História Clichês 2 - Amores Não Correspondidos - Recados

Samantha

  - Eu sabia que era uma péssima ideia deixar você voltar para essa cidade! - O terno azul escuro do meu pai amassava mais cada vez que ele movia os braços para enfatizar as palavras - Eu te deixo alguns dias sozinha e recebo notícias que você apareceu no prédio chorando!
  Eu devia saber que ele estava me vigiando quando escolheu esse lugar, desde segunda-feira ele não me deixa sair do meu próprio apartamento!
  - E tudo por causa de um moleque qualquer! - Malditos guardinhas de portaria com boca grande, até que parte eles contaram? - Soube que ele passou uma noite aqui, espero que você não tenha sujado o nome dos Darsis!
  Aquele dia no sofá... Parece uma realidade tão distante, mesmo ele sendo irritante eu sinto falta do Felipe.
  O rosto do meu pai estava quase tão vermelho quanto os cabelos ruivos, e talvez os meus suspiros depressivos não o ajudem a relaxar, mas não importa, os olhos duros dele teriam feito a chapeuzinho vermelho nunca ter ido pela floresta, é como tentar argumentar com a parede.
  Depois de gastar bastante a sola do sapato de couro preto andando em círculos raivosos na minha sala enquanto me advertia dos meus deveres com o nome da família ele finalmente resolveu ir embora, e em breve, eu também iria...
Minutos após ele sair um servente do prédio apareceu na minha porta carregando um bolo.
  - A chefe confeiteira mandou eu entregar. - ele olhou nervoso para o fundo do corredor e as portas enfileiradas - É uma bandeja muito especial, olhe com cuidado.
  Ele deu uma piscadela conspiratória e me entregou aquele montinho de chocolate delicioso, a bandeja por mais especial que seja pode esperar eu experimentar essa delícia certo?
...
  Errado! Que burra eu sou! Santa Bennedith tentou me alertar mas eu não dei ouvidos, já era noite quando vi na bandeja escrito com uma caneta preta um recado do Felipe, ele veio me ver mas meu pai mandou os guardas o bloquearem na portaria.
  Por um breve momento me senti contente pela visita dele, eu poderia tentar desfazer o engano com o meu pai, explicar direito tudo o que aconteceu, mas eu sinto que preciso da ajuda do Felipe comigo.
  Busquei nas gavetas um papel e uma caneta, logo pela manhã irei pedir para algum funcionário da cozinha entregar um bilhete para a Bennedith.
...
  No dia seguinte ao que mandei o bilhete pedindo a ajuda dele para convencer meu pai um outro bolo chegou até a minha porta. Presa em casa e com tanto doce vou acabar sain desse prédio rolando de tão gorda, e me dói pensar em jogar tanto chocolate fora.
  "Duvido que seja fácil convencer o seu pai, mas não custa tentar, você só precisa trazê-lo até a entrada do prédio, vou estar esperando amanhã perto do meio dia."
  O recado do Felipe me animou, o que era engraçado já que estava escrito em uma bandeja, deixei um suspiro escapar lembrando como agi de forma boba ao ver ele na rua com outra garota, mesmo que isso de alguma forma ainda me doa.

Felipe

  Onde eu fui me meter. Um leve arrependimento surgiu quando ouvi os ritmados passos de um homem de negócios, quando escrevi o bilhete dizendo que concordava com ela a ideia não parecia tão estúpida.
  O notável terno azul surgiu na entrada do prédio, alguns passos atrás uma Samantha de cabeça baixa seguia submissa.
  A cena pareceu estranha a primeira vista, quando se aproximaram senti meu sangue ferver, uma marca vermelha cobria o lado esquerdo do rosto dela enquanto um guarda visivelmente desconfortável a guiava segurando seu braço.
  - Jamais fui tão insultado. - O sr.Darsis parou na minha frente, gesticulou para que o guarda leva-se a Samantha para o carro que esperava na rua e me encarou com certa repugnância - Não discutirei com um garoto imundo, nenhuma de suas desculpas poderia me convencer.
  - Entendo... - A maneira esnobe me irritou mais do que qualquer coisa, lembrei do ditado do meu pai "nunca use suas mãos para socar", algo dentro de mim dizia que não seria a forma correta - Mas devo dizer que a manhã em que acordei com ela foi inesquecível.
   Me permiti um olhar malicioso, foi algo estúpido eu sei, mas vê-lo ficar completamente alterado com o que eu disse foi satisfatório, minha boca torceu-se sozinha em um sorriso zombeteiro.
  - Guardas! Dêem uma boa lição neste moleque!
  Ele deu um último olhar maldoso antes de ir em direção ao carro, um chute pelas costas me jogou no chão e rapidamente fui cercado por uma chuva de socos e pontapés, no fundo da minha mente ecoou a voz de alguém gritando o meu nome, as imagens começaram a embaçar e os sons pareciam distantes, tudo estava branco e, do nada, tudo ficou preto.