História Cliche - A Noite

Sexta-Feira.

Ô palavra bonita, hein? 

Só de escrever ela, vem um sorriso no rosto. Tudo nela é bom, tirando o fato de que é necessário acordar cedo mais uma vez e ir para o colégio, e se você se lembrar que no dia seguinte é sábado e pode dormir até cansar, vale a pena. Se não valer a pena, pensa que é um dia a menos até você se formar. 

Isso era o meu pequeno mantra antes de ir para a aula, ele normalmente sufocava a minha vontade de ir para a biblioteca e dormir por lá até o último período, mesmo que da última vez não deu muito certo. 

E, lá estava eu, em frente ao meu armário, tentando manter a ideia de que era um dia a menos até a minha formatura e eu poder mandar todo mundo daquele lugar irem para aquele outro lugar e jogar na cara deles que agora eu não precisava mais vê-los, quando alguém, que esqueceu a educação que a mãe passou anos ensinando em casa, bateu meu armário com força, quase levando meu nariz junto. 

Olhei para o lado, vendo as duas últimas pessoas que eu tinha imaginado virem falar comigo. 

Niall e Louis.

Eu não sabia qual era dos dois, talvez o loirinho queria tirar satisfação sobre o dia anterior, mas a do seu parceiro, Louis, eu não tinha ideia do que ele queria comigo. 

-Posso ajudar? -eu perguntei, mostrando o tipo de educação que eles deveriam ter.

-Hoje vai ter uma festa -Louis pronunciou primeiro.

Levantei as minhas sobrancelhas e esperei ele continuar, mas Louis só ficou me olhando junto com o Niall.

-Não sei se você sabe, mas não existe comunicação por pensamento ou por olhar -avisei- então se você quer falar alguma coisa, usa a sua boca, sabe... A que você usa pra comer e beber coisas?

-Eu sei o que é boca -Louis revirou os olhos, irritado com a minha brincadeira.

-Enfim, -Niall interveio- vai ter uma festa hoje e queremos que você vá. 

Eu ri debochada e cruzei os braços.

Era isso mesmo que eu tinha ouvido, produção? 

-Deixa eu ver se entendi: -pressionei meus lábios e alternei meu olhar entre os rapazes- Louis Tomlinson, uma pessoa que eu nunca conversei desde que eu pisei nesse colégio, junto com Niall Horan, outra pessoa que eu nunca conversei, pelo menos até ontem, e ainda foi para ameaçar, e por favor, ênfase no ameaçar, vieram, aleatoriamente, me chamar pra uma festa e, vocês, -apontei para os dois seres na minha frente- esperam que eu aceite de boa e vá? 

-Exatamente -Louis concordou, dando de ombros.

Olhei entre os dois, 100% desconfiada. 

-Tudo bem... -eu falei devagar- Mas, mesmo que eu aceitasse, eu não posso, já tenho outra festa.

-Outra festa? -Louis perguntou, parecendo incrédulo.

Era mentira, a festa que eu ia mais tarde era dele e, falar que eu já planejava ir para a própria festa do cara de penetra logo depois de ser convidada não iria ser uma boa ideia, então optei por mentir. 

Ele me olhou como se eu tivesse acabado de dizer que tinha cometido um crime.

-Sim, então deixa pra próxima.

-Que festa que é? -Louis perguntou de novo, se aproximando de mim e eu dei um passo para trás no automático.

-Não sei.

-Com quem você vai?

-Com pessoas.

-Que pessoas?

-Pessoas normais que não me assustam como você -eu respirei fundo e empurrei ele.

Felizmente, Louis deu alguns passos para trás com o meu empurrão. 

-Vem, Louis -Niall falou para o amigo, mas não tirou os olhos de mim, me olhando decepcionado- a gente tem que ir. 

-É melhor mesmo -o moreno falou. 

O que está acontecendo? 

O que eu fiz? 

-Tchau...? -disse incerta e para o nada, já que os dois tinham ido embora. 

Sem saber o que tinha acontecido, fui até a sala de aula, encontrando Jenna mexendo no celular. Depois de me sentar, contei para ela o que tinha acontecido e, adivinhem? Ela riu! 

-Por que você tá rindo? Isso não é engraçado -falei brava, querendo saber o motivo da graça.

-Mano, Abby, você recusou uma festa do Tomlinson? -ela disse entre risos- Depois fica chamando outras pessoas de acéfalas.

-Ei!

Eu ia falar poucas e boas para Jenna, mas decidi fechar a minha boquinha porque alguém muito mais importante havia chegado na sala. Não, não era o professor.

Era Harry. 

-Bom dia -cantarolei após ele ter sentado na cadeira atrás de mim.

-Oi -ele disse baixo, mexendo na mochila para tirar alguns livros, eu supus.

-Eu só queria te dizer que o que aconteceu no ônibus ontem não vai interferir no que eu penso de você, okay?

-Okay -claramente, ele não queria falar sobre o assunto, já que ele nem me olhou nos olhos.

-Okay. 

-Okay.

-Okay -eu disse de novo, estranhando o ciclo.

-Okay.

-Talvez 'Okay' seja o nos-
-Se você quer continuar com a sua bunda intacta, não termine essa frase -ele me ameaços, totalmente interrompendo a minha frase poética copiada.

-Uh -eu falei sussurrando- me espanca, Daddy.

As bochechas de Harry se tornaram um tom muito perto do vermelho e um tomate, suas sobrancelhas quase tocando o couro cabeludo após ouvir o que eu tinha falado. Obviamente, eu estava brincando, mas Harry não pareceu pensar o mesmo.

-Ab-by... -ele gaguejou.

-O quê? -perguntei na maior inocência- Atingi um fetiche? 

Se houvesse máquina do tempo, certamente eu iria voltar para aquele exato momento, apenas para rever a feição cômica que Harry estava fazendo.

-Meu Deus, Styles -eu me aproximei dele, abaixando meu tom de voz- você tem mesmo fetiche? Mas por qual? -minha curiosidade logo atacou- Eu te chamando de "papai" ou a parte de espancar? 

Um sorriso travesso estampou-se no meu rosto enquanto Harry apenas tirou o fone de ouvido da bolsa lentamente, seus olhos não saindo do meu e, alguns segundos depois a música que ele escolheu sem ver começou a tocar no último
volume, e percebi, aquela era a minha deixa.

Dei uma piscadela para ele, apoiando minha mão na minha cadeira.

-A gente se fala depois, Daddy. 

E com isso, eu me virei e usei todo o meu controle para não gargalhar alto, o rosto de Harry ainda fresco na minha mente. 

•••

Seis horas e quinze minutos torturantes depois, eu tinha acabado de fechar a porta de casa atrás de mim. Eu estava cansada, com fome e com sono. Para atender as minhas necessidades e vontades, me joguei no sofá e em questão de alguns minutos eu provavelmente estava roncando e uma baba se formava no canto dos meus lábios. 

Só acordei de novo quando estava escuro e meu celular estava vibrando sem parar na minha bunda, o que me fez acordar. Sem acreditar que tinha despertado pela vibração na minha parte traseira, atendi a ligação mau humorada.

-O que foi? 

-Oi pra você também, Abigail -a voz rouca de Harry me saudou- eu tô aqui fora, pode sair.

-Sair pra quê? -eu perguntei perdida, me levantando do sofá. 

A minha lateral estava dolorida pela minha posição e, quando virei meu tronco para estralar as costas enquanto Harry me respondia, soltei um "ai" de dor, mas que foi cortado por um "que" ao processar o que tinha ouvido.

-A festa, começou faz uma hora e pouco.

Eu tinha dormido tanto assim? Cadê a minha mãe para me acordar? 

Eu olhei para os lados, confirmando que estava de noite pela escuridão da janela. Dei um pulo do sofá e corri até a porta, abrindo-a com tudo e encontrando Harry encostado no seu carro.

-Você sai do carro mas não vem bater na porta? Onde tá o cavalheirismo? -eu perguntei olhando-o do outro lado da rua e ouvi ele bufar.

-Você estava dormindo? -Harry perguntou, caminhando na direção da minha casa.

-Sim, perdi a hora.

Eu deixei a porta aberta e desliguei a ligação. Subi correndo as escadas e fui ao banheiro escovar os dentes; estranhando a falta de Harry, sai do banheiro com a escova cheia de espuma, esfregando meus dentes, berrando:

-Styles, tô aqui! 

Voltei para o banheiro e terminei a escovação, dando uma corridinha até o meu quarto. Coloquei uma calça jeans, regata branca e peguei a minha jaqueta de couro, uma combinação rápida e fácil, me trancando no banheiro para me trocar ao mesmo tempo que vi a cabeça de Harry aparecer no meu quarto.

-Não acredito que você dormiu demais -ouvi sua voz murmurar.

Rindo fraco, procurei minha bolsa de maquiagem no gabinete e passei um rímel e corretivo. Aproveitei que estava ali e passei um perfume.

-Tô pronta, vamos? -eu perguntei, sem fôlego (deixa eu ser dramática), fechando a porta do banheiro.

Harry virou para mim, seus olhos subindo descendo meu corpo. Senti um friozinho na barriga e segurei o ar, uma pequena felicidade crescendo pela atenção que eu estava recebendo. 

-Não sabia que eu era uma escada rolante pro seus olhos ficarem subindo e descendo em mim. 

Claro, eu tinha que jogar uma pérola dessas. 

Harry balançou a cabeça, quase como se tivesse uma vespa em seu ouvido e me olhou segurando o riso. 

-Cala a boca e vamos logo. 

Eu ia perguntar quem ele pensava que era para falar assim comigo, mas eu optei por ficar quieta mesmo porque ele tinha pegado na minha mão voluntariamente, e não sei se ele percebeu, mas seus dedos quase entrelaçaram entre os meus. 

Normalmente, Harry segurava meu pulso, porém o fato de ele ter ido para a minha mão, já fazia meu coração dar aquela acelerada que me fez pensar que eu ia ter um ataque ali. 

Respira fundo, Abby, eu me lembrei, a noite ainda nem começou.