História Clube do Cupido - 3. As Delícias do Romantismo

No dia seguinte ao início do namoro entre Mú e Ariane, todo o Santuário parecia um pouco mais feliz. Shion ficou até um pouco mais radiante depois que recebeu a notícia afinal havia destinado a suíça logo para Áries porque tinha um certo pressentimento sobre aqueles dois.

Mas agora, o alvo era outro: Aldebaran de Touro.

Agora como fazer um homem tão tranquilo e um pouco estabanado encontrar um amor verdadeiro, era a missão de Hedilogos, o erote dos cortejos. 

Depois que souberam que o taurino ia fazer compras no mercado de Rodório, Hedilogos e Afrodite passaram a manhã inteira bancando os stalkers atrás do touro que continuava a fazer suas compras nem notando que era seguido.

Segundo o erote, ele havia achado a candidata perfeita para Aldebaran e disse que havia marcado com ela para se encontrarem no mercado de Rodório. Afrodite estava tentando não imaginar como seria essa “garota perfeita” afinal, que ser humano normal iria olhar para Aldebaran sem sentir medo no começo?

Quando o relógio bateu dez horas da manhã em ponto, logo Hedilogos encontrou a tal garota que estava esperando. Agora só faltava encontrar o taurino e apresentar a garota.

Encontrar o brasileiro não foi a coisa mais difícil do mundo já que com aquele tamanho, ele era visível até para um cego. Afrodite logo o chamou e atrás dele estava Hedilogos e a garota.

-Debas, eu queria que conhecesse duas pessoas. Esse aqui é Hedilogos, meu amigo - começou a apresentar o pisciano.

O erote era um rapaz alto, com aparência de dezesseis anos, loiro de cabelos bem dourados e dono de encantadores olhos levemente avermelhados, usava uma camisa branca com gravata vermelha e calças bege bem chiques com sapatos marrons. Poderia ser facilmente confundido com algum garoto rico.

Aldebaran se impressionou com a aparência do rapaz mas, mesmo assim deu um forte aperto de mão no erote que pensou que todos os ossos de sua mão iriam quebrar.

-Ah… - gemeu Hedilogos - B-bom te conhecer, Aldebaran… 

-Ora, prazer é meu Hedibondos - cumprimentou o taurino.

-Hedilogos.

-Mas você é um rapaz bem jeitosinho, até entendo como o Afrodite te conheceu. Você tem muito estilo, até me sinto envergonhado por causa das minhas roupas - Debas havia apontado para a calça jeans, os tênis e a camisa amarela que estava vestindo com um pouco de embaraço.

-Fico contente com os seus elogios, meu caro, eu sei que eu sou mesmo muito estiloso e que… ai!

-Hedilogos, não enrola - resmungou Afrodite entredentes.

-Ah, eu sei que é um pedido meio incomum para alguém que acabo de conhecer mas eu tenho uma conhecida que está aqui na Grécia procurando aperfeiçoar a sua comida e o Afrodite me disse que você é o melhor cozinheiro daqui.

-Dite, seu peixoso, que mania é essa de espalhar os meus dotes culinários para os outros? Há, há, há!

-Excluindo aquelas comidas esquisitas do seu país, você é um grande cozinheiro, Debas.

-E quem é a minha “aprendiz culinária”?

-Aldebaran, quero que conheça Rita dos Santos - disse Hedilogos dando um passo pro lado e mostrando a garota para Debas.

Quando Hedilogos saiu de sua frente, o brasileiro sentiu o seu coração bater como um pandeiro no meio do carnaval.

A tal Rita era uma bela mulher alta, de graciosos cabelos negros e encaracolados, com olhos castanhos e pele morena, usava um suéter marrom com dois bolsos, vestia calça jeans e calçava botinas pretas. Sua aparência era de uma pessoa calma e pelo seu olhar que estava apreciando os ingredientes que o mercado vendia, ela parecia mesmo gostar de gastronomia.

Quando viu Aldebaran olhando para ela sem palavras, ela logo deu um sorriso bem largo e amigável e estendeu a sua mão para ele cumprimentar.

-Prazer, sou Rita. Você deve ser Aldebaran não é? - perguntou a moça, ainda sorrindo.

-... hã… - o taurino não conseguia dizer nada, estava com o cérebro meio devagar.

-Sim, o nome dele é Aldebaran, minha cara - respondeu Afrodite dando uma cotovelada no brasileiro que rapidamente acordou - Né, Debas?

-Ah, é sim. Na verdade é José mas, é que eu gosto da estrela Aldebaran da constelação de Touro.

-Você é de Touro?

-Sim, e você?

-Capricórnio. Sabe estava me dando uma dor no rim ter que gastar dinheiro só pra vir até a Grécia estudar a culinária grega mas, até que está valendo a pena… sabe como são os capricornianos né? Sempre uns muquiranas.

-Nem sempre, o Shura é de Capricórnio e gasta mais que o Santuário inteiro junto - riu o taurino.

-Santuário?

-É o nome de onde vivemos, sabe? - disfarçou Afrodite. Havia uma regra clara que era não divulgar sobre o Santuário e o pisciano sentiu o pescoço doer só de imaginar o que aconteceria se descobrissem disso.

-Ah, vocês são cavaleiros que nem aqueles adolescentes que lutaram na guerra galáctica? - perguntou Rita, impressionada.

“O Santuário só será lembrado por causa daquela guerra imbecil, pelo visto - suspirou o pisciano.”

-S-sim, mas nós não somos cavaleiros de bronze, somos de ouro.

-De ouro?

-Debas… - Afrodite pôs a mão no coração como se estivesse tendo um infarto - Você não deveria revelar essas coisas para qualquer um!

-Mas tudo bem, Afrodite, olha pra ela. Ela parece ser uma pessoa confiável! Minha avó se chamava Rita e o crime mais ruim ela que cometeu foi comer a feijoada dela e do meu vô.

Rita não pôde esconder sua risada e Debas a acompanhou também.

“Estamos vendo alguma coisa acontecer… - cantarolou mentalmente Hedilogos.”

Os dois então combinaram de já irem para a Casa de Touro começarem as aulas de culinária e Rita fez questão de ajudar o taurino a levar as compras. Pelo caminho, conversavam banalidades e descobriam coisas em comum um com o outro.

Aldebaran descobriu que Rita também era brasileira mas ela tinha vindo de São Paulo enquanto ele tinha nascido no Pará, apesar de ter uns parentes no Rio de Janeiro. Também descobriram que gostavam do mesmo gosto musical, o sertanejo clássico e que para eles, coxinha era o salgadinho mais sagrado de um brasileiro.

Quando chegaram na casa, Rita nem reparou muito na bagunça enquanto conversava com o taurino e logo os dois foram para a cozinha começar a trabalhar.

A bela morena era uma cozinheira de mãos cheias, apesar de que precisava acertar uma ou duas coisas por conta do pouco de tempero que ela usava.

O taurino cuidou de guiá-la por todo o processo e ensinou que sempre era bom experimentar o que estava cozinhando e acrescentar um temperinho sempre que possível. Dentro de uma horinha, eles conseguiram fazer um delicioso Cordon Blue, que era pedaços de frango enrolados em tiras de bacon.

-O cheiro é muito bom, me lembra a cantina da escola - Rita riu lembrando do seu tempo de escola com certa nostalgia.

-Eu não costumo comer essas coisas mas, como você quer aprender algo um pouco mais chique, achei que seria bom começarmos por algum lugar - disse Aldebaran se sentando a mesa - O bom é que você sabe cozinhar macarrão, então não precisei ter muito trabalho.

-Além de prestar atenção, eu aprendo muito rápido não?

-Sim, aprende mesmo. Estou feliz de ter te conhecido, Rita. Além de boa cozinheira, você tem muito senso de humor… é raro encontrar essas qualidades numa boa mulher.

-Cozinhar e ser fofo também são qualidades difíceis nos homens, pessoas como você são raras, Aldebaran.

-Obrigada, Rita - disse o taurino com as bochechas vermelhas - Ah, Rita, você acredita em amor à primeira vista?

-Bem, acreditar eu acredito um pouco mas, acho que o verdadeiro amor conseguimos com o tempo.

-Eu sei disso mas, é que… tem algo no meu coração que estava fazendo ele bater como se estivesse sambando, sabe? Antes ele estava na dele, batendo uns batuques cotidianos… aí você apareceu e ele resolveu sambar. Agora parece que entrou nos paranauê baiano e tá fazendo capoeira.

-Sério? - riu a morena - Não sabia que podia fazer isso com o coração de alguém.

-Pois saiba que você consegue sim. Não sei o que você fez mas acho que você manja na arte de fazer os corações ficarem apaixonados, também… bonita e inteligente desse jeito.

Foi a vez de Rita ficar corada com o elogio. Nunca alguém havia conseguido ser tão sincera com ela desse jeito, na verdade ela nunca ouviu uma pessoa que a conhecia a pouco tempo a chamar de bonita.

Talvez seja por isso que estava gostando muito da companhia do taurino. Ele era bastante sincero e muito engraçado, além de que apesar do tamanho ele era uma pessoa muito carinhosa e alegre. O taurino lembrava muito o seu pai que estava no Brasil, ele era forte mas aquilo era só aparência. Por dentro era uma pessoa bem humorada e divertida.

Inconscientemente, a brasileira estendeu a mão e apertou a mão de Aldebaran que sentiu o rosto ficar quente.

Havia alguma coisa estranha no ar, tudo parecia tão mais doce e mais leve para os dois. Até o cheiro da comida parecia mais intenso. Eles então começaram a provar a refeição e depois que terminaram tudo, se levantaram para lavar os pratos.

Apesar dos protestos de Rita, Debas se voluntariou para lavar a louça e não estava aceitando um não como resposta. No final das contas, os dois tiveram de dividir as tarefas com ele lavando e ela secando os pratos. Depois de terminarem, ainda continuaram na parte da cozinha se encarando.

Ao contrário do que esperavam, o ar continuava esquisito e as emoções pareciam que iam saltar da boca dos dois.

-Rita, eu… queria te dizer que… eu não costumo me apaixonar facilmente e demoro um pouco para me acostumar com as pessoas mas, quando eu te vi pela primeira vez consegui esquecer meu próprio nome - começou a falar Aldebaran, cheio de emoção - Você foi a primeira pessoa que me causou esse sentimento.

-José… eu sinto a mesma coisa. Você também me lembra um pouco o meu pai, com esse mesmo jeito carinhoso - respondeu a morena com um sorriso - Eu gosto muito de você, José. Foi a melhor aula de culinária que tive em anos.

-A-aparença sempre que quiser, minhas portas estão sempre abertas…

-Obrigada.

A paulista então resolveu dar um abraço de despedida no taurino mas acidentalmente estava escorregou no chão e como se uma forma desconhecida a empurrasse diretamente para Aldebaran, de alguma forma eles ficaram com o rosto bem perto um do outro. Sem muito aviso, eles se beijaram rapidamente e depois se separaram quando o taurino conseguiu dar apoio para Rita ficar em pé.

Rita sorriu com o gesto e Aldebaran e os dois, voltaram a se beijar mas o que antes foi um selinho doce, agora começou a se transformar em um beijo bem temperado e cheio de sabor do amor. 

Os corações dos dois batiam no mesmo ritmo animado de palmas de samba misturadas com capoeira.

-Boa ideia fazer eles se encantarem com os elogios que faziam um ao outro - disse Afrodite, anotando tudo na sua prancheta, muito impressionado - Não podia ter feito melhor.

-Ah, Sr. Afrodite, pare de me elogiar se não o meu ego vai explodir - disse Hedilogos, passando a mão nos cabelos.

-Está bem, vou parar de te elogiar.

-Não foi o que eu quis dizer, seu peixe anta!

-Ai, o Ego ficou estressado agora? - perguntou o pisciano, se divertindo com a raiva na cara do erote - Vamos sair daqui antes que nos vejam…

Os dois então saíram do parapeito da janela e foram correndo para longe da Casa de Touro onde parecia que estava havendo uma festa grandiosa de sabores românticos. Definitivamente, nada ganha mais rápido o coração de uma mulher do que elogios e um prato de Cordon Blue.