As ruas estavam um caos. Titica de pombo por toda parte. Velhas, crianças, inúmeras pessoas atoladas nas titicas fedorentas. Seria cômico se não fosse trágico. Os pombos gigantes especializados em artilharia pesada apontavam seus traseiros para a cidade, bombardeio após bombardeio. Daquele jeito tudo estaria destruído em menos de um dia.
Jason pedalava alucinadamente, desviando tanto de titicas quanto de destroços, xingando os pombos com todos os nomes que lhe vinham na cabeça. O bunker de Edon não devia estar muito longe. Mais três quadras e então... Jason se desconcentrou totalmente quando se lembrou da garota da noite. Será que estava tudo bem com ela? DROGA. Ele freou o pneu traseiro da bicicleta e deu meia volta.
***
Anna corria de um lado para o outro no abrigo emergencial próximo à Ludowiski, ajudando em coisas que iam desde acalmar crianças perdidas dos pais a organizar setores do abrigo. No instante em que pensou ter encontrado um lugar tranquilo surge aquilo, pombos gigantes, soava tão ridículo que era difícil de acreditar. Ela mesma teria duvidado se não tivesse visto com os próprios olhos. Aquela era uma ótima hora para deixar tudo para trás e recomeçar em uma nova cidade. Seria fácil para Anna, já tinha feito isso inúmeras vezes. Mas ali era sua casa agora, ficaria não importando o que acontecesse.
***
Bonnie preparava a banheira enquanto Lay chorava baixinho, envolta numa toalha. Assim que desligou o telefone mais cedo ela acabou se desesperando ainda mais e caindo de cara na titica. Uma experiência muito traumática. Sua irmã estava bem e tinha ido para a casa de uma amiga do outro lado da cidade. Aquela parte ainda não havia sido atingida e a família de sua amiga também tinha um bunker abaixo da casa. Bonnie havia levado Lay para Ludowiski. A pensão estava praticamente vazia. A maioria dos pensionistas estava na rua naquela hora e deviam ter ido para os diversos abrigos.
-Está melhor? – Perguntou Jude, aparecendo na porta do quarto.
-U-um p-pouco. – Disse Lay, chorosa.
-Trouxe uma muda de roupas novas para você. – Jude deixou-as sobre a cama de Anna.
-Lay. – Chamou Bonnie. – O banho está pronto. Limpe-se rapidinho para irmos encontrar sua irmã.
-Tudo bem.
***
-O rastro de destruição é cada vez maior em Nonsen City. – Dizia a repórter na TV.- Cerca de quinhentas pessoas já sofreram contato com a titica de pombo e outras cem se feriram durante as comoções generalizadas. Por motivos ainda desconhecidos, os pombos pararam de bombardear, limitando-se a voaram pelo céu em círculos, circundando todo o território da cidade. Pessoas que tentaram deixar Nonsen City foram também alvejadas com a titica...
-Tsc. – Resmungou Mama. A lanchonete estava vazia, além dela e Três, o
cozinheiro/confeiteiro. – Vamos, esses pombos já me encheram a paciência. – Ela foi para trás do balcão de donnuts e, sem nenhum aviso prévio, tirou uma arma disforme e grande de lá.
Três assentiu, pegou-a nos braços até colocá-la em seus ombros. Ele não tinha uma aparência muito convidativa.
-VAMOS FAZER ALGUNS PASTÉIS DE “FLANGO”!
***
-Ei! Ei! Tem alguém aí? – Chamava Jason. Já fazia dez minutos que estava gritando e batendo na porta. Ninguém atendia. Francamente, onde diabos ela poderia ter ido? Mesmo que os bombardeios tivessem parado, não era seguro nem racional ficar dando sopa ali. Ele estava prestes a gritar de novo quando ouviu os trincos sendo desfeitos do outro lado.
-Você!? O que está fazendo aqui? – Perguntou garota da noite, com um tom de raiva explícito. Os fones estavam pendurados por sobre a camiseta de algum desenho oriental. Sua mão esquerda estava suja de alguma coisa que Jason não pode discernir no calor do momento.
-Não viu aquelas coisas no céu? – Perguntou apontando para os pombos. – Estão destruindo tudo.
-E daí? Somos criaturas da noite, não temos medo disso. Não nos afeta. E sem falar que nossa casa é indestrutível e...
-CALA A BOCA E ME ESCUTA! – Gritou Jason. Ele mesmo ficou impressionado com sua ação posteriormente. A garota ficou atônita por um instante. Ótimo, ela o ouviria agora. Jason respirou fundo – Tem mais alguém em casa?
-Não... Meus pais e irmãos viajaram para uma reunião de criaturas da noite.
-Certo. Suba na garupa da bicicleta. Não temos tempo a perder.
-Mas eu já falei que a minha casa é... – A voz da garota foi abafada pelo bombardeio de titica a casa. Não sobrou nada além de escombros. - NÃO!
-Anda, vamos logo. – Disse Jason, puxando-a pelo braço. – Suba AGORA.
-Não! Eu tenho...
Sua voz foi abafada novamente, porém desta vez por um tremor seguido de um “pru” emitido por infinitas vozes. Jason olhou esperando não encontrar o que imaginava que aquilo seria. Não havia sido dessa vez. No início da rua, há uns dez metros, uma nuvem negra e ameaçadora se aproximava. ERAM POMBOS MENORES FAMINTOS.
-ANDA! AGORA!
A garota pulou na garupa assustada ao mesmo tempo em que o Jason começou a pedalar com todas as suas forças. Os bombardeios continuavam a cair impiedosamente.
-MEU NOME É MOON! – Gritou a garota, segurando forte a cintura de Jason.
-Wow. Ótimo momento para se apresentar! – Gritou ele de volta.
Faltavam poucas horas para a Grande Bomba cair.
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