Samantha
A mansão dos Darsis ficava em um local mais afastado das cidades, obviamente meu pai se certificou de comprar vários metros do entorno para ter uma relativa paz.
-Até quando vai ficar me seguindo?
- Até me demitirem, lady.
- Considere-se demitido então.
- Foi o senhor Darsis quem me contratou, só ele pode me demitir, lady.
Meu pai disse que só voltaria depois de algumas semanas, pensei em ir ver o Felipe e voltar antes dele perceber, mas com esse mordomo me perseguindo por todo o jardim vai ser impossível.
- Sei que pensa em fugir, lady. - Ele parou na minha frente, os brilhantes olhos verdes dele refletiam certa preocupação - Entende o problema que vai causar se seu pai descobrir ?
A visão que tive do Felipe sendo cercado pelos guardas assombrou meus pensamentos, meu medo de causar mais dor a ele estava começando a superar a vontade de vê-lo. Tentei dizer algo mas não saiu nada da minha boca, eu não tinha nenhuma boa desculpa nem para mim mesma.
- Vontade creio que não falta, mas está insegura, devo lembrar-lhe que eu apenas sigo a instrução que seu pai me deu. - O olhar dele amoleceu, ele ofereceu o braço para que eu o acompanha-se - Devo acompanhá-la, mesmo que do fundo do Tártaro ao topo do Olimpo.
Nada nele indicava estar mentindo, ele estava se oferecendo como cúmplice, deixei que um pouco de esperança escapasse, segurei o braço dele e voltamos a andar pelo jardim.
- Diga-me Raphael, o que quis dizer com "Tártaro" e "Olimpo"?
- Gírias de meu bom mestre, nada mais, lady.
Ele voltou a sorrir de forma amistosa como se tivesse gostado da pergunta, talvez não para o meu pai, mas para mim ele estava sendo um ótimo mordomo.
...
- Lady.... Lady, levante-se.
Fui acordada pela voz sussurrada do Raphael, por um momento estranhei a escuridão do quarto, até que entendi que ainda era noite.
- O que está fazendo no meu quarto essa hora?
- Tem um carro esperando por nós na entrada, é a nossa chance de fugir, lady.
- Espere. - A dormência dificultava os meus pensamentos, era muita coisa para assimilar - Nossa chance?
- Sim, nossa. - Mesmo no escuro dava para saber pela voz que ele estava empolgado - Arrume-se, temos cerca de dez minutos antes que os vigias acordem.
Dito isso ele foi para fora do quarto e fechou a porta, ele preparou uma fuga em menos de um dia, a eficiência dele como mordomo é assustadora.
- Não acenda a luz ou vão ver pela janela.
Meu estado sonâmbulo não me permitia retrucar com ele do outro lado da porta, vesti a roupa que estava separada fora do armário e descemos as escadas correndo até o carro, ele foi no volante e apontou para que eu fosse no banco de trás.
Era um modelo grande, do tipo exato que meu pai gosta, mesmo estando escuro ele deixou os faróis apagados, aumentando a chance de atropelarmos alguns arbustos do jardim.
- Assim que nos afastarmos bem vou ligar as luzes. - Ele empurrou o banco do carona, mostrando um cobertor com um travesseiro e um pequeno cesto com sanduíches de vários recheios diferentes - Não sabia se você preferiria comer ou dormir.
Ele sorriu olhando para mim pelo retrovisor, só então percebi que ele estava usando roupas comuns e uma jaqueta preta por cima ao invés da roupa de mordomo.
Eu não fazia ideia de que horas eram, peguei o travesseiro e o cobertor para voltar a dormir, mas agora eu estava a cada segundo um pouco mais perto de rever o Felipe.
Felipe
Alguém segurava a minha mão quanto acordei, um monte de cabelos pretos estavam espalhados do meu lado na cama.
- Caroline, acorde e tire a cabeça de cima do meu braço. - Ela se levantou devagar, meu braço estava formigando por ter sido usado como travesseiro - Sua cara está horrível.
Ela se apressou em arrumar cabelo comprido, metade do rosto dela estava vermelho da marca do meu braço.
- Quanto tempo você demorou para me acordar? - O cabelo dela estava uma bagunça, quando ela percebeu que eu estava contendo o riso o rosto inteiro dela ficou da mesma cor que a marca do braço - Você é muito malvado comigo.
A Carol é um pouco mais nova do que eu, o que contribui para eu vê-la como uma irmãzinha.
- Onde está a sua irmã? - Ela fez um beicinho e virou o rosto, começou a mexer nos botões da jaqueta azul que estava vestindo, me ignorando - Incrível, acho que a Sarah não viria no frio nem se fosse o meu enterro.
- Como você advinhou que era por causa do frio? Ah. - Ela olhou para as próprias mãos, com uma clara decepção de quando um mágico revela o truque - Seus pais estão lá fora, e ela mandou dizer que as compras que vocês fizeram no sábado já chegaram.
Meus braços já não doíam mais e eu não sentia mais tontura, acho que já está na hora de voltar para casa.
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