História Cobiça - Quem Ama Trai?

Dizem que os homens separam o sexo do amor. Podem manter um relacionamento estável e ao mesmo tempo darem as suas escapulidas, mas será mesmo? Será por que o homem é homem e pode "quase" tudo? Estar em um relacionamento pode significar que em algum momento do mesmo tenha-se que abrir mão de alguma coisa, pois é preciso responsabilizar-se pelas escolhas que venham a serem feitas, mas para tanto depende muito do nível de sinceridade da pessoa.

Chanyeol estava literalmente com o coração na mão. Sentia-se o pior dos homens, mas pintou a oportunidade e ele simplesmente não resistiu e foi em frente, deixou-se vergonhosamente seduzir por Yuri que agora não o deixava em paz um minuto sequer. Culpava-se por estar enganando covardemente o namorado, mas por mais que tentasse não estava conseguindo se libertar do cerco da morena. Sua mente permitiu, a carne fraca oficializou e deu o aval para que seguisse em frente e continuasse com aquela loucura desenfreada.

Sabia que rompera o voto de confiança que BakHyun lhe dera no momento em que se deixara seduzir e por causa disso mais cedo ou mais tarde acabaria pagando um alto preço por sua vil traição. A lealdade geralmente inclui ser fiel. Primeiro consigo mesmo e depois com o outro, pois trair a confiança, quebrar as promessas feitas, fingir que está tudo bem, mentir e enganar a pessoa com quem se partilha tantas coisas é realmente uma coisa terrível.

O arrependimento estampado diariamente na face do Park era realmente sincero, mas a verdade é que assim como todos os outros homens ele também possuía defeitos, e muitos diga-se de passagem. Tentar se justificar dizendo que cometeu tal deslize simplesmente por ser "homem" ou por ser coisa do "instinto masculino", não é lá muito correto, não é mesmo? Por que então uma das partes pode e a outra não?

No caso de Chanyeol a busca por novas emoções, a incapacidade de resistir aos próprios desejos, o tédio e a ausência prolongada do namorado talvez tivessem sido motivos suficientes, porém não justificáveis para que se deixasse apanhar tão facilmente pela rede que Yuri calculadamente lançara sobre si. Mas e agora? O que faria dali por diante? Era o que se perguntava estando prestes a buscar o menor no aeroporto.

Durante as semanas que passara na casa da irmã ajudando-a a cuidar da sobrinha, BaekHyun ainda que relutante passou a pensar seriamente nas longas conversas que tivera com a mais velha a respeito de Yuri. Lembrou-se de que ela não fora a única pessoa a também duvidar do caráter da amiga, pois alguns de seus amigos também já o haviam alertado mais de uma vez para que tomasse cuidado com a falsidade da garota. Muitos não a viam com bons olhos enquanto que para outros ela não fedia e nem cheirava, era apenas água morna.

Aaaahhhh.....se soubessem como estavam enganados!!

Mal sabia BaekHyun que elogio é apenas uma caixinha de surpresa onde muitas vezes o presente é a horrenda falsidade. Não sabia que lidar com a falsidade requer um complexo exercício de tolerância e sobretudo de eterna vigilância. O negócio é acreditar na intuição e ficar atento a alguns sinais evidentes de sua presença.

Mas boa gente que era, o rapaz nunca desconfiou das más intenções da pessoa que julgava ser a sua melhor amiga. Conheceram-se no terceiro ano do ensino fundamental e desde então tornaram-se inseparáveis, fato que sempre desgostara SeoHyun que logo de cara passara a nutrir uma grande antipatia pela garota.

Apesar dos vários conselhos que sempre dava ao irmão, Yuri continuou frequentando a casa de ambos como se fosse alguém da família. Segundo o próprio BaekHyun "unha e carne" seria muito pouco para descrevê-los. Se fossem irmãos legítimos nascidos do mesmo pai e da mesma mãe talvez não se dessem tão bem. Com Yuri senti-se totalmente à vontade para contar coisas que não tinha coragem para revelar a própria irmã de sangue.

Enquanto esteve sob a vigilância constante de SeoHyun, Yuri manteve suas reais intenções ocultas nas sombras, longe dos olhares zelosos da Byun mais velha. Se quisesse de fato destruir de vez o "amigo" teria que esperar o momento propício, ainda que este demorasse um pouco. Sempre na espreita rejubilou-se quando soube por BaekHyun que a irmã iria se casar em breve e em seguida se mudaria de mala e cuia para a belíssima Ilha de Jeju, onde o noivo possuía vários negócios que precisavam de sua atenção pessoal.

Com o casamento e a partida de SeoHyun, a morena viu seu caminho ficar novamente livre para aperfeiçoar a sua vingança e com o bobo do Byun lhe contando tudo o que queria saber ficaria muito mais fácil de planejar a sua completa destruição. Atingiria-o sem que o mesmo percebesse suas manobras e manipulações.

Ao saber de seu namoro com Park Chanyeol, o único herdeiro de uma cadeia de hotéis e resorts espalhados pelo mundo todo viu aí a oportunidade perfeita para passar o amigo para trás. Mataria dois coelhos com uma só cajadada: Roubaria-lhe o namorado e faria de tudo para casar-se com ele. Uniria assim o útil ao agradável, pois além de ter aquele homem maravilhoso e gostoso ao seu lado, de quebra teria o que nunca tivera na vida: mordomias e dinheiro, muito dinheiro para gastar como quisesse. O que mais poderia querer?

Aaaahhhh, só queria ver a cara de BaekHyun quando a visse de mãos dadas com Chanyeol. Queria ver o seu total desespero e o seu sofrimento quando soubesse que o amor de sua vida o trocara por ela. É, sem dúvida alguma seria muito divertido e mais divertido ainda quando isso acontecesse na frente das milhares de pessoas que estariam presentes no baile anual que os Byuns ofereceriam dali a duas semanas.

Dúvida e desconfiança.

Palavras que atormentavam BaekHyun profundamente desde que retornara da Ilha de Jeju. Estava tenso e começando a ver fantasmas onde antes não existiam. Acordava assustado várias vezes no meio da noite só em pensar que tudo o que a irmã lhe falara,pudesse ser mesmo verdade.

Recriminava-se por querer encontrar vestígios de uma traição nas respostas evasivas de Chanyeol e odiava-se ainda mais quando percebia que o mesmo tentava escapar, ainda que de modo sutil de suas simples indagações a respeito do que fizera em sua ausência. Detestava perder tempo depois tentando juntar fragmentos de conversas que não lhe traziam paz e muito menos sossego na alma. Sentia-se refém do que sentia e do que não sabia.

Ao entrar silenciosamente na sala deparou-se com Chanyeol falando ao telefone. Como estava de costas e entretido na conversa o rapaz logicamente não percebeu sua presença no mesmo ambiente e por conta disso continuou a conversar despreocupadamente com a pessoa do outro lado da linha. Aproximou-se lentamente e com uma das mãos alisou o pescoço do jovem já que sabia ser ali um dos seus pontos fracos. Como previa viu o arrepio instantâneo passar pela pele alva fazendo-o encolher-se adoravelmente.

- Baekkieeee.....- O grandalhão ronronou manhosamente fazendo-a revirar os olhos irritada. Confundir o seu toque com o do outro já era demais ou será que durante aquelas semanas ele ainda não aprendera a fazer a distinção entre ambos?

Sua raiva aumentou intensamente ao dar-se conta de que ao invés de ser beijada recebeu em troca um olhar de puro ódio, carregado de inúmeros ressentimentos.

- O que você quer garota? - Chanyeol indagou encarando-a firmemente.

- Eu quero você!! - Yuri respondeu simplista passando a ponta de seus dedos levemente pelos lábios do rapaz, contornando-a provocantemente. Incentivada pela servidão alheia encurtou o pequeno espaço que os separava e enroscou os braços ao redor do pescoço do maior colando de vez ambos os corpos. Sorrindo por dentro a diabólica garota podia sentir a respiração já alterada do outro e como previra ele não se afastara de si. É, era bem como dizia o velho ditado que sua mãe gostava muito de repetir: "Cão Que Ladra Não Morde".

Chanyeol já estava perdido, irremediavelmente perdido, mas mesmo assim ainda tentava buscar forças para repelir as investidas cada vez mais ousadas da garota a sua frente.

- Você está ficando louca Yuri?? - Questionou com dificuldade, enquanto sentia o leve toque da boca macia contra a sua. - Estamos na casa do Baekkie.....

- E daí?? - Retrucou dando de ombros. - Eu estou apaixonada por você Channie. Poxa, será que é tão difícil acreditar nisso?

Ia voltar a beijá-lo com intensidade, mas ouviu passos apressados vindo pelo corredor e deduziu que deveriam ser de BaekHyun que certamente vinha a procura do namorado, porém antes que se afastasse de vez de Chanyeol que a encarava de olhos arregalados, aproveitou para dar a cartada final.

- Já fez o que mandei?? O tempo está correndo.

O silêncio reinante no local foi a única resposta que obteve dos lábios carnudos que ultimamente estava amando beijar. Já tinha ido muito longe para poder voltar atrás e não seria agora que iria desistir de seus planos. Assim que viu a maçaneta perigosamente se mexer só teve tempo para se comunicar através do olhar e deixar escapar bem baixinho mais uma vez de seus lábios rubros a ordem que não fora cumprida, antes que os mesmos se moldassem em um sorriso falso para receber o amigo que sem avisos irrompeu biblioteca a dentro.

- FAÇA!!

- Aaaahhhh, então era aqui que vocês estavam escondidos esse tempo todo?? - BaekHyun indagou fingindo uma descontração que estava longe de sentir.

Tocado pelas palavras da irmã passara a observar atentamente o comportamento do namorado e da melhor amiga, principalmente quando os dois se encontravam juntos no mesmo ambiente como naquele exato momento. Percebeu nitidamente que algo acontecera segundos antes da sua chegada. O ar ainda estava carregado de uma energia estranha e o semblante de ambos parecia o de quem havia acabado de fazer alguma coisa muito errada. Mas o quê?? - Indagava-se por dentro.

- É, eu só vim atender uma ligação amor, mas caiu.....

- Pois é Baekkie, eu estava aqui desde cedo lendo um livro, daí o telefone tocou e eu tomei a liberdade de atender. A pessoa perguntou pelo Chanyeol, eu fui chamá-lo e acabou que nós voltamos juntos para cá.....ele para atender a chamada e eu para continuar a minha leitura. - Yuri fala calmamente enquanto aponta para o exemplar de "Crime e Castigo" que estava aberto displicentemente sobre uma mesa de canto. - Bem, agora que você chegou vou deixá-los a sós.

Assim que a morena dissimulada retirou-se do local, BaekHyun imediatamente captou a tensão espalhar-se na voz e nos gestos do namorado que inesperadamente puxou-o de encontro a si prendendo-o fortemente em seus braços.

- Baekkie.....- Começou com a voz chorosa. - .....me promete que aconteça o que acontecer entre nós dois você nunca vai deixar de me amar?

Se antes o menor já estava confuso, depois de tal pedido aí mesmo é que sua cabeça deu um nó.

- Channie..... - Tentou falar, mas foi impedido de terminar a frase.

- Prometa, por favor!! Isso é muito importante para mim.

- CHANYEOL, PARA!! O que é que está acontecendo? Por que você quer que eu te faça essa promessa? O que você está me escondendo?

- Eu não mereço o amor que você sente por mim, Baekkie.

Cada vez mais confuso e irritado, BaekHyun segura na mão do namorado e ambos saem da biblioteca indo em direção à cozinha. Assim que entraram no cômodo silencioso viu Chanyeol sentar-se em uma cadeira e esperou pacientemente durante alguns minutos até que o mesmo se acalmasse. Quando percebeu que o maior estava um pouco mais relaxado, aproximou-se e ajoelhou-se a sua frente enquanto levava as mãos carinhosamente até seu rosto.

- Eu te amo Channie.....nada e nem ninguém irá nos separar!!

Ao ouvir tal afirmação, Chanyeol sentiu um enorme peso tomar conta de sua consciência e uma dor dilacerante invadir seu coração a ponto de quase sufocá-lo.

- Eu também te amo Baekkie, demais!!

Aí então veio a pergunta que abalou de vez sua estrutura emocional já um tanto quanto fragilizada pela culpa que dominava totalmente a sua consciência extremamente pesada.

- Channie olha para mim.....promete, que nunca irá me magoar? Promete?

- P-prometo, meu amor!! - Forçou-se a dizer enquanto lastimava-se por ser tão idiota ao deixar-se levar pelos encantos de Yuri. Se naquele momento tivesse levado um tiro certeiro no peito talvez não sentisse tanta dor quanto ao mentir descaradamente para o amor de sua vida.

Preso em um beco sem saída não via como se livrar das garras afiadas da morena que vivia atrás de si como uma sombra. Embora tivesse duas alternativas caso quisesse se rebelar, ambas as opções não lhe agradavam de maneira alguma. A verdade é que não estava preparado física e nem psicologicamente para ver a decepção estampada nos olhos de BaekHyun quando o mesmo descobrisse sobre a sua infidelidade. Não queria testemunhar a mágoa que com toda certeza faria com que o menor o odiasse com todas as suas forças e o afastasse para sempre de sua vida e isso ele não iria suportar.

E agora mais essa.

Como iria dizer ao namorado que não poderia acompanhá-lo no tradicional baile que sua família costumava patrocinar anualmente para angariar fundos para as obras sociais da cidade? Como explicar depois ao mesmo a sua súbita aparição no mesmo local acompanhado por Yuri? Que desculpas daria para justificar tamanha canalhice e mau caratismo? Como contar para o namorado que vinha dormindo com sua amiga desde que fora para a Ilha de Jeju ajudar SeoHyun? Sempre desconfiara da índole da garota, mas jamais poderia imaginar que sua ambição desmedida iria destruir um amor destinado a ser eterno?

Enquanto permanecia de olhos fechados desfrutando dos toques suaves e gentis das mãos macias do namorado, Chanyeol recriminava-se por sua gigantesca covardia. O medo de que BaekHyun deixasse de amá-lo quase o enlouquecia a ponto de fazer com que odiasse a missão suicida que lhe fora ordenada por Yuri.

A angústia e o aperto desconfortável no peito lembrava-lhe todas as noites antes de dormir que o seu prazo estava quase se esgotando. Deitado no escuro ficava tentando adivinhar como seria o seu futuro se o namorado desistisse de si. Em meio a tantas dúvidas, a única certeza que tinha era que não saberia se recompor, não conseguiria seguir em frente sem ele ao seu lado.

Mas nem tudo permanece oculto para sempre, às vezes o destino conspira contar o mal e se encarrega de mostrar ao mundo a sua face sombria e é nesse momento que todas as cartas são postas sobre a mesa e finalmente toda a verdade é revelada doa a quem doer, pois toda mentira que se preza tem a perna curta. Uma mentira por menor que seja é sempre uma mentira e às vezes pequenas mentiras podem acabar destruindo grandes sonhos. A pior sensação do mundo é perder alguém em vida quando a mesma se vai sem dizer o por que e destrói tudo o que antes existia.

Eis que o destino e suas mil manobras radicais decide virar o barco e remar contra a maré colocando o acovardado Chanyeol contra a parede. Foi somente ao sentir as lágrimas mornas do menor molharem as suas mãos é que se deu conta tarde demais da burrada que cometera ao se envolver com quem não devia.

O chorinho sofrido cortava o seu coração e o fazia se sentir cada vez mais de fato a pior pessoa do mundo.

- O que foi meu amor? - Indagou afagando levemente os cabelos claros do menor. - Por que você está chorando?

- Aaaahhhh, Channie!! - BaekHyun respondeu entre uma fungada e outra. - Eu tô com uma sensação muito esquisita aqui dentro do peito

- Que sensação? - Questionou ficando em alerta e com o coração aos saltos.

- Uma sensação horrível de que estou te perdendo, de que a qualquer momento vai aparecer alguém para roubar o meu lugar e roubar o seu coração!!

Chanyeol ainda não sabia, mas estava prestes a descobrir que a verdade demora, mas chega sempre sem avisar.