Abrindo a porta de casa com a minha chave, mesmo ainda do outro lado, era possível ouvir o som de conversa e uma música. Logo, descobri que minha mãe estava dando uma de suas sociais em casa de novo e esqueceu de me avisar.
Engraçado que se fosse eu no seu lugar, iria ter a minha cabeça cortado no pescoço.
Graças à minha mãe, consegui ir dormir lá pelas três da madrugada, depois de ter cumprimentado todos os seus amigos que vieram e ainda ter que ficar ali por um tempo para mostrar a educação que minha mãe proclamava ter me dado; só então ela me liberou para ir tomar banho e dormir, ou seja, depois que todo mundo foi embora e eu ajudei a limpar a casa.
Não era atoa que quando acordei no dia seguinte, estava atrasada para as duas primeiras aulas e quando finalmente entrei no colégio, tive que ir direto para a aula de educação física, quer dizer, tem melhor jeito de começar uma sexta-feira?
Sintam a ironia.
Claro, como se cair da cama e ter que ficar correndo cinco voltas ao redor da quadra não fosse suficiente, o professor decidiu que hoje seria jogo de futebol misto. Ás vezes eu me pergunto se ele é igual os acéfalos desse colégio, porque colocar garoto de 17/18 anos jogando contra as garotas da mesma idade iria dar merda.
As meninas da minha turma são bem agressivas quando o assunto em questão é esporte, assim como os rapazes, mas é visível a diferença de força do chute da bola entre os dois. Por isso que quando há a mistura dos dois em jogos, o fato de eu sair machucada é evidente, então eu sempre fico afastada da bola.
Harry, pelo outro lado, adora ficar no centro e de preferência, com a bola (n/a: sem pensar merda). Não vou negar, ele é realmente bom e não apenas em futebol, como basquete, vôlei, etc. Eu, na outra mão, estou na categoria médio, não sou a pior, mas também não sou a melhor.
Ao ouvir o apito do professor, fiz uma careta com o som agudo. Harry que estava do time adversário e parado na minha frente, franziu a sobrancelha e ignorou o início do jogo para vir perguntar para mim se eu estava bem.
-Sim, eu só tô sendo fresca -abanei a mão, tentando mostrar que estava tudo certo.
Corri em direção da bola e dei uma empurrada de leve em Harry para ganhar tempo para mim, mesmo que já houvesse uma turminha lutando para monopolizar a bola. Ouvi Harry murmurar um "safada" incrédulo atrás de mim e me limitei a rir sozinha.
Incrivelmente, consegui entrar no meio das pessoas que estavam chutando a bola e tive a chance de literalmente tocar ela por alguns segundos antes que alguém desse um carrinho em mim, chutando com tudo o meu tornozelo. Senti a minha bunda bater com tudo no chão e uma ardência subir da minha canela, para o meu tornozelo até o meu pé. Olhei para minha frente e vi a cabeça morena de Trevor se virar na minha direção. Eu estava começando a me questionar o que eu tinha feito para conseguir me machucar tanto como estava nas últimas 24 horas.
Ouvi o professor apitar duas vezes e a comoção dos curiosas ao meu redor já estava se formando, Trevor sendo um deles, apenas me olhando sem falar nada. Antes que eu mandasse aquele povo ir tomar naquele lugar, o professor disse para eles saírem e me darem espaço para respirar; ele me ajudou a levantar do chão e me levou até a porta do ginásio, dizendo para eu esperar que iria pedir para alguém vir comigo.
Eu estava começando a estranhar que nem a Jenna ou Bret tinha aparecido para me ajudar, ou até mesmo Harry, quando um couro começou do centro da quadra.
"Briga! Briga! Briga!"
O professor virou a cabeça tão rápido que eu pensei que ele ia estralar um osso. Olhei para o meu tornozelo e vi o sangue caindo do machucado, o que explicava a dor e ardência que eu estava sentindo, mas mesmo assim eu ainda estava curiosa para saber quem é que estava brigando.
-Vai indo para a enfermaria -o professor mandou antes de virar a costas e me deixar ali sozinha.
-Com um pé só? -perguntei para o nada, dando uma de dramática.
Revirei os olhos e comecei a pular para ir embora, xingando quem quer que estivesse brigando naquele momento que não poderia esperar cinco minutos até eu arranjar alguém para me ajudar a atravessar aquele colégio até a droga da enfermaria.
Quando cheguei lá, encontrei a enfermeira Wilson mexendo no computador, mas quando me viu entrando soltou um suspiro e murmurou um "ah, é você". Levantei a sobrancelha para ela e continuei pulando em um pé só até a maca. Bem quando ela estava fechando a aba da tela do joguinho do Candy Crush, a porta se abriu com tudo e apareceu Harry. Estranhei ao ver que seu lábio estava cortado, um rastro de sangue caindo até o queixo. Ele mal tinha se curado da briga da semana anterior e já estava machucado de novo?
-Harry, seu lá-
-Você está? Abby, você tá sangrando -Harry me interrompeu, caminhando até mim.
-Eu vou ficar bem, é s-
-Você não vai ficar bem, está saindo sangue de você! -ele disse desesperado, tocando na minha perna machucada.
-Hã... -comecei, mas incerta do que falar e decidi olhar para a enfermeira, quando a vi abrindo seu armário e pegando um pacote de Doritos, olhando a cena interessada- Não é como se eu nunca tivesse sido machucada antes...
-Você vai precisar de pontos! Ela vai precisar de pontos? -ele se virou para a enfermeira Wilson que apenas deu de ombros- Eu disse!
-Harry, você está exagerando, senta a-
-Sentar? Você quer que eu sente depois que aquele babaca te machucou desse jeito? -Harry perguntou raivoso, apertando a minha coxa.
-Ele não fez de propósito... -falei baixo, em meio ao seu discurso de como Trevor tinha planejado me machucar.
Sinceramente, eu não estava entendo o motivo de Harry estar agindo assim, tão preocupada como se eu sangrando fosse o fim do mundo -não é como se ele não estivesse sangrando também.
Normalmente, pessoas que agem dessa forma tem medo de sangue ou, ao menor sinal dele, desmaia. Quando pensei nisso, tive que cortar Harry e perguntar.
-Você tem medo de sangue, Styles?
-N-não -ele respondeu rápido e deu uma gaguejada no final.
-Eu acho que ele tem sim -a enfermeira interferiu, balançando a cabeça para cima e para baixo.
-Eu também -sussurrei alto para ela e depois me virei para Harry- se acalma, respira fundo que é só um corte.
Como ele podia ter medo de sangue, mas não se importar de estar sangrando? Não dá para entender Harry Styles.
-É só um corte -ele repetiu depois de mim.
-Isso... -ele continuou repetindo mais uma cinco vezes e pareceu dar uma acalmada- Agora me diz, o que aconteceu com você?
-Do que você tá falando?
Apontei para a sua boca e ele abriu a boca, lembrando.
-Soquei o Trevor.
-Você o quê? -minha voz aumentou dois oitavos.
Como se fosse a deixa dele, Trevor abriu a porta da enfermaria, mas ao ver que Harry estava ali, os dois tiveram aquele contato de olhar em que um estava se cagando de medo e o outro lançava facas apenas com os olhos.
Acho que dá para deduzir quem é quem.
Sem esperar mais dois segundos, Trevor fechou a porta.
-Droga -ouvi a enfermeira dizer e nos viramos para ela- eu estava esperando mais ação.
Arqueei as sobrancelhas com a sua fala e estava pronta para mandar ela cuidar da vida dela, ou até mesmo voltar a jogar no computador, quando ela continuou a falar.
-Desculpa dizer isso, galera, eu odeio ser a vilã da história também, mas Harry, -ela se virou para a mesa, lambendo os dedos sujos de Doritos e escreveu alguma coisa- você está sendo suspenso por três dias por ter agredido um colega.
Ela não é uma enfermeira? Por que ela está dando a suspensão para o Harry se deveria ser o diretor?
Desisto de entender a vida.
-Você está falando sério? -Harry perguntou, olhando para ela sem saber o que fazer.
-Sim, eu já tinha deixado passar o acidente com o menino nerd... Mas depois desse, você está me deixando em uma rua sem saída.
-Mas-
-Sem "mas" -ela falou, estendendo o papel para Harry- entregue para o diretor, e se não estiver lá até o fim das aulas, a suspensão vai virar de uma semana automaticamente.
-Sério? -eu perguntei dessa vez, surpresa com a rigidez do sistema.
-Sim -ela suspirou.
-Viu? Isso que dá querer dar um de valentão -briguei com Harry, empurrando seu braço de leve.
Ás vezes eu me esquecia que antes de eu realmente me aproximar de Harry, ele era sério com todo mundo e não deixava ninguém ficar perto dele, sem sair com uma patada verbal ou física.
Harry saiu de perto da minha maca e deixou a enfermeira Wilson fazer o curativo no meu tornozelo. Ele ficou me olhando o tempo todo e quando chegou a sua vez de limpar o corte em seu lábio, ele se recusou.
Estranhei a sua quietude, mas deixei de lado.
Com o som do intervalo soando pelos corredores, saímos da enfermaria. Iria oferecer para acompanhar Harry para levar o papel da suspensão, mas ele disse antes de mim:
-Você sabe que eu estava apenas te defendendo, né?
Harry parecia genuinamente machucado pela minha falta de percepção e me senti mal; infelizmente, eu deixei um pouco esse sentimento de lado quando a garota indepentende dentro de mim resolveu tomar a cena.
-Você sabe que eu posso cuidar de mim mesma -tentei suavizar as minhas palavras com o meu tom de voz- eu não preciso que você me defenda, Harry.
-Mas eu quis mesmo assim -ele levantou os ombros, olhando para o chão.
Abri a boca para argumentar de novo, porém fechei. Não queria discutir com Harry. Eu gostava do clima que estava rolando entre nós e não estava disposta a estragar isso.
-Você já me ajudou em uma briga antes, -comentou, continuando a conversa- lembra na festa em que nos conhecemos?
Mordi meu lábio inferior ao lembrar da mesma festa em que chutei o saco de Harry e a minha existência ficou reconhecida por ele.
-Lembro -sorri.
-Eu estava apenas devolvendo o favor.
Fiquei olhando para Harry por alguns segundos, meu coração quase explodindo do meu peito com as suas palavras.
-Tudo bem, -suspirei, derrotada- obrigada por me defender, Harry.
-De nada -ele sorriu, aproximando seu rosto do meu e deixando um beijo na minha bochecha.
Eu queria não ter o feito, mas eu acabei lembrando da noite anterior quando Bernard beijou a bochecha ao contrária que Harry tinha beijado. Lembrando dos olhos claros de Bernard, o mesmo embrulhamento no estômago voltou, junto com um friozinho e o som da sua voz.
Comecei a lembrar do nosso último verão juntos e esqueci do rapaz que estava sumindo no corredor, no meio da multidão.
Era noite, o céu estava estranhamento estrelado e não estava tão frio como eu pensei que fosse ser, afinal, era sempre frio na Inglaterra.
-Sério, que macumba você fez dessa vez, Ner? -perguntei, olhando para cima e ao redor, enquanto andávamos lado a lado, eu com um cobertor ao redor de mim e Bernard segurando alguns troncos de madeira.
Terminamos de subir a colina quando Bernard respirou fundo, jogando o que estava em seus braços no chão e ajeitando-as.
-Dessa vez, nenhuma -ele riu e pegou um fósforo.
Acendendo-o, ele jogou entre as madeiras e assistimos enquanto pegava fogo. Tínhamos decidido fazer uma fogueira e dirigimos até a colina -uma das mais famosas da cidade- e esperamos para a semana da lua cheia; compramos bebida, salgadinhos e eu trouxe uma coberta de casa.
-Você realmente fez uma fogueira com um fósforo? -eu perguntei, apoiando meu peso em uma perna e o olhando cética- Cadê seu espírito de escoteiro?
-Não estamos nos Estados Unidos, bae* -ele riu de mim, colocando seu braço sobre meu ombro e me puxando para mais perto dele- aqui é faz o fogo logo ou morre congelado.
Dei uma cotovelada nas suas costelas e ele fez cara de dor, fingindo horrivelmente que estava machucado.
-Besta -falei zoando e puxei ele para nos sentarmos na parte de fora da picape do seu pai, sendo muito mais conveniente do que a moto.
Ouvi Bernard abrindo o saco de salgadinhos e ajeitei a nossa mini cama pela noite, me preparando mentalmente para acordar cheia de dores na coluna.
Pelo menos eu não seria a única.
Peguei a garrafa de tequila e abri, tomando um gole antes de trocar com Bernard. Uma música baixa começou a tocar e olhei estranha para o rapaz ao meu lado, sabendo que tinha sido ele quem havia feito isso.
-Que música é essa? -eu perguntei, fazendo careta para a melodia lenta e o som de violino no fundo.
-Eu tô tentando criar um clima romântico, não estraga -ele empinou o nariz, passando o braço ao redor da minha cintura para me puxar para mais perto.
-Tarde demais -falei rindo e achei seu celular ao seu lado, e apertei na tela para mudar de música, passando para próxima, e adivinha? Era praticamente a mesma música: lenta e chata- Quantas músicas dessa você tem, cara?
-Eu fiz uma playlist pra você -ele sorriu maroto.
Coloquei a mão no meu peito e fiz o barulho de "awn".
-Essa é uma das coisas mais fofas que você fez pra mim -falei verdadeiramente- está em segundo lugar, vindo depois daquela vez que você disse que eu estava bonita depois de acordar de ressaca e ter um pênis desenhado na minha testa.
Bernard levou a cabeça para trás, rindo da lembrança de uma das primeiras vezes que saímos.
-Aquela noite foi épica -ele disse, abrindo um sorriso malicioso.
-Ah, começou, estava demorando -balancei a cabeça negativamente, sentindo a mão dele acariciar a minha cintura enquanto observava ele tomar um gole da garrafa- você reclama que eu sempre acabo com os nossos momentos românticos, mas olha aí você fazendo a mesma coisa.
-Eu não conto.
-Não conta seu rabo, isso sim -peguei um salgadinho e enfiei na boca, mastigando enquanto olhava para o fogo- mas agora falando sério, por que a gente quis fazer uma fogueira se nós nem estamos perto dela?
Senti Bernard dar de ombros e seus lábios tocarem meu ombro desnudo.
-Não sei, acho que foi mais pra dizer que fez mesmo -ele respondeu, não se importando com a minha mudança de assunto.
Virei meu pescoço para ele e, rindo, disse:
-Nós somos bem idiotas ás vezes.
-Só ás vezes? -riu, colocando a garrafa ao seu lado- olha pelo lado positivo -ele colocou a mão no meu queixo e me fez olhar para o céu -o céu está estrelado, sem nenhuma nuvem.
-E é noite de lua cheia -adicionei, sorrindo- sabe o que significa?
-AUUUUUUUUUUUUUUUU -Bernard fez barulho do urro de lobo, fazendo nós dois gargalharmos.
As nossas risadas foram cessando lentamente, até que apenas o barulho da música ficou preenchendo o silêncio entre nós. Aproximei meu rosto de Bernard, seu hálito batendo contra o meu rosto e balancei a minha cabeça levemente, sentindo seus lábios roçarem contra os meus.
Eu ainda estava tentando superar o fato que o garoto que eu era apaixonada há quatro anos estava sendo o meu namoro de verão.
-Eu estava enganada -murmurei contra a boca dele, meus olhos focados entre a pequena distância entre nós e levantei para encontrar seu olhar confuso com a minha fala- essa música é bem pior que a outra.
Bernard soltou uma gargalhada gostosa e com a mão ainda no meu queixo, levou-a até a minha bochecha e puxou meu rosto, me beijando entre as nossas risadas.
Seu beijo tinha gosto de perigo.
Ficamos deitados na picape dele aquela noite, olhando para o céu, bebendo e arrancando risadas um do outro com as nossas palhaçadas; eu amava dormir, mas pela primeira vez, não me importei de ficar acordada a noite inteira com ele.
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