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História Cold - Para Sempre Inverno - Capítulo Único


Escrita por: Clair-Bak

Notas do Autor


Olár, seres humanos que ainda não foram dormir.
Enfim, queria criar algo triste. Tipo, o mais triste que eu conseguisse, daí saiu essa one.
Sei lá, não sei se atingi meu objetivo, mas vamos ver. Enfim, boa leitura

Capítulo 1 - Para Sempre Inverno - Capítulo Único


Depois de exatamente três longos meses de distância, servindo ao exército, o experiente médico estava finalmente próximo de casa e agradecia imensamente por isso, contudo não por estar próximo das paredes de tijolos que o cercavam, mas do abraço aconchegante e acolhedor que era como seu lar; próximo dos olhos grandes e verdes que eram seu porto seguro em meio ao caos, horror e incerteza da terrível guerra pela qual passavam.

Estava de volta, estacionando o carro em frente ao sobrado de três andares onde compartilhava a vida com o ser humano mais doce e gentil que um dia conhecera. A saudade parecia ainda mais intensa agora; o coração retumbava dentro do peito e a ansiedade crescente era quase palpável.

Saiu de dentro do veículo preto às pressas, deixando malas e pertences para trás. Não podia perder tempo com o frio insuportável do lado de fora quando, do lado de dentro daquela casa, os braços e lábios calorosos de Eren esperavam-no saudosamente.

Correu pelos jardins bem cuidados, apressado demais para conseguir apenas andar. Rapidamente alcançou a porta de madeira que guardava a entrada do local e então finalmente entrou. Esperou encontrar o jovem rapaz sentado no sofá, com um livro qualquer em uma mão e uma xícara de café escaldante na outra, mas tudo que encontrou foi o silêncio e a quietude.

Chamou pelo nome alheio, porém não obteve resposta. Chamou outra e outra vez, mas tudo que ouviu foi o eco baixinho da própria voz, preenchendo o local espaçoso e pouco mobiliado. “Talvez esteja dormindo”, murmurou para si mesmo, começando novamente a andar.

Subiu as escadas que levavam ao andar de cima com ainda mais ansiedade. Tinha decidido não avisar sobre seu próprio retorno, pois pretendia fazer uma surpresa. Pretendia fazer uma surpresa, mas acabou por ser surpreendido.

Assim que girou a maçaneta de cobre e o interior do quarto foi revelado, seus olhos foram atingidos pelo prelúdio do desespero. O cheiro podre e forte empesteava o ambiente e, na cama de casal, o corpo jazia abandonado; os lençóis brancos cobertos por sangue seco e escuro.

O corpo inteiro de Levi estremeceu, as lágrimas brotaram em seus olhos de maneira automática, escorrendo sem que percebesse. Reunindo forças só os céus sabem de onde, aproximou-se do leito de morte. Cambaleante, deixou-se cair sobre o corpo frio e rígido de seu amado. Nada no mundo seria capaz de expressar a dor que sentia. Não conseguia entender o que acontecia.

Aconchegou o belo rapaz em seus braços com delicadeza, fitando o rosto inexpressivo. No auge do desespero, gritou a plenos pulmões; gritou até a garganta arder e a tosse surgir, engasgando-o em meio às lágrimas sentidas. Queria acordar naquele exato momento e descobrir que tudo não havia passado de um pesadelo horrível.

Mas todos os seus desejos, súplicas e preces não foram atendidos. Não havia solução e nada do que pudesse fazer amenizaria o desespero. Observou com atenção o corpo ferido, vendo furos por todo o abdômen magro e frágil. Encontrou ali, ainda espetada, a faca pequena e fina que fora usada para cometer tal atrocidade.

E junto à faca, grudada ao peito do pobre rapaz, a foto tão querida e único registro do amor que os rodeava. A foto que serviu como prova para incriminá-los e como motivo para que a vida de um dos dois fosse tirada. Não tinham direito de estarem juntos e aberrações deveriam sempre ser eliminadas em prol de “um mundo melhor.” Agora tudo fazia sentido afinal.

Puxou os cabelos da própria cabeça com força, culpando-se sem pudor. Deveria tê-lo deixado em paz quando teve oportunidade e jamais deveria ter impedido o casamento dele com aquela moça. Se estivesse junto dela, Eren ainda estaria vivo. Amaria-o de longe pelo resto de sua vida, mas todo aquele sofrimento teria sido evitado. Alguns casais tinham direito de amar-se, outros não.

No entanto, se isso tivesse acontecido, teria perdido também os melhores anos de sua vida. Teria perdido os beijos doces que recebeu, não entenderia a poesia e certamente não teria conhecido o significado da palavra amor. Durante dois anos teve um lugar para retornar, alguém para chamar de lar e café quentinho todas as manhãs. Teve sorrisos, brigas, um jardim bem cuidado e livros espalhados por toda a casa.

Durante dois anos amou até não poder mais e sorriu até achar ser possível morrer de felicidade e justamente por isso não podia culpar-se ou arrepender-se. Não podia assumir a culpa pela crueldade humana ou pela perseguição que haviam destinado a todos os que julgassem diferentes. Não podia... simplesmente não podia.

Pelos céus! Como tiveram coragem de tirar-lhe tudo o que tinha de mais precioso e sagrado? Como puderam ousar ferir aquele a quem tinha amado com todas as forças que tinha? Como a vida de Eren podia valer tão pouco para os outros quando, para si, valia por todo o ouro do mundo?

As perguntas repetiam-se em sua mente em um ciclo sem fim de sofrimento. Anos passariam, rios secariam, seu corpo envelheceria e morreria, mas o que tinha acontecido ali jamais poderia ser compreendido. Jamais, não importava quanto tempo fosse deixado para trás, conseguiria compreender a maldade que o assolava. Jamais compreenderia o preconceito.

E também não estava disposto a viver para isso. Levantou-se da cama e caminhou até a imensa janela de vidro; abriu-a e foi recepcionado pelos primeiros flocos de neve do ano. Voltou a atenção para o rastro de sangue que se estendia pelo colchão onde, por várias vezes, se amaram. Abraçou-o corpo enrijecido com cuidado, arrastando-o até a janela e dali pulou.

A dor invadiu seu corpo assim que atingiu o chão violentamente. “Eren adorava os invernos”, foi a última coisa na qual pensou antes de perder a consciência, ainda abraçado ao rapaz sem vida. Se não morresse pela queda, muito em breve, Levi morreria por conta do frio que congelaria seu corpo ferido.

E quando os corpos fossem encontrados, dias depois, a verdadeira história seria ocultada; a crueldade seria escondida. Os amantes esquecidos não tinham direito de amar-se e também não tinham direito de viver. Os esquecidos não tinham voz e jamais seriam ouvidos.

Tinham compartilhado a vida e agora compartilhariam a morte. Permaneceriam juntos, e para os dois, dali em diante, sempre seria inverno.


Notas Finais


Pois é, é isso. Essa história foi, ligeiramente, inspirada pela carta de Valerie do filme V de Vingança. Vocês podem lê-la aqui: http://divagacoessolitarias.blogspot.com.br/2013/01/a-carta-de-valerie.html

Bjo bjo, até mais.


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