História Clássico amor - Capítulo Único

O homem colocou a jaqueta preta sobre um dos ombros e calçou os sapatos também pretos. Fechou a porta do apartamento recém comprado e foi em direção ao estacionamento. Subiu em cima de sua moto e pilotou até o bar mais próximo, qual já era familiarizado há muito tempo. Combinou de encontrar-se com Niall, o amigo qual sempre ouvira ao mesmo estilo musical que ele, e frequentava os mesmos shows de rock.

Chegou ao local pouco tempo depois, já que o mesmo ficava há poucos minutos de seu apartamento. Havia uma enorme placa acima da porta principal indicando o nome do lugar. Antes mesmo de entrar, Harry conseguiu ver o cabelo loiro de Niall pela janela de vidro. O loiro estava sentado em uma das cadeiras altas de frente para o barman e assustou-se quando Harry bateu com seu punho sobre a mesa e sentou-se ao seu lado.

— Tudo bem, vamos logo com isso. — Niall disse-lhe sem ao menos cumprimentar Harry. Harry não entendeu e franziu o cenho para o rapaz sentado ao seu lado. Normalmente, ele começaria a contar sobre como a noite anterior havia sido ou como conseguiu chegar em casa sã e salvo, já que estava num nível acima de bêbado no dia anterior.

— A pergunta que eu vou fazer-te talvez seja um pouco ridícula para você cogitar aceitar, mas eu realmente preciso de sua ajuda. — O loiro comentou afagando os cabelos que caíam em seu rosto.

Harry pensou em inúmeras hipóteses. Sempre que Niall viera com coisas do tipo, era sobre algum concerto de rock qual os ingressos já haviam esgotado e ele realmente precisava da ajuda do amigo para ir, ou que seu vizinho não parava de escutar música eletrônica e aquilo irritava-o ao extremo. Mas não era nada do tipo, e Harry desejara nunca ter escutado aquilo, ou nem ao menos aceitar o que estava por vir.

— Não estou no melhor dos meus dias, não me deixe mais estressado, Niall. Vamos lá, diga logo. — Harry disse um tanto quanto exasperado. Apesar de pilotar uma moto, usar roupas pretas e ter o cabelo na altura dos ombros, sua aparência era a única coisa que podia expor o quão durão ele era. Na verdade, apenas a aparência podia expor isso.

— Lembra-se de Charlotte? Minha irmã caçula? Pois então, sua apresentação de ballet clássico é nesse final de semana e meus pais não poderão ir, já que estão viajando. — Harry começou a raciocinar sobre o que o amigo estava sugerindo e rapidamente começou a mexer a cabeça de um lado para o outro, negando o que ele estava tentando propor.

— Harry, deixe-me ao menos terminar! — O loiro disse revirando os olhos e tomando mais um gole de sua cerveja. — Como eu estava dizendo: a apresentação de ballet clássico de minha irmã será nesse final de semana e meus pais não poderão acompanhá-la, eu terei que ir e como ela gosta de você, achei que ela gostaria de vê-lo no meio da platéia.

Nunca, em nenhum milhão de anos, Harry consideraria a hipótese de ir à uma apresentação de ballet clássico. Ele gostava da pequena garotinha de oito anos de idade, mas ir à um local onde iriam estar riquinhos metidos a besta em todo seu redor, não parecia algo muito agradável para ele. Harry pensou sobre como Charlotte ficaria triste se soubesse que ninguém fora acompanhá-la em sua apresentação e pareceu pensar mais profundamente sobre o assunto.

— Não acredito que me fará passar por esse vexame, Niall. Deve-me uma boa bebida agora, a mais cara que esse lugar pode oferecer. — Niall riu e deu leves tapinhas na costa de Harry.

— Obrigada, cara. — Harry assentiu e começou a preparar-se mentalmente para o próximo final de semana.

Não seria tão ruim. Harry pensava em como chegaria no local. Nunca vira uma apresentação de ballet, apenas de relance quando estava passando na televisão, mas estava ocupado demais procurando canais sobre rock para se quer prestar atenção nos movimentos das dançarinas. Não queria pensar no assunto por agora, apenas queria que o final de semana chegasse logo para que tudo aquilo passasse rápido. Colocou os dedos sobre as têmporas e massageou-as, tentando livrar-se do pensamento que agora rondava-o.

...

Olhou-se no espelho por uma última vez e arrumou a jaqueta preta em seu corpo. Peça de roupa tal qual já estava acostumado em usar todos os dias. O cabelo estava bagunçado demais, mas estava exatamente do jeito que gostava. Revirou os olhos pra si mesmo no espelho e quase pensou em ligar para Niall falando que estava doente e não poderia ir, mas pensou na pequena Charlotte e decidiu não fazê-lo.

Chegou no local marcado e a fila para comprar os ingressos estava imensamente grande. Posicionou-se atrás do último da fila e puxou o celular do bolso, teclando à Niall que já havia chego. Algum tempo depois, e já com o ingresso em mãos, ele entrou na sala e avistou um enorme palco já de cara. Não pôde deixar de notar o olhar que recebia das outras pessoas conforme ia subindo as escadas do local, a procura do número de seu assento. Bufou quando uma senhora apertou sua bolsa contra si quando ele mesmo passou ao seu lado.

Viu Niall de longe e sentou-se ao lado dele. Ele estava com uma roupa rosa em seu colo, provavelmente a roupa qual Charlotte estava usando antes de colocar sua roupa para a apresentação. Era algo tão irônico ver um homem coberto de tatuagens segurando uma roupa rosa, que Harry teve que segurar-se para não rir do amigo.

— Obrigado por ter vindo, cara. Devo-te uma.

— Realmente. Mal cheguei e já sinto-me deprimido apenas por estar no meio de todas essas pessoas. — Uma música clássica começa a tocar ao fundo para as pessoas sentirem-se mais confortáveis, mas com Harry é totalmente o oposto. — Ótimo.

Harry retira o cabelo que cai sobre a testa e afunda-se na poltrona. A cortina sobre o palco ainda estava fechada, mas logo quando Harry percebeu isso, as luzes começaram a apagar-se.

Alguns corpos pequenos começaram a entrar no palco e posicionaram-se lado a lado. Primeiro, uma fila de garotinhas foi posta bem à frente do palco. Depois, algumas crianças, mais velhas do que as anteriores, posicionaram-se atrás da primeira fila. E então, as garotas mais velhas entraram por último, com um figurino branco e com o cabelo amarrado em um coque no topo da cabeça. Todas as dançarinas colocaram-se em posição e uma música de Beethoven começou a tocar nas caixas de som espalhadas pelo auditório. For Elise, uma de suas músicas mais famosas, encheu os ouvidos de todos os presentes no local.

Harry apenas queria ir para casa, colocar seu vinil de rock mais antigo e escutar todas as músicas que sempre gostara de ouvir.

Então, ele viu-a. Um ser de cabelos loiros e cintura fina. O colarinho marcava a cintura de uma maneira que fazia com que Harry pudesse apreciar a vista de longe, mas conseguindo ver as curvas da mesma maneira. Ele posicionou-se de maneira certa na cadeira, e conseguiu ter uma visão completa do que queria ver.

— Que foi, cara? — Niall tentou seguir com os olhos a direção para qual Harry estava olhando, e riu quando percebeu do que  tratava-se.

— Nada. — Harry disse recomponde-se, mas apenas alguns segundos foram precisos para ele voltar a olhar para a garota no palco.

Conforme o pianista seguia a música, os movimentos da garota pareciam guiar a música de uma maneira incrivelmente boa. Todas as dançarinas estavam sincronizadas, mas parecia que a loira desconhecida destacava-se entre elas de alguma forma. Em um momento da música, as dançarinas mais velhas tomaram a frente do palco e dançaram de uma forma mais profunda. Era possível ver o quanto elas estavam esforçando-se para aquilo. A luz focou-se exatamente na loira e Harry não conseguiu segurar um suspiro que escapou. Puxou o cabelo para trás de uma forma firme e perguntou-se o porquê de não querer mais estar em casa como queria antes. A música encerrou-se e todas saíram do palco. Alguns garotos vieram depois e dançaram outra música de Beethoven. Harry estava ocupado demais procurando pela garota nos cantos do auditório com os olhos, que se quer prestou atenção em um único movimento da apresentação. Passou longos minutos dessa maneira, até que viu-a novamente vestindo uma calça jeans e um moletom rosa. Por alguma razão, aquela roupa ficou tão bem em si, tanto quanto Harry sentia-se olhando para ela.

No final do espetáculo, foi difícil sair do local sem levar uma pisada em algum dos pés. Perdeu a garota de vista e estava tentando achá-la através da multidão a sua frente. Ainda não haviam visto Charlotte depois da apresentação e Niall já parecia estar preocupado.

— Ei, Harry, você viu minha irmã em algum lugar? — Niall perguntou à Harry, mas ele estava ocupado demais procurando pela garota misteriosa que antes tomava seu campo de visão. Niall revirou os olhos por perceber que ele não havia escutado-o e continuou a procurá-la.

— Lá estão eles! — Harry e Niall ouviram a voz da pequena Charlotte atrás deles e viraram-se, apenas para ver a garotinha correndo na direção do irmão e abraçando-o.

Harry não havia percebido, mas a garota loira estava vindo logo atrás de Charlotte. Colocou as mãos nos ombros da garotinha e disse à Niall:

— Ela estava descontroladamente louca atrás de vocês. Pediu para que eu fosse junto com ela. — A garota olhou na direção de Harry e fitou-o por algum tempo, mas desviou o olhar, dando um sorriso tímido.

— Você estava linda lá em cima, garotinha. — Niall disse bagunçando os cabelos da pequena, qual deu uma risada gostosa sobre o que ele havia dito. — Não é, Harry?

Harry tirou os olhos da loira e assentiu na direção de Charlotte, perguntando-lhe quando ela havia tornado-se tão boa na dança. Na verdade, ele não havia nem ao menos notado a presença da garotinha no palco, e sim, olhava para apenas uma pessoa se movimentando no ritmo da música e dando um rumo perfeito à coreografia.

— Bem, eu preciso ir rapazes. Foi bom ver-te novamente Niall e foi um prazer conhecer-te... — Ela não continuou a frase, esperando que Harry completasse dizendo seu nome.

— Harry. Pode chamar-me de Harry.

— Harry. — Ela assentiu. — Foi bom conhecer-te.

E dito isso, ela deu meia-volta e preparou-se para fazer o seu caminho até a saída. Harry pareceu perceber-se que não havia perguntado-lhe seu nome e correu atrás dela, puxando gentilmente seu braço.

— Acho que seria educado se você apresentasse-se para mim, certo? — Ele disse num tom divertido e ela assentiu em um sorriso.

— Rosie. Pode chamar-me de Rosie. — Falou e deu uma piscadela em sua direção, sem dizer mais uma frase se quer.

Deixou Harry no meio do auditório, sem um número de telefone, sobrenome, ou nada do tipo. Apenas aquilo, e por mais que fosse pouco, era suficientemente bom para ele.

Por fim, esse acabou sendo o segundo melhor dia da vida dele. Sim, o segundo. O primeiro foi quando eles se casaram.