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História Coisas estranhas voltam a acontecer - The Storm - Part 1



Notas do Autor


Mil anos depois...
Capitulo 5!!!!!!!! Finalmente!!!!!!!!! Desculpe a demora!!!!!
Eu acabei de entrar em ferias, entao irei conseguir publicar mais, espero.
Este capitulo eu dedico as minhas amigas Yasmin Agiani e Julia Santos que irão sair da escola ano que vem. Amo voces, meninas! E tambem dedico as minha leitoras Isadora e Manuela que me seguem no Twitter e me cobraram a FanFic.
Ps: O cap foi dividido em 2 partes e hoje só sai a primeira :)

Siga-nos no Twitter: @Biscoitinha_Mel e @Yas_Bolachinha

Boa leitura e espero que gostem!

Capítulo 5 - The Storm - Part 1


Fanfic / Fanfiction Coisas estranhas voltam a acontecer - The Storm - Part 1

Olhei o meu reflexo no espelho. Eu estava horrível! Meus olhos estavam inchados e minhas bochechas avermelhadas.  Eu não queria sair do banheiro. Estava com vergonha porque eu tinha certeza que Max iria caçoar de minha cara. De repente veio tudo á tona: O Demogorgon havia voltado. Will estava estranho e El brava comigo, os dois escondiam algo de mim. Meu pai havia morrido.

Meu pai havia morrido!

Não conseguia suportar tudo aquilo. Abri a torneira e abaixei o rosto para molha-lo. Quando levantei a cabeça a agua gelada começou a escorrer por meu rosto. Tinha, sem querer, molhado um pouco do meu cabelo. Comecei a chorar e as lagrimas se misturaram com as gostas de agua.

-Mike?- Chamou-me uma voz do lado de fora do banheiro- Voce esta bem?

Sai do banheiro, com o rosto ainda molhado, e notei que o quarto estava vazio a não por uma pessoa que estava sentada no chão perto da cama com as alguns desenhos na mão. Max.

-Cade os meninos?- Perguntei ignorando a pergunta dela.

-Will falou que não se sentia bem e El foi atrás dele. O Dustin e o Lucas acharam melhor irem também- Max dava de ombros, aquilo não parecia ser algo importante. Ela se concentrava em outra coisa.

-E Nancy?

-Ela, o Jonathan e o Steve estão com o Billy.

-O que você esta fazendo?- Percebi que ela não estava afim de ficar conversando sobre eles então tentei mudar de assunto.

-Organizando os desenhos... Esses aqui- Ela respondeu apontando para os desenhos que ela considerava mais importantes- Estavam na ordem errada.

-O que tem de errado nessa ordem: 19/02, 01/09, 08/09, 03/10, 13/10, 06/11 e 23/12? Esta de acordo com os meses do ano.

-Sim, mas olhe a cor! Esses são claros e esses são escuros. São de anos diferentes, entendeu?

Olhei os desenhos, que agora estavam espalhados pelo chão. Peguei o do dia do desaparecimento do Will.

-Eleven disse que esse foi o dia em que ela fugiu, então como vocês conheceram ela?- Perguntou Max se levantando e parando na minha frente.

-Não nos conhecemos no dia em que ela fugiu. Nos conhecemos na noite do dia seguinte... Will desapareceu no dia 06, na manhã do dia 07 ele faltou na escola. O Detetive Hopper nos chamou para conversar sobre o desaparecimento dele. Nós falamos que não sabíamos de nada, mas dissemos que poderíamos ajudar a procurar, porém ele disse que era melhor a gente ficar em casa para nossa segurança. Eu, Dustin e Lucas decidimos, então, que procuraríamos Will durante a noite. Quando estávamos na Floresta das Trevas encontramos El sozinha. A trouxemos para minha casa e a partir daí ela virou nossa amiga...

-Você trouxe uma garota que mal conhecia para a sua casa?!

-Na verdade, foi eu, o Dustin e o Lucas- Corrigi.

-É loucura!

-Loucura seria deixa-la lá! Você queria que eu fizesse o que?! Estava chovendo e um uma garoto havia desaparecido misteriosamente!

Ela abriu a boca para me responder, mas a fechou poucos segundos depois e ficou quieta. Max voltou a se concentrar nos desenhos.

-Esta é a ordem certa: 13/10, 08/09, 19/02, 01/09, 06/10 e 23/12.

-O mais velho é de 1981?- Perguntei fazendo as contas em minha cabeça.

-Sim... Este também é importante e é o mais recente.

Ela pegou mais um desenho do dia 28/10. O dia em que Max chegou em Hawkins. O dia em que as luzes voltaram a piscar.

Fiquei observando aquele desenho. Era tudo preto com um ponto de luz branco no meia da folha e havia a silhueta de alguém. Dava para notar que o vento soprava, pois se via folhas voando no chão e a roupa da pessoa parecia estar em movimento. Ou talvez estivesse correndo. No canto do desenho tinha uma sombra meio roxa. Eu sabia o que era aquilo. Demogorgon. A pessoa que estava sendo iluminada não apenas corria, ela fugia. Era Eleven!

Aqueles desenhos, todos, eram tão detalhados. Eles não pareciam ser insignificantes. Eles contavam uma historia. Contavam uma historia através de pesadelos.

-Podemos guarda-los? Não gosto muito de relembrar desses momentos...

Entreguei o desenho que eu segurava e a ajudei a guardar os desenhos de volta na caixa. Eu ficava me perguntando o quanto ela devia ter sofrido com aquilo tudo. Os pesadelos perturbavam-na.

Eles ainda não haviam acabado e o sofrimento também.

Quando Max colocou o ultimo desenho na caixa ela a fechou e me pediu para que eu colocasse em baixo da cama.

-Quer que eu guarde mais alguma coisa aqui?- Perguntei sem me levantar.

-Pode guardar esta caixa também?

Ela chutou uma caixa até perto de mim. Sem querer a caixa virou e tudo que estava dentro se espalhou pelo chão. Varias fotos, algumas emolduradas, se dispersaram.

-Ah, que droga!- Max exclamou.

Comecei a recolher as fotos e varias delas eram de quando ela ainda era pequena. Demorei um pouco até reconhecer Max nas fotos. O cabelo dela ainda não era verde ou curto. Muito pelo contrario, o cabelo dela era meio ruivo e longo, meio ondulado.

Ela começou a pegar as fotos rapidamente, possivelmente com vergonha de que eu visse como ela era quando criança. Max estava amassando varias fotos, mas parecia não ligar.

-Calma!- Eu disse segurando os braços dela.

Ela jogou as fotos que tinha recolhido dentro da caixa e bufou. Fiz o mesmo. Ainda havia algumas poucas fotos no chão e eu as peguei. Uma delas tinha uma garota sorridente ao lado de dois caras. Um era mais novo e outro parecia ser mais velho.

-Era seu pai?- Perguntei esticando a foto para Max.

-Eu sinto tanta falta dele!

Ela começou a soluçar. Era por isso que ela estava tão desesperada para guardar as fotos. Max não queria ver a foto do pai. Aquilo me deu um encomodo. Eu também havia perdido o meu pai só que não sentia isso.

Enfiei aquela caixa embaixo da cama sem guardar aquela foto. Me levantei e ajudei Max a se sentar na cama.

-Achei que seus pais tinham apenas se separado...

-Eu não o vejo desde que ele foi embora.

-Max, posso te contar uma coisa? Você promete não contar para ninguém?

Ela assentiu com a cabeça.

-O meu pai morreu ontem de noite... Ele foi atacado pelo Demogorgon.

-Meu Deus, Mike!

Subitamente, Max me abraçou. Eu voltei a chorar e ela também.

-Vocês eram unidos?- Ela perguntou apoiando a cabeça em meu ombro, abafando o som de seu choro e de sua voz.

-Não muito... Eu meio que sinto que não o perdi.

Eu me desvencilhei  do abraço e encarei os olhos azuis de Max.

-Você era próxima do seu?

-Quem você acha que me ensinou a andar de skate?

Ela soltou uma risada curta e baixa.

-Max... Se eu te pedisse um favor você faria?- Perguntei me lembrando de Nancy.

-Qual?

-Abrir um portal para o Mundo Invertido com os seus poderes.

-Eu acho que eu não consi...

Max foi interrompida por um grito:

-Não!

-Você prometeu que não iria contar!

Max correu para fora do quarto e eu fui atrás dela. Os gritos vinham do quarto de Billy. Jonathan e Nancy estavam discutindo um com outro enquanto Steve e Billy só os observavam.

-Ei,ei, ei! O que tá acontecendo aqui?- Perguntou Max atrapalhando a discussão.

-Ela quer contar a Billy sobre...- Respondeu Steve não conseguindo completar a explicação por falta de palavras.

-É necessário! Mike, a El não aceitou?- Nancy perguntou se dirigindo á mim.

-Nancy...

O que eu ia dizer? Minha irmã estava desesperada. Ela estava abalada por nosso pai e aflita por Barb. Um sentimento de tristeza e ansiedade.

-Eu vou!- Gritou Max.

-Vai o que?- Billy indagou, confuso.

Lancei um olha para Nancy. Um olhar que dizia: Pode contar e ela me retribuiu com um olhar: Eu tenho outra alternativa senão esta?

-Voce não pode contar isto de forma alguma para ninguém, entendeu?- Minha irmã perguntou á Billy.

-Chega de suspense! Minha irmã caçula não irá fazer coisa alguma sem antes eu saber!

-Billy... Tipo, imagina a seguinte situação: Uma garota... Não, começa por um garoto. É. Um garoto desapareceu e... Ahn... Ai depois uma garota também dasapareceu...- Nancy não sabia como contar sem parecer uma historia inventada- Mas... antes dessa garota desaparecer tinha outra garota que apareceu e... Ahn...  Ela tinha poderes... E teve um monstro. Foi esse monstro que ‘’sequestrou’’ o garoto e a garota...

-Não! Espera!- Interrompeu Billy- A garota que desapareceu e não a com poderes, certo?

-Isso- Confirmou Steve.

-Enfim... No final o garoto voltou, mas a garota não.

-Calma, Nancy! Eu me perdi entre a parte da garota e a parte... Pode explicar de novo?

-Como voce é lerdo, Billy!- Max reclamou.

-No ano passado, um garoto chamado Will Byers desapareceu misteriosamente e ele era um dos meus melhores amigos. No dia seguinte do desaparecimento dele, eu e os meus outros melhores amigos fomos o procurar. Nos encontramos uma garota chamada Eleven e logo descobrimos que ela tinha poderes. Pouco tempo depois, a melhor amiga de Nancy, a Barb, também desapareceu...- Comecei a tentar explicar de uma outra forma- Logo nós descobrimos que Eleven, sem querer, abriu um portal para uma espécie de Mundo Invertido onde vivia um monstro, o qual nós nomeamos de Demogorgon. Foi ele quem capturou os nossos amigos. Com a ajuda de El, nós conseguimos trazer Will de volta e ‘’matar’’ o Demogorgon. Porem a Eleven acabou desaparecendo junto com o monstro. E agora, um ano depois de todos esses acontecimentos, parece que as coisas voltaram a acontecer... Na quinta-feira passada o Will me disse que na noite anterior as luzes voltaram a piscar e...

-O que luzes piscarem tem haver com isso?- Perguntou Billy me interrompendo.

-Quando o Demogorgon se aproximava as luzes piscavam- Expliquei e logo continuei- E coincidentemente foi na quarta-feira que vocês chegaram em Hawkins. Na hora da saída do colégio, a Max arranjou uma briga com um dos valentões da escola, mas não foi uma briga normal. O tempo meio que mudou e tudo congelou, foi ai que eu percebi que tinha realmente algo de diferente acontecendo novamente. Max tinha poderes que nem os da Eleven! Ela ficou curiosa para saber de onde El veio e quando nós levamos ela até o local, Max nos disse que era onde sua mae trabalhava. Ela quis entrar e meio que ela sabia onde era o portal para o Mundo Invertido... E meio que a gente trouxe a El de volta... E meio que a gente encontrou a Barb...- Como eu ia continuar?!- Enfim... a Nancy gostaria de voltar ao Mundo Invertido para poder salvar a Barb, só que nós não podemos utilizar o portal  que utilizamos para salvar Eleven porque é muito perigoso e foi muito sorte a nossa não termos sidos pegos!

-Eu ainda não entendi  o porque que a minha irma gritou: Eu vou!- Disse um Billy meio curioso e confuso.

-A Max e a El se perderam na floresta durante o Halloween. A El me contou que elas encontraram o Castelo Byers, que é uma cabana que o Will tinha quando ele era menor, e decidiram descansar por ali... Ela falou que sentiu que... Que o Will estava atraindo o Demogorgon e... A cabana era meio que um novo portal que estava fechado...- Fiquei um tempo quieto para poder tomar folego- Quando eu contei isso á Nancy, ela quis abrir o portal para poder salvar Barb, só que a Eleven não aceitou me ajudar. Ela não quis abrir mais um portal.

Assim que terminei de falar, Billy me encarou durante alguns segundos como se não acreditasse e depois se virou para Nancy, que confirmou a minha historia balançando a cabeça. Um clima tenso recaia sobre o quarto. Ninguem falava nada já havia alguns minutos, até que Billy quebrou o gelo.

-Minha irma? Com poderes? A única coisa de diferente nela é o cabelo!

Max caminhou até ele com uma expressão seria no rosto. Ela, possivelmente, não tinha gostado nada do comentário dele.

-Voce vai me deixar ajudar ou não?

-Desde quando voce sabe que tem poderes?

-Eu já sabia que não era normal o que eu fazia, mas a ‘’confirmaçao de meus poderes’’ eu sei desde quinta.

-Okay. Voce pode ajuda-los- Falou Billy um pouco desacreditado- Mas só para deixar bem claro: Para mim isso é tudo baboseira e não acho que vocês vao conseguir fazer com que minha irma utilize as para-normalidades dela para abrir um portal para um outro mundo que os ajude a salvar uma garota desaparecido durante um ano...

Dizendo isso, Billy fez um gesto com as mãos indicando a saída meio que nos mandando a indireta: Podem ir. Steve e Nancy saíram primeiro e eu e Max fomos logo atrás. Jonathan saiu poucos segundos depois de nos.

-E agora?- Perguntou Steve para Nancy.

Ela ficou quieta e com uma expressão seria no rosto. Nancy estava pensando em algo. No que ela estava pensando?

-Mike...

 Não. Não. Não!

-Será que voce podia...

Não. Não. Não!

-Chamar a El?

Não. Não. Não!!!

-Porque?- Perguntei tentando não falar a palavra que mais queria sair da minha boca: NÃO.

Nancy se aproximou de mim e, um pouco baixo, falou:

-Tenho maior certeza que ela poderá concertar as coisas caso algo de errado.

Não falei nada. Desci as escadas até a saída e Max abriu a porta para mim, Steve, Nancy e Jonathan.

-Amanha?- Nancy perguntou á Max.

-Ah, claro... Certo. Combinado... Depois da escola- Ela respondeu.

O céu já estava ficando escuro. Nancy de despediu de Steve e Jonathan e eu e minha irmã fomos para casa.

Minha mãe estava trancada no quarto, chorando, e Holly dormia no sofá com um urso de pelúcia, lagrimas silenciosas escorriam pelas suas bochechas. Nancy se aproximou dela e a pegou  no colo.

-Mike... Obrigada pelo irmão que você tem sido- Nancy caminhou lentamente em direção ás escadas- Mesmo com as brigas, você é o melhor irmão.

-Nancy- Chamei ates que elas desaparecesse pelas escadas.

-Sim?

-Você vai colocar Holly para dormir no quarto dela?- Na verdade não tinha necessidade daquela pergunta, eu apenas sentia que devia falar algo.

-Não, eu estava pensando em coloca-la para dormir comigo. Porque?

-Nada. Boa noite, Nancy.

-Boa noite, Mike.

Dito isso, ela subiu me deixando sozinho. Fiquei alguns segundos parado olhando para escada até que decidi descer para falar com Eleven, me desculpar, não sei porque mas tinha certa impressão que lhe devia desculpas. Me virei e andei em direção a porta que levava para o porão, acendi a luz e desci as escadas. Caminhei até a cabaninha que tinha sido feita par El, puxei o cobertor para destampar a entrada, mas não havia ninguém lá dentro. Eleven não havia voltado para minha casa, ela devia ter ido provavelmente para a casa de um dos meninos. Fui até a mesa e peguei o meu supercomm e chamei Lucas.

-Mike, é você?- Perguntou ele.

-Sim. Lucas, você sabe onde a El está?

-Na casa do Byers.

Fiquei mudo. Ela estava com o Will?

-A Joyce sabe?

-Não... Fica tranquilo. A El vai passar a noite no galpão- Lucas estava com uma voz de sono.

-Como foi?

-O que?

-O que aconteceu depois que vocês foram?

-Nada... A El saiu do banheiro nervosa e estressada. O Will falou que não estava se sentido bem e quis ir para a casa dele. Como a Eleven foi junto, eu e o Dustin decidimos ir também, só que os dois estavam muito estranhos. Ficavam falando algo so entre eles...

-Escondiam algo?- Perguntei em um tom de certeza, cortando Lucas.

-Cara, podemos falar disso amanha na escola? Ai voce esclarece as coisas com o Will.

Não respondi.

-Boa noite, cara.

Lucas desligou. Sera que eu ligava para Dustin? Olhei o meu relógio de pulso. Eram 21:47. Não era tão tarde. Olhei a cabaninha de El. Meu Deus! Como estava bagunçada! Me ajoelhei no chão e dobrei o edredom. Havia farelos de Waffle por todo canto.

Acho que já esta na hora de apresentar um nova comida á ela, pensei.

Entrei dentro da cabana e me deitei. Eu não estava de mal dela? Com raiva ou irritado? Fechei os olhos e tentei me lembrar do dia em que conheci Eleven. Lembro-me nitidamente de como soube seu nome.

***

-Mike?

Alguem sussurrou o meu nome. Quem estava em meu quarto?

-Mike?

Alias, eu estava em meu quarto?

-Mike?!

Aquela voz repetiu o meu nome uma terceira vez já impaciente. Eu não estava afim de acordar, mas abri um pouco os meus olhos. Tinha uma sombra amarela. Uma pessoa estava agachada em minha frente.

-Quem é?- Perguntei meio sonolento.

-Eu- Me respondeu uma voz familiar.

Eu? Serio isso? Me sentei e passei a mão em meus cabelos bagunçados para que eu pudesse os tirar do rosto.

-Max!- Exclamei assim que abri os olhos.

-Acordou!- Ela comemorou.

Max estava usando um pijama amarelo e estava descalça. Ela segurava uma folha de papel amassada e uns biscoitos meio esfarelados. Pelo menos não eram Waffles, pensei.

-Como você entrou aqui?- Foi a primeira coisa que me veio na cabeça naquele momento.

-Pela janela.

-Que janela?

-A janela do seu quarto. Eu disse que você deixa ela aberta- Respondeu ela esticando os biscoitos para mim- Quer um, não vou cobrar nada. São de graça.

-Como você alcançou a janela?

-Su-per-po-de-res- Ela respondeu tão lentamente, quase soletrando.

-Você voo?

-Não. Escalei a arvore que tem ao lado de seu quarto.

Ela riu ao perceber que eu tinha acreditado. Max colocou os biscoitos no chão e bateu as mãos para poder tirar os farelos. Comecei a encara-la enquanto ela observava os biscoitos e ninguém disse nada por alguns minutos.

 Eu tinha quase certeza que eu devia falar algo, mas era ela quem havia vindo até mim.

-Então... Que horas são?- Disse devagar para quebrar o gelo.

-03:11

Ela desviou o olhar dos biscoitos e levantou os olhos para mim. Max estava pálida. Seu cabelo estava embaraçado e colado em sua testa úmida. Havia algumas folhas presas nele.

-O que você quer?

-Tive... um pe...pesadelo- Gaguejou ela.

-Sobre?

-Sobre borboletas, um unicórnio e você de cueca, Mike- Respondeu sarcasticamente ela, um pouco irritada.

-Okay. No pesadelo as borboleta perseguiam o unicórnio no qual eu estava cavalgando de cueca?- Perguntei com uma cara seria- Não? Sendo assim seu pesadelo não me interessa.

Ela olhou para mim como se quisesse perfurar minha alma. Então eu continuei:

-Isso era um pesadelo porque você tem medo de borboleta ou porque eu estava de cueca?

-Mike! É serio! Foi mais daqueles tipos de pesadelos- Ela falou secamente.

Fiquei quieto. Ela não estava brincando. Aquilo realmente incomodava Max.

-Foi terrível- Lagrimas começaram a brotar dos olhos dela e ela escondeu o rosto entre as mãos, possivelmente envergonhada por se mostrar tão fraca perto de mim- Foi diferente.

-Diferente como?

-Diferente! Eu apareci!

Senti uma leve dor de cabeça. O que tinha de demais ela aparecer no próprio sonho? Max percebeu que eu não havia entendido e completou:

-Eu nunca me vi em meus pesadelos... E ela... Ela também estava lá... Como sempre.

-Ela quem?- Perguntei já sabendo a resposta.

-Eleven... Nós duas estávamos no meio de uma floresta e...

-Tipo quando vocês se perderam no Halloween?- Interrompi.

-Não. Era uma outra floresta... Ou talvez a mesma floresta só que meio ‘’doente’’... A El corria sem olhar para tras e eu não entendia nada. Eu pedia para ela parar só que ela não me ouvia. Ela parecia não se importar se as arvores á arranhavam. El estava determinada a chegar á algum lugar e eu não sabia onde era. Eu só tentava acompanha-la... Tinha mais alguem... Eu não me lembro... Acho que tinha mais duas pessoas. Dois homens ... Eu já havia ouvido falar no nome de pelo menos um deles... Ele eram perigosos, Mike. Tinham algo contra eu e El.

-Homens maus- Sussurrei.

-Eu conheço um deles. Eu tenho certeza! E eles dois não corriam nem sequer se moviam, mas de alguma forma eles estavam sempre perto de nós. Quase que nos agarrando... Um grito. Alguem gritava... Ou urrava. Acho que de raiva ou dor e...

Max fazia força para se lembrar, mas não conseguia. Ela pegou aquele papel amassado que trouxe consigo e o jogou para mim.

-Eu desenhei.

Eu quase não consegui entender o que era aquele desenho. Da parte esquerda até o meio da folha era quase tudo preto com leves tons em verde e azul escuro. Na parte do meio, onde o desenho clareava, havia duas sombras negras e esguias. Quase sem aparecer, na parte direita da folha, onde o desenho já era completamente branco, tinha outras duas sombras. Duas sombras menores e claras. As duas sombras pareciam usar mantos ou vestidos curtos, só que uma delas parecia não ter cabelo e a outra um cabelo muito curto. Eram Eleven e Max.

-Quem urrava não aparecia?- Perguntei colocando o desenho ao lado dos biscoitos. Aproveitei e peguei um.

-Não... Parecia um animal. Era familiar-Ela me respondeu- Eu quero saber o nome do homem! Eu me lembro dele! Voce estava comigo!

Pensei em um homem que eu já tinha visto quando estava junto de Max. Foi no dia em que eu a conheci. No dia em que salvamos Eleven. E eu sabia que aquele homem não era do bem

Não pode ser ele. Que não seja ele, eu desejava mentalmente.

-Dr.Brenner?- Falei e logo me arrependi.

Max abriu a boca para dizer algo, porem as luzes começaram a piscar. De repente, Max que estava de joelhos, caiu.

-Max!

Pulei para frente e levantei um pouco a cabeça dela. Sangue escorria do nariz dela e ela disse tentando se recompor:

-Eleven...

Não pensei duas vezes. Me levantei, fui até o meu supercomm e chamei desesperadamente por Lucas. Ele não respondeu. Tentei novamente. Nada. Gritei e finalmente:

-Quem é?

-Wheeler.

-O que você quer?

-Preciso que você vá ate a casa do Will?

-Cara, você sabe que horas são?

-Tres e pouco da manha.

-Você é retardado? Tem algum problema mental, Mike?- Perguntou Lucas com uma voz sonolenta, mas ainda sim meio irritada.

-Eu. Só. Preciso.Que. Você. Vá. Ate. A. Casa. Do.Will!- Respondi pausadamente.

-Eu não acredito...

-Me encontre na casa do Will! Só isso! E se possível, leve Dustin- Eu disse o interrompendo e logo em seguida desliguei o supercomm.

Me virei para ver como estava Max. Ela ainda estava no chão, mas agora estava sentada com a pernas cruzadas e com a cabeça entre as mãos.

-Como iremos para lá?- Ela perguntou erguendo a cabeça.

-Você consegue ficar de pé?

Ela se levantou e cambaleou um pouco até conseguir manter o equilíbrio.

-Acha que consegue se segurar em mim ate chegarmos na casa de Will?

-E tenho outra opção?

***

O vento frio da madrugada batia em meu rosto fazendo com que meus cabelo pretos e embaraçados  voassem para trás e fizessem cocegas em Max.

Será que ela estava se incomodando? Pensei.

A Lua estava escondida atrás de algumas nuvens, deixando a estrada mal iluminada. Liguei os faróis de minha bicicleta e por um instante eles piscaram.

-Você já considerou a ideia de cortar o cabelo?- Max interrompeu o silencio.

-Possivelmente.

Ela riu baixo e voltou a se calar. Estávamos perto da casa de Will e pude notar três bicicletas jogadas no chão.

-Mike, eu vou te matar!- Esbravejou Dustin.

Parei a bicicleta. Esperei Max descer e desci em seguida. Larguei a minha bicicleta no chão que nem a dos meninos.

-Você por acaso foi atacado por algum animal?- Brincou Lucas rindo de minha situação.

Olhei para as minhas roupas. Minha calça estava baixa e minha camiseta cheia de farelos de biscoitos e amassada por conta do jeito que Max me segurou.

-Max teve um pesadelo!

De repente as piadinhas de Lucas e os xingamentos de Dustin cessaram. Eles ficaram sérios. Max puxou um lençol que estava secando no varal dos Byers e o jogou no chão para poder se sentar sem sujar o pijama.

-Porque seu pijama é amarelo?- Perguntou Dustin saindo do ponto principal.

-Por ser...- Respondeu Max sem interesse.

-Não tinha de outra cor?- Ele estava suspeitando de algo.

-Tinha.

-E você escolheu amarelo?

-Sim.

-E porque amarelo?

-Dustin, para! Isso não é interrogatório!

-Você esta escondendo algo!

-Não!

-Sim!

-Dustin!- Interrompi- Para! Temos que nos concentrar no pesadelo!

-Ela esta escondendo algo! É cor preferida dela- Ele sussurrou no meu ouvido.

Eu quase ri. Mentira, eu ri. Dustin estava tentando irritar Max para descontrair.

-Então, Max... Qual a sua cor preferida?

-Nenhuma.

-Por acaso é amarelo?

-Chego nem perto.

Dustin bateu o pé na grama para poder desenterrar um pouco de terra, então á chutou em direção de Max. Ela se levantou assustada e começou a bater as mãos no pijama para poder tirar a grama.

-Admita!

-Não é amarelo! Desencana!

-Então qual é?

-Já disse! Nenhuma!

-Max...- Disse Dustin apontando o dedo para ela- Não minta para mim! As consequências são serias!

Eu e Lucas começamos a rir. Minha barriga começou a doer. Que discussão inútil.

-Chega, Dustin! Não é por isso que estamos aqui!

-Você esta fugindo do assunto!

-Você fugiu primeiro!

-Max, vou perguntar uma ultima vez: Qual é a sua cor preferida?

-Vá se catar!- Max gritou.

-O que esta acontecendo aqui?- Perguntou uma voz familiar.

Me virei para casa dos Byers e vi que Will estava na janela. Ao lado dele estava Eleven. Ela não estava no galpão?

-Olá, pequeno Byers!- Cumprimentou Lucas.

 -Espera- Will saiu da janela e um minuto depois a porta da casa dele estava destrancada e ele já estava  saindo- vocês sabem que horas são?

-Porque todo mundo faz essa pergunta?- Falei.

Atrás de Will saia El. Ela estava usando um pulôver azul, certamente de Joyce, e meias. Meias normais. Meias brancas. Meias um pouco grandes para os pés pequenos e magros de El.

-Mike...- El sussurrou ao perceber que eu estava ali.

Senti um calor dentro de mim. A ponta de minha boca se levantou em um pequeno sorriso. Um sorriso que se formou por ouvi-la pronunciar o meu nome. O meu nome!

-O que você faz aqui?- Ela perguntou com a voz baixa.

Quase cai no chão. Ela não estava contente com minha presença. Talvez nem ligasse para mim. Me senti um trouxa por ter notado tanto nela. Ela acabou de me tratar como um verme. Um poeira que a incomodava. Uma mosca que ela não conseguia espantar.

-Não vim por você- Respondi com um leve tom de ódio- Vim por Max.

-Max?- Ela perguntou.

Eleven começou a caminhar lentamente e Will veio ao seu lado. Como eu odiava eles dois juntos. Não os odiava em si. Eles eram os meus melhores amigos, mas o fato de ve-los juntos; deles esconderem algo de mim, aquilo eu odiava. Aquilo me destruía por dentro.

-O que aconteceu? Porque estão aqui?- Perguntou Will parando em frente á Lucas.

Comecei a desejar que o Demogorgon tivesse matado Will ou que... Eleven não tivesse voltado nem sequer que eu a tivesse conhecido.

-Eu tive um pesadelo- Explicou Max.

-E porque gritavam?

-Max não queria admitir que a cor preferida dela era amarelo!- Falou Dustin.

-E não é!- Max gritou.

-Okay... Então vocês estavam fazendo toda essa gritaria por causa da cor preferida dela?- Will perguntou com arrogância.

Respirei fundo e disse:

-Pensei que El estivesse dormindo em seu galpão.

Will abriu a boca e a fechou apos alguns segundos. Aquela afirmaçao havia saído da minha boca sem eu perceber. Eu tinha notado que El estava no quarto de Will, mas não tinha relacionado isso com o que Lucas me dissera.

O farol de minha bicicleta, que estava caída no chão, começou a piscar. Ele era a única fonte de luz ali e nos momentos que ele apagava tudo ficava quase escuro a não ser pela Lua, só dava-se para ver a silhueta de meus amigos, ou bom... De meus amigos e Will e El. Traidores.

-Esquece a cor preferida de Max, porque vocês estão aqui?- Will quebrou o silencio.

-Ah...- Começou Lucas.

-Bom... Eu tive um pesadelo e...- Tentou explicar Max.

-Voces estão nos perturbando por causa de mais um dos seus pesadelos bobocas?!- Interrompeu Will.

-Não é boboca!- Rebati- Quem é boboca é você!

-Mike, voce não ajuda, né?!- Gritou Dustin para mim.

-Voce não ve o que ele esta fazendo? O que eles estão fazendo?! Eles escondem algo!

-Para, cara! Isso é paranoia- Se intrometeu Lucas.

Senti o sangue subir a minha cabeça. O que Will e El escondiam? Não estava sendo dramático, mas, naquele momento, sentia que ninguém me entendia. Ninguem.

-Eu desenhei!- Se pronunciou Max puxando a camisa para frente e tirando de dentro da roupa um papel amassado.

Lucas pegou o desenho, mas estava escuro demais para conseguir diferenciar os traços. Max olhou para mim, indecisa. Eu estava cansado de ficar ali e ela também. Mesmo com um desenho eles não acreditavam em nós e eu não entendia. Dustin e Lucas estavam se unindo ao lado de El e Will, mas porque? Okay, os dois já tinham ficado no Mundo Invertido, mas ambas as garotas tinham poderes! Eles preferiam acreditar em El do que em Max?!

Ninguem disse nada durante 5 minutos. O farol de minha bicicleta continuava piscando sem parar, quase que sincronizado, mas ninguém parecia se importar.

-Quer saber? Eu me recuso a sair daqui até que alguém me explique, exatamente, o que esta acontecendo!- Falou Max voltando a se sentar no lençol que estava semi-esticado no chão e sujo de terra.

O fato de Max querer fazer birra não mudou nada. Todos continuaram quietos e El começou a me encarar. Ela estava com os olhos marejados? Não, acho que era por falta de luz.

-Se vocês não irão me explicar nada, então vão embora- Disse Will.

Esse, definitivamente, não era o Will que eu conhecia.

-Will tem razão- Afirmou El.

E essa não era a Eleven que eu amava.

Olhei para Dustin e Lucas. Eles não esboçaram nenhum sinal de desaprovação da parte de Will e El. Amigos. Grandes amigos.

-Max, vamos!- Fui até ela e a puxei, um pouco agressivamente.

No momento que eu cheguei em minha bicicleta a luz parou de piscar, ficou acesa. Lucas apareceu em minha frente impedindo-me de pegar minha bicicleta.

-Mike!

O empurrei para o lado e recebi um soco no ombro de volta. Eu não queria começar uma briga, principalmente com Lucas. Me abaixei e peguei minha bicicleta. Max subiu nela e sentou na parte de tras, na ponta do banco. El sentava ali. Antes de subir em minha bicicleta, sem pensar, desabafei:

-Eu me importei com voce. Eu me preocupei com voce. Você era importante para mim, Will... Nossa amizade era importante para mim- Parei um pouco para pensar, me virei para Lucas e Dustin- A amizade de todos vocês era importante para  mim, mas vocês não ligam. Não tentam me entender. Sempre me julgam e eu só quero ajudar. Durante todos esses anos, eu considerei nossa amizade algo especial. Uma espécie de tesouro que não podia ser roubado mas que, ao mesmo tempo, não podia ser escondido... E agora parece que esse tesouro esta perdendo o valor.

Me virei e subi na minha bicicleta. Senti uma pontada de culpa misturada com um pouco de orgulho e alivio. Ainda tinha algo faltando. Ainda tinha sentimentos escondidos. Ainda tinha palavras a serem ditas. Mas... Ditas á quem?

Eleven, pensei.

Me virei para ve-la. Ela estava quieta e colada ao braço de Will e segurava o desenho de Max. Será que ela ainda era a mesma garota que eu havia conhecido em uma noite chuvosa ano passado? A mesma garota que teve medo que eu fechasse a porta do banheiro? A mesma garota que virou aquele furgão para nos salvar? Ou até mesmo, a garota que arriscou a própria vida para salvar a de um menino que ela nem conhecia? A vida de um de meus melhores amigos. A vida de Will!

-Voce sabia que eu confiava em voce? Que eu admirava voce? Que eu amava voce, El?- Disse a ultima pergunta de um jeito um pouco baixo e envergonhado, mas ainda sim a disse.

-Mike...- El começou.

A ignorei. Equilibrei a bicicleta e comecei a pedalar. Pedalar rápido e sem olhar para tras. Milhoes de perguntas, sentimentos e emoções rondavam a minha cabeça. Senti o  queixo de Max encostar em minhas costas. Sua respiração estava calma e ela não dizia nada. Só tinha a certeza de que ela não havia dormido porque em alguns momentos, quando eu passava por cima de uma lombada ou fazia uma curva muito fechada, ela apertava a minha barriga.

Estava tudo tão silencioso que ate me irritava. Comecei a cantar alguns trechos de musicas que eu conhecia para passar o tempo até que cheguei em Should I Stay or Should I Go. Me lembrei de como conheci essa musica: Eu e os meninos, depois da escola, decidimos ir á casa do Will depois da escola e o Jonathan era o único que estava em casa. Ele estava preparando o lanche quando começou a tocar essa musica no radio e ele e Will começaram a cantar.

De repente, uma segunda voz começou a cantar a musica comigo. Virei levemente a cabeça para tras e Max cantava uma parte da musica que eu não havia decorado. Comecer a rir e a acompanhei:

Should I stay or should I go now?

Should I stay or should I go now?

If I go there will be trouble

An' if I stay it will be double

So come on and let me know

-Você gosta? Gosta de The Clash?- Perguntou Max atrapalhando a musica.

-Não, apenas conheço a musica.

-De onde?

-Will.

-Ah- Max voltou a ficar quieta.

Eu precisava falar algo, mas o que? Fiquei repassando fatos sobre Max na minha cabeça até que cheguei em um fato que achei que seria engraçado relembrar:

-Max...

-Hum?

-Qual é a sua cor preferida?- Perguntei segurando o riso.

A expressão calma e suave que havia no rosto de Max desapareceu.

-AMARELO!- Ela gritou e pouco depois começou a rir.

-Porque você não se rendeu para Dustin?- Perguntei realmente curioso.

-Porque ele ia ficar me irritando quanto á isso. E... Além do mais, eu não me rendo facilmente aos garotos.

-Mas a mim você se rendeu...

-Você é um caso diferente, Mike... Você me entende.

- Te entendo?

-Acho que sim...- Ela respondeu pensativa- É, você me entende.

Que sorte que ela estava atrás de mim e não na minha frente, porque um sorriso surgiu em meu rosto e eu tinha a impressão que havia ficado meio vermelho. Em poucos minutos já estávamos na porta de minha casa. Eu desci de bicicleta e em seguida Max desceu. Fui até a porta de entrada.

-Você quer entrar?- Perguntei já com a mão na maçaneta.

-Querer eu não quero, mas não tenho nada melhor para fazer- Falou com uma voz sonolenta, já entrando em minha casa.

Descemos até o porão no máximo silencio possível para não acordar ninguém.

-O que é isso?!- Exclamou Max.

Havia uma trilha de formigas no chão. Elas rodeavam os biscoitos que Max tinha trazido, mas não subiam em cima deles. Elas faziam uma espécie de caminho em direção a parede. Em direção ao bichinho de pelucia de El.

-Então,  você quer os biscoitos?- Perguntei olhando dos biscoitas para ela

-Na verdade, como você foi um anfitrião muito legal vou deixar esses biscoitos como lembrança. Uma prova de amizade- Respondeu ela rindo.

Decidi chegar mais perto das formigas para saber o que acontecia. Porque elas estavam indo em direção ao bichinho de El? Sem pensar, peguei ele e corri para o banheiro. Abri a torneira e deixei a agua correr pelo corpo do animalzinho.

-Que nojo!- Exclamou Max.

Deixei a torneira aberta e o bichinho embaixo e fui ver do que Max falava. Havia dois waffles meio comidos rodeados de formigas no local onde o bichinho de pelúcia de El estava. Entao era ai onde ela guardava o que ela não comia, pensei.

-Quer saber? Já esta tarde e eu tenho que voltar a dormir... Temos aula- Disse Max.

-Ah, claro... Te levo até a porta.

Subimos as escadas do porão. Quando chegamos no andar de cima, uma das luzes da sala já estava ligada. Andamos em direção a porta de entrada. Como um cavalheiro, a abri para Max passar. Coloquei minha mão direita nas costas dela e a empurrei para fora. Ela resistiu um pouco.

-Você está me expulsando?!- Exclamou ela, um pouco alto, se virando para mim.

-Fala baixo! Assim você vai acordar toda a vizinhança.

Ela olhou em volta.

-Você a ama?- Perguntou.

Max não mencionou o nome de ninguém, mas eu sabia que se referia a Eleven.

-Não sei, acho que não- Respondi um pouco pensativo e culpado.

Eu amava El?

Claro, eu havia ficado bravo com ela, porque eu sentia que ela escondia algo de mim e o pior: O seu cumplice era um dos meus melhores amigos! Mas... Isso fazia eu deixar de ama-la? E todos os momentos do ano passado em que eu me preocupei com ela? Será que aquilo não era amor? Eu arriscaria a minha vida por ela. Momentos de raiva não podem definir sentimentos, não podem definir futuros. Deste o dia que ela partiu eu senti que algo mudará. Talvez na cidade, mas não só. Algo mudará dentro de mim, no meu coração. Todos os dias, os meses que passaram sem ela, mesmo sem prova eu tinha esperança que ela ia voltar. Eu sabia que ela ia voltar! Eu mantinha ela viva nas memorias e momentos que tivemos juntos. É, eu amava ela. Eu amava uma garota que eu conheci em uma noite de chuva quando procurava por um amigo desaparecido. Eu amava uma garota que tinha a cabeça raspada e quase não falava. Eu amava uma garota com super poderes e com o nome de um numero. Eu amava Eleven! Eu amava ela com todas as estrelas do universo, todos os grãos de areia no fundo do mar. Eu amava ela como todos os waffles que existem.

-Não... Eu amo. Eu, com certeza, amo El.

Ela sorriu. Começou a mirar os próprios pés e disse:

-Obrigada, Mike. Obrigada por tentar me ajudar. Obrigada por me entender.

-Não há de quê- Respondi meio sem jeito- Nos vemos amanhã então?

-Claro. Boa noite- Ela se virou e começou a caminhar em direção a sua casa.

-Tchau, Max- Falei acenando para ela.

Esperei ver ela entrar em sua própria casa para eu entrar na minha. Subi as escadas correndo e desliguei a luz do primeiro andar. Fui para meu quarto cansado e louco para deitar em minha cama e me esquecer daquele dia horrível. Como não lembrava de ter tomado banho, entrei no banheiro, despi minha roupa, liguei o chuveiro e tomei um banho rápido. Ao sair do banheiro percebi que realmente a janela estava aberta. Então ela tinha sim entrado pela janela, pensei. Caminhei até ela e a fechei. Me troquei o mais rápido possível e me enfiei debaixo das cobertas.

 Nessa noite sonhei com meu pai. Eu também amava ele.

***

-Mike, mamãe tá chamando- Era uma voz fina, doce e carinhosa. Era Holly.

Abri os olhos e vi cabelos loiros presos em duas marias chiquinhas. Estiquei os braços para frente e a agarrei puxando-a para mim. Não percebi que Nancy estava na porta. Ela caminhou até eu e Holly e se abaixou do meu lado e começou a passar a mão em meu cabelo. Me sentei na cama com Holly nos braços e puxei Nancy para um abraço. Ouvi um baixo som de choro, estava longe demais para ser de Nancy ou Holly. Eu e Nancy levantamos a cabeça enquanto Holly ficava com a dela apoiada em meu peito. Agora quem estava na porta era minha mãe. Ela veio em nossa direção e abraçou todos nós juntos e disse com uma voz de choro:

-Meus bebês.

Eu sabia o que ela estava sentindo. Eu estava sentindo a mesma coisa. Perdi meu pai, mas eu não era muito unido á ele e só sentia a sua falta quando via as minhas irmãs. Já minha mãe... Ah, ela devia estar sofrendo muito. Nancy costumava dizer que nossos pais não se amavam. Ela dizia que, na época que eles se casaram, nossa mãe era jovem e nosso pai era mais velho, tinha dinheiro e vinha de uma boa família então ficaram juntos. No inicio que acreditava nisso, mas e agora? Agora nossa mãe se trancava no quarto para poder chorar. Ela podia até não ama-lo verdadeiramente, mas o amava de alguma outra forma.

***

-Desculpe, profe... Ah- Eu disse ao abrir a porta da sala de aula apressado por estar atrasado.

-Sente-se, Mike, por favor- Respondeu o Sr.Clarke visivelmente preocupado.

Fiquei quieto e obedeci.  O que ele estava fazendo aqui? Sera que ele havia descoberto algo? Virei a cabeça poucos centímetros para o lado e olhei para Max. Tentei perguntar para ela, sussurrando, o que estava acontecendo, mas ela se quer parecia ter me notado.

- Entao, se possível, comentem com seus familiares e...

Lá estava ele: barba feita a pouco tempo; chapéu e roupa bege clara; um pouco gordinho como sempre; um ar de bêbado e um cigarro na boca. Ele continuava falando de algo e eu não sabia o que.

-Ela esta desaparecida a mais ou menos umas 26, 27 horas. Qualquer informação nos avisar!

Desaparecida? Jennifer! Jim Hopper falava de Jennifer! Droga! Tinha me esquecido dela. A doce, loira e perfeita garotinha Hayes.

Será que devíamos contar o que sabíamos?

Após o anuncio, Hopper saiu da sala e voltamos ao nosso horário normal de aula. Continuamos com nossa aula de ciências; ler os capítulos 09 e 10 e responder as questões 04,06,10,11 e 13 e para casa: uma redação de, no mínimo, uma folha sobre as diferença entre répteis, aves e anfíbios.

O tempo passou rápido na aula de historia e logo tocou o sinal do recreio. Os alunos saíram correndo da sala, mas eu não estava com muita pressa então demorei enrolando para pegar meu lanche. Quando me virei para sair Max estava com o ombro encostado na porta, me esperando.

-Que foi?- Perguntei.

-Se não for com voce, com quem eu irei sentar? Todos me acham louca desde que bati em Troy.

-Mas ele mereceu...

-Marica.

Saimos da sala e fomos em caminho ao refeitório. Os alunos aproveitavam esse tempo livre de recreio para correrem e brincarem e nem tomavam cuidado com quem passava pelo corredor.

Uma criança de aproximadamente 6 anos acabou colidindo com Max e a derrubando no chão. Ela se levantou irritada e ignorou o pedido de desculpa do garotinho.

-Como foi sua noite de sono?

-Péssima!- Respondeu- Eu acho que nem dormi direito. Fiquei imaginando diversas situações em minha cabeça e toda hora eu tinha a impressão que as formigas subiam em mim.

-Que situações?

-Porque voce chegou atrasado?- Ela perguntou tentando não responder minha pergunta.

-Eu, primeiro. Voce, segundo.

-Situaçoes. Varias situações diferentes. Algumas envolvendo voce, outras o Troy e algumas o Dr.Brenner.

Entramos no refeitório e sentamos em uma mesa retangular um pouco extensa, para seis pessoas. Peguei o meu sanduiche e comecei a comer. Max me encarava.

-Não trouxe lanche? Quer um pedaço?

-Não, não... Eu tenho dinheiro...

-Sua mãe de dá dinheiro para comprar?!

-Ela não liga muito... Aqui- Ela disse me esticando a mão e me entregando 5 dolares, metade do que ela tinha.

-Eu não pre...

-Fica!- Ela jogou o dinheiro para mim.

Nós dois começamos a rir, mas durou pouco. Troy e James apareceram para nos irritar. Eu fiquei desejando mentalmente para que Max os ignorasse e não reagisse.

-Dá!- Ele ordenou.

-O que?- Max se fingia de inocente.

-O seu dinheiro, idiota! Eu vi que voce tem!

Max se levantou e deu uns dois passos, apenas para poder ficar de frente para Troy. Ela estava com o rosto um pouco vermelho e os punhos cerrados.

-O que eu sou?- Ela perguntou, áspera.

-Me de o seu dinheiro que ficamos quites!

-Eu? Ficar quite com uma marica? Ah, por favor!- Ela disse alto e sorridente, quase rindo, para que todos do refeitório notassem o que acontecia.

Troy estava pronto para dar o primeiro golpe, porem, por sorte, James segurou um de seus pulsos meio que o alertando.

Todos no refeitório prestavam atenção no que acontecia, inclusive Will, Dustin e Lucas que estavam de pé perto de uma mesa.

-Não é dela! É meu- Eu disse entregando os 5 dolares, que eu havia ganho, para Troy.

- Cara de sapo- Ele disse antes de me dar um soco nas costelas e me fazer me curvar um pouco.

Troy e James foram embora da nossa mesa rindo e saíram do refeitório. Max voltou a se sentar e começou a rir.

-O que foi?- Perguntei.

-Perguntas... Respostas.

-O que?

-Eu te respondi e agora: Porque voce chegou atrasado?

-Tive que conversar com minha mãe e minhas irmãs sobre um assunto do meu pai.

-Sobre...- Ela começou a dizer com certa certeza só que não terminou a frase.

Engoli em seco. Na hora que eu fui confirmar e explicar o que houve Dustin e Lucas vieram nos cumprimentar.

-Oi- Falaram os dois em tempos diferentes.

-Eai- Respondeu Max e eu fiquei quieto, não sabia se eu agradecia ou se eu brigava com eles.

-Posso me sentar aqui?- Indagou Lucas.

Olhei para Lucas, que possuía um papelzinho dobrado em uma de suas mãos.

-Voces podem sentar onde quiserem.

Dustin e Lucas se entreolharam. Eles estavam tristes. Será que, finalmente, haviam entendido a historia de Max?

-Cade Will?- Perguntou Max se dirigindo aos meninos.

-Ele... Ele não quis vir até aqui- Respondeu Dustin.

-O que aconteceu com Troy?- Lucas agora estava desdobrando aquele pequeno papel.

-Ele só queria pertubar... Acho que Troy tinha necessidade em fazer isso para não se sentir um perdedor.

-Max, até hoje voce não nos contou o motivo da briga-Dustin relembrou se aproximando, no banco, dela.

-Não foi nada. Ele me zoou pelo meu cabelo e por eu andar de skate. Eu só estava para pouco papo na quinta, então descontei nele- Ela ria sem tentar se esconder.

Depois de poucos minutos conversando sobre coisas aleatórias, sem mais tocar no assunto de Will, Dustin se desculpou pra mim.

-Okay, cara... Eu realmente não gosto de ficar brigado com vocês...

-Não é só por isso...

-Eu sinto muito, Mike- Se intrometeu Lucas.

-Voce podia ter nos contado sobre seu pai.

-Porque voce ficou quieto em relação á isso?

Lagrimas começaram a brotar dos meus olhos. Cada hora que passava eu tentava esquecer esse assunto. Talvez, seu eu não o relembrasse isso não se tornaria verdade... Mas era verdade.

-Mike...- Max se levantou do banco em minha frente e venho ao meu lado, me abraçou e sussurrou em meu ouvido- Era sobre a morte dele?

Ela devia se referir ao meu atraso, então eu confirmei  com a cabeça. Eu chorava silenciosamente porque não queria que me ouvissem ou me encarassem. Eu não queria atenção reunida em mim e nem pedidos de desculpas das pessoas.

O sinal tocou e eu nem havia comido direito. Max me soltou e disse em voz baixa para que, apenas, eu, Dustin e Lucas ouvíssemos:

-Para Hopper, contamos sobre o Demogorgon?

-Sim.

-Não.

Olhei para Lucas. Ele estava certo. Era melhor contar o que sabíamos. Demogorgon; portal para o Mundo Invertido; Max e os poderes; Dr.Brenner; os pesadelos.

Nos levantamos e começamos a caminhar de volta á sala de aula. Durante o caminho pude ouvir o som da chuva fora do prédio.

-Tem mais uma coisa... O nome dele é Dr.Owens.

-O que?- Perguntou Max.

-No seu desenho, um deles é Brenner, outro é Owens.

-Como voce sabe?

-Eleven... Ela também teve um pesadelo com ele.

Os pesadelos.


Notas Finais


O proximo capitulo sai até, no maximo, no sabado da semana que vem!
Espero que voces tenham gostado.
Twitter: @Biscoitinha_Mel e @Yas_Bolachinha

Desculpe mesmo por nao ter postado antes... Ate o proximo cap ( The Storm - Part 2 )


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