História Cobaia - DIA XI - Então é isso? (Parte 1)

Marshall sentiu cheiro de bolinhos antes de abrir os olhos e poder considerar-se oficialmente acordado. Virou-se na cama e procurou o travesseiro de Gumball, a fim de abraça-lo e voltar para o sono profundo.

O quarto estava escuro e os tons de rosa e lilás eram quase imperceptíveis, visto que Marshall havia se alimentado de tudo que parecesse apetitoso. 

- Hora de levantar, Bela Adormecida. - Gumball entrou radiante pela porta, seguido de uma cozinheira que parecia um docinho de coco. Esta segurava uma bandeja bem decorada com frutas, doces e um suco, todos vermelhos. Ela colocou tudo cuidadosamente na mesa, ascendeu as luzes e saiu rindo divertida.

- Você destrói minha reputação, me chamando de 'Bela Adormecida'. - Marshall disse, sentando-se na cama e passando a mão pelos cabelos.

- Por que diz isso? - Gumball indagou, indo em direção à cama com a bandeja já em mãos.

- Porque a docinho de coco lá saiu rindo. - Marshall fingiu indignação, mas não conseguia parar de sorrir. Ele estava sendo servido, na cama, pelo Príncipe Gumball vestido em um avental vermelho. Aquilo era simplesmente apaixonante, Gumball era apaixonante, aquele bolinho estava apaixonante, tudo estava perfeito, a vida era linda.

- Pronto para um dia de trabalho, Lee? - Gumball esperou que Marshall terminasse de comer o último pedaço de maçã e recolheu as coisas. - E só para constar, ela estava rindo porque você está usando só um short rosa. 

Marshall exaltou-se  de leve e sorriu de lado logo em seguida. Estavam avançando naquela coisa de "estar juntos"! Já dormiam juntos, tinham movimentos espelhados e dividiam as roupas, só faltava oficializar. 

- E só pra constar também, eu fico muito sexy com esse shortinho. - Marshall viu Gumball sorrindo e continuou. - Mas esse avental não favorece suas curvas.

- Ah não? - Gumball riu safado, deixando-se ser abraçado pelo vampiro.

- Que tal me ajudar a tirar ele, hun? Junto com o resto das roupas, claro. - E assim que o laço da vestimenta foi desfeito, Gumball segurou a nuca de Marshall violentamente, beijando e sugando a região. 

O desejo por aquele corpo só aumentava e enquanto a boca trabalhava no pescoço, uma das mãos acariciava o peitoral desnudo do mais velho e os olhos permaneciam abertos, a fim de observar a pele levemente arrepiada em resposta aos estímulos. Mas Gumball cessou as carícias repentinamente.

 Tudo silenciou-se no quarto, nem mesmo a respiração deles podia ser escutada e quem visse a cena poderia jurar que o príncipe estava petrificado. Sem ter ideia do motivo, Marshall também paralisou. Com o tempo, havia entendido quando brincar e quando ficar sério e aquele momento, definitivamente, exigia a seriedade de um enterro.

- Está tudo bem, Gumball? - Marshall disse falho, enquanto, amedrontado, desvencilhava-se dos braços do príncipe.

- Claro. - Gumball voltou ao normal ao piscar os olhos duas vezes. - Você já escovou os dentes hoje?

- Não.

- Pois vá. - Gumball ordenou, retirando por completo o avental e colocando o jaleco branco.

Marshall escovou os dentes como nunca escovara. Caninos, céu da boca, língua e bochechas receberam atenção especial. 

"Será que estou com bafo?", Marshall pensou. Seria até engraçado, se o olhar de Gumball não tivesse sido tão aterrorizante. Marshall estremeceu ao lembrar da sensação, como se o mais novo pudesse ler pensamentos e estivesse indignado com o que ele estava pensando.

- Não é que o resto do seu corpo não seja lindo, - Marshall começou a treinar desculpas no banheiro, ainda com a escova na boca. - mas a sua bunda ultrapassa os limites!

- Marshall, você já vem? - Gumball gritou de onde estava, sentado ao lado da maca onde Marshall comumente de deitava para ser analisado.

- Sim! - Marshall bochechou  e suspirou fundo, como se estivesse se preparando para uma batalha. - Já estou indo.

Marshall se aproximou e deitou-se na maca, como de costume, e colaborou com os preparativos medindo a própria temperatura e respondendo antecipadamente a perguntas como "como tem se sentido?" ou "onde dói?". Passaram o restante da manhã trabalhando pesado e durante a tarde trocaram poucas palavras, apenas o necessário. Sempre que era questionado sobre o inesperado voto de silêncio, Gumball respondia com "Temos que terminar isso logo porque o Príncipe de Fogo virá para o jantar" e fim de conversa.

O trabalho de Gumball havia rendido bastante, ele havia terminando todos os testes possíveis bem antes do jantar e parecia muito concentrado e tranquilo. Mas só parecia. A verdade é que estava totalmente perturbado com algo que havia percebido naquela manhã. Só depois de 11 dias na presença de Marshall teve a resposta que estava procurando desde o início. 

Como pôde ignorar? Com todas as evidências debaixo de seu nariz, todas as provas! É inadmissível que alguém com tamanho Q.I. não tivesse inferido aquilo imediatamente. Talvez fosse o trabalho exagerado, ou talvez fosse a presença de Marshall, de qualquer forma, aquilo deveria ser resolvido.