pistola apontada em sua cabeça. 

- Vocês dois, encostem na parede.

Peter manteve-se tão estático quanto eu, ambos assustados com o repentino assalto na loja onde éramos tão vítimas quanto a garota do caixa. 

- Vocês são surdos? – ele passou o braço em volta do pescoço da garota apontando a arma para Peter.

Ele levantou as mãos ofegante – É, cara. Nós te ouvimos. 

Pisei em cima do pano molhado de leite indo em direção a parede encardida do local, a luz piscava e dentre as duas lâmpadas apenas uma funcionava iluminando pouco o local. Peter parou ao meu lado depois de me lançar um breve olhar e abaixou as mãos com a respiração ofegante, ele cerrou os punhos e contraia seu maxilar com tanta força que podia ver o formato quadrado de seu rosto. A garota soltou um breve grito quando fora empurrada com toda a força para perto de nós dois, as lágrimas que ela segurava escorreram e ela tropeçou nos próprios pés quase caindo ao chão sendo segurada apenas pelas mãos de Peter quem, rapidamente, se moveu para segurá-la.

- Me deem suas coisas – ele apontou a arma diretamente para mim – começando por você. 

Retirei apenas o dinheiro que tinha levado para comprar o leite. 

Ele ergueu a mão livre para pegar os pertences que erguíamos de nossos bolsos, ele conseguiu alguns trocados e o celular da garota do caixa.

- Só isso? 

Nenhum de nós o respondeu.

- Cadê a chave do caixa? – ele andou lentamente em direção a garota. 

Ela apenas fechou os olhos chorando.

Ele puxou o gatilho – Não vou perguntar de novo. 

- Ei, cara – Peter o interrompeu tenso – ela tá com medo, talvez se eu falar…

Ele então colocou a arma na testa de Peter fazendo com que ele se calasse. Seu rosto ficou vermelho e sua respiração acelerada. O homem sussurrou para Peter:

- Quando for sua vez de falar, eu deixo. 

Peter apenas o fitou mantendo o silêncio, novamente observei que ele cerrou seus punhos, mas logo abriu as mãos o que me deixou, de certo modo, aliviada, afinal caso ele agisse por impulso poderia prejudicar a todos nós. 

- Na gaveta – a garota do caixa disse com a voz tremula para o homem. Levantou a mão completamente tremula e pálida e apontou para o balcão do caixa fazendo com que o homem se virasse rapidamente na direção apontada mantendo a arma apontada em sua cabeça.

- Se qualquer um de vocês saírem dai, se mexerem ou tentarem fugir eu mato… Não importa qual de vocês – ele fez uma breve pausa e logo parou na frente de Peter aproximando seu rosto com a máscara de borracha medonha – não tentem bancar o herói. 

O homem deu seu primeiro passo para trás em direção ao caixa, mantinha-se virado para ambos os três alternando o cano da arma para cada um. Senti o calor dentro de mim crescer e, então, apavorei em silêncio fechando os olhos com tanta força enquanto desejava que nada acontecesse.

Não de novo. Não ali. Não agora. 

Minha respiração estava falha e, por um momento, não ouvia nada ao meu redor. Queria correr, sair dali, não colocar aquelas pessoas em perigo, nem mesmo o assaltante por mais que ele merecesse. Precisava me controlar, precisava estar controlada para conseguir sair daquela situação e dar suporte para Peter e a garota do caixa. Meu coração estava tão acelerado que poderia saltar do meu peito a qualquer momento. Minha boca estava tão seca, ao contrário de meus olhos que enchiam de lágrimas enquanto pensava em como me controlaria sem sair correndo de todos ao meu redor. 

Abri os olhos quando senti a mão de Peter em meu ombro, sua voz estava baixa perguntando se eu estava me sentindo bem e, por alguns segundos, fui capaz de assentir ao sentir o calor diminuir dentro de meu corpo. Estremeci quando escutei a gaveta do caixa bater de encontro com o balcão, o assaltante erguia o olhar até nós três enquanto limpava todo o caixa rapidamente. Virei meu rosto quando me dei conta de que Peter, em meio a tudo aquilo, tentava acalmar a garota do caixa quem soluçava em um choro silencioso. 

- Luna – Peter sussurrou virando seu rosto em minha direção, mas sem tirar os olhos do bandido – preciso que segure ela.

Não o respondi, apenas o escutava sem tirar os olhos do homem quem enfiava as notas amassadas nos bolsos de sua jaqueta.

- Alguém precisa fazer alguma coisa. 

Virei meu rosto lentamente para fitá-lo, seus olhos castanhos mostravam o quanto ele estava assustado, mas assim que digeri o que ele havia acabado de dizer arregalei os olhos compreendendo.

- Se eu conseguir sair consigo falar com a polícia…

Sussurrei o interrompendo – Você tá maluco? 

- É nossa única chance – Peter virou seu rosto para a garota enquanto a segurava pelos braços – não posso ficar parado aqui enquanto…

- E então o que? – sussurrei entredentes um pouco mais alto do que pensei, pois logo atraí o olhar do bandido quem logo voltou a pegar as notas do caixa – você morre? Essa é sua ideia heroica, Parker?

- Ei! – o homem berrou com sua voz grossa pegando sua arma do balcão e apontando para nós – do que tanto falam?

A garota então caiu ao chão fazendo com que Peter se atrapalhasse e caísse junto ao tentar segurá-la.

- Não se mexa! 

Puxei Peter impulsivamente segurando-o pela manga da blusa de modo que ele não se movesse para lugar algum. Estava tão assustada pela ideia dele sair dali para pedir ajuda que, novamente, tentava me controlar do calor dentro de mim. Se Peter desse um mísero passo para bancar o herói ele morreria. 

- Ela está…

- Que pena! – o bandido manteve a arma erguida para Peter enquanto fitava brevemente a garota caída ao chão – cala essa boca, garoto.

- Sério cara – Peter ignorou sua ordem – só nos deixa ir… Não conhecemos você. 

O homem soltou uma breve e alta risada – Ir?

Senti meu coração acelerar mais uma vez, o nó em minha garganta fez com que eu tentasse engolir saliva com a boca seca, mas apenas causei a mim mesma um enjoo. Não queria morrer, estava amedrontada por mais que não demonstrasse. 

- Quem falou em deixá-los ir? 

- Nós…

Ele interrompeu Peter mantendo a arma erguida – Você fala demais, sabia? Começarei por você, garoto.

O calor tomou conta de meu corpo. Não conseguia controlá-lo mais e minha respiração estava tão ofegante que pôde ser ouvida pelo bandido de frente para nós, quem virou seu rosto em minha direção enquanto eu permitia que o calor tomasse meu corpo como seu. Senti o olhar de Peter sobre mim, mas o ignorei sentindo meu corpo cada vez mais quente, a energia interna saía por cada parte de meus poros e era como se eu enxergasse tudo mais claro que o normal, sabia que meus olhos estavam prateados como o luar e aquilo fez com que o homem mirasse sua arma em minha direção. Sentia meus pés fixos ao chão, mas estava tão leve que era como se estivesse voando. Segurei a mão de Peter ao meu lado com tanta força que escutei seu dedo estalar, mas não me importei, notei que dois de seus dedos estavam abaixados e encostados na palma de sua mão enquanto os demais mantinham-se erguidos. 

O primeiro tiro saiu do cano da arma após o bandido apertar o gatilho em minha direção revelando o escudo. Tentando manter o controle tentava não fazê-lo brilhar, não daquela vez, não de novo. Mas estava sendo em vão a medida que o escudo, que envolvia a mim, Peter e a garota caída ao chão, aumentava seu brilho deixando de ser apenas uma redoma invisível. 

Mais um tiro bateu na redoma fazendo um barulho oco para quem estava por dentro, Peter me fitava e sequer se importava com o bandido ou em soltar nossas mãos assustado. Os tiros foram seguidos, três, quatro, cinco, seis… Em espaços alternados até que perdi as contas, mas logo as retomei quando, ao fitar a máscara do homem, percebi que as balas haviam acabado. A intensidade do brilho do escudo apenas aumentava enquanto eu me esforçava para mantê-la, ao menos, daquela maneira.

O homem correu em direção a porta fazendo com que o sino batesse indicando que ele havia passado da porta e corria para qualquer lugar longe dali. Fechei os olhos com certa força liberando todo o calor e a energia guardados dentro de mim, com o bandido fora dali e Peter e a garota do caixa dentro do escudo ninguém se machucaria com o brilho ofuscante.

Soltei a mão de Peter abrindo os olhos e sentindo todo o peso sair de meu corpo, tudo ficou imensamente claro e, por alguns segundos, não consegui enxergar nada na loja além da energia liberada pelo escudo. Sentia meu corpo tão leve que podia ser levada pelo vento, meu coração havia normalizado e também a respiração.

Mas me sentia fria e tremula, e sem mesmo perceber desmaiei.


Notas Finais


E então, o que acharam? <3


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