1. Spirit Fanfics >
  2. Codinome 027 >
  3. Dia 01

História Codinome 027 - Dia 01


Escrita por: Welcome_truelie

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 2 - Dia 01


Bella

 

Algumas coisas acontecem por acaso, como por exemplo, meu vizinho o senhor Antaniel, as vezes mesmo não percebendo por acaso todas as noites alguém rouba a sua geladeira.

Não que ele seja realmente o meu vizinho. Acho que há uma grande diferença entre morar em uma casa e morar embaixo de uma ponte.

Meu relógio de pulso apita no exato momento em que o vejo sair pela porta da frente e eu sei que essa é a hora.

Ando como uma sombra em direção a parede lateral, meus pés não fazem nenhum ruído, no escuro eu me protejo. É a noite que a gente caça

Com o grampo já em mãos desato a correr até o jardim, subo as escadas e conto os segundos; dez, nove, oito…

Enfio o grampo na maçaneta, o ruído me faz mexê-lo para o lado, mais uma volta e… pronto! Cinco, quatro, três, dois…

Pib!

A porta se escancara na minha frente. Desde muito tempo os alarmes são acionados dez segundos depois do dono sair, e com rapidez na maioria das vezes consigo abri-la e cancelar a sua programação, posso ser pobre, mas não burra. Chamo essa estratégia de plano A.

Outras vezes não levo tanta sorte e então o plano B funciona como uma luva: Correr.

Fecho a porta atrás de mim e procuro por sinais de câmeras. Depois de muito observar vou até a geladeira, meu caminho está traçado em linha reta e eu sei que, se eu pisar em falso os lasers dispararão.

A casa já é conhecida pelos meus sentidos, sei onde está o sofá, atrás de mim há uma porta para um porão. Minha curiosidade sempre me atiçou para entrar lá e descobrir o que contém, mas eu sei que as armadilhas serão a primeira defesa que desencadeará se houver alguma ameaça.

A geladeira é farta, como se soubesse toda noite ele sai para comprar coisas, talvez prevendo como sempre que toda noite eu voltarei. Se ele não comprar comida, pela manhã não terá nada para comer. É a única solução para ele.

As vezes me pergunto porque ele não fica em casa de noite, talvez assim eu não aparecesse aqui para roubar. Talvez ele tenha medo.

Eu teria medo.

Então talvez em vez de somente comprar alimentos, ele saia também para fugir de mim.

Encho a bolsa com enlatados, os de feijão são os melhores, algumas latas de salsicha também podem ser bem úteis.

Com a bolsa lotada saio pela janela, se sair pela porta corro o perigo de ser baleada.

Os robôs estão sempre por aí.

Faço meu caminho pela grama quando ouço o apito.

Puta merda!

— Intruso! Intruso!

Olho para os lados em busca do pedaço de metal, os apitos soam mais altos do que nunca, a escuridão não me ajuda a enxergar! Eles correm tão rápidos quanto carros, então, como vou fugir?

Droga sua lerda! Grito comigo mesma, pareço cada vez mais de vagar, como se estivesse presa em um colapso de tempo. Entro em uma rua escura e procuro por uma saída, corro até o próximo prédio, ouço o robô virar a esquina e me antecipo derrubando latões de lixo no chão. Meus passos são ouvidos ao pisar nas poças d'água.

— Intruso! Pare! Intruso!

Quando penso que não pode ficar pior, a cagada acontece. Uma cerca de três metros de altura se estende em uma área restrita, corro mais rápido até chegar no ponto certo e pulo. Agarro-me no arame e me lanço para cima jogando meu peso para o outro lado. Sinto meu corpo despencar da altura, ponho meu corpo em movimento e pulo sentindo meus pés baterem contra o chão e corro.

O robô freia, para diante da cerca de arame e analisa a cena. É um robô, mas mesmo assim não deixa de ser idiota. Não consegue ultrapassar a cerca simplesmente porque não está configurado para isso.

— Essa foi por pouco.

Olho o local atrás de mim. O breu esconde a maior parte do lugar, mas, mesmo assim, ainda é possível ver a imagem do triângulo amarelo destacada em uma placa. Está riscada de giz, ainda posso notar a ferrugem corroê-la. As letras gritantes dizem: NÃO ULTRAPASSE.

Observo por um longo tempo o emblema, quase cega naquela penumbra resolvo pegar a maldita lanterna.

Procuro o botão para ligá-la, a adrenalina ainda no meu sangue faz minhas mãos tremerem. Direciono-a para a placa e levo um susto.

— UOU! Isso é…

Passo meus dedos no triângulo, as letras miúdas dizem tudo.

ALTAMENTE INFLAMÁVEL.

Sangue seco está impregnado nela no formato de uma mão.

Que merda é essa?

Me afasto dali e direciono a lanterna para os outros lugares. Latões gigantes formam uma fila até um armazém. Placas de diferentes tipos estão presas em cada um.

ÁREA RESTRITA, algumas chegam a gritar.

Alguns latões estão escondidos debaixo da poeira solar, a maioria sem tampa. Cada vez que me aproximo do armazém, tenho a nítida sensação de que esse, não é um bom lugar.

Leio as placas, minhas pernas bambas querem se virar para trás e correr, mas insisto e continuo a lê-las.

1.6 EXPLOSIVO

COMBUSTÃO ESPONTÂNEA

RADIOATIVO

Se Michael Jackson fosse vivo tenho certeza que ele andaria para trás quando visse essa merda.

— Clic

Estaco onde estou.

— Clic, clic

Ouço o barulho continuar.

— Clic, clic, clic, clic

Arregalo os olhos e faço minha mente funcionar.

Corro. Não penso nem mesmo duas vezes.

Quase no fim, perto da cerca uma voz brutal grita:

— Fique longe!

Não desobedeço as ordens. Escalo a cerca e volto por onde vim tomando cuidado com a rua. Mesmo estando tudo deserto tenho que tomar cuidado, ainda existem robôs policiais.

Dezesseis anos depois da terceira guerra mundial, a humanidade decidiu se reagrupar de uma forma diferente.

Os robôs cuidam das patrulhas, vasculham as áreas e trazem fotos dos criminosos, no caso (e que fique em segredo entre a gente), eu. Não sei ao certo quantas vezes os líderes viram minha cara nos telões armando maneiras de me sequestrar, mas é possível que tenham sido muitas.

Voltando ao assunto, os líderes governam, os robôs ajudam, e a população?

Morre.

Naquela época, já na guerra o vírus havia se espalhado e todos sabiam os culpados. Toda a guerra era culpada. Qualquer um que tenha participado dela, morreu naquele dia. Esse era a sentença. Então como lei: Todos os contaminados devem permanecer em uma área de quarentena, a qual será isolada do resto da população.

O resultado?

Bem, não foi dos melhores. É como viver em um campo de concentração, não há cura para o vírus, tudo o que eles querem é que você morra e os deixem em paz. Afinal, eles estão bem.

Nunca estive realmente em uma quarentena, não sei ao certo como é viver lá. Os que escaparam dela hoje vivem na rua, escondidos. E a noite é quando saímos para caçar.

Chego finalmente em baixo da ponte e ouço as conversas paralelas.

— Eles levaram Eddie — uma mulher diz chorando contra o manto do bebê. O cabelo curto deixa a mostra sua clavícula, os traços fortes demais devidos a pouca comida que temos para sobreviver.

—Via minha querida, vai ficar tudo bem.. — alguém diz tentando acalmá-la.

Todos se silenciam quando me veem, “Olha só a comida chegou!”. Acho que quando olham para minha cara, veem um peru recheado para a ceia de Natal.

— Consegui lata de feijão pessoal! — grito para que as crianças antes amuadas nos cantos ouçam e se alegrem um pouco com a notícia.

Todos se aglomeram para pegar a sua, me sinto bem fazendo isso por eles, mesmo não sendo da família, mesmo sendo mendigos, eles são muito melhores do que aqueles que moram na Cúpula.

Nos sentamos no chão envoltos nos cobertores já gastos, e em volta da fogueira de jornal e espuma de sofá, contamos piadas e rimos da nossa própria desgraça.

É até que bem legal.

— O John tentou roubar meus sapatos essa noite — o Esfarrapado diz — dei um chute nele e nunca mais o vi.

— Vou dar uma bronca nele se aparecer por aqui — digo para ele sorrindo.

Esfarrapado era um dos melhores humoristas da ponte. Não eramos muitos, mas todos davam o seu melhor para melhorar o clima, e ele era, sem dúvida, o melhor dos melhores.

Melhorar…

É isso que precisamos fazer, a começar por um belo banho.

— Andam dizendo que estão levando os velhinhos para a quarentena — Esfarrapado interrompe o burburinho — devíamos fazer algo a respeito.

—Temos que matar aqueles desgraçados! - Lenhador se põe de pé, a veia da testa saltando de irritação — é inútil continuar a viver assim.

— Primeiro, vamos comer o feijão— Esfarrapado diz amenizando o clima.

A mulher que antes chorava por ter perdido o seu filho se encolhe no chão tremendo. Dou para ela minha comida quando percebo que não sobrou mais nada para sustentá-la. Levo minha coberta gasta até onde está e a cubro.

— Isso vai mudar — eu digo indo para o escuro, para os prédios onde geralmente durmo — ainda seremos tratados como gente.


Notas Finais


Obrigada por ler! Gostou da Bella?
No próximo capítulo novos personagens surgirão!!
Bjoos :)


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...