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História Civil War: Moon. - Passado.


Escrita por: Seola______

Notas do Autor


Mais um! Espero que gostem! Sintam-se a vontade pra comentar!

Capítulo 6 - Passado.


Assustei-me com o barulho atrás de mim e, com o coração acelerado, me levantei da beira do prédio me preparando logo para o pior, afinal, eu estava em uma parte um tanto quanto deserta e perigosa da cidade, mas era um dos melhores lugares que eu conhecia que me aproximava da Lua, e não apenas porque ele era alto, mas sim porque parte da noite seu terraço descoberto e abandonado era completamente iluminado pela Lua.

Quis perguntar quem estava por ali, a Lua já não iluminava toda sua parte e então sabia que tinha alguém nas sombras pronto para fazer algo contra mim, por qual outra razão teria alguém, àquele horário, em um telhado de um prédio abandonado? A não ser que fosse alguém como eu, com esses poderes e que queria ficar mais próximo da Lua para pensar no quão covarde era. Provavelmente a opção de ser alguém querendo se dar bem causando o mal às custas de outro alguém era a resposta mais óbvia.

- Quem tá ai? – perguntei impulsivamente me odiando por ser tão idiota a ponto de pensar que alguém me responderia – eu tenho uma arma e não tenho medo…

- Ei, sou eu. 

Homem-Aranha saía de trás da parte escura do prédio com as mãos para cima como se estivesse se rendendo à mim: uma idiota que havia mentido sobre ter uma arma por blefe.

- Oi – disse um pouco mais aliviada.

- Oi – ele se aproximou.

- O que faz por aqui? – perguntei curiosa e desanimada.

- Eu quero te agradecer por hoje.

- De nada – forcei um sorriso cruzando os braços – obrigada por nos salvar.

- Por que você estava chorando? – ele perguntou parando na minha frente e retirando a máscara – tá tudo bem?

- Eu não tava chorando – menti arqueando as sobrancelhas.

- Eu tava passando… Indo pra casa, na verdade, e te vi por aqui. O que já é bem estranho considerando que são quatro da manhã de uma quarta-feira – ele cruzou os braços segurando a máscara e os óculos em mãos – mas não é mais estranho do que ver você chorando no alto de um prédio de vinte e cinco andares que foi abandonado e é incrivelmente macabro.

Soltei uma breve risada – Eu tô bem, obrigada por se preocupar. 

- Tudo bem se assustar – ele deu de ombros andando em direção a uma das claraboias do prédio – quando eu descobri que tinha esses poderes eu não tinha ideia de como eles funcionavam. Até hoje me assusto com algumas coisas que faço.

O fitei sem ter o que falar.

- Como quando eu segurei um carro com as pernas – ele subiu na claraboia ficando na sua posição de aranha – eu simplesmente pensei que não daria nada de errado se eu tentasse parar um carro que vinha em minha direção há uns trezentos quilômetros por hora com minhas pernas de adolescente – ele riu de si mesmo voltando a me fitar – pensando nisso mais tarde eu me dei conta do quão imbecil que fui.

- Foi o dia em que você salvou dezenas de pessoas dentro de um ônibus, não foi? – perguntei me lembrando do vídeo que tinha visto na internet.

- Foi – ele respondeu balançando a cabeça.

- Você é um herói incrível, Peter.

Ele sorriu me fitando – Obrigado. Mas você quem me salvou hoje, de novo. 

- E você salvou os alunos da escola. Nossos amigos e a mim – sorri o fitando – obrigada Homem-Aranha.

Ele ficou em silêncio e eu senti meu coração acelerar mais uma vez. Estávamos sozinhos no alto de um prédio, era a chance que eu tanto queria para lhe contar do meu passado, eu não podia mais esconder quem eu realmente era e preferia ser eu a lhe contar sobre o ocorrido com Marcos do que ele saber de outra maneira por outras pessoas. Andei em direção à claraboia me encostando na mesma ficando ao lado de Peter, cruzei os braços e então fechei os olhos soltando de uma vez só:

- Eu ceguei uma criança.

Peter se manteve em silêncio. Mas sua expressão mudou completamente, ele tinha um fraco sorriso no rosto que agora havia sumido completamente, ele franziu a testa confuso e então abriu a boca para falar, mas o interrompi.

- Eu tinha oito anos. Eu morava com minha mãe e minha avó no Brasil – fiz uma breve pausa sentindo minha garganta arder – nós fomos a praia um dia porque o Sol resolveu aparecer depois de dias e, assim como a Lua, ele me dá forças, mas em proporções menores. Minha mãe viu que eu estava muito fraca e então não quis esperar até a noite pra ver se a Lua apareceria. Talvez se tivéssemos esperado nada daquilo aconteceria.

Peter manteve-se em silêncio, não conseguia olhar para ele enquanto contava.

- Eu tinha oito anos e estudava em casa, saía apenas com minha mãe ou com minha avó, não tinha amigos e nem contato com outros familiares a não ser ambas – engoli seco esfregando meus braços ao sentir o vento bater em meus braços nus – não as culpo. Fomos a praia nessa manhã e lá tinha um casal com seus três filhos, um de dezesseis, outro de treze e um de oito. Eu estava olhando o mar quando uma bola azul bateu no meu pé e o mais novo deles veio buscar, ele se chamava Marcos.

Fechei os olhos sentindo a respiração falhar um pouco. Era completamente difícil para mim falar sobre. Respirei fundo voltando a abrir os olhos, fitar Peter e a falar:

- Ele foi a primeira pessoa, depois de meus pais e familiares, a saber dos meus poderes. Meus olhos estavam prateados porque eu estava fraca e não conseguia controlá-los como consigo agora – dei um breve sorriso desviando o olhar para o chão – ele me elogiou, disse que era legal poder mudar a cor dos olhos e aquilo me surpreendeu positivamente, eu estava tão feliz por ele não ter me achado uma aberração como minha avó sempre dizia que achariam caso eu não aprendesse a me controlar em público – soltei uma risada abafada sentindo os olhos lacrimejarem – eu… – fiz uma breve pausa tentando, ao máximo, segurar o choro – eu aceitei brincar com ele e os irmãos dele porque tudo aquilo me parecia surreal, eu estava feliz, como nunca antes. Eu tinha amigos. E ele contou aos irmãos sobre meus olhos. Ele não fez por mal, ele estava maravilhado com o que tinha visto e não sabia que eu era, na verdade, uma ameaça sem controle.

- Você não era uma ameaça sem controle, Luna – Peter disse me interrompendo por alguns segundos.

Sorri levantando meu olhar até ele – Eles insistiram que eu fizesse de novo, me insultaram e me chamaram de mentirosa enquanto Marcos pedia para eles pararem. O mais velho me empurrou na areia e Marcos veio saber se eu estava bem – parei de falar, novamente, sentindo as lágrimas escorrerem – e eu estava tão amedrontada, eu pensei que ele fosse me obrigar a fazer com que meus olhos ficassem prateados de novo e eu não sabia como fazer isso…

- Luna… - Peter tentou falar algo enquanto me fitava de cima da claraboia, mas nem ele sabia o que falar.

- Eu ativei o escudo, sem saber como, foi apenas um espasmo, eu não sei. E tudo brilhou. Marcos estava perto demais quando isso aconteceu e seus olhos ficaram brancos e leitosos.

Levantei meu olhar até Peter quem não sabia o que falar, ele apenas me olhava sem sorrir, sem reação, seus olhos castanhos apenas estavam concentrados nos meus enquanto eu contava o que tinha acontecido.

- Eu o ceguei, Peter. 

Peter desceu da claraboia vindo em minha direção – Não foi sua culpa. Você tinha oito anos. Você não pode controlar.

- Talvez eu pudesse, eu não sei – me afastei dele dando alguns passos para trás – eu nem tentei. Eu sequer quis tentar impedir que aquilo acontecesse, eu só quis que aqueles garotos me deixassem em paz, eu…

- Tá tudo bem, Luna - Peter tentava se aproximar de mim – você era só uma criança. Nem sempre temos total controle de nós mesmos.

Ele fez uma pausa me fitando. Não o culpava por não ter mais o que falar, eu havia soltado a bomba diretamente em cima dele e até mesmo aquela reação de Peter, sendo compreensivo e amigável – como sempre – me surpreendia. Pensei que ele, talvez, não fosse ser tão legal quanto estava sendo e tive certeza que estava tudo bem quando, ao parar de me afastar dele, afaguei meu choro em minhas mãos, evitando encará-lo enquanto chorava, e pude sentir seus braços em volta de mim. Por um instante quis empurrá-lo para longe com medo de machucá-lo caso eu perdesse o controle, mas simplesmente relaxei meu corpo retirando as mãos de meu rosto e enterrando-o na jaqueta de Homem-Aranha que Peter utilizava.

Por que ele fazia aquilo? Por que ele era tão amigável comigo? Meu complexo de inferioridade por sempre ter sido chamada de aberração por minha avó fazia com que eu me afastasse de tudo e todos de uma maneira tão fria que nem eles compreendiam. Jullie foi a primeira amiga que tive em anos, mas de longe ela sabe do que sou capaz e das coisas que aconteceram comigo no passado, simplesmente porque tinha medo de que ela não compreendesse e se afastasse com medo, o que não faria com que eu ficasse com raiva dela ou algo do tipo, na verdade, eu até compreenderia.

E a primeira pessoa para qual eu conto sobre meu passado, o passado que tanto me incomoda e pesa como um chumbo em minhas costas, me abraça e tenta dizer que está tudo bem, por mais que ele não precise fazer isso, assim como não precisava me contar seu maior segredo e o fez só pra mostrar que podíamos confiar um no outro. 

Me soltei de seu abraço o empurrando de leve e ele compreendeu que era a hora de me soltar. Passei as mãos no rosto secando as lágrimas enquanto levantava o olhar até seu rosto, ele mantinha o mesmo sorriso amigável em seus lábios enquanto me fitava um pouco mais tranquilo.

Peter Parker era bonito.

Nunca tinha reparado nele antes e não havia razão para estar fazendo aquilo agora, mas ele realmente era bonito. Desviei meu olhar sem graça e pigarreando tentando disfarçar o simples fato de que fiquei parada alguns segundos observando seus traços do rosto.

- Você tá bem? 

Assenti em silêncio. 

- Olha, não foi sua culpa. Ficar se culpando por isso não é justo. Eu sei que isso te marcou principalmente porque você acha que podia ter feito algo, mas não, você não podia. Sei que pensa que talvez pudesse ter se controlado ou dado um escudo a ele, sei lá – Peter gesticulava com as mãos enquanto segurava sua máscara – mas a questão é que não cabia a você fazer isso. 

O fitei segurando o choro, mais uma vez em vão. 

- Olha, o que eu tô tentando dizer é que nada acontece por acaso. Se culpar pelo que aconteceu no passado não te ajuda em nada, falo por experiência própria. 

Apenas o fitei em silêncio a medida que o choro cessava. Ele então soltou após um tempo:

- Meu tio morreu tem um tempo e me culpo por isso até hoje.

- Como você pode se o culpado pela morte dele? – perguntei lembrando do meu pai falando como ele havia morrido.

- Ele foi assassinado e eu não fiz nada pra impedir isso porque estava ocupado demais usando meus poderes pra ganhar dinheiro.

Disso eu não sabia. Estávamos nos abrindo um com o outro e, pela primeira vez, vi Peter sem seu sorriso amigável e aparentemente triste.

- Não é sua culpa – sussurrei secando as lágrimas com a palma das mãos. 

- Mas quem disse que consigo aceitar isso? – ele cruzou os braço – não foi sua culpa o que aconteceu quando era criança. Mesmo que não pensemos isso devemos pelo menos seguir em frente fazendo o bem. Porque nós somos especiais e não devíamos manter apenas para nós mesmos toda essa habilidade sendo que podemos ajudar o mundo. 

- Não sou uma heroína, Pete – o fitei cruzando os braços com um pequeno sorriso nos lábios. 

Ele riu – Não estou dizendo para vestir um casaco, uma máscara e sair saltando pelos prédios por ai – ele riu dando de ombros – por mais que eu ache isso extremamente sexy. 

Ri me mantendo em silêncio apenas o fitando, sabia que ele não queria me transformar em uma heroína por causa dos meus poderes e essa era uma das maiores razões pelas quais eu me sentia a vontade com Peter. Ele sabe do que sou capaz e nem por isso quer me ver tentando parar bandidos com meu escudo ou enfrentando super vilões com chifres gigantescos, e isso me deixa imensamente tranquila. Nunca sequer havia cogitado a possibilidade de tentar ajudar os outros vestindo uma roupa especial e parando bandidos a cada esquina de Nova York, não era o meu tipo e, mais do que isso: não sei do que sou capaz. Se machucasse uma multidão ao tentar defende-los simplesmente porque perdi o controle jamais me perdoaria.

 - Sei que você ajuda as pessoas na medida do possível e sem nem usar seus poderes para isso – ele, novamente, voltou a sorrir me fitando – é aquele ditado clichê que todo mundo vive compartilhando nas redes sociais: nem todo herói usa capa e, se eu posso completar: nem colant, nem roupas especiais, nem roupas personalizadas e bandeira dos Estados Unidos enrolada no corpo.

Ri brevemente sem mostrar os dentes enquanto Peter sorria ao me fitar, eu compreendia o que ele estava falando e não podia concordar mais, porém o fato de ter habilidades e mantê-las somente para mim parecia tão errado quanto assaltar um banco. Era como se uma mãe de família fosse violentada na rua e eu passasse direto por medo de apanhar ou simplesmente por achar que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”. Mas eu não conseguia ser uma heroína, apenas de pensar na ideia de enfrentar homens e mulheres com sede de vingança, poder e caos me dava calafrios, eu sequer sabia lutar, muito mal conseguia correr por cem metros sem antes fazer uma pequena pausa completamente ofegante, que dirá salvar o mundo de uma ameaça alienígena.

Certo, não preciso ir tão longe porque da ultima vez em que isso aconteceu foram precisos seis vingadores para dar certo e, ainda sim, a catástrofe e a destruição foram quase que totais. Mas só de pensar em parar um batedor de bolsa de velhinhas eu fico nervosa em ambos os sentidos, nervosa por pensar que não me sucederei na tentativa de pará-lo e irritada por existir pessoas com uma índole tão ruim. Acho que se houvesse uma história sobre mim também não seria uma vilã, mesmo com toda a infância sofrida e os anos injustos no hospício.

- Eu entendo o que quer dizer – falei depois de um tempo enquanto me virava de costas para Peter andando lentamente em direção a borda do telhado – quando eu era pequena escutei minha mãe e minha avó falando sobre uma escola para jovens superdotados. Eu não sabia o que aquilo significava, foi saber sobre eles na televisão quando eu tinha uns treze anos e eles lutavam por algo que eu não entendia. Claro que não fui, minha avó não deixou e nunca tocamos no assunto.

- Uma escola de superdotados? – ele perguntou confuso – eu ouvi algo do tipo, os X-Men não é?

Assenti balançando a cabeça positivamente.

Peter prosseguiu – Ouvi sobre eles algumas vezes, mas não os conheço. Você foi chamada pra participar?

- Sim. Nunca escondi minha identidade, mas, em compensação sempre me escondi dentro de casa – subi no parapeito do telhado – talvez eles me dessem alguma coragem para enfrentar tudo isso.

Peter soltou uma fraca risada, mas se manteve em silêncio, coloquei as mãos nos bolsos da blusa de moletom quando um vento forte passou por nós. Peter andou até a beira do prédio onde eu estava de pé e agachou-se ao meu lado observando a cidade um pouco mais parada que o normal, mas não era de se estranhar, afinal era mais de quatro horas da manhã. 

Ficamos um grande tempo em silêncio, creio que nenhum dos dois tinha algo para falar devido a quantidade de desabafos que foram feitos, não só ali naquele telhado, mas ao longo da semana. Pensar que, cerca de três dias atrás, eu e Peter sequer nos cumprimentávamos parecia mentira, não éramos os melhores amigos do mundo como a Jullie era minha e o Harry, provavelmente, o dele, mas parecia que nos conhecíamos, convivamos e conversávamos por muito mais tempo que alguns dias e isso era ótimo, pelo menos eu estava achando realmente muito bom.

Sentei-me no parapeito ficando com as pernas para fora do telhado, o prédio realmente era muito alto e se eu não me sentisse tão confortável, por causa do luar ali, eu jamais ficaria por lá. O prédio realmente era imenso e, mais do que isso, era realmente macabro. Eu não sabia a história do prédio, mas alguns dias não me sentia bem por lá e então não permanecia. A aura, nesses dias, não era nem um pouco boa. 

Peter sentou do meu lado, o que indicava que ele ficaria por ali, o que me fez perguntar internamente se, assim como eu, ele estava confortável vendo tudo dali de cima enquanto a lua iluminava ambos. Ele virou seu rosto em minha direção e sorriu enquanto balançava os pés para fora do prédio, não era como se quiséssemos  falar algo a mais, não precisávamos, não estávamos como desconhecidos que, ao se encontrarem em uma situação silenciosa juntos, tentam puxar todo e qualquer assunto apenas para não parecer antipáticos. Peter, definitivamente, não era antipático e mesmo com meu jeito um pouco fechado, o qual raramente aparece com Peter por perto, eu também não era.

Me encolhi devido ao frio, me sentia um tanto idiota por não ter me dado o trabalho de carregar comigo outra blusa imaginando que o frio ali estava começando a ficar severo. Esfreguei minhas mãos nos braços tentando não aparentar estar com tanto frio quanto realmente estava, afinal, eu estava com uma blusa de frio e, provavelmente, eu só estava com aquele frio todo porque havia desacostumado com aquele clima devido aos anos em que permaneci no Brasil.

Peter se mexeu ao meu lado e virei meu rosto para olhá-lo e então observei que ele retirava seu casado de Homem-Aranha, ele estendeu-o em minha direção com um fraco sorriso no rosto enquanto puxava sua mochila para perto. Neguei balançando a cabeça negativamente e ele insistiu jogando o casaco grosso por cima de meus ombros, disse que precisava mudar de roupa de qualquer maneira e que colocaria o casaco que tinha ido para a escola. Acabei aceitando depois de me sentir incrivelmente aquecida com o casaco nos ombros, fechei o zíper me sentindo, por um instante, uma heroína.

- Há algo que quero falar – soltei as palavras fazendo com que meu coração acelerasse.

Peter fechava o zíper de sua outra jaqueta colocando o capuz em seguida – Claro, pode falar.

- Quando tudo isso aconteceu com o garoto, a mãe dele, obviamente, surtou. Ela queria que eu pagasse de todas as maneiras pelo que tinha feito com seu filho e não a culpo – olhei para minhas mãos cobertas pelo casaco onde apenas as pontas de meus dedos apareciam – para me proteger, minha mãe e minha avó resolveram que eu deveria fazer um tratamento psicológico intensivo.

- Você quer dizer… Mental? Tratamento mental? – Peter perguntou ao meu lado.

Balancei a cabeça positivamente – Sim. 

- Caramba… – ele sussurrou.

- Sim – repeti.

Fiz uma breve pausa olhando para as pontas dos meus dedos frios, a blusa de Peter começava a me esquentar e estava muito grata por isso, afinal, estava realmente frio ali em cima. Lhe lancei um rápido olhar e ele me fitou virando seu rosto para me encarar, resolvi prosseguir:

- Minha avó sempre insistiu para que eu fosse internada, mas minha mãe nunca deixou. Quando eu tinha treze anos minha mãe passou mal e descobrimos que ela tinha tumor cerebral e estava avançado o suficiente para que ela ficasse no hospital por um bom tempo. Minha avó, querendo me ver “curada” – soltei uma abafada risada sarcástica – decidiu que eu seria internada em uma clínica psiquiátrica. Eu tinha treze anos. Minha mãe estava completamente fraca e eu queria ficar ao lado dela, só isso, nada mais, mas eu não pude porque minha avó achava que meus poderes eram removíveis. 

- Sinto muito, Luna – Peter sussurrou novamente enquanto me fitava.

- Obrigada – sussurrei de volta desviando meu olhar para meus pés – eu só pensei que deveria saber.

- Obrigado mais uma vez – ele falou ao meu lado, virei meu rosto para olhá-lo com um pequeno sorriso nos lábios – sua mãe, ela…

- Sim – assenti balançando a cabeça positivamente – ela morreu no início do ano e ai vim morar com meu pai.

- Meus sentimentos.

- Obrigada, Peter – forcei um sorriso maior – agora chega de falar da minha triste história. Me conte algo de você. 

Ele sorriu esticando as costas e virou-se para fitar a cidade – Não sei se já disse… Mas sou o Homem-Aranha.

- Não brinca! – fingi uma cara de surpresa enquanto segurava o riso.

- Pois é! 

- Fui picado por uma aranha radioativa e ganhei esses poderes maravilhosos – ele abriu os braços para cima rindo – eu posso escalar paredes, ganhei força, mais equilíbrio, me tornei bem mais resistente, ganhei um sentido de aranha…

- Sentido de aranha? – cruzei os braços arqueando as sobrancelhas – o que é isso?

- Bem – ele abaixou os braços ficando de pé na beira do telhado, deu uma cambalhota para trás caindo no chão na sua pose de aranha de sempre – venha cá. 

Soltei uma fraca risada me virando lentamente em direção ao telhado sentindo o vento bater em minhas costas enquanto eu ficava de costas para a cidade, fixei meus pés no chão de concreto do telhado saindo da beira do prédio. 

- O que vamos fazer? – perguntei cruzando os braços parada a sua frente com uma certa distância – voar pelos prédios de novo?

Ele riu balançando a cabeça negativamente – Me dê um soco.

O fitei completamente confusa, sem entender. Soltei uma gargalhada achando completamente engraçado o que ele estava me pedindo, primeiramente porque eu jamais lhe socaria, em segundo lugar porque eu sequer sabia como dar um soco. Fiquei séria no instante em que ele abriu os braços me convidando para socá-lo, o fitei cerrando os olhos e ele perguntou:

- O que está esperando?

- Não vou te socar, Parker – respondi séria.

- Por que não? Não consegue?

- Isso... Você é louco?

- Você me perguntou o que era meu sentido de aranha e eu tô tentando te mostrar.

- Mas por que eu tenho que te socar?

- Pra ativar o sentido de aranha – ele se aproximou com passos lentos e largos – vamos lá, você não vai me machucar.

- Eu não… eu não posso te socar, Parker – ri observando-o se aproximar.

- Claro que pode, é só…

Ele parou de falar no instante em que pegou o celular no bolso de sua calça, o celular parecia piscar como luzes de uma sirene e logo compreendi que era o chamado da polícia no aplicativo que ele tinha para ajudá-los como Homem-Aranha. Ele mexia no celular completamente sério e então abaixei o zíper de seu casaco retirando-o logo em seguida, Peter guardou o celular e quando ia falar algo apenas me fitou estendendo o casaco para ele. Ele sorriu pegando o casaco de minha mão e colocando-o entre as pernas enquanto retirava o casaco da escola.

- Aqui – ele estendeu em minha direção – fique com esse.

Não neguei, pois estava com muito frio – O que está acontecendo? 

- O de costume – ele vestia o casaco rapidamente – assalto à joalheria.

Vesti seu casaco me encolhendo no mesmo, sentia a ponta do meu nariz gelado tanto quanto os dedos de minhas mãos, talvez fosse melhor eu ir para casa. Peter colocou sua máscara e os óculos de sua roupa caseira, pegou sua mochila colocando-a nas costas e então levantou os óculos até a testa me fitando.

- Você devia ir pra casa.

- Eu ficarei bem – o fitei sorrindo – cuidado lá. 

- Pode deixar – ele ajeitou o óculos andando em direção a borda do prédio. 

Senti meu coração acelerar no instante em que ele passou do meu lado, apenas fechei os olhos respirando fundo. 

- Peter – o chamei ainda de costas.

Ele apenas virou-se para trás com a mão erguida.

- Eu quero ir com você – fechei os olhos me virando na sua direção.

- Sério? – ele perguntou abaixando a mão. 

- Eu me senti a pior pessoa do mundo quando fugi como uma covarde esta manhã enquanto você enfrentava o Rhino sozinho.

- Ele não era problema seu. 

- E nem seu, mas ainda sim você estava lá – fiz uma breve pausa andando em sua direção enquanto falava séria – simplesmente porque você tem essas habilidades e sabe que o certo a se fazer é usá-las para ajudar os outros. Eu não sei lutar ou fazer as piadas que você faz, mas eu quero aprender… Eu quero fazer o bem porque eu sei que posso.

- Acho que isso não vai ser possível.

O fitei em silêncio, tentei hesitar, mas não saía uma mísera palavra de meus lábios, eu estava realmente surpresa pela negação de Peter.

- Meu senso de humor e minhas piadas são únicas. Nem mesmo se eu te ensinasse você aprenderia – ele deu ombros soltando uma risada abafada pela máscara. 

Ri o fitando, fechei os olhos balançando a cabeça negativamente. Ele não seria o Homem-Aranha se não fizesse alguma piada naquele momento. Ele ergueu a mão em minha direção e encarei sua luva vermelha. 

- Venha, não vou deixar que te machuquem.

- Eu te cubro, Parker.

- Quem? – ele perguntou fazendo uma voz mais grossa.

Segurei sua mão subindo no parapeito do prédio, ri enquanto Peter lançava sua teia no prédio mais próximo – Senhor Aranha… Eu quis dizer senhor Aranha.

- Claro que sim – ele manteve a voz grossa enquanto passava o braço em volta da minha cintura – sugiro que segure firme.

Passei o braço em volta de seu pescoço – Vamos nessa, Cabeça Teia.

- Ei! – ele protestou virando seu rosto para me fitar – que apelido é esse?

Apenas ri – Caramba, você não sabe das coisas sobre si mesmo.

- Depois você me conta.

Apenas assenti e ele então impulsionou seu corpo para frente pegando ou impulso suficiente para a teia já lançada, fechei os olhos sentindo o frio na barriga mais forte que o normal. Eu estava indo para a cena de crime com o Homem-Aranha, que diabos eu estava pensando? Abri os olhos completamente apavorada. Mas era um pouco tarde demais para retroceder.


Notas Finais


E ai, o que acharam?
Beijos!


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