História Cliche - Embriaguez parte 1

O som estava alto, alguma música eletrônica tocava no fundo das conversas desnecessárias que me rodeavam, a qual fazia ficar quase impossível ouvir o que Harry estava falando pelos primeiros vinte que passamos naquela festa. 

Depois de alguma discussão  que ele basicamente só gritava no meu ouvido sobre ir pegar algo para beber e eu não entender o por quê dele querer ir foder, entramos num meio acordo que envolvia Harry desistir de me falar o que ele estava inutilmente tentando e me arrastar pela casa. 

Consegui convencê-lo a irmos jogar beer bong, Harry queria ir jogar verdade ou desafio* e, quando consegui entender o que ele estava propondo, não me aguentei e ri na sua cara. 

-Você é tão engraçado -eu comentei, batendo de leve no ombro de Harry enquanto caminhávamos até à mesa do jogo que eu queria- da última vez que chequei, nós tínhamos quase dezoito anos e não quinze. 

Quando chegamos na área, para minha surpresa, encontrei Niall jogando contra alguns rapazes que não reconheci de cara, mas logo reconheci que eram do segundo ano. No som da música, batuquei a mesa para chamar a atenção dos jogadores.

-Posso ir na próxima? 

Niall ficou me encarando como se eu fosse uma criminosa por uns três segundos e ao ver que não teria uma resposta vinda dele, virei meu rosto para os rapazes do segundo ano e eles confirmaram.

Niall deu alguma desculpa esfarrapada que eu não consegui ouvir por causa da música e se afastou da mesa, provocando algumas reclamações das pessoas ao redor. Sem entender e me importar muito, peguei a gola da blusa de Harry e o puxei para o meu lado atrás da mesa de Ping Pong.

-Ei, minha cerveja, Abby! - reclamou igual uma criança mimada.

-Vamos jogar beer pong, álcool não é o que vai faltar, vai por mim.

Sabe, quando eu disse para irmos jogar aquele tipo de brincadeira eu tinha em mente que seria por pouco tempo e por diversão, e realmente foi -se você tirasse o fato de que o Harry era praticamente cego e não conseguiu acertar nenhuma bola no copo da outra dupla e nós, do outro lado, perdemos feio, foi divertido ver a cara de decepção do meu parceiro, até o ponto em que quando saímos do jogo não foi porque cansamos, mas pela embriaguez de Harry. 

O cara estava mais bêbado do que eu pensava. 

Como eu sei disso? 

Ele começou a acariciar a minha cabeça e me cheirar descaradamente e, quando digo acariciar, quer dizer que Harry estava passando a sua mão gordurosa lentamente sob o meu cabelo, indo da raiz até as pontas e repetindo o processo.

Eu lavei meu cabelo ontem, isso é sacanagem, 

-Você é muito cheirosa -ouvi sua fala enrolada no meu ouvido.

Ignorei o pequeno arrepio que subiu pela minha costas e coloquei a mão em seu rosto.

-Você está fedendo a cerveja -eu fiz careta, afastando-o de mim- espaço pessoal, por favor.

Harry pareceu ficar bravo, a julgar pela forma que me olhava -as sobrancelhas franziram para baixo, seus olhos quase sumindo por causa da baixa iluminação da casa- o que também ajudou ele parecer meio assustador. 

Frustrado e irritado comigo, ele abriu a boca para, novamente, me surpreender:

-Se você não me quer, eu encontro quem queira.

Dizer que meu queixo foi parar no chão é um eufemismo. Eu estava surpresa com a audácia dele, e enquanto eu assistia a sua bunda rebolar para o meio da pista de dança, que na verdade era um povo dançando num círculo, eu não consegui ter uma reação. 

Depois do que pareceu quinze minutos, mas na verdade foram só um e meio, fui pegar mais uma cerveja para mim e voltei para a sala, querendo ficar de olho em Harry; ele estava bêbado pra burro e era até engraçado vê-lo tentar dançar.

Não iria atras dele, mesmo que eu quisesse, porque primeiro: ele estava bêbado; segundo: eu nunca entenderia o que ele estivesse falando e vice versa com  aquela música dos infernos que parecia aumentar o volume toda hora; e terceiro: a preguiça era maior. 

Claro, não demorou muito para uma garota se aproximar dele, mexendo os quadris de um lado para o outro como se estivesse dançando a dança do Siri. Eu cruzei os braços e cobri meus lábios com a lateral da minha mão, até eu entender quais eram as intenções da cidadã. 

Com as suas unhas vermelhas -eu supus que era porque combinava com a sua aparência-, ela envolveu a cintura de Harry e o virou para si, tornando a atenção dele. Harry, do jeito bêbado que estava, sorriu igual um idiota e foi no fluxo, dançando com a loira. 

Meus olhos quase saíram da minha cabeça ao ver a palhaçada que estava acontecendo na minha frente.

Deixei a latinha de cerveja em cima da mesa perto de mim, nem sabendo o porquê de eu ainda estar bebendo aquilo sendo que eu nem gostava, e fui até a pista de dança. Meus olhos estavam mirados na dupla dançando e minhas engrenagens já estavam  bolando um plano quando alguém puxou meu pulso com tudo para trás, me fazendo virar e quase levei a minha outra mão de encontro com o rosto da pessoa que tinha decidido me tirar do meu percurso, até eu ver quem era.

Liam. 

Meu ex-namorado. 

Com seus 1,80m, ele continuava do mesmo jeito que eu o tinha visto da última vez: bonito e intrometido. 

Eu estava claramente surpresa com a sua presença, sem falar sobre a forma que ele tinha me puxado, então quando ele me cumprimentou e me perguntou o que eu estava fazendo ali, eu respondi no automático:

-Não sei, o que se faz numa festa? 

Não queria ter sido tão grossa, mas eu não sabia exatamente o que falar ou fazer. 

Liam apenas riu, seus olhos se fechando levemente e as covinhas em baixo dele aparecendo. Segurei minha mão de tocar elas, junto com a minha obsessão por covinhas.

-Desculpa -eu disse, balançando a cabeça para acordar do meu transe, e dei uma risada de leve.

-Já esqueceu que eu convivi com você por quase dois anos? 

Revirei os olhos e sorri.

-Liammm -grunhi.

Ele bagunçou meu cabelo sorrindo, e antes que eu percebesse, seus dois braços musculosos estavam ao redor de mim.**

-Senti sua falta, mano -eu bati nas suas costas.

Eu senti o aperto em volta de mim afrouxar e pensei que Liam estava se afastando para me dizer por onde que ele esteve, me dar uma atualizada na vida dele, ou sei lá, qualquer coisa menos o que eu estava vendo. 

Harry pareceu ter brotado do chão, literalmente, porque quando eu vi, ele estava ao meu lado e tinha empurrado Liam para longe de mim. 

Antes que eu continue te contando sobre a  tragédia que estava acontecendo, é melhor termos algumas coisas esclarecidas.

Liam era um cara muito de boa, ficava sempre na dele, e quase nunca brigava, mas quando se exaltava ele falava tão rápido que chegava a ser impossível entender o que saia da boca dele. E, no tempo em que namoramos, sempre que havia alguma briga entre nós, eu pedia para ele respirar fundo e falar mais devagar se não eu ia deixar ele falando sozinho -o que apenas o irritava mais ainda.

Então, quando Harry apareceu do armário de Nárnia, claramente fora de si, eu apenas fiquei o olhando igual uma retardada querendo entender o que ele estava querendo fazer, e também calma, porque eu sabia que a última coisa que ia acontecer aí era uma briga.

-Sai de perto dela, ela já pediu -a fala de Harry saiu enrolada e ele teve que gritar por causa da música.

-Hã... Não, eu não pedi.

Harry olhou para mim bravo e repetiu, sem quebrar o contato visual.

-Sim, pediu. 

Eu estava confusa, mais do que eu fico em prova de matemática. 

-Ou, cara, calma aí -Liam tentou intervir, colocando a mão no peito de Harry como sinal de paz.

Quer dizer, eu vi como sinal de paz, agora Harry não tanto.

-E quem é-

Harry nunca terminou a sua fala. Eu gosto de pensar que foi Deus me ajudando, porque eu sabia que coisa boa não dali não sairia, porque o que saiu foi toda a bebida alcoólica que Harry teve nas últimas horas, a qual caiu bem nas botas de Liam. 

As pessoas ao nosso redor se afastaram ao ver que alguém estava vomitando, e como sempre, ninguém veio ajudar. 

Qual é dessas pessoas em festas que parecem ter esquecido a educação em casa?

-Abby, para de rir dele -Liam murmurou, olhando entre mim e Harry que ainda estava abaixado vomitando. 

Tudo bem, talvez eu tenha sido um pouco hipócrita. 

Harry tentou se levantar, passando a costas da mão na boca para limpar e eu juro que quase vomitei junto. 

Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, porém eu fui mais rápida e o impedi.

-Nem ouse falar nada se não você vai vomitar de novo -avisei, tentando esconder o riso e o nojo. 

Liam disse alguma coisa que ia embora e tirou o tênis, mas eu nem prestei atenção, já que eu estava olhando para Harry e notei a cara dele esbranquiçar. 

Eu levei isso como um sinal de que ele estava prestes a vomitar de novo e, como eu não queria que ele o fizesse na mesma possa de vômito que havia se formado alguns centímetros de nós, passei meu braço debaixo do dele, segurando-o pela cintura e comecei a berrar para abrirem caminho até o banheiro.

-Sai da frente, porra! Ele vai vomitar! 

Como se eu fosse Maomé-eu acho que é ele, né?- e o povo o mar, houve uma repartição e, no final, eu vi uma porta aberta e uma privada, indicando que era o banheiro. 

Vendo Harry quase vomitar no meu cabelo ao sentir seu arroto no meu rosto, eu corri.

Quando chegamos no banheiro, Harry se ajoelhou em frente à privada e voltou a vomitar. Eu fechei a porta com o meu pé e fiquei segurando o pequeno topete dele para trás depois de colocar a toalha de rosto no meu ombro, para ele se limpar depois.

Certamente, Harry vomitando e eu segurando seu cabelo e passando a mão nas suas costas, era a última coisa que eu pensei que iria acontecer hoje.