História Cliche - Piratas e Esquimós

Quando as aulas acabaram eu havia combinado de ir procurar uma fantasia para a festa com Jenna, tentei arrastar Bret junto, mas ele tinha que pegar algumas coisas para a casa e arrumar tudo. 

Segundo ele, neste Halloween seria a sua vez de ser o Zorro, e eu cito, ele iria arrasar o coração de todas as garotas; Jenna, por sua vez, já tinha escolhido quem iria ser: Arlequina. Eu tinha certeza que metade da população feminina iria se fantasiar igual a ela, o filme Esquadrão Suicida tinha lançado há três meses, então era meio que óbvio, só que minha amiga não pareceu se importar com isso. 

Havia chamado Harry para a festa e ele tinha dito que ia pensar e para eu mandar o endereço por mensagem caso ele decida ir, ou seja, eu não tinha ideia se ele ia mesmo ou não; lembro de Harry comentar que iria finalmente buscar seu bebê depois da aula, e quando digo "bebê" eu estou me referindo a lata velha que Harry chama de carro e como ele disse que iria melhorar seu dia depois do incidente-não-tão-incidente da aula de educação física. 

 Eu queria ir com fantasia combinando com a dele, mas sabia que não fazia sentindo irmos assim, era bem clichê e eu já tinha suficiente disso na minha vida. 

Depois de passar por quatro lojas, perder a paciência com duas vendedoras e quase estragar três roupas por não saber como coloca-las, estava com a minha fantasia dentro de uma sacola e uma peruca -a que pareceu menos falsa- e me encontrei muito mais animada para a festa do que antes. 

Jenna pediu para darmos uma passada na casa dela e buscarmos a sua roupa e maquiagem, sendo que tínhamos combinado que iríamos nos arrumar na minha casa por ser mais perto da de Bret. 

Eram quase seis e meia quando fechei a porta do quarto atrás de mim e eu sabia que nosso horário estava apertado. Deixei Jenna ir tomar banho primeiro e guardei as nossas fantasias no cabide, pendurando-as na maçaneta do meu armário para não ficarem amassadas. Olhando para as roupas, eu só estava rezando para que o clima continuasse fresco e não resolvesse esfriar. 

Era mais um costume americano a comemoração do Halloween, mas os adolescentes ao redor do mundo todo organizavam festas e adicionavam o "feriado" de outubro em seus calendários, e a minha cidadezinha era mais um desses lugares que tinha as suas lojas enfeitadas com adesivos de abóboras, bruxas, fantasmas e caveiras de desenho. Minha mãe, na outra mão, era até engraçada ao falar sobre isso por ela ser contra a comemoração dos mortos, pois por ela, quem é morto tem que ter paz e ninguém estava dando isso a eles quando nos fantasiamos de, por exemplo, fantasmas e zumbis. 

Eu estou falando isso porque tive que ouvir ela reclamando no meu ouvido no telefone por vinte minutos, hoje à tarde, quando contei para ela que iria para a festa de Halloween de Bretman -e até agora, enquanto eu estava ajeitando meu quarto e ela encostada na porta, continuava me perguntando qual era a necessidade de eu ir nessa festa. 

Não sei mãe, talvez pelo fato de eu ter gastado quase cinquenta libras em uma fantasia que eu tenho certeza que eu não vou usar de novo?

Agradeci mentalmente quando Jenna abriu a porta do banheiro e eu corri para dentro, querendo tomar meu banho e acabar com a conversa que eu não estava nenhum pouco com vontade de continuar. 

Fiz o que tinha que fazer lá dentro e tentei não demorar muito, saindo depois de ter passado um creme com cheiro floral nas minhas pernas e voltei para o quarto. Encontrei Jenna jogada na minha cama mexendo no celular e com a blusa branca com as mangas vermelhas de sua fantasia.

-Não vai terminar de se vestir? -eu perguntei, jogando uma camiseta velha por cima para poder me maquiar e não sujar a minha roupa, uma vez que ela era toda branca.

-Estava te esperando para começar a maquiar.

-Awn, até parece que você é fofa assim -fiz biquinho em sua direção e peguei a minha bolsa de maquiagem, indo até a minha cama.

Jenna murmurou um baixo "vaca" que foi abafado pelo início da música que ela tinha colocado. Reconheci o som de Break Free da Ariana Grande e comecei a cantar baixinho enquanto pescava a minha base no meio dos meus produtos.

Não vou mentir, eu amo me maquiar, posso não fazer isso diariamente por pura preguiça, mas quando tinha algum lugar para sair, eu sempre caprichava e hoje não seria exceção. Um pequeno detalhe é que eu não era rica e tinha dinheiro para ficar gastando com primer e hidratante, sendo que eu tinha Jenna que era cheia de mimimi e comprava tudo que tinha cosmético que possa existir para pele, e eu acabava sempre usando o dela. 

Depois de gastar uma meia hora no meu rosto, gastei mais vinte minutos só nas minhas sobrancelhas. Os vídeos no youtube de tutorial fazem parecer que é super fácil preencher e delinear a sobrancelha, mas vai tentar fazer isso você mesma que descobrirá que aquilo não tem nada de fácil. 

Quando passei para os olhos, coloquei uma sombra branca e passei por cima um glitter que havia comprado há alguns meses; queria passar delineador, mas sabia melhor do que isso e não tinha mais meia hora e nem a paciência para ficar corrigindo até deixar os dois olhos iguais, então pulei para os cílios postiços. Passei um batom nude e cutuquei Jenna na mesma hora em que ela estava passando o batom vermelho por seus lábios e acabei fazendo-a borrar.

Eu conseguia sentir as facas saindo dos olhos dela e me acertando.

-Não briga comigo -falei rapidamente, tentando pensar em alguma coisa pra acalmar a fera- lembra que o batom também é meio que borrado.

Jenna olhou para a foto no seu celular e depois voltou a olhar para mim e respirou fundo.

-Você teve sorte dessa vez -ela disse, cerrando os olhos.

Ri sem graça.

-Mas... Então, eu já terminei, o que achou? -perguntei nervosa, olhando para o espelho rapidamente e contente com o resultado, mas ainda querendo ouvir a opinião da minha melhor amiga.

-Gostei do que você fez nos olhos -ela elogiou, apontando para o meu rosto com o batom vermelho entre seus dedos.

Eu fiquei com medo dela me acertar como forma de vingança e virei a cabeça para o lado, fazendo ela rir.

-Eu não vou te agredir com um batom, anta -Jenna me acalmou, voltando a passar o produto em seus lábios- vai colocar a peruca e a roupa pra ver como fica tudo.

Pulei para fora da cama e peguei a fantasia e joguei a blusa no chão que eu estava usando. Passei o casaco branco entre meus braços e depois coloquei a saia branca. Decidi já colocar a bota e fui procurar a minha peruca, encontrando-a em cima da minha cômoda. Demorei uns quinze minutos para esconder meus cabelinhas dentro daquela touca horrível e, quando consegui, olhei para Jenna e comecei a rir.

-Eu pareço um ovo -apontei para mim mesma, vendo enquanto minha amiga se juntava a rir comigo.

Joguei meu tronco para frente e, ainda rindo, encaixei a peruca. Me virei para o espelho e tentei consertar até ficar perto da perfeição, meu lado detalhista aflorando naquele momento. Quando estava quase terminando, vi Jenna sair da cama e começar a se trocar, colocando também a sua peruca depois. 

Soltei um suspiro de alívio ao ver meu reflexo no espelho e me sentindo satisfeita com o que via.

-Você é a esquimó mais gostosa que eu já vi -ouvi Jenna dizer se aproximando de mim e se abaixou um pouco, consertando as maria chiquinhas.

-Obrigada, Arlequina -bati meu quadril com o dela e sorri. 

-Acho que a gente quebrou nosso record -ela avisou, acenando para o relógio.

Eram nove e vinte e tínhamos acabado de nos arrumar -durou por cerca de três horas.

-Porra -murmurei, surpresa conosco.

-É -riu- é melhor nós irmos, prometi ajudar Bret com algumas coisas.

-Você sabe que a festa já começou faz quase meia hora, né? -comentei, seguindo Jenna ao sair do quarto.

-Sim, mas eu espero que ele não -ela riu nervosa.

•••

-Olha só quem decidiu aparecer! -foi a primeira coisa que Bretman disse quando viu Jenna e eu entrarmos- É como o ditado diz: quem é vivo sempre aparece.

-Cala a boca -Jenna revirou os olhos, puxando ele para um abraço.

-Zorrooooo -falei com tom de brincadeira, olhando para a fantasia de Bret- adorei a capa.

-Obrigada, -ele puxou-a entre seus dedos, cobrindo o nariz e mantendo apenas seus olhos descobertos pela máscara- minha querida esquimó.

-De nada -dobrei meu joelho, fazendo uma referência.

-Harry não vai vir? Pensei que ele estaria com você -Bret disse, olhando para trás de mim e procurando meu suposto acompanhante.

-Nem sei se ele vem -dei de ombros.

-Bom, -balançou a cabeça e abriu um sorriso para mim- tem cerveja de sobra na cozinha, aproveita.

-Você sabe que eu não bebo.

-Tem vodca.

-Tô indo -comecei a andar e puxei Jenna comigo.

Eu conhecia onde ficavam as coisas por ali, então não foi difícil encontrar o que eu estava querendo, ou seja, a cozinha, mas como todas as coisas boas, há também as ruins.

No meu caso, era Rosemary.

Não que ela seja uma coisa ruim, mas ela não pode ser considerada boa mais, não depois de tudo o que aconteceu. 

Por incrível que pareça -ou talvez nem tão assim- ela estava vestida de Pequena Sereia, mas com uma mudança. Os seus cabelos avermelhados foram bem com a fantasia, isso eu não podia negar, como a parte de cima do seu corpo, por ela ter seios pequenos, as duas conchas roxas que cobriam-nos não fazia parecer tão inapropriado como teria sido com quem tem seios maiores, o que em minha opinião não é justo, porque no final é a mesma roupa.

Só que isso já era esperado, todo o Halloween pelo menos 90% do corpo das meninas ficam expostos e eu estava inclusa nesse rank esta noite, vendo a minha fantasia.

O engraçado mesmo era que Rosemary não tinha uma calda, assim como a personagem que ela deveria ser, e estava usando um shorts saia verde coberto por lantejoula e agora é a melhor parte: ela estava descalça. Sinceramente, eu não gastei muito tempo me preocupando no provável machucado que ela teria até o fim da noite por ficar andando sem qualquer proteção no meio de uma festa em que, mais cedo ou mais tarde, uma garrafa quebraria e faria um machucado feio nela.

Indo pelo bom senso, fui na decisão de ignorar a visão de Rosemary sentada em cima da pia da cozinha de Bret, praticamente engolindo a cabeça de um rapaz que, quando cheguei perto, notei o rastro de sangue falso e dois pontos no pescoço dele e deduzi que era a tentativa de se fantasiar como vampiro. Só quando eu fui pegar a minha bebida e a de Jenna que consegui ver o seu rosto e me surpreendi ao reconhecer Louis, mas também, por que eu deveria ter ficado supresa? Aqueles dois são a definição de relação ioiô. 

Me apressei pra sair dali sem ser notada e entreguei a latinha de cerveja que Jenna pediu para ela e abri a minha garrafa, colocando no meu copo. Não sou louca o suficiente para beber da boquinha.  

Eu estava na pista com Jenna, dançando muito mal por sinal -pelo menos eu estava tentando melhorar- ao som de alguma música do Kanye West quando eu engasguei com a bebida. Jenna começou a bater nas minhas costas rapidamente e gritou algumas vezes no meu ouvido, perguntando se eu estava bem. Eu apenas assenti, tossindo forte e tirei a sua mão de perto de mim, querendo que ela parasse de me bater. 

-Har-tossi de novo, e voltei a falar- Harry... -tossida- Pirata...

-Hã? -ela perguntou confusa.

Dei mais algumas tossidas e peguei no seu queixo, virando-o para a direção que meus olhos estavam focados em meio às lágrimas e também aonde era a razão do meu engasgo. Jenna murmurou alguma coisa, mas a voz do Kanye gritando nas caixas de som "I made that bitch famous" não me deixou compreender o que a minha amiga estava falando. 

Senti a mão de Jenna segurar o meu pulso e ela me puxou até onde Harry estava. Contornando algumas pessoas que não sabia como dar licença, consegui chegar perto o suficiente para ver direito a fantasia de Harry, ou melhor do Jack Sparrow. 

Sabia que era impossível ele ter crescido o bigode e a barbicha que ele tenta há quase dezoito anos, e achei muito legal a trancinha que tinha no final do queixo dele. Harry, assim como eu, estava usando uma peruca por causa dos dreds e dos acessórios que o cabelo do personagem do filme usava.

Fiquei alguns segundos perdida no peitoral à mostra, iluminado por uma luz azul; ele usava um colete e uma blusa branca, na mão alguns anéis e uma luva cortada nos dedos feita de um pano bem fino, ele estava sentado, o que dificultou ver direito o resto da fantasia, mas consegui distinguir a calça de couro e chutei que, em seus pés, estava um coturno. 

Não era à toa que eu tinha engasgado na hora em que vi Harry, ele estava gos-to-so. 

-Bebei amigos, yo hou!* -ouvi ele gritar para as pessoas ao seu redor e observei enquanto o via pegar um copinho de shot e virar guela a baixo.

Eu já tinha esquecido como Harry se enturmava fácil em festas. Lembro que em uma das primeiras que eu fui, a mesma em que chutei o amiguinho dele, havia uns três caras que ficavam seguindo Harry para todo lado e mais tarde eu descobri -depois de fazer algumas perguntas não tão discretas- que eles eram uns caras que ele havia conhecido em uma rodada de shots que fizeram.

-Ele é o melhor Jack Sparrow que eu já vi... -Jenna sussurrou no meu ouvido.

Virei meus olhos para ela e dei um tapa em sua cabeça.

-É só um comentário, ow! -ela protestou, fazendo carinho aonde eu tinha acertado- Ele é seu, acalma aí.

Eu estava prestes a responde-la quando tomei um susto com o barulho de algo se quebrando. Em seguida, um braço caiu em cima do meu ombro e eu quase gritei, pronta para atacar quem quer que fosse, até que eu vi que era apenas Harry que derrubou uma cadeira, tentando vir até mim. Notei um brilho nos seus olhos quando ele olhou para o que tinha feito. 

-Todo mundo viu isso? -ele perguntou alto, olhando para o pessoal que estava na roda- Por que eu não vou fazer de novo!**

Franzi as sobrancelhas e levei a minha cabeça para o lado, sabendo que meu pescoço estava criando alguns queixos duplos por causa da familiaridade de suas palavras.

-Você está citando Jack Sparrow? -Harry olhou para mim ao me escutar, um sorriso no canto dos lábios se abrindo lentamente. 

Ele balançou a peruca para os lados, fechando os olhos.

-Não.

-Você está mentindo?

-Sim -agora ele fez sinal para cima e para baixo. 

-Melhor ficar de olho nele -Jenna falou rindo.

- Você sabe... Nos desonestos pode-se sempre confiar na desonestidade. Honestamente, os honestos é que deviam ser vigiados pois nunca se sabe quando farão alguma coisa realmente estúpida*** -Harry disse e a sabia que ele estava, de novo, citando uma fala do filme.

-Você decorou tudo isso? -perguntei, um pouco fascinada.

-Talvez... 

Empurrei ele de leve, sentindo seu braço sair de mim. Ajeitei a minha blusa, puxando-a um pouco para baixa quando ouvi Harry dizer:

-Você é a esquimó mais gata que eu já vi.

Inevitavelmente eu sorri, aceitando seu elogio. 

-Por acaso você já viu outra esquimó? 

-Não que eu me lembre -ele respondeu, baixando as sobrancelhas até que entendeu o que eu estava fazendo- Por que você sempre estraga as minhas falas? 

Eu ri, dando de ombros. 

-É o meu charme.

Ao ver Harry sorrir para mim, mostrando que desaprovava o que eu fazia -o que era mais como uma mania minha-, eu apenas esperava que essa noite fosse boa e, de preferência, diferente das anteriores festas que eu havia ido com Harry onde um dos dois ficava no banheiro, passando mal, porque eu me recusava a estragar essa fantasia.

Eu estava bonita demais para ficar ajoelhada na privada.

Depois de passarmos um tempo conversando perto da roda dos não tão novos amigos de Harry, houve uma competição de dança no centro da pista. Jenna já tinha ido toda feliz para lá, tanto para ver como para dançar. Eu sabia que se eu quisesse a minha morte social, mais do que já estava depois dos últimos vinte minutos, era eu seguir a minha amiga, então finquei os meus pés naquele lugar e ainda obriguei Harry a ficar comigo. 

Ele não foi exatamente forçado, porque tem essa coisa de livre arbítrio e eu também disse que se ele quisesse podia ir para lá ver o pessoal dançando de perto e ter uma grande chance de ser puxado para ter a sua própria vez, mas ele disse que iria ficar comigo por ali mesmo.

-Pra que gastar meu tempo com isso -comentei- tempo é dinheiro e, pra você hoje, é tesouro -dei uma piscadela, contente com o meu trocadilho.

-Tesouros não são apenas ouro e prata, amigo.****

-Você ainda está citando Jack Sparrow? -perguntei mesmo que no fundo eu já soubesse a resposta.

-Hmhmm -afirmou, sorrindo maroto. 

-Harry, -chamei ele, lembrando de uma coisa que eu havia lido mais cedo- você não é pescoço, mas mexeu com a minha cabeça.

Harry ficou me olhando por alguns segundos, processando o que eu tinha ouvido. Por um momento eu pensei que ele ia dar as costas e sair andando para longe de mim, com vergonha por me conhecer após eu jogar essa pérola ele. 

Surpreendentemente, ele ergueu um dos lábios para cima, deixando uma covinha aparecer e formando um sorriso sexy. Harry tocou no meu ombro e me puxou para mais perto dele para poder sussurrar no meu ouvido: 

-É estranho que eu queira te beijar agora? 

Minhas sobrancelhas quase tocaram meu couro cabeludo depois que o ouvi. 

Desde que eu havia falado com Harry sobre ter ficado me deixando na vontade, ele tem aproveitado todas as chances que tem de me beijar e, quando não tem, cria uma. Não que eu esteja reclamando, tsc tsc (eu dando uma piscada para vocês). 

-Não, não, -balancei a cabeça para os lados rapidamente, não querendo que ele desistisse da ideia de me deixar sentir seu gosto de novo- isso é totalmente aceitável. 

Consegui ouvir a risada de Harry perto de mim, mas dei uma murchada quando apenas senti ele passando o braço sobre o meu ombro e não fazendo mais nada. 

Abby sem beijo = Abby triste.

-Você sabe onde fica o banheiro daqui? -Harry perguntou, olhando para os lados.

-Sei sim, quer que eu te leve? 

Ele abaixou a cabeça, fazendo reverência.

-Depois de você.

Ri com a sua performance e peguei a sua mão que estava no meu ombro, indo na frente por causa do espaço limitado para passar na pista de dança até onde eu queria ir. Claro, tinha um banheiro perto de onde estávamos e que era muito mais acessível, porém eu sabia que provavelmente já tinha alguém vomitando lá e esse cenário não precisava ser adicionado nessa noite, então decidi levar Harry para o banheiro mais no fundo, perto dos quartos e o mais limpo.

Depois de atravessarmos o mar de corpos, entramos no corredor aonde tinha varias portas. Obviamente, há pessoas acéfalas que não sabem fechar a porta e a deixam entreaberta, e o barulho do que estão fazendo não está baixo o suficiente para alguém não ouvir. 

Dei uma olhada para trás, sorrindo sem graça quando passei com Harry por uma porta onde conseguíamos ouvir claramente uma voz feminina berrar "mais força" e "isso". 

Quando chegamos no fim do corredor, empurrei a porta do banheiro e suspirei aliviada quando vi que estava vazio e limpo, sem nenhum odor indesejável. Estava prestes a virar e falar "bom uso" para Harry, quando meu corpo foi empurrado para trás, e então me vi encontrada contra a parede, o som da porta batendo atras de mim. 

Meu rosto estava a centímetros de Harry, sua respiração com cheiro de álcool batendo contra os meu rosto. Sorri ao ver o que ele tinha feito e fechei meus olhos, sentindo Harry tocar nos meus lábios. 

Era como se não tivéssemos nos beijado há tanto tempo, a intensidade e a fervura presentes. 

Eu senti uma das mãos de Harry enterrar na minha cintura e outra na minha bunda, um fraco suspiro escapando no fundo da minha garganta ao sentir seu aperto. 

Era engraçado porque antes de Harry, a minha vida beirava a monotonia, aí ele chegou e pareceu ter jogado um furacão dentro da minha cabeça. 

Ele tinha se tornado alguém tão especial em tão pouco tempo; pegado meu coração e ainda dado um tchauzinho enquanto ia embora, mostrando como eu não podia fazer nada para não sentir o que eu estava naquele momento -o frio na barriga, o coração batendo tão rápido que eu tinha um leve medo de morrer. 

Não estou sendo dramática, aquele rapaz estava deixando a minha pressão subir, vai que eu tenho um ataque cardíaco e morro durante um beijo? 

Não seria a pior morte...

Quando enfim nos separamos, Harry deu mais um selinho em mim e se afastou, pegando uma garrafa da pia que tinha deixado e tomou um gole.

- E tudo isso sem deixar cair uma gota de rum *****-ele sorriu espertalhão.

-Isso não é rum, é tequila. 

-Eu sei, mas eu não passei a minha tarde assistindo os filmes pra não dizer tudo que eu decorei, né? 

Bati a mão na minha testa, balançando a cabeça negativamente com a confissão que tinha ouvido. Harry tinha se dedicado tanto para aquela fantasia, e a visão dele sentado no seu sofá assistindo os três filmes da saga me dava vontade de rir e ao mesmo tempo apertar as bochechas de Harry de tanta meiguice que eu estava lidando. 

-Hmm, falando nisso, você foi buscar a lata velha hoje?

-Já falei pra não chamar ela assim -Harry tirou a minha mão da minha cabeça e começou a brincar com os meus dedos enquanto respondia- mas fui sim, ela está nova em folha.

-Bom, não sei quão nova você quer dizer. 

-Abby... 

-Parei -dei uma risada baixa.

Olhei para os anéis nas mãos de Harry e me perdi nos detalhes da sua fantasias. Ele havia se empenhado bastante naquela roupa e era meio difícil pensar que ele fez tudo aquilo em uma tarde só.

-Você já sabia da festa, né? 

-Sim, -ele sorriu, pedindo desculpas com o olhar- eu ia fazer uma surpresa hoje quando aparecesse, só que eu acabei conhecendo um pessoal e perdi o tempo.

-Ô, Harry -empurrei de leve seu ombro, balançando a cabeça- foi quase romântico. 

-Pelo menos eu tentei. 

-Melhor que nada -pisquei charmosa e sorri de lado.

Harry ficou me olhando por alguns segundos e lentamente abriu um sorriso. Não era irônico nem maroto, como a maioria das vezes em que estávamos brincando, era mais um sincero. Estava começando a me sentir desconfortável com o seu olhar sobre mim, ele estava olhando cada detalhe no meu rosto e pensei que tinha alguma remela no meu nariz ou se eu tinha borrado meu rímel na minha bochecha e esquecido de limpar e Harry estava pensando em um jeito de falar isso, sem ferir meus sentimentos.

Estava pronta para perguntar se ele queria tirar uma fotografia para guardar emoldurada, mas ele disse:

-Vem, tem uma festa nos aguardando.