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História Civilian - Mercy


Escrita por: xxxumaico

Notas do Autor


Oi, amores!
Obrigada pelos comentários <3
Espero que estejam gostando!

Capítulo 3 - Mercy


Fanfic / Fanfiction Civilian - Mercy

Civilian – Mercy

Isabelle Walsh

O rapaz me fitou com desaprovação, como se buscar pela identificação da pessoa que, aparentemente, havia salvado a mim e a minha irmã, fosse algo errado a se fazer. Carol suspirou, reprovando o comportamento dele, e colocou sua mão sobre a minha, logo me informando que o nome do tal cara da crossbow era Daryl. Ele e a moça loura, que eu havia descoberto se chamar Andrea, saíram do trailer sem pronunciar mais palavras, o que me causou certo incômodo, embora Carol fosse atenciosa e me dissesse para não me preocupar com os dois.

 

– Belle!

 

Eu ouvi a doce e conhecida voz de Elena, trazendo-me um alívio que me fez respirar regularmente outra vez. Ela saía do banheiro de braços abertos e eu fiz o mesmo, contudo, quando El se aproximou do meu corpo para nos juntarmos em um abraço, eu senti a dor do meu corte me corroer novamente e era como se ele abrisse mais uma vez. Levei as mãos até a região e a pressionei, tentando não emitir som algum.

 

– Você não deveria se mexer. – alertou Carol. – Precisa de pontos.

 

– É, certo. – eu ri debochadamente, sentindo cada vez mais o corte latejar. Respirar doía. – Só se me colar com fita crepe, e ainda será difícil.

 

– Há um lugar onde poderemos cuidar de você. – ela tentou me tranquilizar e eu preferi não questioná-la. Enquanto minha irmã estivesse perto de mim, alimentada, abrigada e protegida, eu não questionaria mais nada.

 

 

Não dormira naquela noite, apenas observara, ao meu lado, Elena adormecida. Ela havia me contado que seu agressor não tivera tempo de fazer mais do que eu havia visto, e eu agradeci por isso; não queria adicionar estupro à lista de coisas que sofreríamos naquela nova era.

 

Sentia-me nostálgica, então, da minha bolsa, tirei as únicas duas fotos que haviam me restado: uma, com meus pais e Elena. No verso desta, estava escrito “Boa viagem, querida. Lembre-se de nós!”. Ela estava em quase perfeito estado, exceto pelo fato de estar amassada e um pouco suja. Contudo, parecia nova em comparação a outra foto, na qual meu tio, Shane, segurava-me enquanto eu ainda era um bebê. Eu havia o visto da última vez cerca de dois meses atrás, no meu aniversário, que comemoramos todos juntos em casa. Meus olhos marejaram ao me lembrar que mais uma pessoa da minha família estava, provavelmente, morta. Tio Shane era forte, mas mesmo os mais resistentes já haviam partido. Lembrar dos sorrisos e domingos que compartilhávamos unidos era como ser cortada mais incontáveis vezes, mas aquelas feridas jamais cicatrizariam. Era a falta daquelas pessoas que me fazia levantar todos os dias e me perguntar do que valia a vida em dias sombrios como aqueles. Eu ainda tinha esperança? E, mesmo assim, todos os dias, eu pedia a Deus por misericórdia.

 

Cochilei por alguns minutos quando já havia amanhecido e, quando acordei, o trailer já se movimentava e Carol me disse que estávamos indo em direção ao lugar que ela mencionara no dia anterior. Eu ansiei pela nossa chegada, pois estava com febre, já suava frio e sentia todos os meus músculos doerem. Era como se eu tivesse sido mordida, mas parecia ser o início de uma infecção e eu precisava a deter rapidamente se quisesse sobreviver.

 

Quando o trailer parou, eu não consegui visualizar nada pela janela além de muita grama. Elena permanecia ao meu lado e segurava a minha mão, dizendo-me palavras de conforto já que eu não conseguia parar de sofrer com a dor. Ela era tão madura para uma criança, e aquilo me trazia felicidade e preocupação; eu sentia que sua infância havia sido roubada. Carol saiu do trailer junto com um senhor que não haviam me apresentado, Andrea e outro rapaz asiático que eu também não sabia o nome. Daryl não estava no trailer e eu não o vira outra vez desde o dia anterior.

 

Eu e Elena aguardamos pacientemente por alguns minutos no interior do veículo, logo Daryl apareceu, com a expressão facial fechada de sempre, e me encarou por alguns instantes. Eu sabia que ele queria me dizer algo, mas não sabia como.

 

– Já chegamos. – ele disse o óbvio e eu assenti com a cabeça, esperando pelo resto. – Vou ajudá-la a sair, venha. – Daryl estendeu seu braço para mim.

 

Elena passou um de meus braços pelo seu pescoço e, incrivelmente, seu pequeno corpo parecia me ajudar minimamente. Ela me desencostou do colchão e eu gritei por conta do movimento, sentindo o ferimento abrir ainda mais; El parou de se mover ao perceber meu claro incômodo. Eu abri os olhos, que encontraram os de Daryl: azuis e preocupados.

 

– Vamos, rápido. – eu pedi e coloquei meus dois pés no chão.

 

Já não conseguia conter as lágrimas que eu derramada incontrolavelmente, denunciando a minha forte dor. Levantar-me era um sacrifício, e eu imaginei que andar não seria diferente. A profundidade daquele corte me atrapalharia por um tempo e eu me encontrei suplicando interiormente a Deus para que me ajudasse novamente, mas, como de costume, Ele pareceu não me ouvir e a dor se prolongou por minutos, até que senti um braço em minhas costas e outro erguendo minhas pernas. Daryl havia me levantado, dando-me a capacidade de respirar fundo e sentir o alívio que era não forçar o recente machucado.

 

– O que está fazendo? – eu perguntei em baixo tom, remexendo-me para poder sair. – Consigo andar sozinha.

 

– Não é o que parece. – constatou ele, virando o rosto para diminuir a proximidade entre nós dois. – E você precisa sair daqui, então…

 

Comecei a perceber que eu teria que achar uma maneira de lidar com modo grosseiro com o qual Daryl construía suas frases, pois aquele parecia ser o seu jeito e não apenas um dia ruim. Elena seguiu em nossa frente e Daryl logo desceu do trailer, o que me fez balançar contra o seu corpo e sentir como se meus ossos fossem quebrar a qualquer momento. Foi ali que tive a certeza de que a infecção já estava de fato presente em mim, só era uma questão de tempo até que me impossibilitasse de viver.

Eu deixei que a brisa fizesse com que meus olhos se fechassem e tentei cessar minha respiração ofegante. Como se eu estivesse comemorando meu aniversário de sete anos, fiz um último pedido, pois senti que ali morreria. Desejei que minha família estivesse comigo, eu queria encontrá-los naquele grupo. Abrir os olhos, encarar as pessoas ali e não encontrá-los seria doloroso demais, e eu estava cansada da dor. Por esse motivo, decidi que permaneceria de olhos fechados até que me sentisse à vontade para abri-los e enfrentar os novos rostos do lugar. Esse era o plano e, estava dando certo. Continuaria correndo perfeitamente, caso uma voz extremamente familiar não me chamasse.

Todo mundo possuí, pelo menos, um sonho impossível. Antes do apocalipse, eu tinha dois: Voar e me apaixonar. Pode ser e é algo estupidamente clichê e idiota para qualquer um que analisasse a situação por fora, mas aquilo tinha um grande peso na minha vida. Eu sabia que voar era algo realmente impossível, mas o amor ainda me parecia mais fora de alcance. Então, quando o mundo acabou e as pessoas, de repente, começaram a voltar à vida, voar já não parecia mais tão impossível.

Desde então, como se Deus estivesse endividado comigo, eu me senti no direito de escolher mais um sonho impossível. Meu maior sonho era que meus pais e Shane estivessem vivos. Poder encontrá-los seria o suficiente e eu não teria mais sonhos impossíveis. Eles eram o meu sonho impossível.

Então, quando ouvi aquela voz tão conhecida formar a palavra “Bells”, tive certeza de que eu não era somente sortuda, era muito mais do que isso. Ouvir a voz dele... voar. Então eu me permiti abrir os olhos e o vi correndo em minha direção como já havia visto tantas vezes. Vê-lo me levava de volta a um passado feliz e eu me alimentava daquele passado, enrolava-me nas lembranças e as vivia. Ele era um pedaço daquele passado, um pedaço meu que estava retornando.

O peso de seu corpo quase que caindo contra o meu me reanimou. Daryl me soltou, sem entender o que acontecia, e eu passei a ser carregada por Shane, meu tio. Eu o abracei como nunca havia feito antes. Um ato que carregava tanto amor, carinho, cuidado, saudade. Algo que me trazia, de certa forma, também um pouco do meu pai de volta. Eles eram parecidos e tinham o mesmo toque, o mesmo cheiro.

Esqueci, por instantes, do ferimento que até segundos atrás me causava dor excruciante, mas Shane me colocou no chão e minhas pernas tiveram que suportar o meu próprio peso, o que não foi fácil. Seus braços continuaram a me envolver intensamente e eu fixei meus pés na grama, como uma maneira de me manter segura. Eu não sabia como reagir, o que dizer, se acreditava que aquilo era real ou apenas uma alucinação.

– Eu não acredito! – a voz grave de meu tio batendo contra o meu ouvido me fez ter certeza que estávamos vivendo um momento real. Não era fruto da minha imaginação. Shane estava ali e eu podia senti-lo com todas as minhas forças.

– Shane… – murmurei seu nome, atordoada, e fechei os olhos, deixando-me sentir seu corpo por completo. Era como voltar no tempo, quando eu tinha dez anos e nós brincávamos no parquinho perto de casa.

– Você está viva! – ele quebrou o abraço e pegou meu rosto com suas mãos calejadas. Seus olhos negros estavam levemente vermelhos, denunciando as lágrimas ali presentes e, em todos aqueles anos, eu nunca havia visto Shane Walsh chorar. Nem uma vez sequer. – Eu não acredito, você está mesmo viva! Como? Eu não… você está aqui, Bells! – seu tom de voz se elevava cada vez mais e a minha reação apenas não se igualava ao dele porque eu não tinha forças.

– Eu… – eu pressionei a mão contra meu corte e me apoiei em seu ombro, tentando falar, mas ele me interrompeu.

– Ele fez alguma coisa a você? É isso? – meu tio dirigiu seu olhar furioso até Daryl Dixon, o homem que, ao contrário do que ele pensara, havia me salvado. – O que aconteceu?

– Ela estava quase morrendo no meio da estrada, Shane. – a voz arrastada de Daryl finalmente se fez presente. – Eu a salvei. – defendeu-se, e eu agradeci, assim não precisaria gastar energias explicando e tendo que lidar com o temperamento, no mínimo, difícil de meu tio.

Shane me ergueu novamente percebendo o meu estado fragilizado. A vulnerabilidade de meu corpo era tanta que eu já não conseguia assimilar mais nenhuma informação. Eu via as pessoas e os rostos desconhecidos, eu era alvo de olhares confusos, curiosos e surpresos com a situação. Eu não conseguia me permitir esvaziar meus pulmões daquele ar pesado, repleto de medo e dor; sentia que sufocaria a qualquer momento. Enquanto minha cabeça batia contra o peito de Shane, eu procurava Elena desesperadamente e não a achava.

Era a segunda vez naquele intervalo de dois dias que eu desmaiava. Não soube por quanto tempo havia ficado inconsciente, mas quando acordei, a dor se fazia menos presente no meu corpo e minha lesão já não latejava como antes. Analisei o ambiente e concluí que eu estava num sofá, provavelmente dentro daquela casa que havia visto quando chegara. Minha camiseta estava erguida até a metade do meu abdome, revelando o curativo que ali havia sido feito e causava certo relevo na região.

– Olha só quem acordou. – ouvi passos pesados baterem contra o chão do lugar e olhei para o lado, vendo que meu tio se agachava próximo do sofá. Ninguém mais estava lá.

– Elena? – eu perguntei automaticamente, preocupada com minha irmã.

– Ela está descansando. – uma das mãos de Shane foi até minha cabeça, acariciando meus cabelos. Eu desejei que aquele carinho durasse para sempre. – E me contou, enquanto você dormia, sobre o que aconteceu. – a expressão facial de Shane imediatamente se tornou furiosa e ele mordeu o lábio inferior. – Eu juro, Isabelle, se eu os encontrar, eu juro…

– Ei, shh… – eu pedi, cuidadosamente, para que ele se acalmasse. – Está tudo bem agora.

Meu tio esticou seus lábios em um sorriso fechado, e eu fiz o mesmo, não tendo capacidade de esconder minha felicidade já mais do que evidente. Ele estava diferente, com alguns pequenos cortes pelo rosto e a cabeça raspada, mas nada o deixaria irreconhecível para mim. Sempre o reconheceria.

– Eu não posso acreditar que vocês estejam vivas. – ele repetiu, ainda incrédulo, e eu enlargueci meu sorriso. – Nem que Tommy tenha… – Shane não se permitiu finalizar seu comentário ao ver que eu desfiz meu sorriso quando ele mencionou meu pai. Eu o entendia, era seu irmão e era natural que quisesse falar dele, mas eu não estava pronta. – Mas o que importa é que vocês estão aqui. Minhas duas sobrinhas…

– Eu vou levar tempo para me acostumar a essa sua falta de cabelo. – brinquei, interrompendo-o e ele riu.

– Nos viramos como é possível, garota. – ele respondeu em mesmo tom e foi a minha vez de rir. – Mas você não vai acreditar em quem quer te ver.

– Quem? – perguntei, curiosa e esperançosa.

– Seu tio postiço.

Shane se levantou e foi até o corredor da casa, desaparecendo pelo espaço. Meu tio postiço? Não, não poderia ser quem eu estava pensando. A única pessoa que eu poderia caracterizar como “tio postiço” era Rick Grimes, o melhor amigo de Shane e, consequentemente, também amigo de toda a nossa família. Mas eu não o via desde que tinha quinze anos de idade, não poderia ser ele.

– É realmente ela. – outra voz familiar chegou aos meus ouvidos e eu olhei para o lado, onde Shane estava ao lado dele… do meu tio postiço. – Eu não acreditei quando a vi desacordada.

Os olhos azuis de Rick pareciam estar felizes em me verem. Seu cenho franzido enrugava-lhe a testa de maneira graciosa e um belo sorriso surgiu por entre os lábios levemente rosados dele. Algo em Rick sempre o tornara extremamente convidativo e eu me sentia bem por poder olhá-lo novamente.

– Belle. – Grimes agachou-se ao meu lado, sabendo que não poderia me abraçar.

– Rick... – sorri abertamente e peguei em sua mão.

A luz do sol batera contra o azul dos olhos do xerife. Meu corpo endureceu-se mais uma vez com aquele brilho que me trouxe diversas memórias de volta e, aquele era um momento feliz, mas nenhum de nós dois sabia que havíamos sido marcados, naquele toque de mãos, em paradoxalidade eterna, porque o exórdio daquilo nos traria coisas terríveis, porém, ao mesmo tempo, maravilhosas.

– Eu senti saudades.

 



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