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História Codinome 027 - Dia 07


Escrita por: Welcome_truelie

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 10 - Dia 07


 

Não me pergunte como é, nem como eu ainda estou viva. Não tente pensar de uma maneira boa dizendo para si mesmo que, pelo menos, sobrevivi. Não pense em como estou agora, seria horrível.

Eu disse para você não pensar.

Minhas mãos não se movem, eu sei que algo está muito errado, errado o suficiente para me manter viva. Sobreviver se tornou algo ruim, talvez isso tenha vindo na minha mente momentos depois do doutor martelar meus dedos.

Ele só queria uma amostra, foi o que ele disse. Do mesmo modo que furou minha medula óssea, ou como quando ele disse que cortaria a minha língua se eu retornasse a gritar.

Pensar nessas coisas agora não me fazem sentir nada, é como vagar em uma grande escuridão, não consigo enxergar, talvez se acendessem a luz… mas não há luz. Eu não estou acordada, estou apenas vagando aqui.

— Ela está delirando!

— Temos que continuar! — o velho gritou.

— Tirem-na daqui — alguém ordenou, sua voz era fina, o ruivo.

Mãos me levantaram, podia ouvir alguém arfar e sussurrar algo como " Por Deus, ela ainda está viva?"

Mas ninguém respondeu a sua pergunta, ela ficou solta no ar, do mesmo modo que eu estava solta dentro de mim mesma.

Meus olhos se abriram, pequenas frestas, eu podia olhar o mesmo branco por todas as partes, o chão vermelho carmim, escorregadio e liso. Senti meus braços tombarem enquanto me levavam no colo embora dali. O cheiro de ferrugem era constante, tão forte quando o fedor de alvejante que estava solto no ar.

Podia me segurar nas bases de mim mesma? Eu podia dizer para mim que tudo ficaria bem?

É claro que não.

As vozes se distanciaram a medida que passos soavam como ecos soltos no silêncio. Não era grande coisa sentir um aperto no meu coração, isso não era nada comparado ao que eu sofri.

Me deitaram em algum lugar, eu sei, podia sentir o frio do chão ou talvez da cama. Ouvia bips soarem em máquinas, pessoas gritando alto, alguns xingamentos em vão.

“Você está satisfeita?”

Abro meus olhos. Me sento no meio do vazio.

Quem disse isso?

“Você está satisfeita com isso?”

Olhei ao redor, tudo era branco, eu não estava acordada. Não podia ser. Então, onde eu estou? O eco soava ainda distante levando as palavras para longe. Então a voz veio mais forte dessa vez.

“Você quer morrer?”

Me virei em súbito espanto, há cinco centímetros do meu rosto estava uma garota. Sangue escorria por seu rosto. Ela usava apenas um fino lençol ao redor do corpo, seus olhos cinzas me encaravam, eu podia ver meu reflexo nele e a verdade tão doída que eles expressavam.

“Quem é você?” sussurrei. Não podia suportar, não conseguia entender, como isso era possível?

Ela sorriu, seus dentes brancos me deixavam aflita, havia algo nela, algo assustador que eu não conseguia compreender. Pelo menos não com ela tão perto do meu rosto.

“Você está feliz com isso?” ela repetiu. Sua voz ecoava até os confins do nada.

Apertei meus pulsos envolta de mim, estava com frio e não sabia o que ela queria.

“O que você quer dizer com isso?” perguntei, meu medo refletido em seus olhos.

“Não é simples?” ela disse alto e claro, sarcasticamente “você está feliz?”

Dei um passo para trás esperando me apoiar no vazio, mas ela se aproximou novamente, nos deixando outra vez face a face.

Algo escorreu por debaixo dos meus pés. Um líquido quente e pegajoso, sangue.

“Responda!” ela exigiu.

Senti tudo se esvair. Não. Ela não me conhece.

“Porque!?” eu também exigi no mesmo tom que ela “quem é você?”.

Podia ouvir minha voz gritante soando através da minha garganta seca.

Ela sorriu, jogou a cabeça para trás, desvairadamente ria de algo, algo que eu não entendia. Ela se moveu para trás. Um passo.

Outro.

E mais outro.

E então eu compreendi quem ela era. Sua pele pálida brilhava em contraste com o branco ao seu redor, ela ainda respingava a sangue, mas se mantinha baixa e magra. Magra demais. Pequena de mais.

Ela era eu.

“O que você vai fazer?” ela disse “vai matá-los? Todos eles?”

Eu sentia seu ódio emanar, ela estava com raiva.

"Nã..."

“O que? Vai dizer não?” ela me interrompeu “eles estão te matando”.

“Não.” Tentei manter minha voz calma e firme "saia daqui".

Ela me olhou feio, sua testa fincada em uma expressão sombria.

"Então você está feliz."

Aquilo não foi uma pergunta, ela só estava confirmando para si mesma, mas eu não podia responder.

Algo me puxou de volta a realidade.

Meus pulmões doíam, algo queimou em minhas veias, e eu… respirei.

— Ela acordou!

— Saiam do quarto agora! — alguém exigiu — vamos levá-la.

Passos apressados me puxaram para cima, com súbito reconhecimento eu me lembrei onde estava, abri meus olhos e olhei para o alto. Estava sendo levada há algum lugar. Os corredores eram os mesmos de quando eu cheguei, as portas de inox deixavam o ambiente sombrio e tedioso como um laboratório do mal.

Mas então eu notei que não haveria nenhum laboratório assim que se compararia com aquele no qual o velho quase me matou.

E eu mais do que nunca queria retribuir o favor.

Antes que eu pudesse dizer algo, abriram uma porta sem maçanetas, pessoas saíram apressadas do lugar enquanto era depositada no chão no meio do cômodo.

O frio atormentava meu corpo, a porta foi trancada atrás de mim e então eu me vi.

Milhares de mim.

Espelhos eram sobrepostos em todos os lados do lugar, chão e teto, da esquerda para a direita, milhares de mim olhavam para mim.

Algo me dizia que estavam me vendo. De algum lugar alguma câmera assustadora como a da cela estava me espiando, eu só tinha que achar o lugar e…

— 027 — a voz estrondosa soou de algum lugar, como vinda de um alto-falante — apresente seu nome.

Um gélido calafrio percorreu meu corpo.

— Não — eu disse convicta que já souberam muito sobre mim, já não chega arrancarem meus ossos?

— 027 — repetiu-se novamente a frase — apresente seu nome.

Meus lábios estavam secos e parcialmente rachados como um riacho sem água.

— Não! — a minha paciência estava se esgotando — eu já disse que não! Entendeu?

Ouve silêncio. Outra voz surgiu, essa mais firme do que a outra.

— Apresente-se.

Não. Não sabiam o significado de não?

— Vou apresentar minha bunda pra vocês!

Tentei me pôr de pé, mas descobri que seria uma longa batalha fazer as solas me firmarem.

Um som como de divertimento saiu do alto-falante — se aquilo era realmente um alto-falante— o homem que falava dessa vez mudou a frase.

— Diga.

Bela merda de mudança.

— Tá aqui minha apresentação! — enviei meu dedo do meio em direção aos espelhos — pronto? Satisfeitos?

Mais silêncio.

As outras “eus” me encaravam. Somente um manto cobria meu corpo nu.

Manchas vermelhas e roxas saíam aqui e ali. Meus braços estavam dolorosamente cheios de picadas, onde antes o velho injetou várias fórmulas. Agora me olhando no espelho via a mim mesma como um monstro. Marcas manchavam meus braços e ombros, minha pele dolorida e cheia de hematomas arroxeados. Meu rosto era o mesmo, mas por dentro, tudo havia mudado. O sentimento crescente de perda me invadia cada vez mais.

Com a mão tremendo toquei meus dedos no espelho à minha frente, era frio. Meu braços se arrepiaram com o toque.

Com a outra mão cobria meu corpo na pequena manta branca ainda sentada no chão.

A vontade de chorar queimava em meus olhos, e todas elas, sentiam o mesmo. Conforme eu me virava elas também se viravam, se eu chorasse elas também chorariam.

Elas são o que eu sou.

Com toda a palma estendida contra o vidro sentia a dor se esvair aos poucos, como se algo estivesse compartilhando do mesmo sofrimento. Uma pequena lágrima solitária caiu dos meus olhos.

Olhos tristes que encaravam seu próprio reflexo.

 

Stark

 

 

Ninguém sabe o que eu estou fazendo aqui, mas eu tinha que vir, mesmo sem permissão. Como puderam? Quem eles pensam que são?! Respiro tentando me conter.

Do outro lado do espelho eu podia vê-la. Era como um vidro visto daqui.

Eu estou aqui, queria dizer isso para ela.

Eu não sei o que fizeram com você 027… eu gostaria de saber seu nome, mas eu… não sei.

Sua mão foi até o vidro, direto à minha frente, como se você soubesse que estou aqui, a palma da sua mão preencheu o espelho. Seus finos e pequenos dedos estendidos em minha direção.

Então eu também levantei a minha mão e a levei até a sua. O vidro está entre nós, mas eu sei de algo, algo que talvez eu entenda.

Eu não compreendo muitas coisas… o que você disse é verdade, mas pela primeira vez eu entendo, a sua dor… é a minha dor, e neste momento eu estou compartilhando dela.

Uma pequena lágrima rolou por seus olhos, assim como a que rolou pelos meus.

 


Notas Finais


Awwwn, e esse finalzinho?
Está gostando da história?
Obrigada por ler! Até o próximo capítulo :)


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