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História Codinome 027 - Codinome: Experimento


Escrita por: Welcome_truelie

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 9 - Codinome: Experimento


Bella

 

Estou com medo. Frio e pânico também.

Tento focar meus olhos em algum ponto específico, mas nada é claro, tudo não passa de uma massa de confusão e desordem, aos poucos, minha visão retorna.

A sala branca está cheia de pontos pretos, eu li isso uma vez em algum livro velho—um dos únicos que sobraram—quando a pessoa está morrendo por não sugar ar para os pulmões a visão embaça e pontinhos pretos começam a aparecer até que o mundo todo se reúna à aquela cor.

Mas eu não morri. Eu ainda conseguia ver a sala branca e ouvir os sussurros vindos de algum lugar distante.

Minha cabeça chiava, um zunido alto e fino, como o barulho daquelas geladeiras velhas que estalam depois que são abertas. Se fosse possível diria que meu coração estava na minha cabeça, e pulsava impiedosamente, martelando para me alertar, tentando me dizer para correr.

Mas não havia como correr. Segundos depois notei o porquê.

Eu estava presa, não conseguia me levantar, meus pulsos ardiam queimando desde a ponta do meu dedinho até meu último fio de cabelo.

A fibra preta me impedia de me mover. Meus pés estavam dormentes, por um segundo me lembrei da picada de injeção. O que era aquilo? Sonífero?

Comecei a supor que meus pés também estivessem amarrados com a mesma fibra dolorida que minhas mãos.

O som de passos se aproximando me deixaram alerta e aflita. Não tinha certeza do que fazer, talvez gritar, mas por quem?

Ninguém vai me salvar.

Eu não tenho ninguém.

Sinto meus músculos se contraírem. A vontade de chorar maior do que tudo tentava me derrubar, mas não havia motivo, afinal para quê chorar se não há ninguém para me consolar?

Nem eu consigo me consolar.

Isso faz todo o sentido quando se trata da merda da minha vida que por sinal, é sem sentido.

Queria gritar para que acabassem com aquilo de uma vez, que me matassem sem dó nem piedade, um único golpe certeiro e pronto, eu ia pro céu e seria feliz. Isso se eu fosse pra lá.

— Ela acordou?!

O pânico na voz me deixou estressada. Eu acordei e daí?

Alguém se aproximou, o cheiro de álcool e desinfetante invadiu meu nariz. O rosto se aproximou e aos poucos consegui distingui-lo. Um homem meio velho… Possuía cabelos ralos em um tom claro, não como o branco, mas como o sol. Sua pele enrugada revelava os sinais da vida, o queixo quadrado e o nariz pontudo me lembravam um tubarão. Seu olhos, duas jabuticabas escuras, olhavam para mim em espanto.

– É, ela acordou— com uma pequena lupa se pôs a aproximá-la em todos os ângulos do meu rosto.

— Mas… ela…

— Ela vai morrer de qualquer jeito— o velho diz, seco e grosso.

O outro que só observava andava de um lado para o outro, seus passos para lá e para cá. Ainda podia ouvir o zumbido e o chiado.

Ele balançou a cabeça em reprovação.

Tisc tisc, fez com a boca.

— Vamos começar.

Olhei horrorizada para o teto, esperando o que quer que viesse a seguir. Suas palavras ainda rodavam na minha mente “ela vai morrer de qualquer jeito”.

Se me soltassem, de algum modo, ele é que estaria morto.

Um botão foi acionado, um pequeno clic soou baixo, e aos poucos comecei a sentir a maca ou o que quer que seja em que estou deitada subir.

Era como uma cadeira de dentista— das bem antigas pelo visto, algumas estavam enterradas em montes de entulhos na Ponte, mas esta estava novinha em folha— e eu estou nela.

Agora sentada podia olhar para o lugar.

Uma mesa se estendia há alguns centímetros, algumas coisas estranhas estavam em cima dela, somente uma reconheci: o martelo.

— Vamos dar algo mais forte para ela—o outro disse.

Olhando de canto notei que ele era mais esbelto, cheio de sardas na bochecha, o cabelo ruivo e brilhante como o fogo.

— Não.

— Ela não vai sentir dor se dermos…

— Eu disse não! - o velho explodiu, seu rosto todo vermelho dizia algo silencioso que o ruivo compreendeu bem rápido: cale a boca.

Podia sentir a dor chegar mesmo antes dele pegar qualquer coisa daquela mesa. Não a dor física, mas a interior, eu poderia morrer, não ligava muito pra isso. Mas lá fora, meus amigos precisavam de mim. Eu fiz uma promessa a eles e ainda não a cumpri.

— Adicione o ácido na base— ele disse— traga para mim.

Sua mão estendida pedia a ferramenta.

Era como uma agulha, mas tinha, pelo menos, trinta centímetros de comprimento, uma parte mais fina e a outra achatada.

Com cuidado ele mergulhou a ponta fina dentro de um pequeno pote, ele parecia ser de ferro, brilhava conforme era movido de lugar, mas havia algo estranho nele, então de repente entendi. Não era o pote que brilhava, mas sim o líquido que continha dentro.

Algo vai acontecer, pensei. Uma bomba vai explodir, alguém entrará e dirá que é o Superman e então eu serei salva.

Estava em meio a pensamentos, tentando manter os olhos fechados, esperando e esperando.

E então eu gritei ao sentir a ponta queimar em mim.

Eu não sabia o que era pior, a dor ou a vontade de socar algo.

O líquido ardia como fogo, persistente e destruidor, invadindo minhas veias. Queimando e queimando…

Ele parecia muito concentrado eu percebi, enquanto gritava ele se mantinha o mesmo.

Totalmente neutro.

Sua mão gelada apertou minha veia do pulso, com força virei minha cabeça a tempo de ver um fluído preto passar por elas, ainda queimava, queimava como o inferno.

Então ele se endireitou a minha frente observando algo.

— Escreva trinta e cinco graus Celsius, ela aguentou, agora o próximo— suas mãos se direcionaram para outro frasco, este transparente como a água.

— Anotado— o ruivo disse, sua voz doída como quem vê outra pessoa matar um bichinho de estimação.

Agora eu mantinha meus olhos abertos, não suportava esperar aquilo encontrar minha pele. Queria que tudo acabasse logo.

Seus dedos firmes levaram a ponta fina até o frasco e então direto ao meu pulso esquerdo.

Ainda esperava a dor vir queimando como a outra, mas não veio. Eu não senti nada.

Alguns segundos após a aplicação o doutor olhou com certa irritação para o líquido.

— Certeza que isto está certo? — o velho apontou para o frasco— não houve efeito.

O ruivo não quis argumentar, de cara amarrada ele apenas disse:

— Anotado.

Bufando feio ele largou o frasco e se dirigiu há outra mesa.

— Teste líquido feito— disse— agora vamos para testes físicos.

A palavra queimou em meu cérebro, ainda sentia os efeitos na minha veia, o calor do pulso direito ainda se estendia por todo meu antebraço. Enquanto o outro permanecia o mesmo, nenhuma reação.

Tentei pensar em minha mente a quem agradecer por aquilo, talvez fosse só água, talvez tenham errado.

— Primeiro teste— ele disse— bisturi no campo um.

Me pergunto onde é o campo um… é como enumerar partes do corpo?

— Não seria melhor por aquilo nela?

O ruivo apontou para a mesa, na ponta estendida encontrava-se uma mordaça.

— Não! — eu berrei pela primeira vez— não faça isso seu idiota!

— Ora, ora, ela fala— já com a mordaça em mãos ele continuou— mas não por muito tempo.

Com a cabeça erguida me movi para os lados tentando afastar suas mãos nojentas de mim.

— Não toque em mim seu desgraçado!

Seu olhar escuro penetrou meu campo de visão. Rápido como um raio agarrou meus cabelos puxando com toda força que tinha, e dentro de mim meu cérebro sacudiu.

— Ou por bem ou por mal— ele disse ainda me segurando, seu aperto mais forte— entendeu?

Acenei que sim, um sorriso amarelo brotou em seu rosto, velho idiota.

— Boa garota.

Com suas imundas mãos passou a mordaça por minha boca, seus dedos gelados, a amarrou no lugar habilidosamente.

— Pronto. Bisturi no campo um.

Podia ouvir meu coração disparar, enquanto ele pegava o pequeno objeto afiado, eu sentia a dor queimando pelas minhas veias, minha boca doía, a mordaça apertada marcava meus lábios.

Cada vez mais perto de onde seria o campo um ele aproximou o bisturi. Era minha panturrilha direita.

Campo um.

Dez centímetros.

Cinco.

Meus olhos lacrimejavam, eu não queria aquilo! Não! Não aguentava mais!

O bisturi gelado tocou minha pele, aprofundando-se cada vez mais, a dor latejava como um tiro, sentia cada parte de mim gritar, a dor perfurando cada lado do meu corpo, os pontinhos pretos reaparecendo como em câmera lenta.

Bem no fundo eu queria morrer.

Mas a morte não vinha. Isso é algum castigo? Não dá nem pra morrer nessa droga!

O bisturi desceu abrindo um grande talho em minha panturrilha, sangue escorria pela borda da cadeira, minha vida se esvaindo, o sangue indo embora, assim como eu.

— Agora farei apenas uma verificação no campo— ouvia sua voz distante em forma de eco, não entendia mais o que ele estava fazendo— anote o que disser.

Com um rápido aceno o ruivo esperou pela voz do velho.

Ele enfiou uma mão dentro da minha panturrilha, eu gritei, não para fora, a mordaça não deixava, mas gritei para dentro com todas as minhas forças. O rasgo rompendo minha vida, me rompendo.

O gosto de sangue invadiu minha boca, tão rápido quanto a velocidade que o doutor usou para retirar os dedos de mim. Meus dentes doíam, a força com a qual mordi era gigantesca. Tudo doía, tudo.

— Agora, vamos para o campo dois— ele passou um pedaço de pano branco entre os dedos, sua cara enrugada olhando para minhas pernas, o sangue fluindo livremente pelo chão.

— O que é mesmo o campo dois? - o ruivo perguntou.

O velho sorriu para si mesmo, talvez seu hobby preferido fosse matar pessoas nos finais de semana ou quem sabe vê-las sofrer.

— O martelo— ele disse.

Senti minhas unhas agarrarem a carne da minha própria mão, encravando cada vez mais fundo, notei o sangue preto, poluído com o líquido saltar para fora.

Havia algumas coisas que aquele cara que me capturou não conseguiria entender, o mesmo oficial que me levou até a cela… ele me perguntou quais eram. Eu lembro o que disse…

Realmente me lembro.

Agora tenho mais uma para acrescentar na lista.

Querer morrer e não poder.

 

 


Notas Finais


Obrigada por ler!!
Fico triste pela Bella :C

Até o próximo capítulo!! Bjoos!


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