Os raios de sol entrando pela janela me despertaram, forcei meus olhos a se abrirem mesmo que relutantemente, foram alguns segundos até que eles se acostumassem com a claridade e quando o fizeram, eu pude observar o quarto predominantemente branco ao meu redor. Sorri ao tentar me virar e sentir um peso sobre minha cintura, minha mão seguiu até o braço que me envolvia e então entrelacei nossos dedos, fazendo um carinho com o polegar sobre a pele sempre fria de YeEun.
Soltei sua mão e me mexi na cama, ficando de frente para ela, acariciei seu rosto e ouvi ela murmurar alguma coisa incompreensível e me fazendo deixar uma risada nasalada escapar, ela ficava tão linda dormindo, sua pele perfeita parecia ainda mais radiante quando o sol tocava seu rosto, seus lábios rosados pareciam se curvar em um sorriso involuntário, e admirar seu rosto pela manhã era uma das coisas que eu mais gostava de fazer, me trazia paz.
Acariciei a pele nua de seu ombro, enroscando meus dedos na alça do sutiã preto que ela usava, meus dedos deslizaram por suas costas, sentindo o claro contraste do calor das minhas mãos com a pele gélida dela, puxei o cobertor um pouco mais pra cima, me certificando de que aquilo aqueceria YeEun, entrelacei nossas pernas e puxei seu corpo para mais perto de mim, beijei sua testa, coberta pelos cabelos coloridos e suspirei. Eu não queria deixar aquela cama por nada.
Senti seu braço, que estava em torno da minha cintura, me apertar ainda mais, sua mão passeou pelas minhas costas, por baixo do tecido da blusa, fazendo um arrepio percorrer minha coluna, ouvi um murmúrio, parecido com um “Bom dia” ser emitido por ela, sorri e respondi, beijando sua testa mais uma vez.
YeEun se afastou um pouco de mim, sentando na cama enquanto prendia os cabelos em um coque desajeitado, ela pegou o celular sobre o criado o mudo e passou a digitar freneticamente.
Como ela conseguia estar disposta tão cedo?
Apoiei minha cabeça em seu colo e fechei meus olhos, não demorou para sentir uma mão afagando meus cabelos.
— Vamos levantar? — ela perguntou, mas, tudo o que recebeu foi um muxoxo em discordância — Vamos lá senhorita preguiça — ela chamou, chacoalhando meus ombros e selando nossos lábios rapidamente.
— Eu quero ficar deitada mais um pouco — reclamei
— Tudo bem, você fica deitada, mas, pelo menos me deixe levantar — ela pediu, mas, eu voltei a negar.
— Eu quero que você fique comigo — resmunguei com o melhor aegyo que eu tinha.
— Tudo bem, só mais dez minutos, OK?! — ela concordou.
Afastei a cabeça do colo dela e deitei de bruços, senti ela se ajeitar ao meu lado e passar o braço em torno da minha cintura, depositando um beijo no meu ombro, e então eu adormeci novamente.
†††
A música ecoando pelo celular tinha o intuito de me acordar, mas, eu já estava desperta há horas.
Meu corpo rolou sobre a cama, senti a clara mudança de temperatura quando estiquei meu braço para fora dos cobertores, deslizei o dedo sobre a tela do celular fazendo com que o som cessasse, e então observei a tela, já passavam das 10:30 da manhã e eu ainda estava ali, deitada, sem sono algum, mas, também sem vontade alguma de levantar.
Antigamente eu culpava o frio, por me fazer ficar horas deitada, mas, então o verão veio e minha vontade não mudou, depois eu culpei minha insônia, se eu ia dormir tarde, era natural que levantasse tarde também, até perceber que eu sempre acordava no mesmo horário, às sete manhã, mas, permanecia na cama até meu estômago reclamar de fome, só então eu levantava, seguia me arrastando pela cozinha e permanecia me arrastando pelo resto do dia, lutando contra a vontade de voltar para cama.
Foi só então que eu percebi a razão de querer ficar ali, não era o frio, não era o sono, a razão possuía nome e sobrenome: Park YeEun.
Era difícil para alguém como eu aceitar aquilo, afinal, eu era a auto suficiente Kim YuBin, aquela que mantinha seus sentimentos sobre controle, que jamais se abalava e que nunca sofria por amor, afinal, como eu poderia sofrer por amor se eu criava minha própria história mentalmente? Eu criava um romance que eu podia controlar.
Nas incontáveis manhãs em que eu fiquei presa à cama, eu imaginei tudo. Primeiro eu ensaiei aquela conversa que jamais iria acontecer, eu contava para YeEun tudo o que eu sentia, o quanto ela era importante para mim, o quanto eu a amava, eu podia ver ela sorrindo, aquele sorriso capaz de iluminar o mundo todo, então, sem hesitar, ela selava seus lábios macios aos meus, minhas mãos desciam até sua cintura, enquanto seus dedos se emaranhavam em meus cabelos, puxando minha nuca, nos tornando ainda mais próximas.
Antes de ir dormir eu fazia o mesmo, eu abraçava meu travesseiro, fingia que era ela em meus braços, eu podia sentir o cheiro de morango que exalava dos seus cabelos, podia ouvir sua risada, eu ouvia ela dizendo que me amava, no fundo eu sabia que aquilo jamais aconteceria, no entanto eu continuava me iludindo. Eu gostava de me iludir.
Agora, minhas esperanças haviam ido de vez. YeEun estava com JinWoon, ela parecia amar ele, parecia feliz com ele, mas, eu ainda não entendia a razão disso.
Ele era bonito, poderia ter qualquer garota que quisesse, ele não precisava de YeEun pra brilhar, ele poderia viver bem sem ela, então, por que ele havia escolhido ela? É claro, ela é linda, talentosa, é a pessoa mais carismática que eu conheço. Quem não se apaixonaria por ela? Eu me apaixonei, e não vejo isso como um erro, o grande problema é que eu precisava dela, mais do que JinWoon precisava, quando eu estava com ela eu florescia, me transformava no melhor eu possível, como eu poderia viver sem ela?
Desde que eu me lembro eu me iludia sobre ela, eu sempre acreditei que ela também me amava em segredo, mas, sempre que eu olhava nos olhos dela eu via JinWoon lá, eu sabia que ela realmente amava ele, mas, eu preferi enganar a mim mesma, eu fingi não saber disso, eu fui uma pessoa horrível que torturou a si mesma acreditando em um falso sentimento recíproco, alimentando a cada dia aquela falsa esperança, eu ainda sou essa pessoa, eu ainda mantenho esses pensamentos de que um dia eu irei ter ela, de que um dia ela irá me amar de volta, mas, eu sei que é mentira.
Eu só gostaria de entender a razão de ela não poder me ver, por que sempre que estamos juntas a mente dela está em outro lugar? O coração dela sempre está com outra pessoa, eles sempre machucam ela, ela sempre sofre em busca de alguém que a ame de verdade, mas, ela não consegue ver que eu estou bem aqui por ela? Por que ela tenta encontrar em JinWoon um amor que ela só vai encontrar em mim? Por que ela não pode estar satisfeita comigo?
Saí de meus devaneio quando ouvi meu celular vibrar, rolei na cama novamente e encarei o visor, havia uma nova mensagem de YeEun, onde ela questionava: “Está tudo bem?”.
De modo automático digitei “Estou bem” e enviei junto a uma carinha feliz, mas, eu não estava bem, talvez eu conhecesse ela melhor do que ela me conhecia, afinal, eu poderia dizer como ela estava somente ouvindo a sua voz, vendo a sua expressão ou mesmo na forma como ela respondia minhas mensagens, mas, ela jamais desconfiou que eu estava mentindo quando dizia que estava bem, ela jamais desconfiou que eu estava mentindo quando dizia que estava feliz.
A tela do celular brilhou com uma nova mensagem “É bom saber disso, fiquei preocupada com você ontem”.
É claro que ela ficou preocupada, ontem ela havia me chamado para ir ver um filme na casa dela, mas, eu recusei, mentindo estar com um resfriado. É estranho que eu tenha recusado estar com ela para ficar em casa, deitada na minha cama, pensando justamente nela? Talvez, mas, era melhor imaginar uma YeEun que me amava do que vê-la com JinWoon.
Não me entenda mal, o JinWoon é uma boa pessoa, ele parece amar ela, mas, ninguém é capaz de ama-la como eu amo.
Eu quero que ela seja feliz, assim como ela quer que eu seja, mas, mesmo que ela sempre diga que eu sou bonita, que eu tenho charme e que mereço alguém que me ame, as coisas não são assim, ninguém repara em mim, eu não possuo uma grande beleza, não sou simpática e extrovertida como ela, eu mal tenho amigos, ninguém presta atenção em mim e pra ser honesta, eu não tenho olhos para mais ninguém, no fim das contas, é minha culpa, eu amei ela primeiro e não posso nem sentir raiva dela por isso.
Uma nova mensagem chegou: “Você sabe que estou aqui para o que precisar, não é?! Eu amo você”
E então eu percebi que eu estava chorando, ela me amava, mas, não da mesma forma que eu, para ela eu era somente uma amiga, talvez uma irmã, mas, ela jamais me veria como uma mulher, ela jamais clamaria por mim, ela não precisava de mim, eu estava fadada a passar todas as noites nessa cama, imaginando uma realidade que jamais irá acontecer, sentindo o cheiro dela em meus travesseiros enquanto choro por saber que jamais terei ela.
Não há nada que eu possa fazer, eu sei que eu devo parar, mas, nós nem começamos nada para agora ter algo para terminar.
“Eu amo você também. Muito” enviei aquela mensagem mesmo sabendo que ela jamais iria entender o verdadeiro significado daquelas palavras.
Larguei o celular e deitei de bruços, afundando meu rosto no travesseiro, sem vontade alguma de levantar. Fechei os olhos, inspirei fundo e voltei a me imaginar ali, com YeEun ao meu lado, sentindo o perfume dela, sentindo o toque dela.
Fingindo que nós ficaríamos pra sempre juntas. Fingindo que aquilo era real. Fingindo que eu era feliz.
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