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História Civilian - Soldier


Escrita por: xxxumaico

Notas do Autor


Oi, gente!

Espero que estejam gostando da fanfic até o momento. Neste capítulo, teremos um dos primeiros flashbacks.
A moça presente na capa é a mãe da Isabelle, Anna.

Capítulo 8 - Soldier


Fanfic / Fanfiction Civilian - Soldier

Civilian – Soldier

Isabelle Walsh

"– Como se sente estando de volta, mamãe?

– Não sou americana, querida. – minha mãe acariciou meu rosto ao parar de tirar suas coisas de uma das caixas da mudança. – E nunca serei, mas estou feliz… curada, certo?

– Então por que saiu da Inglaterra? – eu toquei sua mão sobre meu rosto. Era bom sentir sua pele quente, antes tão gélida durante o tratamento.

– Porque me apaixonei pelo seu pai enquanto estava aqui, na América. – ela quebrou o contato entre nossos corpos e voltou a retirar seus pertences da caixa. – E porque engravidei aos dezesseis anos, sua avó queria me enterrar viva.

– Então você ficou com o papai… – eu me sentei no chão do quarto vazio até então. Era engraçado, para não dizer trágico, pensar que estávamos em constante mudança da Inglaterra para os Estados Unidos desde que minha mãe descobrira seu câncer.

– Sim, eu fiquei. Ele vivia aqui, então eu me mudei. – mamãe respirou fundo e seu olhar pareceu reflexivo por alguns instantes. – E foi a melhor coisa que já fiz, porque me trouxe você e Elena.

– Você já… se apaixonou por outra pessoa? – questionei-a, mesmo que receosa. Ouvir Anna falar sobre meu pai era, por muitas vezes, ouvi-la falar como ficar com alguém por obrigação.

– Sim. E quer saber o mais perturbador de tudo isso?

– O quê?

– Seu pai jamais soube. – minha mãe retirou uma pequena foto da caixa e, certamente, aquela seria a foto do homem pelo qual ela se apaixonara ou algo relacionado a ele: ela não conseguia parar de encarar a fotografia.

– Por que não?

– Porque eu sou apenas uma civil, querida. – respondeu, mas soou como se não tivesse o feito, pois não a compreendi.

– Eu não entendi, mãe.

– Uma civil que não está preparada para enfrentar uma guerra. E seu pai é muito duro, seria uma guerra.

– Muito duro? Ele é tão doce!

– Qualquer homem é muito duro para entender que você pode amar dois deles ao mesmo tempo. – mamãe se agachou em minha frente. – E o mais mágico dos amores costuma ser aquele que não pode ser vivido.

– E você não viveu o seu outro amor?

– Não, meu bem. – ela mexeu em meus cabelos e eu notei que a foto ainda estava em sua mão. – Eu só o vivi de outra maneira.

– Anna, querida, pode me ajudar aqui? – nós ouvimos, em um grito, a voz do papai vinda do andar debaixo.

– Sim, eu estarei aí em um minuto! – minha mãe gritou de volta.

Ela deixou o quarto, porém, deixou outra coisa: ao meu lado, posta sobre o chão, a fotografia que tanto encarara há instantes. Atrevi-me a virar a foto, a fim de descobrir se seria aquela a revelação de sua antiga paixão jovial. A imagem era composta por três elementos: Shane, meu pai e minha mãe, ainda grávida; ela parecia muito jovem. Eu deixei o retrato no chão novamente e concluí que jamais saberia qual era o homem que havia ganhado um lugar tão significativo no coração de Anna."


 

Minha cabeça remexia enquanto eu retornava da inconsciência. Vi, à beira de quebrar por completo o vidro do carro, a razão pela qual eu havia acordado: um walker tentava chegar até Lori, ainda desacordada. Ela tinha alguns ferimentos no rosto, mas eu não sentira nada me atingir, talvez por consequência da adrenalina. Por conta da posição em que estávamos, tirar o cinto de segurança me faria cair sobre Lori, sendo assim, minha única saída foi inclinar-me o máximo que pude até ela para tentar acordá-la.

– Lori. – eu toquei seu ombro enquanto segurava no banco para que não caísse. Sentia meu corte abrir a cada movimento que fazia e, ao olhar para a região, vi que minha camiseta já absorvia uma quantidade enorme de sangue. – Lori! – eu aumentei meu tom de voz e via que o walker chegava cada vez mais perto.

A pistola que eu havia herdado de meu pai estava sob o poder de Dale e eu não conseguia alcançar a arma de Lori ou o crânio do zumbi para esfaqueá-lo. O desespero fazia com que minha respiração ficasse mais ofegante; eu me sentia incapaz e mais próxima da morte a cada centímetro quebrado do vidro.

– Lori! – eu gritei com o máximo de força que pude, arriscando atrair mais atenção, e remexi seu corpo. Ela acordou confusa, mas lúcida o suficiente para empunhar sua pistola e direcionar uma bala até a cabeça do walker. – Graças a Deus… – suspirei aliviada e ela fez o mesmo.

– Você está sangrando! – exclamou Grimes ao ver que meu ferimento sangrava.

– Nós temos que sair, não se preocupe.

Eu me segurei à porta do carro e tirei o cinto, ficando pendurada ali; fechei os olhos com força para não gritar e apoiei meus dois pés no banco. Nunca havia sido tão ágil quanto naquele momento em que me empurrei para fora do carro através da janela e, ao alcançar o exterior, pulei até o chão. Era a vez de Lori, eu só esperava que ela não tivesse problemas porque tínhamos que sair dali o mais rápido possível. Grimes fora infinitamente mais racional do que eu e saiu pelo vidro quebrado da parte de trás do carro.

– Você está bem? – perguntei enquanto a ajudava a se reerguer. – Nós deveríamos…

– Atrás de você! – ela me interrompeu e apontou para trás.

Instintivamente, peguei minha faca, presa ao meu cinto, e nem sequer mirei em algo, apenas apunhalei a figura desorientada do morto-vivo próximo a mim. Tive certeza de que havia o derrotado ao sentir o sangue escuro do walker atingir minha face e o alívio de não ter de escutar seus grunhidos.

– Você está bem? – ela repetiu a pergunta que eu havia feito há instantes, o que me fez sorrir.

– Sim, e você? – apoiei minhas mãos sobre meus joelhos e tentei controlar minha respiração.

– Sim, eu acho.

Nós olhamos uma para a outra por alguns segundos até concluirmos que não fazíamos ideia de onde estávamos. Havíamos perdido o mapa e não arriscaríamos procurá-lo dentro do carro destruído, então apenas decidimos fazer o caminho de volta e torcer para que a sorte estivesse ao nosso lado. Eu mancava, apoiada em Lori, mas, apesar das circunstâncias, nós continuamos a conversa que estávamos tendo dentro do carro. Havíamos nos acostumado ao fim do mundo: uma tragédia acontecia, mas, logo depois, tudo voltava ao normal novamente. O normal já era trágico o suficiente.

– Você e Daryl? – Grimes indagou após alguns segundos de silêncio. – Desculpe por perguntar, mas…

– Não, está tudo bem. – eu a tranquilizei pois já sabia que aquela questão aparecia cedo ou tarde. – Estupidez, certo? Ter algo com aquele caipira grosseiro.

– Não, ele é… rústico, ele tem algo. – disse ela, tentando formular um elogio. – Não conte isso ao Rick. – pediu e nós rimos baixo.

– Nós estávamos bêbados, culpa de uma bebida que Maggie me deu. – decidi omitir a parte que envolvia Shane. – Coisas estúpidas acontecem com pessoas bêbadas.

– Como você cresceu, Belle. – observou Lori com o típico tom de tia nostálgica. – Quem diria, há cinco anos, que estaríamos, hoje, falando sobre sexo?

– E quem diria que estaríamos vivenciando o apocalipse? Pessoas voltando da morte? A vida mudou, Lori.

– Definitivamente mudou.

Andamos por cerca de vinte minutos até ouvirmos o som de um carro se aproximando. Eu engoli em seco ao imaginar quem poderia estar ali dentro, afinal, minhas experiências até a chegada na fazenda Greene não haviam sido exatamente boas. Lori olhou para trás, mas eu não me senti suficientemente forte para aquilo; caso perdesse mais sangue, poderia desmaiar novamente.

– Vocês estão bem? – de dentro do veículo saíra Shane. Ouvir a voz dele era como um alívio para mim, ao mesmo tempo em que também me deixava perdida: eu não sabia o que fazer diante do comportamento tão diferente que meu tio adquirira nos dias anteriores àquele.

– Estamos bem. – afirmou Lori.

– Bells… – Walsh me tirou de perto de Grimes, aproximando-me de seu corpo. – Nunca mais faça isso. – ele me repreendeu como alguém que repreende uma criança. – Elena está morta de preocupação! E eu? O que eu faria sem você? Eu não posso perdê-la também! Meu irmão… – meu tio iniciou sua frase, mas, sabendo de meu desconforto sempre que meu pai era mencionado, ele parou de falar. – Vamos, vou te levar para o carro.

– Nós temos que achar o Rick! – relembrou Lori.

– Deixe-me colocá-la no carro antes. – pediu Shane. Seu tom beirava à indignação.

– Eu ajudo, Shane. – a imagem bruta e mal-humorada de Daryl Dixon saiu do carro, o que, de certa forma, surpreendeu-me. – Eu ajudo. – ele repetiu e correu até nós, apoiando-me em seu ombro.

Shane deixou que Dixon me conduzisse até o carro e eu sabia que ele e Lori teriam algumas farpas para trocar, então não reagi. Assim que Daryl me posicionou no banco de trás, sentou-se ao meu lado e deixou a maldita crossbow que carregava para todo o canto no espaço entre nós dois. Eu olhava fixamente para a janela; não queria falar com ele e nem tinha força o suficiente para ter uma discussão.

– Parece que foi feio o acidente. – ele comentou timidamente. – Você está bem? – o arqueiro perguntou mas não obteve resposta. – Olha, desculpa pelo que eu disse mais cedo.

O caipira continuou sem uma resposta. Pedir desculpas era tudo que ele conseguia fazer, mas eu não via seus atos sendo modificados, então o trataria com a mesma frieza. Logo Lori e Shane voltaram para o carro; ela comentava animadamente sobre o fato de Rick já estar de volta à fazenda e eu não posso negar que também havia me alegrado o retorno do xerife. Ele era especial para mim e Elena, nós o víamos como alguém da família, o mesmo valia para Lori e Carl.

Ao chegarmos na fazenda, fomos mergulhadas em perguntas vindas de todos os membros do grupo e dos Greene. Lori respondia a todos enquanto eu, apoiada em meu tio, apenas observava a movimentação. Contudo, logo a pergunta inevitável veio à tona:

– Onde está o Rick? – ela perguntou à Andrea que estava em sua frente. A face da loura adquiriu uma expressão confusa. – Eles não voltaram?

– Eu tinha que trazer vocês de volta. – explicou Shane. Incrivelmente, não estava surpresa pelo fato dele ter mentido.

– Seu filho da puta. – Lori caminhou até nós dois e, sem pensar nas consequências, empurrou Shane. Eu me desequilibrei, ironicamente, para o lado de Daryl. – Ele é meu marido! – ela gritava descontrolada enquanto eu tentava sair de perto de Dixon.

– Lori, eu vou atrás dele! Eu vou achá-lo! Ei! – Shane segurou os braços de Lori e a afastou. – Mas tenho prioridades, eu tenho que cuidar da minha sobrinha e de você, tenho que me certificar que o bebê está bem, ok?

Todos ficaram em silêncio após a afirmação de meu tio. Lori não pareceu estar pronta para dar aquela notícia a todos, seu rosto foi de raivoso para surpreso, ainda mais furioso e confuso. Eu me sentira horrível pelo fato de Shane não ter compartilhado aquela informação comigo – e quebrado o nosso lema mais uma vez –, e não podia assimilar as coisas direito, mas pude raciocinar que, caso a gravidez de Lori fosse real, aquele filho poderia ser de meu tio. Poderia ser meu primo.

– Ei. – a voz rouca do arqueiro ao meu lado se fez presente quando ele me encostou no carro para que eu não caísse. Eu já não aguentava mais ser a donzela em perigo, até quando eu tentava ser a heroína.

– Você vai ter um bebê? – questionou Carl. – Por que não me contou?

– Vamos ver se vocês duas estão bem mesmo. – Dale quebrou o silêncio constrangedor. – Isabelle parece bem ferida. Ajude-me a levá-las para dentro, Daryl.

Por que Daryl? Por que não Shane ou T-Dog? Qualquer pessoa ali poderia me carregar até a casa dos Greene, mas o universo tinha de colaborar para que eu me sentisse ainda pior tendo Dixon próximo de mim. Aqueles instantes que demoramos para chegar até a casa foram destruidores para mim e eu só queria me ver longe do caipira o mais rápido possível. Lori e Carl tiveram uma conversa sobre a gravidez e ali me dei conta de que era real, o que fez com que a possibilidade de meu tio ser pai só me amedrontasse ainda mais.

– Você não pode mais fazer isso. – dizia Elena enquanto Patricia trocava meu curativo.

– Ela tem razão, você precisa sossegar até isso cicatrizar. Seus pontos quase rasgaram.

– Eu não vou mais fazer nada até estar boa, certo, meu amor? – eu acariciei o rosto assustado de El. – Eu amo você, para sempre.

– Eu amo você também, mais que para sempre. – eu sorri com sua afirmação.

Eu me sentei após a troca do curativo e, depois de tomar analgésicos para a dor e comer, sentia-me muito melhor do que antes; já podia andar, mesmo que com certa dificuldade. Elena e eu saímos da casa depois de Shane pedir um tempo a sós com Lori. Daryl parecia me seguir a cada passo e me ajudou a chegar até minha barraca; eu já não podia suportar sua presença e pedi para que El entrasse para que eu pudesse ter uma conversa com ele.

– Pare de me seguir. – eu pedi em baixo tom.

– Eu fui até lá…

– Você foi porque estava culpado e, incrivelmente, sua consciência ficou pesada. – eu o interrompi, tentando não falar alto. – E é isso, agradeço a ajuda.

– Qual é o seu problema, garota? – exclamou em uma pergunta, o que me fez rezar para que El não tivesse escutado. – Me segue num dia e no outro está de cara fechada?

– Ah, por favor. – eu sussurrei com ironia. – Eu sou só aquela com quem você trepou uma vez.

“Eu sou apenas uma civil”, aquelas palavras vindas de minha mãe arrepiavam cada parte do meu corpo quando, num mundo como aquele, não ser uma civil e ser obrigada a lutar, era algo real para qualquer sobrevivente. Mas eu não poderia travar outra guerra, eu não era forte o suficiente para lutar também contra sentimentos. Mesmo com o amanhecer e sabendo que Rick, Hershel e Glenn estavam bem, mesmo vendo minha irmã feliz brincando ao lado de Carl, eu ainda não podia entender como as coisas haviam chegado àquele ponto, como eu podia estar tão mudada. Nada parecia ser o suficiente, ainda que eu devesse me sentir satisfeita com o pouco que tinha, afinal, aquilo bastava.

– Pensativa? – Rick Grimes se sentou ao meu lado, na varanda. Ele costumava aparecer de repente.

– Sim, como não estar?

– Você costumava ficar assim antes daquelas apresentações de dança.

– Você se lembra? – eu perguntei, surpresa, e ele sorriu.

– É claro, você me fazia assistir à ballet. – nós rimos juntos. – E olha o que eu encontrei no trailer.

Rick estendeu meu par de sapatilhas e eu não soube como responder ao ato. Lembrei-me de que as deixei no trailer após a minha conversa com Shane, mas também tive a recordação de que não tinha nenhuma intenção em tê-las de volta:

– Eu não quero. – respondi friamente, voltando as sapatilhas para ele.

– Por que não?

– Elas me entristecem. – eu revelei, o que o fez levar sua mão até meu rosto.

– Elas te lembram de quem você é. – Rick me corrigiu mexendo seus dedos pela minha pele. Seu toque me fazia sentir a mais protegida de todos ali. – Nós não podemos perder isso.

– Outro para me dizer que eu não devo desistir dos meus sonhos e talento? – eu sorri debochada e tentei não parecer rude. – Desculpe, mas eu não sou mais isso. – toquei sua mão, ainda em meu rosto, e senti meus olhos arderem. – Minha mãe uma vez disse que ela era apenas uma civil, que não aguentaria uma batalha… Eu sou como ela, apenas uma civil e, Rick, estas sapatilhas são uma recordação de uma guerra que eu perdi.

– Bem, eu espero que, algum dia, você possa retomar a batalha. – ele se aproximou de mim e passou seu braço pelas minhas costas. – E ganhar. Eu as guardarei.

– Você não desiste. – eu estiquei meus lábios em um sorriso fechado diante de sua insistência. – Mas e você, xerife? Pronto para a guerra?

– Qual delas?

– A gravidez da Lori. – eu trouxe o mais delicado dos assuntos à tona e me arrependi momentaneamente. Eu queria contar a Rick sobre meu tio e Lori, mas não sabia como.

– Eu gostaria de poder dizer agora que sou apenas um civil. – ele brincou para amenizar o clima, mas estava claro o meu desejo de lhe dizer algo. – Você não precisa se preocupar, Bells. – sua mão foi das minhas costas para meu cabelo. – Lori me contou sobre ela e seu tio.

– Ah, Deus… – eu murmurei enquanto encarava meus próprios pés; não tinha coragem de olhar para Rick. – Eu queria te contar.

– Eu sei. – seu carinho era uma das únicas boas sensações que haviam me sobrado. – Eu sei, mas você não podia. Você não podia trair sua família.

– Sim, mas…

– Não era sua obrigação me contar, Belle. – Grimes me confortou quando o contrário deveria acontecer. – Não fazia parte do seu papel.

– Obrigada. – eu movi minha mão até a de Rick, posta sobre uma de suas pernas, e a apertei. – Obrigada por ser uma das coisas boas do mundo.

– Eu? – o xerife perguntou com certa ironia na voz e pressionou minha mão de volta. – Você, Isabelle. – subitamente seu rosto adquiriu uma expressão séria, como se ele estivesse prestes a me dar um importante conselho. – Elena não estaria aqui se você não estivesse também. A sua devoção, a sua bondade… Você não é apenas uma civil, você é a mais forte dos soldados.



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