História Coexist - Capitulo 30

Acordei sozinho na cama e sentei no susto, pensando que Temari podia ter ido embora sem se despedir de mim. Segundos depois, vi a luz e escutei barulhos vindo da cozinha que indicavam que tinha alguém em casa. Suspirei aliviado, me perguntando quando é que eu tinha ficado tão paranoico.

Arrastei-me até a beirada da cama e joguei as pernas pra fora, passando a mão pelo rosto e pelo cabelo. O sol nem tinha nascido e o relógio indicava que mal tinha dado cinco horas da manhã. Eu sabia que Temari já tinha levantado e não voltaria para cama, a comitiva de Suna partiria cedo. Encarei por um momento o leque e a mala de Temari encostados entre a porta e a escrivaninha e suspirei, decidindo levantar de uma vez e ir atrás da minha namorada.

Temari estava colocando a chaleira no fogão quando cheguei no pequeno corredor, de costas para a porta da cozinha. Cheguei por trás dela sem fazer barulho, mas era obvio que ela sabia que eu estava ali. A abracei, descansando a cabeça em seu ombro, sonolento.

-Bom dia. –murmurei, minha voz um pouco rouca pelo sono.

-Bom dia –ela respondeu, as mãos em cima das minhas, as costas colaram no meu peito –Levantei faz pouco tempo, já ia te acordar para perguntar se você vai sair comigo.

-Entendi. –respondi –Vou sim. Que horas você combinou de encontrá-los?

Temari não respondeu, senti ela ficar levemente tensa e ela se virou no meu abraço, os olhos arregalados. Espalmei as mãos em suas costas, a apoiando e a fiquei confuso. Ela corou e depois riu, me fazendo entender ainda menos o que acontecia.

-Eu não combinei. –ela respondeu por fim. –Ia fazer isso ontem, na comemoração pela vitória de Niyla.

-Oh! –eu exclamei, meu rosto se iluminou em entendimento –Nem lembrei disso.

Uma das minhas mãos deixaram suas costas e cocei minha nuca, um pouco envergonhado. Temari e eu tínhamos passado a maior parte da noite fazendo amor, sem nos importarmos ou pensarmos em mais nada além um do outro. Depois, quando era quase madrugada já, ela terminou de colocar suas coisas em ordem e fomos dormir. A comemoração dos ninjas de Suna nem passou pela minha mente e me senti um pouco culpado por ela ter perdido.

-Você me distraiu. –ela me acusou, seu tom era de brincadeira, ela não parecia realmente chateada por não ter ido. –Foi tudo um plano mirabolante seu, não é? –ela colocou as mãos nas cintura se afastando de mim e eu ri –Você não queria que eu fosse e me deu aquela canseira pra eu nem lembrar!

Neguei com a cabeça, voltando as mãos pra suas costas e a trazendo pra mim.

-Problemática. –resmunguei –Não reclamou ontem enquanto estávamos na cama, nem lembrou também.

Ela me abraçou de volta, lançando meu pescoço com os braços.

-Pra você ver como seu plano deu certo. –ela respondeu em meu ouvido.

Dei uma risada pelo nariz e a beijei de forma lenta, aproveitando cada pequeno contato. Ela se afastou no fim do beijo, mas não deixou de me abraçar.

-E como você vai fazer? –perguntei

Ela pensou por um momento e deu de ombro.

-Vou no horário que suponho que eles vão se encontrar para partir. –ela respondeu –E torcer para eles terem a bondade de me esperar se eu estiver errada e eles tiverem combinado mais cedo.

Eu ri e a chaleira apitou. Temari me deu um selinho estalado e me soltou. Terminamos de arrumar o café da manhã juntos e comemos conversando, tentando manter um clima leve e conseguindo até certo ponto. Quando terminamos, avisei que tomaria um banho. Estava na porta do banheiro, já a fechando quando ela passou por mim, sorrindo pra mim.

Sorri de volta, puxando-a para o banheiro comigo.

-Shika! –ela exclamou –Vou me atrasar.

-Se tomarmos banho juntos, poupamos tempo. –respondi, fingindo inocência.

Ela me encarou, descrente.

-Cara de pau. –ela resmungou, mas entrou no banheiro comigo, me fazendo sorrir malicioso.

Tomamos um banho demorado juntos. Acabamos demorando mais do que se cada um tomasse o seu próprio, mas Temari não pareceu se importar com isso. Ela parecia estar contente por poder passar mais algum tempo comigo, assim como eu também estava. Eu sai do banheiro primeiro que ela e fui pro quarto, a toalha enrolada na cintura. Estava escolhendo a roupa que para vestir quando ela entrou no quarto com o rosto vermelho e a cara emburrada, enrolada em uma toalha.

-Shikamaru! –ela exclamou, irritada.

-O que foi? –perguntei assustado.

-O que foi? –ela repetiu. –Isso aqui, olha!

Ela apontou o próprio pescoço, onde tinha duas marcas arroxeadas, assim como uma outra no início do seu seio direito.

-Ops! –eu exclamei, sentindo o rosto esquentar.

-Eu vou te matar! –ela resmungou. –Você não contente em me deixar uma, me deixou três marcas! Se o Kankuro ver isso e quiser te dar uma surra, eu não vou impedir, nem deixar o Gaara segurar ele!

Suspirei.

-Calma, Tema. –pedi –É só você colocar aquela sua blusa branca de gola alta, ela tampa o pescoço.

Ela me fitou com os olhos estreitos e eu pensei que ela ia me bater mesmo. Ela bufou e deu as costas, voltando para o banheiro. Respirei um tanto aliviado e me vesti, Temari voltou alguns minutos depois, com o cabelo já arrumado nos duas rabos de cavalo, mais ainda enrolada na toalha. Ela pegou a roupa que tinha separado para ir e me lançou um olhar atravessado antes de guardar aquela e pegar a blusa que eu tinha me referido.

Nos vestimos e acabamos saindo de casa quase uma hora depois do que Temari tinha se programado, mas fora sua cara emburrada por conta dos roxos que deixei nela, ela não parecia chateada com isso. Eu certamente não estava.

-Eu juro que se alguém comentar alguma coisa, eu vou te dar uma surra, Shikamaru. –ela ameaço num resmungo, arrumando melhor a gola alta de sua blusa em volta do pescoço, enquanto andávamos de mãos dadas para o hotel.

-Desculpe, Tema. –pedi pela que pareceu a decima vez –Eu prometo não te marcar de novo.

Ela corou levemente e lançou um olhar pra mim, a sobrancelha arqueada.

-O problema não é me marcar. –ela disse –Mas me marcar em lugares visíveis.

Maneei a cabeça, e assenti, rindo por dentro. Tentamos manter o clima leve que estava anteriormente entre a gente, mas já pairava a sensação da despedida na boca de meu estomago. O sol estava acabando de nascer e as ruas ainda estavam um pouco desertas, Konoha acordava aos poucos. Quando chegamos próximo ao hotel, vimos o pequeno aglomerado de ninjas de Suna.

-Bem, não fui deixada para trás. –ela riu-se para mim.

-Podiam ter deixado, não ia reclamar de te levar de volta pra casa. –respondi.

Ela sorriu e chegamos mais próximo, avistando seus irmãos, Baki, Oberu, Niyla e alguns outros ninjas. Kankuro nos avistou e fez a sua já costumeira carranca ao nos ver de mãos dadas. Ele se adiantou, chegando até nós.

-Estamos pensando em te esperar nos portões da vila. –Kankuro disse depois de nos cumprimentar, sendo mais seco comigo do que com ela.

-É, eu ia pra lá se não achasse vocês por aqui. –ela respondeu.

-Porque você não apareceu ontem? –ele perguntou, cruzando os braços. Meus olhos e os de Temari se arregalaram de leve e coramos, trocando um olhar rapidamente e voltando a olhar pra ele. Kankuro fez uma careta, revirou os olhos e resmungou: -Deixa pra lá, eu não quero saber.

Ele se afastou indo falar com Gaara que estava mais à frente conversando com Baki. Gaara olhou para nossa direção depois de Kankuro dizer algo pra ele e acenou com a cabeça em cumprimento. Me virei para Temari depois de responder.

-Você quer que eu te acompanhe até a saída da vila? –perguntei.

-Claro. –ela respondeu, parecendo ter esquecido por fim o mal humor –Você é meu guia, não é? É seu dever!

Sorri de canto pra ela. Gaara se aproximou junto com Baki, que me lançou um olhar duro. Segurei um suspiro.

-Estamos partindo, então. –Gaara disse. –Shikamaru, vai nos acompanhar até os portões?

-Vou. –respondi e Gaara assentiu, dando a ordem para seus ninjas começarem o caminho.

Fui a maior parte do caminho em silêncio, observando Temari conversar com Niyla. A garota tinha perguntado se eu era namorado de Temari para ela e ela tinha corado adoravelmente antes de responder que sim, eu dei um sorriso de canto, respondendo o cumprimento da menina. Ela era mais nova do que Temari quando nos conhecemos, mas já dava para ver que seria uma kunoichi tão boa quanto minha namorada.

Ao chegar nos portões, Gaara e os outros ninjas partiram um pouco a frente, dando um tempo para mim e Temari nos despedirmos. Ela ficou na minha frente, olhando para mim, sua mão ainda entrelaçada na minha. Toquei seu rosto com as costas dos dedos com a mão que não segurava a sua e ela fechou os olhos.

-Toma cuidado. –pedi e ela abriu os olhos, sorriu pra mim.

-Não se preocupe. –ela respondeu –Vou voltar inteira pra você.

-Assim espero. –respondi. –Vou te ver se eu consegui uma folga.

-Certo. –ela respondeu e apertou minha mão e depois a soltou, dando as costas pra mim.

Observei ela alcançar os ninjas de sua vila e ela lançou um último olhar pra trás, dando aquele sorriso de olhos fechados e mostrando todos os dentes que eu tanto amava. Eu sorri de volta e cocei a nuca, corando. Era esse efeito que aquele sorriso sempre teria em mim.

OoOoOoOoOoOoOoOo

Entrei no meu apartamento já era noite na sexta, depois de trabalhar o dia inteiro. Kakashi estava cada dia mais exigente e cada vez mais envolvia eu e Naruto nas atividades dele de Hokage, o que era um saco, mas eu sabia que era necessário. Ele queria que eu fosse mais do que meu pai era antes de morrer para ele e posteriormente para Naruto e eu tinha essa vontade comigo. Então, tinha que me esforçar, por mais problemático que isso fosse.

Suspirei pesadamente, tirando os sapatos e indo direto para meu quarto. Me joguei na cama de bruços e puxei o travesseiro que estava do lado do meu, aspirando seu cheiro. Mesmo depois de vinte e dois dias, e sim, eu estava contando, havia algo do cheiro de Temari nele, assim como parecia ter algo dela na casa toda. Quatro dias depois de sua partida, Kakashi tinha me avisado que recebeu uma mensagem avisando que ela e a comitiva tinha chego em Suna sem grandes imprevistos e, desde então, não tinha notícias de Temari. Trocar mensagens era algo complicado, visto que as aves eram usadas para mensagens mais urgentes e os mensageiros, além de demorarem, podiam acabar extraviando. Eu ainda não confiava nessas tecnologias novas que estavam surgindo e as coisas em Suna estavam um pouco mais atrasadas que por aqui, pelo que Temari comentou. Não tinha a remota possibilidade de Kakashi me mandar em uma missão para lá ou mesmo me dar mais de uma semana de folga. O casamento de Ino estava chegando e eu não tinha ideia se ela conseguiria vir.

Virei de barriga para cima, fitando o teto. Eu estava cansado. Dormir estava sendo um inferno sem o calor dela e eu acordava frequentemente a noite procurando seu corpo na cama. Sentia falta de dormir abraçado, sentia falta de ter ela comigo nas refeições e nas reuniões de amigos, sentia falta de ter ela me esperando em casa quando eu chegava ou de esperar por ela. Sentia falta de seu humor ácido e até mesmo de seu mau-humor e, céus, como sentia falta de fazer amor com ela. O apartamento parecia duas vezes maior sem ela aqui e eu estava me sentindo cada dia um pouco mais ranzinza com isso. Ino tinha me classificado como insuportável da última vez que tínhamos nos visto, em um jantar no Restaurante Q com Chouji, que também estava saudoso da própria namorada. Ela disse que não iria mais sair com a gente sem Temari e Karui, pois estávamos muito chatos, mas já tinha marcado outra reunião para terça à noite. Segundo ela, a “última reunião InoShikaChou com todos solteiros”.

Eu tinha ido ver minha mãe na semana que Temari se foi e ela também parecia um pouco tristonha. Ficamos muito tempo em silencio e ela me perguntou se eu achava que aquilo ia dar certo, nós dois tão longe, sem muita perspectiva de quando íamos nos ver. Eu fiquei bravo com ela num primeiro momento, achando que logo ela, que devia me apoiar, estava dizendo que meu relacionamento não daria certo. Mas depois entendi que ela só estava preocupada, que ela não queria que eu sofresse, seja com a distância ou com um termino. Expliquei pra ela que eu iria ter que ter paciência, mas que eu não desistiria de Temari e também estava disposto a lidar com a cabeça dura dela se precisasse. Minha mãe riu e disse pra mim que, no fim, eu tinha arrumado uma mulher mais problema que meu pai.

Levantei para tomar banho, pensando em o que eu faria para jantar, sem a mínima vontade de comer fora. Abri o guarda-roupa e puxei uma roupa qualquer pra dormi, olhando por um momento a parte do guarda-roupa que ainda estava vazia e que eu tinha decidido não reocupar com nada. Estava já na porta do banheiro, quando um barulho de asas batendo despertou minha atenção, vindo da janela da sala, que eu havia aberto pela manhã para fumar e esquecido de fechar, pelo que pude ver agora. Fui até lá com o cenho franzido e me deparei com um dos pássaros que traziam mensagens de Suna pousado no parapeito. Meus olhos se arregalaram e eu me adiantei até ele, pensando se teria acontecido alguma coisa com Temari. Peguei o papel e a abri, me deparando com uma mensagem curta criptografada em um código simples. Analisei por alguns momentos a mensagem, encaixando palavras e decifrando o código e sorri ao final dela, me sentindo leve pela primeira vez desde que Temari havia ido embora.

“Chegarei em uma semana”

Era tudo que dizia, mas para mim era claro. Dali uma semana, era a véspera do casamento de Ino e Sai. Temari havia conseguido uma folga e iria vir. Em uma semana, teria ela comigo de novo, mesmo que por pouco tempo. Espantei o pensamento negativo, pensando só que iria vê-la novamente dali poucos dias, mal notei a ave ir embora sem uma resposta. Sorri como um bobo e fui tomar meu banho, menos mal-humorado.