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História Codinome 027 - Dia 03


Escrita por: Welcome_truelie

Notas do Autor


Boa leitura, divirta-se!

Capítulo 5 - Dia 03


Bella

 

A fome castiga meu estômago, há algumas horas eu teria algo para comer, mas aquela mulher precisava se alimentar. Eu sei que, caso não houvesse lhe dado minha comida, agora mesmo ela já não estaria viva.

— Hey! — eu conhecia aquela voz. Olhei para baixo procurando Esfarrapado.

— E aí imundice? — jogo uma pedra em sua direção, e ele como bom humorista pula desviando rapidamente. Dou uma risada gostosa, olhando daqui ele parece ser menos gordo. As vezes me pergunto porque ele é assim, mal temos comida para sobrevivermos, então como ele consegue ter todo aquele peso?

— Desce aqui! A reunião já começou! — seus dedos indicam a ponte.

Aceno para que ele vá na frente e me dirijo para a lateral do prédio, lá de cima podia sentir esperança, mas voltar lá para baixo… é outra história.

Escorrego pela beirada, as janelas — agora sem vidro — servem de apoio para os meus pés, assim devagar consigo descer andar por andar. Quando estou próxima do quinto andar sinto vibrações oscilarem, a poeira se mexe, como um terremoto ou talvez como um tsunami.

Ouço o grito vir da outra extremidade.

Não é aqui.

Respiro fundo e decido por vez, não vou descer.

Subo tudo de novo, se há um lugar que me mostrará o que é isso, é lá de cima.

Mentalmente peço que Esfarrapado esteja bem longe daqui.

Chego arfando no topo, me dobro sobre o concreto e espero o ar voltar para os meus pulmões. Me ponho de pé e olho para os lados, dali de cima procuro o lugar, mas onde?

Tudo está escuro, já é noite. É por esse motivo que estou aqui em cima, de dia nunca poderia fazer isso. Talvez já estivesse morta se o tentasse.

O grito soa novamente ao longe. Tudo de novo estremece.

— Cadê você droga?!

Xingo baixinho, tateio em meio bolso e encontro com os dedos o que estava procurando; meus binóculos.

Olho através das lentes, percebo então que o grito não é humano. Nada humano gritaria assim, eles não vem da Cidade Fantasma, vem do Deserto.

Observo o vulto se aproximar cada vez mais, a escuridão me impede de distinguir o que aquilo é, tento de forma exagerada enxergar algo mais claro.

Os gritos são de dor, aquilo o que quer que seja está machucado, sinto o chão tremer com sua aproximação. Olho para baixo, a poeira solar se desprende do chão a cada paço que aquilo dá.

Tentando me equilibrar me agacho em um ângulo que me dê visão sobre ele.

O grito cessa, o monte de massa negra para de se mover, da sua cabeça um farol salta para fora, a luz cegante ilumina a noite. A areia se movimenta, um redemoinho se forma circulando o bicho. Percebendo o perigo ele tenta escapar, mas é tarde demais.

Um animal aterrorizante com uma boca gigante e dentes enormes salta para fora da areia comendo-o como uma presa fácil.

Pisco olhando para o mesmo local, onde antes havia aquilo agora não há mais nada.

A cena é repassada na minha mente milhares de vezes enquanto eu desço o edifício.

— O que foi aquilo? — Lenhador pergunta, todos os olhares em volta da fogueira se dirigem para mim — você está bem?

— Não foi nada — solto sem pensar — a reunião já começou?

Ele assente desconfiado e continua de onde parou explicando como poderíamos nos manter vivos no próximo dia.

Ninguém entenderia e mesmo se eu contasse me chamariam de louca, como um treco estranho como aquele sai de dentro da areia e como um treco mais estranho ainda? Alguém me explica?

— O inverno está se aproximando… e vocês — ele aponta para mim — e principalmente você nos ajudará a coletar comida.

— Você quer dizer caçar? — digo inexpressiva— aqui não é a droga da Cúpula. Nós não coletamos comida, não “pegamos” ela. Nós caçamos.

— Continuando… — ele olha para mim— vocês vão caçar a comida — ele abre aspas no ar — o resto tentará juntar o máximo de combustível para essa belezura — ele aponta para a fogueira.

O silêncio que se segue diz muita coisa.

É mais um inverno.

Mais um ano de mortes.

Nem todos possuem essa chance, muitos andam sozinhos pela Cidade Fantasma durante a noite. Eles não tem aliados, muitos menos abrigo fixo

Não vão conseguir sobreviver, todos esses anos foram assim. O inverno é a porta para a morte.

Morte de quem não tem um cobertor quente para dormir.

— Então, agora vamos aos líderes! — Lenhador olha para todos, um por um chamando os nomes. Alguns eu conheço bem, como Esfarrapado que ajudará a procurar cobertas e lenha, ou qualquer merda que queime nessa fogueira velha. Os outros eu mal conheço — Bella… você é a líder da caçada, então… — seu olhar mostra preocupação — só… tome cuidado.

Aceno aceitando a ideia aos poucos.

— Tá ótimo — digo me levantando, ser a líder vai dar muito trabalho, e trabalho é o que eu preciso para esquecer aquela cena do Deserto.

— Ah! Bella! Só mais uma coisa — ele diz.

Eu paro e me viro.

— Não vá além da Cidade entendido?

Pisco algumas vezes tentando mesmo entender, então aceno que sim e sigo para um lugar alto o suficiente. Um lugar onde olhar para as estrelas seja único trabalho.

Me sento no terraço do prédio, procuro por imagens que me lembrem como era antes da guerra e das explosões solares. Esse vírus idiota de que eles tanto reclamam está realmente aqui? Porque caso não tenham notado, ainda estamos vivos, sabe?

Isso tá mais pra uma desculpa idiota para nos manter longe da Cúpula.

Ouço meu estômago roncar, a fome invade meus pensamentos, um mundo como esse é destruidor. Abraço a manta velha sentindo o cheiro suave que emana dela. Com letras grifadas de dourado vejo meu nome brilhar em meio a luz da lua.

Arabella.

Sinto uma sensação boa, como se alguém realmente um dia houvesse me amado. Sorrio para mim mesma.

Quando me acharam envolta naquela manta, disseram que eu estava chorando, não havia comido por dias. Estava envolta na mantinha de uma forma protetora, disse o Esfarrapado certa vez. Eles não sabiam como me chamar, mas a resposta estava diante deles, “debaixo do nariz Bella! Seu nome estava na manta!”.

As vezes penso em como ainda estou viva, como é que eles conseguiram cuidar de mim?

Minha barriga volta a roncar e eu resmungo me virando de lado para dormir, meu relógio de pulso marca 20:00Hrs. Foi um dia longo e uma noite assustadora.

Sinto a dor vibrar bem lá no fundo e a bile que sobe me faz querer chorar.

Preciso arranjar algo para comer amanhã de manhã se eu não quiser morrer.

Apesar de ter pouco, eu daria tudo por um pedaço de pão.

 

 

 


Notas Finais


Obrigada por ler!
Deu pra sentir a diferença entre a vida do Stark e da Bella? Como você se sentiu?
Até o próximo capítulo!!


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