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História Código Ômega - IX


Escrita por: Jay_Maronese

Notas do Autor


Se você tem estômago fraco ou amor pela própria vida, retire-se deste capítulo.

P. S. : O Jogo.

Capítulo 9 - IX


Fanfic / Fanfiction Código Ômega - IX

Bolsonaro foi anunciado e adentrou o gabinete presidencial. Sentado em sua mesa, Cunha organizava papéis em várias pilhas enormes nos cantos. Ao ver o deputado, ele tirou os óculos e começou a limpá-los com uma flanela, uma desculpa para não olhar o ex-militar nos olhos. Percebendo que ele insistia em fazer contato visual, Eduardo se rendeu:

-O que está fazendo aqui, deputado? 

-Eu gostaria de retomar meu serviço militar. 

-Com licença? 

-Sinto que o senhor está finalmente colocando esse país no rumo certo, e gostaria de ajudá-lo com isso. 

-É necessário vir ao gabinete presidencial para se filiar às Forças Armadas? 

-Não, mas eu pensei que, talvez... 

-Que talvez eu lhe desse uma patente mais alta no Exército. Bolsonaro, você é inacreditável. 

-Com todo o respeito, eu era um capitão. 

-Exato, era. Não acha injusto que você entre como capitão enquanto tantas pessoas mais capacitadas e mais jovens não conseguem? 

-Idade é só um número. Meu porte continua atlético. 

-Você está ficando velho. Se quiser entrar, não te prometo mais que uma patente de cabo ou um posto administrativo. 

-Por favor, eu posso contribuir muito com a sua causa! 

Cunha pensou por um instante. Bolsonaro poderia ter sido um ótimo recruta nos anos 80, mas agora ele estava desgastado. Porém havia um outro fator a ser considerado: Marco Feliciano. Ele tinha uma queda por Jair, e certamente ficaria muito feliz se seu amado conseguisse voltar a servir o país. Apesar das decepções, Eduardo ainda nutria certo afeto pelo pastor, e queria vê-lo feliz. 

-Mas que merda! - ele disse, um pouco mais alto do que deveria. 

-Senhor? -disse Bolsonaro, preocupado. 

-Capitão Jair Bolsonaro, você começa amanhã.

Sorrindo como uma debutante mexicana em sua Quinceañera, Jair deixou a sala e apanhou o telefone para dar a notícia a Feliciano. Lembrando-se do que acontecera algumas horas antes, porém, guardou-o novamente em seu bolso e saiu cabisbaixo.

                                        .....

      Scarlett foi a primeira a sair do helicóptero. Viva e alerta, como se nada tivesse acontecido, ela deu a mão a Marina Silva, que aceitou a ajuda e correu para o meio do mato para vomitar. Xi Jinping e Dilma Rousseff foram os próximos, ainda discutindo sobre as obras de Rosa Luxemburgo. Luciana Genro e Michel Temer desceram logo depois, sucedidos por Hamilton, que trazia papéis nas mãos e coçava a cabeça com um lápis. 

-Se minhas contas estiverem corretas - disse ele - estamos em Mebabane, capital da Suazilândia. 

-Capital do quê? - perguntou Dilma. 

-Suazilândia. 

-É de comer? - perguntou Xi Jinping. 

-É um pequeno país africano espremido entre Moçambique e a África do Sul. 

Um homem de bermuda, regata e chinelos apareceu do nada, seguido de uma mulher com um vestido longo e um lenço na cabeça carregando dois bebês no colo e levando uma criança pela mão. 

-Não pronuncie o nome desse lugar maldito! - disse ele. 

Hamilton observou confuso. 

-O quê? Por que não? 

-Não sabe o que aconteceu?

O homem começou a explicar a situação: Nelson Mandela havia enlouquecido e organizava execuções públicas todos os dias, além de mandar matar qualquer um que se impusesse contra ele. Por esse motivo, ele, sua mulher e suas três filhas haviam fugido do país e vindo para a Suazilândia, o país mais próximo de sua casinha nos subúrbios de Pretória. 

-Nelson Mandela? - perguntou Temer. - O que aconteceu com Jacob Zuma? 

-O senhor não sabe? Ele fugiu, e Mandela já ordenou sua morte. A situação está caótica; não sabemos o que aconteceu com nosso líder, mas ele não é mais o mesmo homem. Às vezes eu imagino que tudo isso é apenas um sonho ruim, mas, no fundo de meu peito, sei que é real. 

O telefone de Temer tocou. Aparentemente, havia sinal de celular naquele fim de mundo. Ainda chocado pelas notícias que acabara de receber, Temer levou o aparelho ao ouvido. 

-Alô. 

-Senhor Temer, aqui é o Anderson, eu estava acompanhando os soldados nas missões de escolta na Índia. 

-Sei quem você é, Anderson, desembuche. 

-Senhor, a primeira-dama... não conseguimos encontrá-la. 

O celular caríssimo de Temer caiu ao chão. Ele começou a debater-se e caiu sobre os braços de Luciana e Marina, que estavam a seu lado. Todos os presentes fizeram uma roda em volta dele para ver o que acontecia. O ex-presidente chacoalhava freneticamente os braços e as pernas, com a boca escancarada e os olhos virados para trás. 

-Saiam da frente, eu sou médico! - gritou o homem de regata. 

Se aproximando de Temer, ele checou o pulso, os batimentos cardíacos e as mucosas de seu paciente. Depois, tomando fôlego, anunciou:

-Não estou com meus instrumentos de trabalho, mas posso afirmar com quase certeza que ele está sob efeito de alucinógenos. 

-O quê? Mas esse homem não fuma nem cigarro sem ter uma crise de tosse! - disse Dilma.

-Ele não precisa necessariamente fumar. O paciente foi exposto a vegetais ou minerais estranhos ultimamente? 

-Eu ainda acho que é algo relacionado ao choque. Ele deve ter ouvido algo que o abalou ao telefone. 

-Sinto que é uma mistura dos dois - disse Marina. - Estou detectando energias naturais fora do comum desde que pousamos aqui. 

Temer era alheio a toda essa discussão. Ele parecia ouvir apenas as batidas de seu próprio coração, e tudo que via eram borrões coloridos e algumas imagens nítidas, que surgiam bem diante de seus olhos como mensagens subliminares da Jequiti durante a programação do SBT. Um soldado moreno de farda verde sob um sol escaldante. A imagem de um garotinho refletida em uma enorme pedra amarela e brilhante. Um homem em trajes executivos morto no chão de seu escritório com marcas de estrangulamento no pescoço. Um homem sendo executado por um policial. Eduardo Cunha sentado no gabinete presidencial do Planalto. Um homem engravatado e de joelhos esfolados orando até perder os sentidos. Um raio verde e um raio amarelo colidindo no céu azul. Um pedaço de pano tingido com as cores do arco íris. Uma criatura horrenda, com escamas prateadas e olhos negros. Uma moça com cabelos cor de rosa. Cinzas sendo jogadas do topo de um prédio. 

Michel sentou-se rapidamente, para o espanto de todos. Depois de alguns exames rápidos, o médico sul-africano concluiu que Temer havia voltado ao normal. Todos haviam se aproximado ainda mais, e perguntavam incansavelmente se o ex-presidente estava bem. Por segurança, ele não contou nada sobre suas visões a ninguém.

                                      .....

          -O Brasil? - perguntou Zuma. 

-É. - respondeu Kim. 

-Essa é sua dúvida? Pode tacar bomba. 

-Mas eles têm pastel de flango, e os memes brasileiros são os melhores que eu já vi. Está vendo esse vídeo aqui? É sobre um ser antropomórfico chamado Fofão, que gosta de dançar e escalar muros. E esse aqui fala sobre um jovem judeu às vésperas de seu bar mitzvah. 

-Tudo bem, parece muito legal mesmo, mas pense no poder que o senhor pode adquirir destruindo um país como esse. 

-Estou enfrentando um terrível dilema. Amo o poder, porém não posso destruir uma cultura tão vasta. 

-Fale mais sobre seus mísseis. Qual é a velocidade média? 

-Cerca de 1500 km/h. 

-Caramba, são poderosos! Vamos fazer algumas contas. Se o senhor atirasse o míssil exatamente em Brasília, que foi projetada para ficar no meio do país, isso causaria muita destruição para todos os lados, portanto, é o melhor lugar no qual lançar o míssil. Só sobrariam alguns índios, mas isso é o de menos, e talvez a destruição chegasse até outros países da América Latina. 

-Sim, parece bom. 

-A distância média entre Pyongyang e Brasília é de 16800 quilômetros, considerando os desvios na rota causados pelas correntes de ar. Isso significa que o seu míssil chegaria lá em pouco mais de 11 horas. 

-Correto. 

-Considerando tudo que eu falei, o senhor está decidido a jogar a bomba? 

-Não sei... 

Jacob começou a perder sua paciência.  

-Senhor, é necessário saber tomar decisões para ser um bom líder. 

-E quem disse que eu sou um bom líder? Pelo contrário, sou um péssimo líder, para que o povo sofra cada vez mais. Não dá pra pedir mais bolinho de queijo? 

-Inacreditável. 

Zuma desviou-se de Kim e, antes que ele pudesse reagir, apertou o botão vermelho que disparava os mísseis. 

-Não! O que você fez? - berrou o líder norte-coreano. 

-Eu selei o destino do Brasil. 

-Sua vadia! 

-Cale a boca, por obséquio. 

Jacob apertou as mãos contra a cabeça de Kim Jong-un, fazendo com que uma luz amarela saísse delas. Como se estivesse sendo eletrocutado, Kim começou a fritar, até que seu corpo obeso caiu ao chão. Zuma esfregou as mãos no paletó e saiu por um portal feito com a mesma energia amarela com que acabara de tirar a vida de um homem.

                                     .....

        O ano era 1990.  Na cozinha de uma casa de fazenda na cidade austríaca de Baden, Heidi fazia pão. Passando o rolo na massa diligentemente, surpreendeu-se ao sentir a barra de sua longa saia ser puxada. Com um sorriso, olhou para baixo, vendo seu filhinho de 7 anos com as calças cheias de terra. 

-Está tudo bem, mamãe? Precisa de ajuda? 

-Não, estou me virando bem sozinha. 

-Estão posso ir brincar? 

-É claro que pode. - respondeu ela, com um riso afetuoso. 

-Eba! 

O menino disparou para a porta de casa, pois uma de suas coisas preferidas era brincar no bosque perto de sua casa. 

-Fritz! 

Ele virou-se, encarando sua mãe. 

-Tome cuidado. 

Acenando com a cabeça, Fritz virou-se novamente e correu para o meio do bosque. 

Era primavera, o que deixava todas as árvores e plantas ainda mais bonitas do que já eram. Fritz colheu algumas flores azuis para sua mãe e soprou um dente-de-leão. Algum tempo depois, sentado em um tronco de árvore, ele viu uma lebre branca com olhos vermelhos, que logo desapareceu entre os arbustos. O garoto começou a persegui-la, com seus cabelos loiros voando ao vento e seus pequenos pés quase não tocando o chão. Quando ele estava a apenas alguns centímetros de distância da lebre, ela pulou, e Fritz caiu em um enorme buraco. Tateando as paredes cobertas de musgo para se guiar na completa escuridão, ele pôde ver, ao longe, uma luz amarela. Correndo em direção a ela, percebeu que era, na realidade, uma rocha gigantesca, com cerca de um metro e meio de altura. Ela não se parecia com nada que Fritz já tivesse visto. Haviam formas geométricas desenhadas em sua superfície, como se a rocha tivesse sido realmente lapidada, e, mesmo com o brilho que emanava dela, o garoto conseguia ver seu próprio reflexo na superfície quase envidraçada. Fascinado, ele tocou a rocha. Uma onda de dor deslocou-se por todo o seu corpo, e Fritz começou a ver lampejos de luz e imagens borradas. Ele via lugares que pareciam retirados de filmes de ficção científica, com solos de cores variadas e desenhos estranhos no céu. Depois, imagens de pessoas sendo enforcadas, cadáveres putrefatos, cabeças frescas de vítimas da guilhotina francesa, carne com queimaduras de primeiro, segundo, terceiro, quarto grau. E, depois, uma voz. Uma voz que parecia vir de longe e de perto ao mesmo tempo. Uma voz poderosa, fraca, masculina, feminina; impossível dizer; pronunciando lentamente palavras em idiomas desconhecidos, mas que marcavam para sempre todos que tivessem a chance de ouvi-las. Fritz sentia agulhas perfurando seu cérebro, espadas perfurando seu coração, havia algo no canto de seus olhos que ele não conseguia ver. E então, escamas prateadas e brilhantes, colunas de fogo azul, olhos negros e dentes afiados, enquanto as palavras eram repetidas cada vez mais alto. Então, finalmente, o silêncio. O garoto caiu ao chão sem sentidos. 

Acordou algum tempo depois, deitado sobre a grama fofa do bosque. 

-Mein Gott, Fritz, você está bem? Eu fiquei tão preocupada! Você não voltava nunca, e eu vim e te achei naquele buraco... o fazendeiro Hans te tirou de lá, e, oh, você está tão machucado! Venha para casa, vamos fazer um curativo. 

Heidi segurou a mão de Fritz para levá-lo para casa. Porém, assim que sentiu o toque da mulher, ele apanhou a ponta de um galho de pinheiro do chão e enfiou-o no olho esquerdo de sua mãe, que gritava enquanto seu sangue jorrava por todos os lados. Arfando, observou seu trabalho sem tristeza nem remorso, e talvez até com um certo orgulho. Depois, correu para casa. A massa de pão estava crua dentro de uma forma sobre o balcão sujo de farinha. Fritz pegou a forma e colocou-a no forno. No espelho do banheiro, pôde ver respingos do sangue de Heidi em suas roupas e seu rosto. Passou um dedo pela bochecha ensanguentada e colocou-o na boca logo depois, saboreando o sabor metálico por um momento. Depois, ligou o chuveiro e tomou um banho, enquanto cantava  Ich lieb' den Frühling alegremente. 


Notas Finais


Zelda da musiquinha:

http://youtu.be/OOYspFQRLl8

Cuidado: grudenta pra caramba.

Quem decifrar as visões do Temer ganha uma garrafa de tubaína.


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