A lua brilhava no céu estrelado, derramando um tom branco azulado sobre as árvores do parque Ibira. Os animais se escondiam dentre as folhagens, olhando com uma mistura de medo e curiosidade para os invasores que passavam por ali, fazendo seus barulhos estranhos.
-Ei, velho maromba. – Chamou Mama, enquanto andava relaxadamente com as mãos enfiadas nos bolsos do vestido com babado repleto de estampas um tanto psicodélicas.
Bonnie, que estava ao lado de Mototo, notou o homem estremecer ao ouvir o “velho”. Ainda assim, o guia respirou fundo e tentou responder animosamente.
-Sim? Em que posso ajudar?
-Não tem nenhum fliperama por aqui? Quero jogar Super Destruidor de Sonhos.
-Er… Eu não acho que isso seja um jogo pra…
Mototo foi interrompido por Lay que o cutucou no ombro direito, traçando uma linha com a mão, de um lado a outro do pescoço.
-Você ia dizer o que mesmo, velho? – Perguntou Mama. A franja de fios roxos caia sob olhos, dando um ar ameaçador para a menina.
-Hã… N-nada. Super Destruidor de Sonhos é um jogo muito bom mesmo.
-Ah tá. – Resmungou Mama.
***
-Você vai realmente atrás de sua irmã? Já não estava tudo acertado? – Perguntou Map, enquanto desenrolava o lenço azul envolto em seu pequenino pescoço de esquilo.
-Não está nada acertado. – Resmungou Goman, ajeitando a katana na bainha. – Só concordei por causa daquela criança impertinente. Ainda vou fazer Mee pagar pelo que me fez. Agora anda logo e se transforma em híbrida.
-Vocês, viu… - Bufou Map Sanajab, correndo para trás da pilastra do hall do hotel Ego. Uma luz azul piscou e segundos depois uma garota com um metro e quarenta centímetros surgiu, vestindo um manto de linho azul escuro por sobre um vestido azul claro. Sua pele era morena clara e os cabelos lisos/enrolados castanhos desciam até um pouco mais que os ombros. Era possível ver uma cauda felpuda se agitando atrás dela, além do nariz de esquilo rosado e úmido.
-Satisfeita? – Perguntou Map, arqueando as sobrancelhas.
-Está ótimo. – Assentiu Goman. – Agora eu vou pegar Mee de vez.
***
Guildo estava prestes a cair no sono quando sentiu aquilo. Parou por um instante, encarando o nada na parede azulada oposta à da cama da suíte de convidados de honra. Silêncio. Nada. Bah, devia ser engano dele. Se deitasse de uma vez talvez aquele barulho parasse. Ele afofou o travesseiro e jogou a cabeça para trás. Cinco segundos depois a mesma sensação voltou. Um tremor de leve. Um tremor um tanto mais forte. Um tremor forte. As coisas começavam a sacolejar e cair no chão. Um tremor insanamente forte. Guildo já estava em pé em frente a cama, sem entender aquela situação. Com um estrondo, a parede próxima da porta e às suas costas explodiu, arremessando para o lado oposto com o impacto.
-Olha só o que temos aqui. – Riu um sujeito alto e forte, talvez maior que o pacifista. Um manto vermelho sangue cobria lhe grande parte de seu corpo, deixando apenas a parte inferior do rosto a mostra, revelando uma barba densa e ruiva. – Se não é Guildo Fireli, o pequeno garoto que se autoproclama pacifista.
-Q-quem é você? – Perguntou o lutador, levantando-se enquanto limpava a poeira de sua roupa.
A resposta veio como um tiro a queima roupa quando o homem misterioso abaixou o gorro do manto, revelando uma cabeça recentemente raspada e um par de olhos azuis, além dos três brincos em argolas presos à orelha esquerda.
-N-Ninch? – Chamou Guildo, espantado em reencontrar o velho amigo.
-AHahahaha. – Gargalhou o homem, gesticulando com as mãos como se aquilo fosse uma surpresa. – E não é que ele lembra do Ninch aqui? – Suas mãos cerraram subitamente, denunciando o que viria a seguir. – A diversão acabou, idiota.
***
O crepitar das chamas bruxuleantes era a única coisa que impedia a sala de mergulhar num silêncio profundo. Colocadas em castiçais de cerca de um metro e meio de altura, as duas velas iluminavam o salão de entrada do Reino, jogando um tom avermelhado sobre as paredes, o portão e os mantos dos guardas.
A monotonia sonora se rompeu com um estalo vindo de longe, seguido de sons de passos crescendo gradativamente até pararem subitamente. Uma outra figura de manto se revelou sob a luz das chamas. Era possível ver apenas os lábios finos e rosados.
-Ed edno ut snev? – Perguntou um dos guardas.
-Ohnev ad arret amica. Ogart so sovitaraprep arap o ednarg aid. – Respondeu a terceira figura, revelando ser uma garota, pela voz.
Os guardas fitaram-se por um segundo.
-Edop rassap. Euq a ednarg asued ajetse ogitnoc. – Ambos colocaram as mãos direitas fechadas sob o peito e em seguida estenderam o braço para o alto em noventa graus. - Hail Josefa.
O portão com cerca de três metros gemeu e então se abriu vagarosamente para trás, liberando uma brisa suave e fria. Não se via nada além do portão, apenas escuridão. A garota no manto sorriu e avançou rumo ao portão. – Hail Josefa. – Disse ela, antes que o estalar do portão se fechasse atrás dela.
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