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História Clarke's Diary For Aden. - Gentileschi.


Escrita por: craxygemini

Notas do Autor


Boa Leitura! ;)

Capítulo 4 - Gentileschi.


 

Aden,

 

Quando cheguei em casa no final daquela mesma tarde, havia uma pessoa sentada na minha varanda, o boné cobria seu rosto e cabelos. Eu não fazia a menor ideia de quem seria. Não podia ser o cara da TV a cabo nem o da companhia telefônica, já que ambos tinham estado lá no dia anterior.

Era o faz-tudo, ou melhor, A faz-tudo (o que me surpreendeu), que ia me ajudar com qualquer coisa no chalé que precisasse de uma tomada, um acabamento ou uma escada para chegar lá. Enquanto dávamos uma volta pelo chalé, fui apontando vários dos problemas que eu havia herdado: janelas que não fechavam, pisos que prendiam as portas, um vazamento no banheiro, uma bomba d’água com defeito, uma calha quebrada e uma casa inteira precisando ser lixada e pintada.

A casa era muito bonitinha, mas nada prática.

Mas a mulher foi ótima: tomou notas, fez perguntas inteligentes e me disse que poderia arrumar tudo até antes do próximo milênio. Fechamos o negócio ali mesmo (o que me deu a nítida sensação de que eu havia me saído muito bem).
           De repente, a vida estava parecendo muito melhor. Eu tinha um novo consultório que adorava, uma faz-tudo bem recomendada e um encontro com Bell. Quando finalmente fiquei sozinha em meu chalé de frente para o mar, joguei os braços para cima e gritei viva.

Então eu disse: “Bellamy Blake. Hum. Imagine só. Que legal. Que bacana.”
 

Aden,

 

Quase todo mundo um dia já sonhou o que aconteceria se alguém de quem gostava na época da escola ou da faculdade ressurgisse em sua vida. Para mim, essa pessoa era o Bell. Quem sabe ele fosse uma pequena parte do que havia me atraído de volta a Martha’s Vineyard? Provavelmente não, mas quem pode saber dessas coisas? Mesmo assim, eu me atrasei quase uma hora para nosso encontro de sábado à noite.

Precisei internar um paciente, voltar correndo para casa e dar de comer ao Gustavus, me arrumar e encontrar meu bipe antes de sair. Além disso – preciso confessar –, sou um pouco desorganizada às vezes. Meu avô costumava dizer: “C., você tem muita coisa na cabeça.”
            Quando entrei no Lola’s, que é um lugar bacana da praia entre Vineyard Haven e Oak Bluffs, Bell estava esperando com uma garrafa de vinho. Parecia relaxado, o que me agradava. Além de bonito – e isso também não era ruim.

 

“Bell, sinto muito, muito mesmo”, eu disse. “Este é um dos problemas de sair com médicos.”

 

Ele riu.

“Depois de 15 anos... o que são 20 minutos? Ou 50? E, além disso, você está linda, Clarke. Você vale a espera.”

 

Fiquei lisonjeada, ainda que um pouco envergonhada. Fazia algum tempo que ninguém me elogiava, nem mesmo brincando. Mas eu gostei. E a noite passou suavemente, como se deslizasse em lençóis de cetim.
 

“Então você voltou de vez para Vineyard?”, Bell perguntou depois de eu lhe contar alguns dos acontecimentos – não todos – que levaram à minha decisão. Não falei sobre o infarto. Iria falar, mas depois.
 

“Adoro esta ilha. Sempre adorei. Sinto como se tivesse voltado para casa”, eu disse.
 

“Sim, voltei para sempre.”

 

“Como estão os seus avós?”, ele perguntou. “Eu me lembro dos dois.”
 

“Meu avô está ótimo. Mas minha avó morreu há seis anos. Do coração.”

 

Bell e eu conversamos sem parar – sobre trabalho, verões em Vineyard, faculdade, nossos 20 anos, nossos quase trita, sucessos e decepções. Entre os 19 e os 28 anos, ele havia morado no mundo todo: Positano, Madri, Londres, Nova York. Tinha 25 quando entrara para a Faculdade de Direito da Universidade de Nova York e fazia dois anos que havia voltado para Vineyard. Adorava aquele lugar. Foi muito bom conversar com ele de novo, uma viagem maravilhosa pela estrada das lembranças.
           Depois do jantar, Bell me acompanhou em seu carro até em casa, enquanto eu dirigia na frente. Estava apenas sendo gentil. Quando chegamos ao chalé, saímos de nossos carros e conversamos um pouco mais sob uma linda lua cheia. Eu estava me divertindo de verdade.

Ele começou a rir.

 

“Você se lembra do nosso primeiro encontro?”, perguntou.

 

Eu lembrava. Tinha chovido muito e faltara luz. Eu me arrumei no escuro e, por engano, peguei uma lata de aromatizador de ambientes em vez de spray de cabelo. Passei toda a noite com aquele cheiro.
         

 Bell fez uma careta e perguntou: “Você se lembra da primeira vez que eu tive coragem de beijar você? Provavelmente não. Eu estava apavorado.”

Isso me surpreendeu um pouco.

“Eu não percebi. Pelo que lembro, você sempre foi muito seguro.”

 

“Meus lábios tremiam e eu estava batendo os dentes. Eu era muito a fim de você. E não era o único.”

Dei risada. Aquilo podia ser uma bobagem, mas era divertido. De certa forma, sair com Bell de novo era a realização de uma fantasia.

“Não acredito em nada disso, mas estou adorando ouvir.”
 

“Clarke, posso beijar você?”, perguntou ele com a voz suave.

Dessa vez era eu que estava tremendo um pouco. Tinha perdido a prática.
 

“Tudo bem. Quer dizer, tudo ótimo.”

Bell se inclinou para a frente e me beijou com toda a doçura. Um único beijo, apenas um. Mas foi o máximo, depois de todos aqueles anos.

 

Querido Aden,

Bizarra! Às vezes esta é a única palavra que posso usar para descrever a vida. Simplesmente bizarra.

Lembra da faz-tudo de que eu tinha falado? Bem, ela foi à minha casa na manhã seguinte ao meu encontro com Bell, para dar um jeito em algumas coisas. Percebi a presença dela por causa do lindo buquê de flores do campo que me deixara.
           Lá estavam elas: cor-de-rosa, vermelhas, amarelas, azuis e roxas, lindas num vaso de vidro ao lado da porta da frente. Muito doce, muito gentil e inesperadamente tocante. Primeiro pensei que eram de Bell, mas, puxa vida, não eram.

Havia também um bilhete. 

"Cara Clarke, sua cozinha ainda está sem luz, mas espero que essas flores iluminem um pouco o seu dia.  
              Talvez possamos sair qualquer hora dessas para fazer o que você quiser, onde você quiser." 

Ela assinou *Gentileschi – mais conhecida como a moça que pinta as paredes da sua casa.

Aquilo mexeu comigo. Até a noite anterior, eu não havia saído com ninguém desde que viera de Boston. Não tivera vontade de sair com ninguém depois que Finn Collins me deixara. Enfim, ouvi a pintora/faz-tudo martelando alguma coisa em algum lugar e saí. Lá estava ela,parada feito uma gaivota no alto do telhado íngreme.

 

"Gentileschi", gritei. “Muito obrigada pelas flores. São um presente lindo. Você foi muito gentil.”

 

“Ah, de nada. Elas me lembraram você e eu não resisti.”

 

“Bem, você adivinhou: são as minhas preferidas.”

 

“O que me diz, Clarke? Quem sabe um dia desses a gente possa sair para comer, passear, ver um filme, fazer palavras cruzadas. Esqueci alguma opção?”

Sorri sem querer.

“As coisas estão meio malucas para mim agora, com os pacientes e tudo o mais. Preciso dar prioridade a isso por enquanto. Mas foi muito legal da sua parte me convidar.”

Ela aceitou meu não com tranquilidade e um sorriso. Depois passou a mão pelo seu cabelo castanho e curto, um pouco acima do ombro, e disse:

“Entendo. Mas você deve saber que, se não sair comigo ao menos uma vez, terei que aumentar o preço.”, ela disse com seus lindos olhos verdes brilhando em divertimento.

 

“Não, eu não sabia disso”, respondi.

 

“Pois é. Também acho desprezível, uma política de negócios muito injusta. Mas o que se há de fazer? O mundo é assim.”

Dei uma risada e disse a ela que levaria o assunto em consideração.

 

“Aliás, quanto devo pelo trabalho extra que você já fez na garagem?”, perguntei.

 

“Aquilo? Não foi nada... nada mesmo. De graça.”

Dei de ombros, sorri e acenei. O que ela tinha dito era bom de ouvir – talvez porque o mundo não fosse assim.

“Obrigada, Gentileschi.”
 

“Não há de quê, Clarke.”

E ela retomou a sua tarefa de pôr um teto sobre minha cabeça.

 

Querido Aden,

 

Estou cuidando de você enquanto escrevo e só posso dizer que você é maravilhoso. Às vezes, olho para você e simplesmente não acredito que seja meu. Você tem os olhos da sua mãe, mas tem o meu sorriso. A caixinha de música do seu berço toca “Whistle a Happy Tune”, do musical O rei e eu. Quando puxamos a cordinha e a melodia começa, você ri na mesma hora. Acho que a mama e eu adoramos ouvir essa canção tanto quanto você.

Às vezes, à noite, quando estou voltando tarde para casa ou dando uma caminhada, ouço essa melodia na minha cabeça e sinto muita saudade de você. Neste exato momento você está dormindo e eu queria apenas pegá-lo no colo e segurá-lo o mais perto de mim possível. A outra coisa que sempre faz você dar risada é “uni, duni, tê”. Não sei por quê. Talvez seja o som ou o ritmo das palavras. Só que, quando chegamos ao “sorvete colorido”, você já está dando gargalhadas.

É difícil imaginar você com qualquer outra idade que não seja a que tem agora. Mas acho que todas as mães tendem a pensar nos filhos assim, a congelá-los no tempo e guardá-los na mente como flores em uma gaveta, perfeitos e eternos. Às vezes, quando nino você, sinto como se estivesse segurando um pedacinho do céu nos braços. Tenho a sensação de que há muitos anjos protetores ao seu redor, ao nosso redor. Agora acredito em anjos. Só de olhar para você, meu menininho querido, é impossível não acreditar. Estou pensando em quanto eu amei você quando estava na minha barriga, em como o amei no instante em que nos conhecemos. Quando o vi pela primeira vez, você olhou direto para a mama e para mim. A expressão em seus olhos dizia: “Oi, eu estou aqui!”

Você estava muito alerta, conferindo tudo ao redor. Finalmente a mama e eu pudemos vê-lo depois de nove meses imaginando como você seria. Segurei a sua cabeça e a encostei gentilmente em meu peito. Você era 2,7 quilos de pura felicidade. Depois que eu o segurei, foi a vez da mama. Ela não conseguia acreditar como um bebê de apenas alguns minutos de idade podia estar olhando direto para ela.

O menininho da Lexa.

Nosso pequeno Aden.

 




  


Notas Finais


Desculpem qualquer erro!
Espero que tenham gostado e até mais!
*Originalmente o pintor citado na historia seria Van Gogh, mas eu me apaixonei pelas obras da pintora italiana Artemisia Gentileschi e mudei. rsrsrs'


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