Hunter desceu de cima do pombo quando viu a nave tipo tempestar chegando. Assim que pousou no topo do prédio soldados desceram em formação, trazendo consigo um garoto maltrapilho de cabelos longos e pijamas. Era ele, o único humano que recebeu a amizade de Hunter e foi sujo o suficiente para pisá-la como a uma barata.
-Aqui está o sujeito. – Disse formalmente um dos soldados. Hunter não conseguiu identificar qual deles falou, porque todos pareciam cópias idênticas uns dos outros. Urgh, que estranho. O garoto tentou não pensar naquilo. Queria se vingar logo e sair daquela cidade esquisita.
-Eu lhe sou muito grato por sua cooperação. – Sorriu, mas só por conveniência.
-Vai se retirar, agora que o tem?- Perguntou outro soldado.
-Claro. – Respondeu, juntando as mãos num gesto simpático. – Eu sou um garoto de palavra.
Os soldados voltaram para a nave tempestar do mesmo jeito que saíram, sem emitir nenhum som que não fosse o chacoalhar leve dos equipamentos. ******* estava caído no chão, desmaiado. Hunter virou-o para cima. Haviam marcas de choro em seu rosto. Francamente, o que ele tinha se tornado?
Hunter soltou um “pru” e o pombo maior junto com todos os outros alçaram vôo. Ele já tinha carregado o traidor para cima do pássaro. Quando estavam há uns duzentos pés de altura, Hunter deu tapas em seu rosto. ******* relutou em abrir os olhos. Mais tapas. Ele finalmente acordou. E, assim que viu o rosto do garoto, pulou para a direção oposta, quase caindo no solo instável que era as costas do pombo.
-V-você...? – Disse ******* Espantado.
-Sim. EU! – Gritou o outro. – Hunter Pigeon, o Menino Pombo!
-Espera, - perguntou – Por que está se apresentando para mim? Somos amigos.
-“AMIGOS” O ESCAMBAL! DEIXAMOS DE SER AMIGO HÁ ANOS!
-Mas por quê?
-VOCÊ OUSA PERGUNTA O PORQUÊ!?
***
Jason e Moon tinham o pombo gigante na mira. Depois de quase morrer de tanto pedalar para subir uma ladeira, o garoto tinha finalmente conseguido posicionar a catapulta de forma perfeita. Quer dizer, inicialmente eles haviam parado ali porque Jason já não agüentava mais dar um passo que fosse. Moon estava quase se oferecendo a pedalar quando notaram o maior dos pombos gigantes levantar vôo e depois disso planar num campo de vista perfeito para disparo.
***
-VOCÊ CHUTOU MINHA CARA! – Gritou Hunter, deixando exposto o seu rancor.
-Mas o quê? – Perguntou o outro, sem entender nada.
-Aaah meu amigo, não ouse se fazer de desentendido! Sabe muito bem do que estou falando!
-Hã... Me desculpe, Pigeon, mas eu realmente não me lembro.
-COMO NÃO!? – Gritou, se aproximando do outro com as mãos na cabeça, como se aquilo lhe causasse dor.
-Er... Eu simplesmente não me lembro.
-Ah é? Então vou fazê-lo se lembrar: Nós estávamos na sétima série. Eu tinha te emprestado a borracha e, quando fui pedir ela de volta, VOCÊ CHUTOU A MINHA CARA!
-Hm... – O garoto parou por um segundo, esforçando-se para lembrar de todos os momentos que passou junto do amigo naquela época. – Ah sim. Eu me lembrei. Mas meu pé nem encostou em você.
-NÃO INTERESSA! As bactérias que estavam na sola do teu tênis voaram no meu rosto! E só o fato de ameaçar já é ofensivo o suficiente!
-Hã... Cara, eu não sabia que tinha sido tão perturbador para você... Foi só uma brincadeira, me desculpa.
-AHAHAHA, agora é tarde demais, seu idiota! Vou me vingar! E para começar a festa vou atolar essa cidade em titica de pombo!
-Ei, espera aí, a cidade não tem nada a ver com...
-CALE A BOCA! Eles vão sofrer por terem abrigado um sujeito traidor e destruidor de amizades seladas com dedo mindinho como você! – Hunter enfiou a mão dentro de seu casaco e a tirou com um detonador em mãos.
- O que vai fazer?
-Não é óbvio? Vou explodir todos estes pombos e então vai voar titica de pombo para tudo quanto é lado. – Riu Hunter. Estava prestes a apertar o botão do dispositivo quando o pássaro sacudiu de forma brusca e um cheiro podre e forte começou a se espalhar. Olhou ao redor procurando pelo lugar de origem com sua visão pru. Ali! Um garoto e uma garota operavam uma catapulta que mais parecia um projeto de nerd.
-MALDITOS!
***
Jason conseguiu ver o detonador nas mãos de um dos caras em cima do pombo maior.
DROGA. Seja o que aquilo fosse, tinha que fazer algo naquele instante.
-Moon, por favor, coloque uma das esferas no compartimento de lançamento.
-Tá. – A garota sumiu e atrás da catapulta e depois voltou. – Pronto.
-Ótimo. – Jason foi até a caixa preta e de tamanho mediano que ainda estava coberto por um lençol. Girou a chave do trinco que havia nela e abriu as pequenas comportas. Era uma máquina medidora de força. A almofada vermelha que servia de alvo estava surrada. – É HORA DO SHOW, PÔ! – Respiro fundo. Concentrou toda sua força em seu punho direito e... – BIIIRL!
No mesmo instante em que atingiu a almofada e o visor mostrou o nível de soco maior que novecentos, a esfera voou pela “colher” da catapulta e acertou o pombo com força. A ave se desestabilizou por um momento, mas em seguida retomou o equilíbrio. Não tinha sido o suficiente. O cara em cima do pombo devia ter notado, pois segundos depois outros dois pombos miraram neles e começaram o bombardeio.
-Não vamos agüentar! - Reclamou Moon.
-Temos que tentar até acabarem as esferas! – Gritou Jason. – Vamos conseguir!
Ambos conseguiram resistir e continuaram atirando de volta, mas nenhum dos outros tiros conseguia acertar novamente o pombo maior.
-DROOGA! – Esbravejou Jason. Sua esperança estava morrendo e começava a finalmente pensar que não poderia vingar Onix. Malditos pombos. Isso até ver uma luz verde podre do outro lado da cidade subindo ao céu em direção ao pássaro.
***
-AHAHAHAH! IDIOTAS! – Gritava Hunter para o garoto e a garota lá embaixo. É claro que eles não o ouviam. – Gastaram toda sua munição para nada! Ninguém consegue me pegar quando estou montando pombos! – Ele voltou seus olhos para o outro garoto. – E agora, vou finalmente completar minha vingança.
-Mas espera aí. – Interrompeu *******. – Se você explodir todos os pombos, inclusive esse, não vamos morrer nós dois? É alto demais aqui.
Hunter pareceu perceber aquilo apenas naquele momento.
-Hm... ARGH... DANE-SE! VOU LEVÁ-LO JUNTO COMIGO! – Ele afundou o dedo com força, mas esse por sua vez não acertou o botão. Um novo tremor inesperado o impediu. Hunter olhou em volta em quanto tentava se equilibrar. O tiro, seja lá de onde tivesse vindo, havia acertado seu pombo na cabeça, mais especificamente entre olhos. Droga. Era o fim. Todo garoto que era criado por pombos sabia que a fraqueza deles era a parte que dividia os dois olhos. A ave soltou um “pru” de desespero e então desmaiou, caindo a toda velocidade em direção ao chão. Hunter ia ser arremessado contra um prédio com a força do movimento quando sentiu um braço segurando sua gola. Era seu antigo amigo.
-Não morra antes de ir para a cadeia, seu idiota. – Disse o outro, se segurando numa das penas do pássaro. Por um instante ele pareceu o mesmo de antigamente.
E sem motivo algum, Hunter abriu um sorriso de canto. Claro, no instante em que percebeu ele fecho a cara novamente.
***
-ACERTARAM! – Pulou de alegria o garoto, junto com Moon. – ACABARAM COM ELES, FINALMENTE!
Depois de acalmarem os ânimos, Moon perguntou:
-Quem será que atirou do outro lado? Alguém da prefeitura? Ou seu amigo nerd? Ele tinha outra catapulta?
-Eu não faço a menor ideia, mas seja quem for, tem minha gratidão e creio que a do resto da cidade inteira.
***
Ver o pombo cair trouxe um pouco de nostalgia ao coração de Edon. Por algum motivo, todos os outros pombos – cerca de um trinta – também despencavam do céu. A ponta do canhão VaiCry ainda estava esfumaçando e o cheiro ainda estava forte, mas ele pouco se importava. Tinha vingado Onix. Por Jason e por ele mesmo também. Agora todos os pombos começavam a explodir em toneladas de titica, um atrás do outro, sobre a cidade. Nem mesmo isso fazia diferença. O conforto em seu coração era imensurável e além do mais, Nonsen City era feita de pessoas incrivelmente fortes e anormais, era capaz de passar por aquilo sem problema algum.
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